quinta-feira, 30 de setembro de 2021

UMA REAL ILUSÃO VERDADEIRA

Falta realidade em tudo que faço.
Falta realidade no que digo,
no que sinto,
e no rosto que me persegue no espelho.

Falta realidade nos outros que me perseguem em todas as partes.

Falta realidade em todas as verdades, 
na ordem  que sustenta caos  cotidiano.

Falta realidade no que penso, sinto e consumo.

Falta realidade no desejo,
no grito engasgado,
no dia seguinte,
nas horas de trabalho, 
lazer, e até no sono.

A vida é apenas meu corpo emvelhecendo preso ao coletivo pesadelo do social.

A consciência é um artifício sem sentido ou propósito,
uma real ilusão verdadeira.


ANOITECER BIOGRAFICO

Ancorado em meu passado,
já não me arrisco em tempo aberto.
Vivi o que foi possível, 
sonhando o necessário. 
Agora, 
tudo é nostalgia,
no asilo da memória. 

Eterna é minha mortalidade,
absoluto o silencio 
que me esclarece.

Meu futuro apodrece
entre as ruinas da atualidade,
meu fim ignora o ponto final.
Sei que um século não passa de um instante
e que existo no instante de um naufrágio.





quarta-feira, 29 de setembro de 2021

DEFEITO

Alguma coisa em mim
não funciona direito.
Não sei se é um pensar,
ou um sentir,
que se faz defeito.
Só sei que não me conformo 
não me enquadro,
e não correspondo a expectativas e rótulos.
De todos os modos possíveis
sou um inadequado,
um feroz desajustado,
um imprevisível,
e nada há de mudar isso.
Não fui feito para viver
num mundo tão imperfeito.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A VIDA NUNCA SERÁ HUMANA

O planeta não precisa de nós.
Somos incômodos,
desnecessários,
nocivos e agressivos,
ou, simplesmente,
despidos de natureza.

Um organismo vivo
é composição, afetação
e movimento,
indiferente a racionalidade.
Pois a razão é um malefício,
não um artifício de sobrevivência.

A vida nunca será humana
e estamos todos cansados 
da humanidade
e famintos de terra.



CHUVA

Antigamente, 
as tempestades
eram mais selvagens
e a chuva forte 
aproximava a terra
do céu.
Hoje somos escravos
da previsão do tempo,
temos medo do imprevisivel. 


sábado, 25 de setembro de 2021

BEBER CERVEJA COM FILOSOFIA

Estou aqui sozinho,
em um ponto qualquer
de lugar e tempo,
tentando afogar pensamentos 
num copo de cerveja quente.
Nada em mim é importante.
Não significo.
Só há  sentido em uma garrafa de cerveja cheia.
Mesmo que esteja quente.


VAGABUNDAGEM

Gosto de dormir
quando amanhece o dia.
O mundo não me interessa,
como não me importa a vida.

Quero outra coisa,
outras formas de existência
onde caiba a poesia. 
Por isso, contra o trabalho e o Estado,
Amo o sono e a preguiça.

Não serei escravo do meu tempo,
nem senhor de minhas angustias.
Sou livre e vadio.

Como qualquer  mendigo,
durmo como um quase morto,
desconstruíndo futuros antigos.





sexta-feira, 24 de setembro de 2021

LEITURAS INÚTEIS

Nenhuma palavra lida
parece-me digna de atenção
em tempos de hiper informação. 

Todos os enunciados soam abstratos,
retórica vazia,
de um eu perdido de  um mundo,
onde nenhum saber sabe a vida
no fazer dos atos e fatos.

Não acredito no platonismo dos letrados,
na matemática dos cientistas,
na astúcia  dos jornalistas,
ou na oração dos ingênuos e otimistas.

Tenho palavras estranhas,
novidades de  falas loucas,
presas na garganta 
como uma espinha de peixe podre.

Elas estão grávidas do nada,
não conformam consciências,
nem pretendem dizer verdades,
sentimentos ou máximas de humanidades.

São palavras nuas,
sons de um outro mundo possível,
pura dissonância de tempos incertos de deriva, 
que ferem os educados ouvidos
dos filhos do século que nos vê morrendo,
intoxicados pelo futuro
de nossas vontades mortas.

Nenhuma palavra lida
acorda a vida,
da voz ao impossível 
dos ditos do corpo,
autor de todas as falas e escrita.




sexta-feira, 17 de setembro de 2021

BANALIDADE

Seguimos presos ao jogo do mundo,
ao trabalho, a hora do almoço,
e a conversa fiada no elevador.

Tudo sempre de novo,
de segunda a sexta.

Amanhã será outro dia morno,
sem nenhuma beleza.
Apenas contas para pagar
e coisas para recramar.

A existência acontecerá novamente sem brilho,
respostas ou soluções.
Isso pede uma dose de conhaque,
ou um sábado no parque,
enquanto a vida segue
contra a existência  enterrada na natureza,
em qualquer lugar onde não haja um só vestígio do humano.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

TEMPOS SOMBRIOS

Tem dias que acordo 
com um peso de fim de mundo no corpo,
um gosto de catastrofe na boca,
e uma dor de cabeça de coração partido.

Tem dias que viver é inutil
e nada faz sentido.
Eles se tornam cada vez mais frequentes
em tempos de crise do capitalismo,
niilismo e colápso ambiental.

Tem dias que sinto saudades
dos anos da guerra fria,
do medo de um apocalipse nuclear