INIMIGO MUNDO

O mundo não é um fluxo caótico e ilimitado  de experiências  patrocinadas por um eu cartesiano naufrago em sua abstrata certeza de si mesmo.

O mundo, no fundo, é aquilo tudo que não cabe na vida da gente,

ele é espanto e confusão

se expandido em todas as direções .

O mundo é o  que nos ultrapassa e mata,

o que não pode ser digerido.

FILOSOFIA DA SARJETA

Estar em paz era substituir as pessoas por cigarro e bebida. Assim, eu me entregava a preguiça dos atos e a  desconstrução dos pensamentos sem qualquer pudor. Ser apenas eu mesmo sem o espelho do olhar do outro me fazia bem.

A solidão é essencial a construção do trato social.

ENGANOS

Levo as últimas consequências todos os meus enganos na construção provisória das minhas verdades. Acumulo pontos de interrogação. Duvido de todas as soluções, das razões estabelecidas  e dos limites do agora.  Em tudo procuro de alguma maneira antecipar o futuro e redefinir  minhas angustias.

IMPACIÊNCIA

Diga-me qualquer coisa que faça o dia valer a pena.

Não precisa muito considerando meus tantos desânimos.

Caso prefira, apenas me pague uma cerveja,

escute minhas lamurias

e implicâncias com a realidade.

Tudo que posso fazer é falar sobre as coisas

até a exaustão,

vomitar todas as minhas aflições

enquanto, absolutamente, nada acontece.

PENSAR E FUMAR

Outro cigarro,

mais uma cerveja...

e as coisas estão

piores do que antes.

Eu posso escutar o vazio

gritando dentro de mim

enquanto  tento pensar

em qualquer coisa boa.

Faz muito tempo que não sonho

e que não jogo o lixo fora.

Quero ser criança de novo.

Mas agora já é tarde demais.

Há muito tempo estragado

e abandonado no chão.

A NECESSIDADE DO DESEJO

O fato é que o desejo nos rouba a liberdade,

que não sabemos todas as consequências do nosso prazer.

Se quer pensamos  sobre isso.

Apenas nos rendemos ao querer

e buscamos o que nos acorda o apetite

como sonâmbulos .

É o que nos salva do tédio cotidiano,

do enfadonho fardo de respirar sem motivo.

O desejo nos extrapola,

nos faz ir além da  necessidade,

afundar na simples banalidade.

COTIDIANO VAZIO

Tenho estado pouco a vontade com a realidade.

Todos os fatos vividos me parecem ralos e de precário sentido

enquanto meu corpo acontece e o sol brilha no céu.

A vida segue apesar disso.

Tento me esforçar para chegar ao dia seguinte

apesar de todo o cansaço, de todo fracasso

e vontade de sair do jogo.

Roubei algumas horas do relógio

para não fazer nada.

Preciso viver meus silêncios

até suas últimas consequências.

MEU ERRO

Todas as minhas respostas

a vida

foram falsas,

erradas ou sem sentido.

Tudo não passou de um  equivoco.

Mas o tempo não entende

e não permite correções.

Toma a mim mesmo 

como um grande erro...

FIM DE SEMANA

Era fim de semana.

Momento de embaralhamento

das horas

entre ócios  e preguiças.

Podia viver  exclusivamente para os meus caprichos ,

excessos e vazios

como uma espécie de existencialista náufrago

a desdizer toda a agonia cotidiana.

Era fim de semana

e todas as razões estavam suspensas.

APENAS...

E era apenas eu

ali triste

sozinho e perdido

com um cigarro na mão.

Era apenas eu

a deriva em mim mesmo

pendente entre a noite e o dia.

Era apenas ...

BEBER ATÉ MORRER

Em tempos de opiniões e surtos coletivos cultive seu próprio delírio.... pois se inventar como indivíduo é o que nos transforma em matéria prima de nós mesmos. Abaixo coletivismos e ideologias. Salve seu próprio rabo diante do caos.

Negue todas as convenções, torne-se um alcóolotra, fumante e marginal. Não há qualquer outra solução...

EU E O DIA

A noite havia passado

e o dia me surpreendia

ali, ainda noturno,

entre os cacos da madrugada.

Seria melhor ter morrido jovem

para não sofrer determinadas coisas.

Infelizmente, não fui digno de tal privilégio.

O fato é que tudo se resumia

em um impasse trágico

entre eu e o dia.

HOJE...

Hoje viverei como um rei.

Pois amanhã eu não sei

o que será de mim,

o que farei dos outros,

o que sobrará dos meus erros,

das minhas angustias

e dos meus desesperos.

Pode ser que eu exploda amanhã,

que o mundo sofra um colapso

que  eu possa finalmente

esquecer de tudo

no colo de algum abismo.

Mas hoje celebrarei o agora,

a vazia alegria de estar vivo

contra todas as soluções.

Pode ser que o amanhã

nunca chegue....

DIANTE DO DETERMINISMO

Na maioria das vezes somos involuntariamente guiados pelas circunstancias. Como é dito pelos filósofos de botequim, viva aquilo que não pode mudar até as últimas consequências e aceite as mudanças que forem possíveis. Mas tal máxima não nos leva a qualquer felicidade, nem é uma solução aceitável para qualquer um que tenha se perdido no labirinto da própria existência e vive a se debater contra os fatos. Melhor pensar que tudo está sempre mudando, para pior ou para melhor.  Só não espere um final feliz ou  uma grande vitória. As coisas são o qeu são.   Tente ter paciência  e não acene para o desespero.

DEBATES DE BOTEQUIM

As mais profundas questões filosóficas  são acaloradamente discutidas em torno de uma mesa de botequim. O álcool tem o poder de despertar “a sabedoria” nas pessoas e quanto menos elas sabem sobre um determinado assunto mais tem necessidade de discorrer compulsivamente sobre ele. A ignorância é tagarela e o pensamento fisiológico. Não há muita profundidade no domínio das opiniões. Mas todos  querem ter uma opinião como se um posicionamento pudesse mudar a tediosa mesmice opressora na qual o mundo se transformou.

NÔMADE

A sociedade insufla desejos,

metas e  ideias

que me conduzem ao nada

dos lugares comuns .

Estou preso a contingencias,

inércias e silêncios.

Mas tendo alcançar

o outro lado de mim mesmo,

descobrir algum vazio

que me abrigue para sempre.

CRÔNICA DE UM DESESPERO

Nunca vivi um dia tão longo.

A ansiedade dilatava as horas

na minha necessidade de página virada.

Mas tudo demorava tanto

em um nada acontecer perpétuo

que duvidava de mim mesmo

e do próprio tempo.

Questionava tudo;

todas as supostas razões do mundo.

Tudo me parecia estabelecido

naquela quase definitiva agonia

de fatos estáticos dentro do nada.

O dia seguinte havia desaparecido.