quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A ESCOLA COMO PRISÃO



Na prisão  de um banco de escola
Aprendeu a norma e a ordem
De um mundo morto.
Foi adestrado ,
 trancado na cela do pensar respeitável,
Para ser "alguém" 
E viver como os outros
Entre estigmas,  rótulos
e frustrações. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

DO FATO A INFORMAÇÃO



Certos fatos se tornam desacontecimentos.
Circulam na boca de todos por certo período.
depois são totalmente esquecidos.
Não deixam qualquer rastro
da popularidade perdida.
tais fatos se reduzem a mera informação.
Por isso são descartáveis  e superficiais.
Não marcam o tempo,
não duram se quer um verão.
Cedo desacontecem...

DIA DE FOLGA


A campainha toca!
O telefone toca!
Alguém quer  entrar!
alguém quer falar!

Justo hoje que acordei indisposto,
que  me abriguei
no conforto de um silêncio
e botei as palavras de molho
no alvejante.

domingo, 26 de janeiro de 2020

O MEIO DA TARDE

Nos círculos do tempo
O meio da tarde
É quando o dia desmaia,
Onde a noite começa,
E quase tudo é possível,
Fora das grades do relógio
Ou das paredes do escritório. 

O meio da tarde 
É um momento subversivo
Que tem gosto de rua
e sabor de loucura.

O PARADOXO DA LIBERDADE

Cada um é escravo do próprio  sustento,
Um servo de suas necessidades
Ou a marionete de algum desejo.
Isso nos obriga a sociedade.
Mas escapamos dela através da arte,
Da imaginação, 
Que reinventa em nós  a natureza
Como imanência,
Coexistência e afeto,
Que nos obriga a solidão da liberdade.


sábado, 25 de janeiro de 2020

LIBERTAR-SE?

Chega uma hora em que a gente cansa da nossa impotência  diária.  O trabalho, O noticiário, as contas do mês,  a falta de sentido de uma vida inteira, acordam uma angústia que aos poucos envenena a consciência.

 Chega uma hora em que o fato mais corriqueiro e banal  nos fere e diminui  a existência e a vida parece um beco sem saída, um problema sem solução. 

A realidade é deprimente é desestimulante quando desistimos de acreditar nas coisas tal como são.  Infelizmente, isso não é  suficiente para transforma-las. 

Nossas correntes estão presas nas correntes  dos outros. A liberdade não  é uma possibilidade individual, o que converte nossa lucidez pessoal em uma nova modalidade  ainda mais perversa de cativeiro.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

LIVRE ARBÍTRIO?


Minha vida tem gosto de terra.
Ela é suja, deselegante,
esteticamente repugnante.
Não segue o progresso,
nem realiza o futuro da humanidade.

Como poderia ser de outra forma?
Levo a vida que me foi possível,
que me impôs o mundo
através de um lugar de nascimento.
Não sou livre o suficiente
para escrever meu próprio destino
fora do rótulo que carrego na testa.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O CENTRO DA CIDADE


O Centro da cidade resume -se nas variações de uma rua comprida, quase infinita, onde as pessoas se ignoram, os carros gritam, entre os sorrisos de vitrines sedutoras.

Muita gente segue para o trabalho, outras alimentam os bancos, e os bares estão  sempre cheios.

A polícia garante o bom senso da desordem. Nada funciona direito, mas o centro da cidade está sempre em movimento, como um insano formigueiro.  

No centro da cidade todos são  indigentes....



sábado, 18 de janeiro de 2020

O HOMEM INVISÍVEL

Na contra mão dos dias,
Da economia, da fé e da família,
Tracei meu descaminho,
Meu delírio pessoal e sem brilho
de um existir possível,
apesar das mazelas do mundo.

A vida se fez  sonho,
Espanto e grito
Em minha fome de matéria e forma.

Descobri a arte de ser corpo,
De inventar corpo,
De compor corpos.

Assim me tornei  um desaparecido,
Alguém perdido de um retrato antigo,
Existindo a margem do tempo e do mundo,
Contra a História e rindo de tudo
na criação delirante do novo.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

A TRISTEZA QUE NOS FREQUENTA


A tristeza que hoje nos frequenta
Contamina até  mesmo nossa alegria.
Ela é  sintoma de uma ausência, 
De uma falta de si,
De uma perda do mundo e da vida,
Que transcende a mera melancolia.

Ela é uma quase indiferença, 
uma intuição de potência,
Que se faz intensa onde insistimos
Em viver com naturalidade
O absurdo de nossas rotinas.

A tristeza que hoje nos frequenta
É expressão direta de nosso inconformismo,
De nossa vital necessidade de mudanças. 




PREGUIÇA




A preguiça me pesa nas costas.
Não como  indisposição,
mas como um sentimento de vazio,
como niilismo,
como uma ciência da degradação dos fatos e do seu desvalor,
Como a intuição de uma realidade caduca
Que dispensa qualquer atenção.


domingo, 12 de janeiro de 2020

ORGULHO DE SER PREGUIÇOSO

Não  me adapto as circunstâncias, 
Pouco faço  para superar dificuldades
não sou movido por nenhuma ambições. 

Fora isso, sou miserável, fraco e covarde.
Não  nasci para ser herói.
Minha maior qualidade
É  a gula e a preguiça. 

Eis o segredo da minha paz
E felicidade.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

SOBRE AUTENTICIDADE

Viver uma vida inteira sem inventar-se como alguém  inédito é  o grande destino da maioria. Somos educados para não sermos originais, para o conformismo ao jogo social. Paradoxalmente,  somos reconhecidos como indivíduos apenas quando nos devíamos  de nossa singularidade, quando nos tornamos banais, comuns, sem imaginação. Para nós  a singularidade ( individuação) é  uma estrategia existencial de fuga , uma personalização libertadora. contra ao individualismo massificado ao qual estamos condenados.

AMARGA ROTINA

A poeira dos dias inúteis 
Cobre o futuro,
Soterra possibilidades,
Desbota o amanhã e os sonhos,
Deixando triste a realidade.

Tudo é  estagnação  e rotina,
Eterno retorno de uma agonia
Que nos consome aos poucos.

Estamos condenados a um inutil presente 
Que nos consome a juventude e a vida,
Onde é  sempre tarde demais para a poesia.






segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

FUGA

Fugir de mim mesmo é  uma estratégia de redenção. 
A vida é mais intensa onde me embriago,
Onde não  me reconheço, 
E desprezo o mundo,
Inventando mil maneiras de não ser eu.

A vida pulsa onde não há certezas,
Onde as palavras não funcionam 
E a poesia tem gosto de anti matéria.


SEM IMPORTÂNCIA


Ainda ontem,
tudo parecia impossível.
Não havia saída
ou qualquer esperança.
Hoje, entretanto,
isso já não tem importância.
O problema perdeu o encanto
e deixei de buscar respostas
para dilemas que me foram impostos.