quarta-feira, 30 de março de 2022

SISIFO NA CIDADE

É preciso um gole de café
e silêncio 
para bem começar  novamente 
um dia que nunca termina.

É sempre a mesma porta,
o mesmo deserto,
a mesma pedra que cai,
a mesma espera de um sono
contra a rotina.

A ordem devora as horas.
Nada se cria.
Tudo é mimetismo,
necessidade,
fratura exposta
entre eu e o mundo
no deleite da agonia.

segunda-feira, 28 de março de 2022

MELANCOLIA URBANA

A cidade polui a paisagem
e tudo é urgente
no vai e vem dos corpos.

Todas as horas estão mortas.
Não há sentido nos livros de história. 

Vamos ver o por do sol
como se fosse hoje
o último dia do mundo.

A vida, afinal, não dura pra sempre.

sábado, 26 de março de 2022

A BANALIDADE DO TÉDIO DIÁRIO

Afogo em mim mesmo
entre o tédio e a monotonia
da banalidade do dia
enquanto espero a hora do almoço 
entre um cigarro e outro.

As vezes penso que já estou morto.
Mas continuo me afogando
engasgado com a fumaça
do cigarro.
Parece que nunca chega
a maldita hora do almoço. 


sexta-feira, 25 de março de 2022

TEMPOS DIFÍCEIS

A vida segue
incerta e perigosa.
Não há infâncias 
nos olhos das crianças,
nem paz nas palavras
dos velhos.
Tudo é brutalidade
na banalidade da vida cotidiana.

quinta-feira, 24 de março de 2022

A INSENSATEZ DOS VELHOS

Todo velho
goza do privilégio 
de ser insensato,
inconsequênte,
e imprudente.
Afinal, envelhecer
é adivinhar no corpo
os sinais do fim,
surpreender-se
relativamente
fora do mundo
e a margem do tempo presente.


 

segunda-feira, 21 de março de 2022

A MORTE DO FUTURO

Nosso futuro morreu prematuro.
Morreu por infecções generalizadas de passados presentes,
morreu pela a atrofia de instantes
até sucumbir a agonia dos tempos.
Seu cadáver jaz enterrado 
dentro de todos nós.


domingo, 20 de março de 2022

CONSCIÊNCIA DE MUNDO

O mundo será sempre aquilo que é.
Jamais o que deveria ser.

Está condenado ao fracasso
todo platonismo,
qualquer ditadura do conceito
e da verdade moral.

O mundo é vertigem,
corpo e natureza.

É a terra que nos viu nascer
e que um dia nos devorará.

O mundo nunca será o que vejo,
nem se reduzirá a um objeto de desejo.

O mundo é devir,
é um constante tornar-se outro
daquilo que é em nós.


sábado, 19 de março de 2022

A ÁRVORE E O POSTE

A árvore ereta contra a cidade
relativiza o tempo do poste e da luz,
traduz as trevas da cidade
e ri da humanidade e sua civilização. 

A arvore une o céu e a terra
e reinventa Hermes
contra os desertos dos meus pensamentos.

A vida da árvore  é maior do que a minha.

quinta-feira, 17 de março de 2022

SOBRE O COTIDIANO

O cotidiano é uma prisão,
uma coleção de opressões,
na nulidade de todos os desejos,
sonhos e vontades,
que concebem nossa vã imaginação. 

No cotidiano, 
Tudo é ilusão. 
Necessidade bruta,
artifício, 
maquinação.

Pouco importa seu rosto ou
seu corpo.
O mundo é feito para ninguém,
e o poder corrompe a todos.

O cotidiano é descretamente brutal construção  social 
da impotência e nulidade
de cada um de nós.







quarta-feira, 16 de março de 2022

SEM TETO

Quero ir para casa.
Mas a casa não existe mais.
Não há mais qualquer lugar
que me esconda do mundo,
onde a vida seja minha,
e o tempo me abrigue.

Não há mais casa.
Não tenho onde guardar memórias,
acumular a existência,
ou esquecer o trabalho.

Não tenho um canto
contra a cidade,
paredes que me abracem.

Ninguém me espera
para o jantar.

UMA PESSOA MENOR

Descubra seus medos,
gritos e desertos.
Descubra suas precariedades,
seus segredos guardados
nos abismos da humanidade.

Torne-se uma pessoa menor,
um animal sincero,
um ponto de finitude
na duração de si mesmo.

terça-feira, 15 de março de 2022

TRISTE COTIDIANO

O tempo arde como fogo
através do tédio dos meus atos.
Oprimem meus pensamentos
os fatos cotidianos.

Tudo é quase impossível 
em minhas rotinas de cosmopolita província.

Entre o mercado e o trabalho
sou quase coisa,
um pouco de gente,
de número,
e paciente.
Ou, quem sabe,
apenas,
um tanto de nada.

A vida segue
e me arrasta.
O tempo queima
consumindo minha consciência. 

Mas nada acontece
nas constantes mudanças 
de um mundo
que evolui do mal ao pior.

O tempo queima.
A vida é fogo.


domingo, 6 de março de 2022

VIDA COTIDIANA

Nossa existência se resume
a necessidade de três refeições diárias,
beber muita água, 
e ter alguns pensamentos desconexos
sobre a falta de sentido da vida humana.
É isso, que todos os dias,
nos faz sair da cama,
mesmo contrariados,
para suportar rotinas 
que nos consomem
em um mundo que nos devora.

sábado, 5 de março de 2022

CONCLUSÕES

Não há muito o que se fazer da vida,
e muito menos a se esperar do mundo.

O tempo corre como um rio
onde tudo se vai e se perde
em busca de qualquer oceano.

Nunca alcançaremos o futuro.

Então, resta apenas a preguiça, 
a indiferença,
e esta falta de plumo,
já que a vida se reduziu a apoteóse do inútil
a véspera de algum desastre.

terça-feira, 1 de março de 2022

TEMPOS ULTRAMODERNOS

Abandonados pelo futuro,
seguimos agora em um eterno presente em ruinas,
contemplando sempre a iminência 
de alguma catástrofe.