quarta-feira, 27 de julho de 2016

NA CONTRA MÃO DO PROGRESSO

Aguardo aqui por qualquer coisa boa
Que jamais ira acontecer.
Mas quem escapa a falácia das expectativas,
A fantasia do dia seguinte?
Vivemos como se a existência
Seguisse em linha reta.
Como se todos os fatos
Fizessem sentido
E a mudança sempre trouxesse
Alguma coisa melhor.
Mas não é assim que acontece.
Apenas envelhecemos  e nos esquecemos.
De olhar para traz.


terça-feira, 26 de julho de 2016

O INDETERMINADO DO AGORA

Ainda está escuro lá fora.
Acordamos no meio da noite
Exilados de algum sonho.
Agora é cedo demais para um novo dia
E tarde demais para mudar o passado.
Estamos presos ao momento presente
Que, por sua vez, vaga indeterminado

Pelo aleatório do tempo e espaço.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

ANOTAÇÕES AUTOBIOGRÁFICAS DE UM VAGABUNDO

Não era mais possível permanecer inerte diante de todas as carências, limites e silêncios da minha existência. Eu vivia demasiadamente abaixo de todas as expectativas e havia me acostumado demais a isso. Abusava desta estranha capacidade humana de adaptação, mesmo sob as  terríveis  circunstancias...


Costumo dizer que a imperfeição é a essência da humanidade. Somos do tipo que não dá certo. Séculos e mais séculos de História já provaram isso. Caminhamos de mal a pior no plano mais intimo de nossas vidas. Não importa a época. Em qualquer contexto somos em alguma medida disfuncionais sob o véu de civilizações e avanços tecnológicos. 

FUGINDO À ROTINA

Sempre a espera do inesperado
Contra a rotina
Me perco nas ruas.
Esqueço de mim e sigo o trafico
Até o ponto de um desvio
Provocado por algum golpe de imaginação.
Pode ser qualquer porta de bar,
Chamado à janela
Ou banco de praça.
O importante é distraidamente

Sumir do rumo natural das coisas.

O ACONTECER DA VIDA

Não sei se é possível  existir
E fazer sentido.
Vou me refazendo  em improvisos,
Buscando sobreviver ao silêncio dos dias.
Não cultivo grandes pretensões
Nem me imponho obrigações.
Tudo na minha vida termina em um cigarro
E uma bebida
Enquanto a noite cai sem filosofias.

Viver é tão simples que não vale uma linha de antologia.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

DEIXEM-ME DORMIR!

Tenho mais sonos do que vontades,
Mais cansaços  do que entusiasmos.
Tudo que o mundo me inspira,
Além de uma absurda ansiedade,
É uma grande preguiça.

Estou farto de ser...
Demasiadamente enjoado de acontecer.

Já não suporto toda a história universal!
O passado, o presente e o futuro!
Tudo que quero é dormir,
Sonhar e esquecer
Todo o tosco acontecer do mundo.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

POR ONDE ANDA O FUTURO?

O dia seguinte chegou
E me encontrou aqui
Passivamente esperando pelo futuro.

Ele faltou ao nosso ultimo encontro
Onde a existência me virou o rosto
Depois de me oferecer um cigarro.

O tempo se dissipava
Através da fumaça
Enquanto abstraiamos  o mundo.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

ÉTICA DIONISÍACA

Sou destes espíritos indelicados
Que rasgam os dias ,
Ignoram pessoas e compromissos
Fugindo de toda responsabilidade.
Sempre preciso de uma bebida
E uma madrugada insensata
Para testar meus limites.
Longe de mim ser razoável
Ou ponderado,
Sucumbir ao tedio da prudência.
A vida é uma aventura rasa
Onde não cabe perder tempo.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

INFERNO

Era um mundo horrível de se viver.
Precisava chorar um pouco.
Mas não haviam lágrimas
E , muito menos, tempo.
Estava sempre indo embora
De algum lugar
Ou fugindo de qualquer coisa.
As pessoas não ajudavam muito
E a realidade estava constantemente
Por um fio.
Não tinha nenhuma carta na manga,
Nenhuma esperança.
Todos os dias
Precisava reaprender a viver.


terça-feira, 12 de julho de 2016

PEQUENO ROTEIRO EXISTENCIAL

Meus atos silenciosos
Percorrem o manso absurdo das coisas vividas.
frequenta castelos de areia
Enquanto o desespero inventa uma casa
No meio da ventania.

A felicidade se matou agora a pouco
Depois de assistir ao suicídio do infinito.

A vida é o aqui e o agora.
Nada demais,
Nada de menos.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

O PARADOXO DO CAMINHANTE

Para onde vai meu caminho
Sem mim?
De repente já não me acompanho.
Sigo ausente e indiferente
Aquele eu que ficou para traz
E aquele outro que já partiu.
Sou apenas neste lugar que estou
Indeterminado por minhas escolhas
 E formatado por minhas inercias.
Cada passo me atinge

Como um questionamento constante.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

PEQUENOS IMPASSES DIÁRIOS

Talvez eu devesse beber menos
E diminuir o cigarro,
Domar a insônia e abolir a madrugada
Entregando o corpo
Ao silêncio do sono,
A meta realidade de um bom sonho.
Mas o comportamento humano
Meus amigos
Não é uma questão de escolhas,
Mas um imperativo da imaginação
E dos sentimentos que nos consomem
Em abstrações absurdas.


terça-feira, 5 de julho de 2016

FILOSOFIA DA VADIAGEM

Sou feito de errâncias,
Erros e defeitos.
Gosto de vagar sem rumo,
Fazer qualquer coisa
Sem propósito
Enquanto o dia se consome
Nesta grande pasmaceira
Que é a vida.
Estou sempre seguindo minha sombra,
Habitando as estrelas e imaginações mais selvagens.
Não me queiram preso a compromissos,
Ao progresso e a razão das coisas.
Sigo meu suspiro.

Meus olhos enxergam o infinito.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

APENAS MAIS UM DIA

Depois dos quarenta anos passamos a viver de modo mais pragmático. Aquela energia e disposição para bancar impulsos e arroubos de subjetividade, para se perder nas situações mais esdruxulas e viver todas as insanidades de uma noite de porre, já não nos inspira mais. O tempo pesa no corpo e descobrimos a filosofia do menor esforço.  Não é que ficamos mais ajuizados; simplesmente já não somos capazes de dar conta de todas as nossas vontades e impulsividades.


O desejo e o prazer não valem muito depois de realizados. Mas só nos damos conta disso depois da orgia, quando nos decepcionamos com a frivolidade dos imediatismos mais banais da vida contemporânea e envelhecemos o suficiente para saber o valor do que realmente importa. Uma boa noite de sono e um dia seguinte sem grandes surpresas, pode ser tudo aquilo de que precisamos às vezes.

UM POUCO DE CIGARRO E BIRITA

Só precisava disso:
Um maço de cigarros e alguma bebida.
O resto era a vida, como sempre,
Desmonorando a minha volta.
Já estava acostumado a isso
E não esperava nada diferente.
Não nasci para qualquer coisa.
Existir é acidental,
Quase não se percebe.
Mas as pessoas se levam demasiadamente a sério.

Como são tolas.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

AS PESSOAS DEVERIAM PASSAR FOME

Quando vejo pessoas falando sobre culinária, sobre bons restaurantes e receitas, não consigo evitar certa sensação de asco e desprezo. Um bom prato é aquele que se devora com fome. É preciso ficar alguns dias sem comer direito para apreciar o sabor de uma boa refeição, pois só assim conseguimos degusta-la com o corpo todo, com a máxima satisfação dos sentidos. E não precisamos de um cardápio muito sofisticado para viver uma experiências dessas. Passa ter fome.

 Hoje em dia, para a maioria das pessoas a hora do almoço não passa de um exercício degustativo banal. Quase uma formalidade ou um ritual social. Elas não sabem o que é matar a fome, não sabem o que é comer de verdade. As pessoas deviam passar fome. Aprenderiam a apreciar assim uma boa refeição.