quarta-feira, 28 de setembro de 2016

NOITE E DIA

Não preciso de nada mais
Do que um copo de café quente
E um pedaço de pão com manteiga
Para começar a decorar a manhã.
O almoço não faz sentido.
Preciso saber o fim do dia
No rito do café da manhã.
Nada importante acontecerá hoje

Além da noite.

PRECISO DE UM CIGARRO

Dentro de mim gritam absurdos e imensidões
Que cabem em um grão de areia
E dizem um universo inteiro.

Mas falam do nada,              
De  uma dor abstrata
Que acaba no riso franco
De quem em nada acredita
E brinca com suas próprias imaginações.

Sou  um vazio diante do mundo.
Existo apenas como abstração.

Preciso agora de um cigarro...

terça-feira, 27 de setembro de 2016

EXISTIR NÃO É VIVER

Resisto a mim mesmo
Sobrevivendo a certezas,
Aos meus gritos e limites físicos.

Entre os outros
Sou quase um fantasma,
Alguém indiferente ao mundo,
Ao futuro e a todo destino possível.

Estou pronto para mais um dia,
Levantarei meus restos da cama
E sairei a rua com um sorriso dissimulado
Como se fosse um rosto na tela da televisão.

Precisamos existir,

Já que viver é uma utopia.

CONFISSÃO


Sei que as vezes me repito,
Procuro me dizer de novo
No inútil esforço de me revelar.
Mas nenhuma palavra
Torna inteiramente visível
Meu sentir e pensar.
Minha consciência é confusa
E só busca brincar

Na superfície de cada palavra.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

UM POUCO DE TÉDIO

Aprendi a suportar o passar de um dia vazio
Sob o peso da rotina.
A realidade espalhada ao meu redor
É enfadonha, indigesta
E apenas alimenta o tédio
Que mais do que nunca
Cala minhas vontades.
Não tenho muito a dizer hoje.
Não vislumbro possibilidades

Que ultrapassem a mecânica dos atos cotidianos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

BOM DIA

O sol me acordou nesta manhã
Dizendo a vida além do jornal.
Me convidava a rua,
Ao mundo e a miséria humana,
Contra todas as certezas do meu cansaço.
Era um belo dia,
Um instante lindo de tempo e espaço
Onde meu corpo espreguiçava
E exigia movimento,
Vontade e alegria.
Era hora de dançar...


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

NÃO LEVO NINGUÉM A SÉRIO

Pouco me importa os seres humanos,
Seus julgamentos, manias e certezas.
Não levo ninguém a serio
E nada espero dos outros.
Sou indiferente a todos

No vaidoso exercício de mim mesmo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

BOA TARDE

Vou comer um pouco de feijão
Para esquecer a hora do almoço.
Os restaurantes estão cheios de gente.
A maioria não vale o que come.
Mas o mundo segue
E as coisas continuam acontecendo.
É o que dizem os jornais.
Amanhã será outro dia,
Igual a ontem.
Que ninguém ouse dizer

“boa tarde”.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

TÉDIO EXISTENCIAL

O simples dia seguinte era incerto.
Não podia confiar se quer no vazio da rotina
Tal era o grau de estabilidade  que me definia a existência.
Já não havia mais o tédio do sempre igual
Pacificando minhas agonias.

Cada momento aprofundava o impasse
Entre  os dias e  a vida.
Por isso,
Não havia tempo para soluções,
Não se apresentavam escolhas.
Tudo era uma questão de aceitar os fatos

E me embriagar de silêncios.

ANTI SOCIAL


Não gosto de eventos sociais e do seus artificialismos banais. Neles as pessoas representam a si mesmas e celebram verdades e consensos  que não existem. Na maior parte do tempo vivemos de nossas mascaras, do socialmente estabelecido contra a angustia  ontológica que nos define como simples  e contraditórios indivíduos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

SIGA SUA ROTINA

Os mesmos lugares, as mesmas tarefas e  incertezas de sempre.
Um dia segue ao outro como se tudo fosse sempre igual.
Mas a qualquer momento podemos perder o chão.
Procure nunca pensar nisso.
Faça de conta que estamos no controle
E que temos todas as perguntas para as respostas que precisamos.
A vida não é perfeita, os sonhos estão doentes
E a própria realidade está em risco.
Mas temos a rotina.
Pelo menos por enquanto, ainda temos a rotina.
Siga o protocolo e abrace suas velhas certezas.
Não abra mão de suas convicções obsoletas.
A existência precisa continuar a fazer sentido.


terça-feira, 13 de setembro de 2016

REPOUSO

Preciso me esconder um pouco do mundo.
As rotinas me cansam,
As pessoas me enjoam
E todos os meus atos não fazem sentido.

Preciso de um tempo para não fazer nada,
Parar a existência e ficar suspenso.
Dormir, afinal,  é a melhor parte da vida
E um dia vazio nos renova a esperança
Contra todas as certezas que nos escravizam.
Pouco me importa a realidade,
Não me interessam os fatos.  


Preciso dormir um pouco...

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A SIMPLES VONTADE DE BEBER E FUMAR

O que tenho hoje é a simples vontade
De beber e fumar,
Ficar pensando na vida
Lambendo o passado e cuspindo o futuro.
Sou feito de pura preguiça.
Não estou disposto a correr riscos,
Sustentar verdades e engolir certezas.
Não quero dizer nada
Ou fazer  coisa alguma.
Pensamentos  são um modo
De exercitar o nada abstrato
Que nos define os sentimentos das coisas.
O que tenho hoje e a simples vontade

De beber e fumar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

OS ÚLTIMOS DIAS

Os últimos dias foram marcados
Por silêncios e estagnações.
Não são dignos de qualquer canto de memória.
Tratarei de esquece-los
Para melhor lembrar  da vida.
Embora sejam tantas as noites tristes e vazias.
O que importa é que de costume
A vontade predomina sobre os fatos
E consigo seguir em frente
Apesar de todos os contra tempos.
Então não me perguntem sobre os últimos dias.
Eles nunca aconteceram.


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

INFORTÚNIO

Não lastimo minha sorte.
Cometi todos os erros
Aos quais tinha direito.
Sei que só podia acabar assim:
Frustrado e acanhado
Esperando por um futuro
Que se perdeu de mim.
Lá fora a vida passa,
O tempo urge
E as pessoas morrem.
Para mim, nada acontece.
Tudo se resume a um eterno impasse.
Vivo da minha própria fome

Como um mendigo de mundo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ANOTAÇÕES AUTOBIOGRÁFICAS DE UM VAGABUNDO

Às vezes é apenas uma questão de dias, outras, de semanas, para que eu me sinta de novo parte do jogo louco da minha própria existência. Tudo parece acontecer comigo sempre da pior maneira possível. Mas não me considero, de forma alguma, em alguma medida responsável pelas minhas desventuras. Não escolhemos onde nascemos, como crescemos ou o tipo de vida que teremos. Tudo acontece aos trancos e barrancos, sem tempo para grandes reflexões ou perolas de pensamento.


Lá fora está chovendo agora. Isso é tudo o que sei no momento...