domingo, 29 de setembro de 2019

TEMPO ESGOTADO


Não  há  mais tempo para o presente,
Para o homem presente,
Para as urgências
Ou as angústias do agora.

Nossas reservas de futuro estão  esgotadas.
A esperança degradou-se,
Nossas certezas estão  fora  da validade.

Nossas perguntas estão nuas,
Carentes e doentes.
Não  são  dignas de respostas.

Tudo que nos resta agora,
É  reaprender a sonhar.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

MULTIDÃO, CIDADE E DESEJO




A existência da cidade não se conforma a realidade de suas ruas e prédios.
Não se deixa dizer através de mapas,  estatísticas, ou paisagens de cartão postal.

                                                  ***

A cidade é uma multidão que pulsa,
Que transborda em desejo,
Que busca, circula e cria,
Transfigurando as ruínas do sempre igual.

Nada é inerte na paisagem urbana.
Tudo é movimento sem tempo,
Sagração do espaço meta geográfico
e meio virtual.

Uma multidão sem nome
Sempre assusta e pertuba
A razão caduca dos urbanistas,
questiona a fome de ordem das autoridades.

A multidão esta em todas as partes
E faz da cidade avalanche,
Corpo e desejo composto.



A INDETERMINAÇÃO DE EXISTIR


Toda forma de identidade
É prisão,
Tal como toda certeza é doença.

Existir só faz sentido
Quando é impreciso,
Quando não se fixa em nenhuma forma de ser.

A liberdade é sempre um estado futuro de vida,
De saber o mundo na inconstância do tempo
Contra a agonia do agora.

Não quero ficar preso 
a ilusão de mim mesmo.
Existo como quem ri
Do ridículo da própria dança.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

DESNUDANDO O MUNDO





Desnudando o mundo
Entre o quarto e a sala,
Provei a alma da vida
Através de uma taça de vinho.

O pensamento traduziu o infinito
E toquei o indizível
Com a ponta dos dedos.

Tudo aconteceu na banalidade do momento,
Na intimidade da experiência,
E no silêncio das aparências.

Desnudando o mundo
Não encontrei nada.
Mas na vertigem do nada
Cabiam universos
De anti cotidiano de  felizes indeterminações.




segunda-feira, 23 de setembro de 2019

UMA MANHÃ QUALQUER



A vida segue indiferente em uma manhã qualquer.
Durante o café matinal, tenho  intuições sobre o caos do universo,
Adivinho a irracionalidade do incompreensível da totalidade.
Mas prevalece, entre uma torrada e outra,
O imediato do cotidiano em sua multiplicidade de coisas
Contra o abstrato infinito da imensidão cósmica.

Meus pés provam  o chão duro da rotina
E meus olhos sabem a segurança de um céu de certezas finitas.
O dia amanhece novo, dentro na caduquice de todos os outros dias.

Persisto sem qualquer bom motivo,
sem nenhuma esperança de redenção.
A existência é um tédio sem sentido
que através de mim insiste
enquanto  a vida pulsa.

sábado, 14 de setembro de 2019

MICROFISICA DE UM DIA VAZIO

O cotidiano perecível e  epidérmico é  tudo que temos. Ele é  o vazio onde cabem todas as coisas,  onde a vida acontece em ordem de caos diversos.

Tudo é  tédio, rotina e desaparecimento, onde a alegria e a angústia se nivelam  na indiferença do tempo que passa.

Hoje queria não  fazer nada,
Esquecer de tudo,
Fugir de mim e do mundo.
Comer, beber e respirar
Sem o peso de qualquer pensamento.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A IMPOSSIBILIDADE SOCIAL DA PLENA EXISTÊNCIA


Confesso que ainda não comecei a viver.
Ao longo de anos  realizei mil tentativas.
Todas elas não  me conduziram a qualquer forma bem sucedida de existência.


Tenho sido apenas um rosto, um nome trivial, no jogo de ser e não ser, de morrer aos poucos em sociedade.


Só aprendi que viver é  ser corpo,
Ser livre como um animal selvagem.
Mas fui educado para não saber do mundo,
Me conformar aos outros na prisão de mim mesmo,

na ilusão de um eu abstrato 
que me ensina um duvidoso dizer das coisas.

domingo, 8 de setembro de 2019

SOBREVIVENTES

Sobreviver a vida danificada de todos os dias é o objetivo da maioria das pessoas.

Trabalho, boletos, amores baratos e consumo regrado, é o triste resumo da cartilha do bom  cidadão.


Fomos reduzidos a uma multidão  de dementes. Tudo Em nome da sobrevivência em um mundo que nos foge do controle e sobrevive da  nossa impotência.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

AGONIA DE SER


Tenho necessidade de dizer,
De sentir e fazer,
Qualquer coisa que não  sei.

Mas seja lá o que for
é  algo urgente
Que me dói  no corpo
Como um fogo.
É  uma agonia,
Um gozo
E um nada,
Ao mesmo tempo.

É uma vontade preguiçosa,
Um descontentamento sorridente
Como os cacos de um grito
Caindo da boca.
Tenho necessidade de algo cru,
Inominável.,
Que me faz querer rasgar-me,
Virar pelo avesso o rosto
E explodir no azul do céu.

Tenho necessidade de superar toda minha ansiedade
Destruindo o dia de sol e normalidade
Que enfeita agora as ruas da cidade grande.

O SEGREDO DA FELICIDADE


Felicidade depende pouco dos fatos.
É um estado de espírito sempre inconstante.
Ela é quase um desafio.

Ser feliz é em boa medida
Uma aceitação da vida com suas imperfeições,
É saber calar o próprio ego,
Evadir-se, através de qualquer ato de criação.

Ser feliz é sobre não ser muito você mesmo,
Não ser levar tão a sério.


domingo, 1 de setembro de 2019

MUDANÇA NATURAL


Um dia a menos
Ou a mais,
Que diferença faz?

Prefiro outra vida
Ou outra realidade
Menos absurda.

Talvez, alguma mudança
Na ordem banal das coisas
Que me faça acreditar
Em algum futuro decente,
Em uma sociedade menos deprimente,
livre da toxidade e atrocidades pós industriais,
onde o devir da existência aconteça
novamente dentro da mãe natureza.