segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MUNDO DE BRINQUEDO


Vivemos  em uma sociedade
de plástico,
onde as pessoas
são de brinquedo.
A própria vida tornou-se
artificial
nos lugares comuns
do dizer coletivo.
Espero o vento e a chuva
para fugir daqui

em  um carro movido a pilhas. 

domingo, 29 de novembro de 2015

TARDE DE CHUVA


A chuva lava as ruas e os telhados,
Prende as pessoas nas calçadas
E revela todo o desconforto
Contido na paisagem urbana.

Quem me dera se todos os dias
Fossem dias de chuva
E não houvesse outra coisa
Além do choro da grande cidade
Contra a desordem  dos fatos
E o anonimato da multidão.

sábado, 28 de novembro de 2015

POR UMA NOVA CONTRA CULTURA

A vida apodrece quando nos conformamos aos hábitos,
Quando nos rendemos  ao vazio cotidiano,
E reduzimos tudo a rotinas pessoais e mecânicas.
Então perseguimos futuros fáceis e premeditados,
Nos vestimos de sociedade
E descuidamos do rosto.

A vida hoje exige mortos vivos,
Sonâmbulos urbanos  enterrados no sono das ordens
E caduquices do progresso linear das coisas.

Por isso levo um cigarro no canto da boca
E uma garrafa no bolso
Enquanto me perco no labirinto da rua,
Do excesso e do absurdo.

Estou em busca de alguma coisa
Que se perdeu do mundo,

Estou em busca de mim mesmo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

ENQUANTO A VIDA PASSA

Enquanto a vida passa
eu vou ficando.
Vou me perdendo e acabando
em goles de simples agora.
Não haverá futuro.
Nada é para sempre.
Tudo é uma questão de talvez
que depois acaba em nunca.
Então acendo meu cigarro,
bebo um pouco

e não penso no dia seguinte.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A OBSCURA DIALÉTICA DO EU E DOS OUTROS

Existir é uma tremenda confusão entre como nos vemos, como somos vistos pelos outros e aquilo sobre nós mesmos que não percebemos  e muitos menos os outros percebem.  O jogo das representações e auto representações de um indivíduo não tem por resultado o denominador comum de uma determinada identidade.

A coisa é realmente um pouco confusa:
Somos turvos e opacos em alguma medida. O eu é como um ponto indeterminado entre  aquilo que penso  dos outros e que os outros pensam de mim. Logo, a consciência dos outros é necessariamente a consciência de um eu que se manifesta e atua na medida em que eles existem. Ou seja: Eu sou eu na medida em que lido com os outros. Mas não me esgoto nisso, sou mais do que este eu que lida com os outros. Mesmo que qualquer definição de “interioridade” ou subjetividade seja equivoca em alguma medida.


O que posso dizer é que  a consciência que os outros tem de mim diverge constantemente da consciência que tenho deles. Estou, entretanto, demasiadamente ocupado em lidar comigo mesmo, com todas as realidades que percebo em mim.

sábado, 21 de novembro de 2015

HOMENAGEM AOS CÃES VADIOS



Gosto de ver os cães vadios e sarnentos
vagando pela rua suja.

Tomam banho de sol, trepam,
Comem aquilo que encontram,
Rosnam uns para os outros
E, muitas vezes, encontram humanos
Tão vadios quanto eles
Para compartilhar a miséria.

A vida destes quadrupites imundos
É bem melhor do que a minha,
Apesar de todas as suas mazelas e imperfeições.

Eles não pensam.
E sobrevivem melhor por isso.
Estão mais aptos a suportar o mundo
Do que eu que já não me sinto parte
de qualquer mundo.

SOB CHUVA E SOZINHO

Andar pelas ruas sozinho em uma noite de tempestade,
Acabou sendo meu caminho naquele sábado sem rumo.
O momento parecia eterno no desabrigo de mim mesmo,
No estar absolutamente carente de mundo e realidade.
Apenas tentava me aguentar e realizar o sacrifício
De cada passo ermo.
Mas situações limites nos ajudam a pensar,

Quebram ilusões e esclarecem o caminho.
São como um gole grande de destilado ruim.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

PAUSA PARA BALANÇO

Parei de pensar .
Desliguei o mundo dentro de mim
e me vesti de absurdo.
Fiz do delírio minha regra
e deixei de lado antigas questões.
Abri uma garrafa de vodka,
rasguei fotografias antigas
e pus o passado em dia.
Nada esperava e nada queria.
As coisas não tinham importância.
A  vida, afinal, revelou-se
como uma doce e torta agonia.
Nada mais que isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

TESTEMUNHO DE UM BÊBADO FILÓSOFO

Eu era apenas um jovem bebedor que um dia ousou sonhar a possibilidade de me redimir através da embriaguez. Beber não era um vício, mas um meticuloso esforço de iluminação e aperfeiçoamento. Infelizmente as pessoas não entendiam os nobres objetivos que me inspiravam a desregrar os sentidos através do álcool.

Mas estava certo de que aquela rotina de intermináveis porres e vexames públicos eram um caminho de libertação. Tudo era uma questão de tempo. Em breve ei de impor aos meus detratores a grande verdade de minha obra introspectiva.

Jamais seria como eles frequentadores de lugares comuns. Meus caminhos realizavam a plena busca de mim mesmo.


CAOS MATINAL

Deslocado de mim mesmo
Guardo amaçadas certezas
No bolso de traz da calça.
A vida passa e os desertos crescem
Antes da primavera.
Tome uma aspirina.
Acordei com os olhos fechados.
Talvez ainda esteja dormindo.
Talvez eu não esteja aqui.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

BEBIDA E FILOSOFIA

Acho que tenho um defeito.
Como todo mundo não sei direito
O que fazer com a vida
E gasto a maior parte do tempo
Apenas tentando sobreviver
Em sociedade.

Por isso preciso beber...
É meu modo de fugir da sociedade,
Não ser mais um entre os outros,
E me deixar acontecer
Através do torto da vertigem,
Da embriagues selvagem
Onde me perco no labirinto
Da viva poesia do pensar do corpo.

Você só ganha a si mesmo
Quando aprende a se perder.
A maioria das pessoas bebe
Para exibir sua mediocridade mais intima.
A maioria não sabe a filosofia
De um bom porre.
Não estende a mão ao abismo.
Tudo o eu temos em comum
É que não sabemos direito

O que fazer com essa porra de vida.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A VIDA COMO RUINA

Era bobagem estar certo sobre alguma coisa,
até mesmo sobre a concretude daquela rotina vazia.
Os dias acabam, os problemas passam
e  as coisas tendem sempre a novas formas de duvidas
e incertezas.
A única meta era aguentar tudo aquilo sem enlouquecer.
Não me venham, portanto, com engodos sobre vida saudável
ou boas notícias.
As coisas são apenas isso que você esta vendo e sentindo,

um profundo e constante arruinar-se absoluto através do tempo e do espaço.

INDAGAÇÕES SOBRE A VIDA IDEAL OU SOBRE A ARTE DE VIVER

O mundo cotidiano era formado por cacos aleatórios de experiências organizadas em pequenas e inúteis rotinas.
No fundo a vida não era lá grande coisa e era impossível fugir a um constante estado de tédio.
Consumir mantimentos, ouvir um pouco de musica e evadir-se  através de um bom filme. Isso era tudo que se podia esperar quando não estávamos cumprindo alguma obrigação. Assim seguia a existência...
Eu me perguntava se a vida não poderia ser de outra maneira.
As vezes me agradava a ideia de imaginar como as coisas poderiam ser se não fosse os imperativos da minha pequena  realidade vivida. Mas não pensava em termos de rotinas e atividades. O que me parecia fundamental era a possibilidade da plena experiência de um sentimento de pertencimento a existência que só poderia ser garantido por uma pré disposição intima e subjetiva.
Sabia que não havia uma fórmula universal para se alcançar tal estado. Cada indivíduo possui suas próprias inclinações e aptidões. As minhas eram definidas por um profundo senso estético. Logo, me imaginava dedicando a vida a alguma forma de arte, sem preocupações  materiais. Mas não se tratava de se adaptar ou ajustar a vida coletiva.
Uma vida ideal não estava associada em minhas divagações a qualquer ideia de perfeição ou de uma sociedade melhor.  Perfeição não passava para mim de um sinônimo de absurdo e , quanto a uma sociedade melhor....Bom. Não tenho muitas esperanças ou expectativas quanto ao futuro da Humanidade. A vida ideal não exclui o advento de dificuldades, alguns porres memoráveis , sexo e banalidades.
O ideal era apenas um estado de espírito onde a gente se perde nos acontecimentos, onde descobrimos prazer em coisas bobas. Talvez eu esteja falando apenas do resgate daquela ingenuidade infantil que leva as crianças a descobrir paraísos nas coisas mais bobas. È claro que uma criança, até certa idade, não pode ser considerada exatamente uma pessoa. Levamos mais de uma década para nos tornarmos efetivamente parte do mundo. Eis uma das mazelas de nossa condição humana.

Que fique bem claro aqui que por vida ideal não entendia absolutamente a plena realização dos meus desejos. Isso estaria mais próximo de um pesadelo narcisista do que de uma subjetiva  idealização da existência. O ideal está em não enfrentar grandes dificuldades e nem sofrer limitações absurdas.

Vida ideal é simplesmente responder a uma questão elementar: O que eu precisaria para me sentir bem pelo simples fato de estar vivo. Confesso que tenho certa dificuldade para responder satisfatoriamente a esta pergunta.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O EXILADO

Do outro lado da rua a vida passa,
As coisas acontecem,
Enquanto eu fico aqui pasmo e parado.
Espero que anoiteça logo,
Que os carros freiem ao mesmo tempo.
Não quero ir pra casa.
Espero que anoiteça logo.
Que alguém alimente o gato,
Que tudo possa dar certo.
Não deixe de pagar as contas.
Ficarei por aqui sem fazer nada.
Esperando que anoiteça logo.
Vá para o outro lado da rua.
Faça o que tiver que ser feito.

Mas não conte comigo para viver rotinas.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

VIVA

A intensidade do simples viver
É tornar o superficial profundo.
Quero mais que as imaginações coletivos,
Quero ser apenas um mísero indivíduo
Contra as vaidades impessoais do meu dizer coletivo.
Quero ser gente,
Alguém livre,
Contra o absurdo do tempo
E as cegueiras de sociedade.
Quero me fazer contra tudo
Que me disseram possível...
Quero superar minhas ansiedades.


BEBA MAIS UM POUCO

O que tenho para guardar
depois do grito, do riso
e do ato sujo
que me definiu a madrugada?
Talvez eu amanheça um dia.
Talvez eu caia em mim
e rasgue gratuitamente
determinados fatos.
Talvez eu apenas
beba mais um pouco.



O DIA AINDA NÃO ACONTECEU

Não acordei para o dia seguinte,
mas para o sonho e o absurdo.
A realidade pouco existe,
diga bom dia a vertigem
dos cacos do absoluto.
Pois sei que a realidade
esta sempre errada
no dizer profundo
do ato falho da vida.

O dia ainda não começou...

domingo, 1 de novembro de 2015

A DERIVA

Vamos fumar e beber um pouco
Enquanto seguimos por todas as partes
Neste navio a deriva que chamamos de mundo.
Não há muito a fazer enquanto o tempo passa.
Já nem me lembro de como chegamos aqui,
Dos dias em que tínhamos ainda algum futuro.
Mas hoje nada mais importa.
O céu esta sempre nublado
E só o mar revolto  sabe do nosso rumo.
Então vamos beber e fumar
Enquanto ainda nos é possível.
Uma grande tempestade, você sabe,

Já começou a se formar no horizonte...