segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

OS LIMITES DE NOSSA EXISTÊNCIA

Há algo de intransponível no tempo de um dia.
Algo que nos aprisiona a repetição das horas
e já antecipa a manhã seguinte.

Trata-se de uma inércia das coisas vividas,
um demorar-se das rotinas,
que nos prendem os pés no chão. 

Há, de fato,
em tudo que nos acontece,
um limite,
uma angustia,
qualquer interdição,
que nos  impede de transpor o imediato,
fugir de casa,
mudar de cidade,
queimar a prefeitura,
ou se perder no mundo
em busca do impossível
de um sonho antigo.

Este maldito limite
é quem nos tornamos
contra nós mesmos.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

CONTRA ROTINA

Todos os dias parecem iguais.
Eu, entretanto,
acordo sempre um outro
pela manhã,
contrariando a verdade do rosto no espelho.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

MANHÃ DE DEZEMBRO

Era uma manhã de dezembro,
quase ano novo,
onde o passado ardia no sol.

Era uma manhã de céu azul e silêncio 
onde o tédio banhava os corpos
calados pela ansiedade por um dia seguinte,
constantemente adiado.

Era, como sempre,
quase ano novo
no ano passado.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

RE-EXISTÊNCIAS

Cantaremos hoje um futuro
que, talvez, jamais amanheça.
Dançaremos sonhos de infância contra as inércias coridianas,
e vamos sorrir as tristezas,
as perdas e desesperanças.
Brindaremos a melancolia
no silêncio da alegria.

O importante é persistir,
lapidar desejos,
devir  pedra,
inspirados pelo absurdo instinto
que nos faz,
apesar de tudo, insistir em existir
despidos de qualquer esperança. 




sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

ELOGIO A FINITUDE



Meu tempo é o instante de hoje,
efêmero e restrito ao acontecimento incerto 
do meu corpo na extensão do agora.

Meu tempo  é o tédio do depois do almoço,
a angustia da noite mal dormida,
e a rotina que me enterra nos dias,
entre o trabalho e o gozo.

Não  me interessa o futuro da humanidade
ou as ilusões do progresso universal.
Não  sou feito de humanidades,
de reputações e rótulos.

Nenhuma razão me guia
ou me explica.
Não  frequento os palácios do pensamento.

Sou raso, precário,
e quase invisível,
preso a uma vida
que aos poucos me escapa. 

Não  cortejo, portanto, verdades livrescas,
nem moral de rebanho.

Sou indiferente a ordem,
as autoridades, deuses,
e determinismos cósmicos.

Tenho orgulho de ser ilegível e insignificante.
E pouco sei sobre o universo,
os rumos do mundo,
ou sobre os tantos desastres produzidos por nossa condição humana.

Minha pátria é o esquecimento
onde habitam silêncios,
errâncias e desaparecimentos. 

Meu destino é a morte
e o meu caminho a incerteza.

















quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

UMA MANHÃ ESCURA

Uma manhã escura caiu sobre a vida.
 Não havia dia pela manhã.
Era quase fim de mundo,
e nada de extraordinário aconteceria
naquele amanhecer escuro
que nos cobria de luto.





DESAJUSTADO

Tenho vivido como coisa
no aprendizado de ser nada
contra a ilusão de ser gente.

Tenho me tornado
um animal desobediente,
um insurgente calado
e semi morto,
enterrado nos outros
em meio as ruinas do mundo. 

Tenho aprendido o grito...



domingo, 5 de dezembro de 2021

RASA TARDE DE DOMINGO QUASE SURREALISTA

O raso dos meus dias
tem a profundidade dos abismos,
e é muito fácil afogar o rosto
nun copo d'agua enquanto o sol morre no horizonte. 

Eis aqui a premissa do tédio e da melancolia de um fim de tarde de domingo onde tudo é vasto e incerto.

O fim de semana termina numa rotina sem sentido.
Amanhã será tarde,
amanhã é sempre tarde,
nas segundas intensões do tempo.

Mas hoje ainda é domingo
enquanto contemplo o prato raso e sujo do resto do almoço
que decora o vazio do apartamento.




sábado, 4 de dezembro de 2021

UM DIA

Um dia é menor que o segundo.
Um dia não cabe neste verso.
Um dia não cabe no tempo
e escapa a qualquer ilusão de eterno.
Um dia são todos os dias somados
de uma breve existência. 
Um dia é a ilusão da terra que gira
ignorando o sol.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

O NADA DA VIDA

A vida está nos momentos gratuitos e insignificantes de pasmaceira.
Ela acontece quando nada é produtivo e não  nos ocupamos da garantia da mera sobrevivência. 
viver é a realização do inútil,  não  é sobre construir nada.