terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O DRAMA DOS RECEM NASCIDOS

 

A inocência é o único modo de existência saudável.

Mas o amor semi morto dos cuidados exagerados,

sempre enfeita o berço dos recém nascidos com suas patologias.

Afinal, é preciso protegê-los do mundo

que um dia irá devorá-los

e vomitá-los adultos e monstruosos,

como seus pais retardados.

No triste espetáculo da sobrevivência da espécie,

Infelizmente, a infância, dura muito pouco tempo...

INDIFERENÇA NIILISTA

 

Pouco importa o que quero.

A realidade é indiferente

as minhas expectativas.

Nem eu mesmo levo a sério

as minhas vontades.

Sei que amanhã estarei morto

sem nunca saber a felicidade,

apesar de toda determinação e vaidade

que me move.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

LIMITE

 

Há sempre um limite,

um vazio de possibilidades,

no fundo escuro

do mais ordinário cotidiano.

Todos se calam sobre isso.

Escondem o lixo sob o tapete.

Mas o limite está sempre a crescer,

e se alimenta do desgaste

de nossas precárias estratégias de sobrevivência.

Um dia o limite não terá mais limites

e será para todos nós

tarde demais para fugir do abismo.


sábado, 22 de janeiro de 2022

A REVOLUÇÃO DA PREGUIÇA

O dia anoitece sem cerimônias
enquanto, nas horas, nada acontece
no tédio do calendário,
ou no vazio do tempo do relógio. 

 Pertuba  a ordem estabelecida
a preguiça dos corpos.

Mas a cidade pede trabalho
e desigualdades
nos cenários de produção 
de uma vida e razão doentia.

O tempo se perde entre o mercado e a festa.
Mas o dia anoitece
com sede de sonhos
e fome de liberdade.

Que a madrugada rebelde
enforque o dia seguinte,
e queime todos os escritórios,
fábricas e máquinas.

Que triunfe a preguiça
contra um mundo civilizado e atônico.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

DESINFORMADOS

Quem sabe notícias
ignora o mundo.
Pois a vida não  cabe
em qualquer narrativa,
sentido, ou relato.
Ela brilha nos olhos arregalados
que contemplam diariamente
o horror da cidade
e os pequenos desastres diários 
que definem nossa humanidade.

UM DIA QUALQUER

Hoje é apenas um dia depois de ontem,
onde nada acontece,
nada é possível, 
e tudo é banal,
na prisão da rotina.

Hoje é um dia comum,
onde crescem em vão ansiedades,
impotências, e necessidades.
Onde o mundo vai mal,
e engarrafamentos pararizam a cidade,
enquando cientistas discutem
o aquecimento global.

Hoje é o dia da morte de alguém,
do aniversário de um desconhecido,
do vencimento de uma conta qualquer,
de alguma tentativa de suicidio. 

Hoje é apenas um dia que não será lembrado nos livros de história. 
Mais um dia qualquer, onde a vida, como sempre, 
não faz o menor sentido.




terça-feira, 11 de janeiro de 2022

PARADÓXO EXISTENCIAL

Minha vida é um silêncio 
desfarçado de grito
onde tudo cabe
dentro do tempo do efêmero,
e tão pequeno
que alcanço o infinito.

Tudo em mim é um nada
que não para de crescer
em um exercício realısta
de faz de conta
onde existo na
 imensidão do mínimo. 

CONSPIRAÇÕES E INSÔNIAS

Entre o sono que falta
e a noite que sobra
tenho os pés sobre a corda
das imaginações nuas.
Sei o frágil equilíbrio 
entre o tédio e a angustia.

Nada é definitivo,
tudo é provisório. 
E a vontade corre
na contramão das horas.

Amanhã será outro dia
contra a vida de sempre.
Mas depois de amanhã
esperarei o futuro
para rasgar a madrugada
inventando insurgências. 




quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

VIVA O FRACASSO

Pouco importa o problema.
A solução é sempre o limite,
a perplexidade e o improviso.

Qualquer novidade possível nasce sempre  
De uma certa raiva
de estar vivo.

Pois as coisas mudam no susto,
nas angustias, no grito
no fundo do poço
onde se perde a esperança. 

É preciso provar derrotas,
perdas, e melancolias,
para respirar o inesperado,
morrer um pouco todos os dias,
até surpreender o futuro
no abismo do desconhecido.

Viver é acumular fracassos,
arrependimentos e desgostos,
até o limite do realismo.














quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

FILOSOFIA PARA VAGABUNDOS

Gosto da simplicidade dos dias vazios,
rasos e desertos,
onde o tempo aperta o corpo
e nos perdemos no tédio
das mais profundas inércias. 

No fundo não passo de um vagabundo,
um devoto da deusa preguiça,
que nada espera do mundo.

Não sou feliz,
nem triste.
Sou livre do peso dos objetivos,
dos inúteis ideais da civilização 
e do humanismo.

Sou um livre maltrapilho
que troça dos bem sucedidos,
dos que amam a vida,
e seguem presos a moral banal
de qualquer princípio e conclusão universal.

Gosto de dispor do tempo
para ser ninguém, 
para não fazer nada,
e esquecer que existo.