sexta-feira, 24 de maio de 2019

O SEM TEMPO DA INFÂNCIA


APLAUSOS


O assentimento do aplauso, este ato social banal de conformismo ao qual estamos tão acostumados, é um símbolo de passividade é domesticação.

Aplausos são reverências coletivas que legitimam o teatro do absurdo de nossa vida social. Ele nos faz cúmplices do triste espetáculo do mundo.

Aplausos são um testemunho de nossa impotência coletiva.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

A BANALIDADE COMO PRINCÍPIO



Um dia a menos,
Um dia a mais...
Que diferença faz?

A rotina define a vida
Somos  reféns do banal.


alguns falam em mudanças e rupturas.
Mas a utopia de um mundo ideal,
também é banal.
Qualquer outro mundo possível
há de manter a ordem.
Nada escapa a norma,
a lei e a rotina.

Reclamar disso também é banal...
Mas nosso inconformismo
não carece de justificativas.




terça-feira, 21 de maio de 2019

A EXPERIÊNCIA DO EXTERIOR


Sou incapaz de descrever o momento.
O instante escapou ao dia
Deixando nu um acontecimento.
Agora o que sinto me sente.
E estou ausente de mim e do mundo.


Apenas as coisas existem.
E o corpo é uma coisa,
Como todas as outras coisas.


O momento não me sabe nesta existência.
Não percebo o tempo.
toda experiência possível
é tradução de uma imprecisa ausência.


O momento é nômade,
Movente,
Ausente.....

segunda-feira, 20 de maio de 2019

A FELICIDADE POSSÍVEL


Não desisti da felicidade, mas da ilusão de ser feliz.
Felicidade é só uma palavra. Não é uma formula.

Pode-se encontrar a felicidade, por exemplo, em uma boa noite de sono.
Ela não é um fato, mas um  estado de espirito.

A felicidade, portanto, é algo que nos habita como uma embriaguez,
Como uma indiferença,
Como uma ausência.

Saber da felicidade é desfazer de si mesmo,
Abraçar  o indeterminado de tudo aquilo que é.


SOBRE A VIDA

Metade da vida é silêncio,
Sono e inércia.
A outra metade é ilusão,
Consciência e vontade.


Entre as duas metades,
Inventam-se  sonhos,
acumulam-se vazios e ausências,

diante da fragilidade da realidade.

domingo, 19 de maio de 2019

A VIDA SÓ É DIGNA DOS VAGABUNDOS

Aprecio o doce prazer de não fazer coisa alguma. Nada melhor do que acordar pela manhã e não sair da cama, ficar inconsequentemente  a deriva sob as cobertas, rendido a preguiça como um moribundo.

Nenhum investimento no mundo, nenhuma obrigação ou compromisso, é mais importante do que o desfrute da inatividade, dá minha nulidade diante da sociedade.

O trabalho não nos traz qualquer dignidade. Apenas nos torna escravos de uma racionalidade obscena, prisioneiros de nossas necessidades. A virtude de uma vida autêntica é uma possibilidade que contempla  exclusivamente aqueles que ousam afirmar a vagabundagem, que não são escravos de qualquer ofício ou função. Quem não dedica a si mesmo a maior parte das horas do dia, não é digno da própria existência.  o ócio é  que dá brilho a nossa existência.

sábado, 18 de maio de 2019

DUPLICIDADE DE SI

Vivo assombrado por uma vida que não foi vivida, por tudo aquilo que em mim existe como virtualidade e potência. Carrego o peso de uma frustração profunda com isso que me tornei. Sei o cadáver daquele que não pude ser apodrecendo dentro de mim.  Viver é distanciar de si mesmo, é ser consumido por um insaciável desejo de si. O Ser está sempre ausente no si.

terça-feira, 14 de maio de 2019

LEITOR URBANO

Lia a rua por onde seguia
Como se ela fosse
Um texto antigo,
Quase incompreensível.
Mas a rua era apenas uma linha reta,
Uma frase mal feita,
Que no livro da cidade se perdia.
A cidade, por sua vez, era um livro ruim.

UM PEDAÇO DE CHOCOLATE


Pegue um pedaço de chocolate.
Esqueça o tédio
E o silêncio que oprime a tarde.
Não diga nada.
Apenas coma.
É melhor estar  triste
Do que ficar com fome.
Tudo que existe agora
É uma barra de chocolate.
Coma.
Mesmo sem ter vontade.
Não chore.

FOBIA SOCIAL

Não sabia onde estava a chave da porta.
Por todo canto procurei
E não achei o chaveiro.
Não sabia que a porta estava aberta
E eu me impedia de sair de casa.
Quem havia de fato desaparecido
Era minha coragem de enfrentar a rua.
A vida me parecia agora
Uma espécie de trapaça.

domingo, 12 de maio de 2019

VIDA DANIFICADA

Do amanhecer ao pôr do sol,
Tudo se resume a um acontecer banal,
Sem brilho e sem substância,
Na opacidade do real.


A vida tem sido rala,
Precária,
Na lógica do pão e circo.


Não há futuro em nosso amanhã.
Apenas notícias tristes e compromissos pendentes.

sábado, 4 de maio de 2019

UM POUCO DE OTIMISMO



Talvez ainda haja tempo
Para reinventar o passado
Como futuro
E desfazer o último passo
do tempo presente.
Não custa nada manter um pouco de esperança....

sexta-feira, 3 de maio de 2019

MATURIDADE



Deixei de lado o sem tempo das minhas urgências.
Sigo agora conformado a prisão de rotinas.
Espero apenas mais um dia de tédio,
Horas desbotadas e sem novidades.

Sei que já não tenho mais idade para viver,
Que perdi a liberdade da juventude
Em qualquer fim de tarde de outono.
O que eu sou agora é essa mosca morta
Que ninguém vê,
Esse rosto pálido e opaco.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

NÃO VALE A PENA




Falta coragem,
Falta sentimento,
Falta determinação,
Mas, acima de tudo,
Qualquer compromisso
Com o mundo.

Estamos cansados... 
Já não vale a pena fazer hoje parte do jogo,
Viver sem alma na era do descartável
E do  excesso de informação,
Ser escravo de qualquer opinião.


quarta-feira, 1 de maio de 2019

O SER DA VIDA



Obs: o pleonasmo é proposital. Trata-se de uma transgressão normativa, uma brincadeira destinada a quebrar o rigor formal, a dizer a alegria da alegria!