domingo, 29 de outubro de 2017

BOM DIA

Todos os dias é como um renascimento,
Uma oportunidade para reinventar a vida,
Mesmo sabendo que viver
É um problema sem solução,
Uma equação imperfeita
Ou um devir sem sentido.
Todos os dias eu renasço
Acreditando em outro dia,
Que depois de outro dia,
Irá me trazer  finalmente um  amanhecer,
Inaugurando um tempo onde eu exista
De um outro modo qualquer.
Mas isso fica sempre para um outro dia qualquer...

DEFININDO A MADRUGADA

Deito e espero a noite passar.
Me esqueço dentro de qualquer pensamento
E pouco me importo com o amanhecer.
Já abdiquei do privilegio de sonhar.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

INDETERMINISMO

Muita coisa escapa a nossa vontade.
Mas não somos reflexos dos fatos
Ou joguetes de algum destino.
Somos nada
E por isso podemos tudo.
Um tudo que é pouco,
Mas também é muito.
Ele nem mesmo cabe no mundo.
É feito de imaginações e vontades
No virtual dos nossos atos
Orientados pela intuição

E o acaso. 

SOBRE SER TRISTE

Mesmo se a felicidade existisse
Escolheria ser triste.
Neste mundo a felicidade
É um ideal absurdo,
Digno daqueles
Que não tem coração.
Os que gozam de boa razão
Abraçam a melancolia
Como um dever moral,
Como uma estratégia de dignidade

E rentidão.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

INSÔNIA

Falta sono para consumar esta noite  com sonhos,
Calar esta ansiedade que me consome.
A consciência arde em febre,
Vontades e inquietações difusas.
Sou refém desta madrugada
Decorada por coisas inacabadas,
Por restos degradados de cotidiano
Que me acordam vazios por dentro.
Falta sono...
E já está quase amanhecendo.


EM BUSCA DO DIA SEGUINTE

O dia seguinte é sempre adiado,
É sempre presente,
Como as recordações de um futuro
Desde o inicio perdido
Em leituras superadas do passado.

A vida em virtual movimento
Segue sem tempo,
Urgente e imprecisa
A cada momento.
Tudo é efêmero,

Ilusão e instante.

sábado, 21 de outubro de 2017

INDIFERENÇA

A vida retraída em meus espaços íntimos,
Naquele silêncio que decora o quarto
É um sentimento abstrato
Que a tudo contamina.
Transforma passados e futuros,
E quase não me deixa saber
Das ilusões do agora.
Há um mundo inteiro lá fora
Que já não me interessa mais.


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

DEFINIÇÃO INDEFINIDA

Sou abstrato devir de finita e fina existência.
Sou mais adjetivos do que substantivos.
Na retorica fácil dos bem pensantes.
Sou anarquia para os sedentários
E embriaguez para os nômades.
Odeio o Estado e sou contrario a sociedade,
Mas não me entendo com os indivíduos.
Pouco me interesso por sexo
Mas abomino os pudicos.
Não tenho princípios,
Mas cultivo éticas em meus instintos.
Sou um pouco de todas as coisas

Que não sou. 

DIA DE SOL

Existe qualquer inquietude que me perturba
Na paisagem de um dia de sol.
Talvez seja  porque o azul do céu
Faça  a vida parecer  mais viva
Do que ela é.
As pessoas se apresentam  bem dispostas
E disfarçam com primor suas angustias.
O imperfeito parece perfeito
Como um comercial de TV
Quando acontece um dia de sol.


INUTILIDADE

Gosto de coisas inúteis,
De tudo aquilo que não serve pra nada.
A existência exige o lúdico
Como pratica de fuga,
Como recusa da verdade
Que nos consome todos os dias.
É sempre preciso um pouco de fantasia
Contra a razão das coisas.

O circo é mais importante do que o Estado.

VELHO DEMAIS

Não me importava com a opinião publica,
Com as definições ideológicas
Ou com o alvoroço das multidões.
Não me importava com os outros,
Apenas queria saber da minha própria vida.
Estava velho demais para idealismos.
O mundo era uma merda
E não tinha mais jeito.
A esperança é para os jovens.
Eu só tinha frustrações e contas.

Para mim já era tarde demais.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

PEQUENAS DERROTAS

São as pequenas derrotas cotidianas que acabam com agente.
Não é grande tragédia, que bem ou mal, nos obriga a fortaleza,
A sobrevivência instintiva e irracional.
Mas aquelas faltas, pequenas perdas, frustrações,
Angustias e ansiedades,
Que de fato acabam com a gente.
Mas cada um sabe o fardo que carrega,

Seus vazios mais íntimos e absurdos.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

LEITE MORNO

Um copo de leite morno
Antes de dormir.
Apenas para  relaxar,
Para esquecer
E não pensar.
Banalidade tola
De uma rotina vazia.
Mas são destas idiotices
Que é feita a vida.
Bebo um gole de leite morno
Enquanto contemplo o vazio.


NOVAS GERAÇÕES

Aquela criança crescerá em um mundo
Bem diferente daquele que vive.
Mas sentirá as mesmas coisas
Que um dia eu sofri.
As épocas passam,
Porem, as angustias não mudam.
E nelas se escrevem
Nossos silêncios.
Sei todos os sentimentos
Guardados no futuro

Daquela pobre  criança.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

DENTRO DO APARTAMENTO

O apartamento ainda era parte de tudo aquilo que me definia o horror do mundo. Entre suas quatro paredes eu não estava a salvo do cotidiano mecânico e muito menos das preocupações medíocres de uma vida banal.  Ali eu era ainda o mesmo que era entre os outros. 

Não havia como escapar de mim, ou, pelo menos, daquilo que eu havia me tornado em nome da sobrevivência. Eu era como um macaco adestrado em um grande circo. A jaula depois do espetáculo não me servia de abrigo.

Tomei um banho e me joguei sobre a cama. Tentava não pensar em nada. Queria apenas esquecer, me esquecer, e abraçar o vazio. Precisava  saber do meu corpo, inventar um repouso absoluto eliminando todos os metafísicos cansaços legados por mais um dia vazio.

Não queria ser parte das coisas, tomar iniciativas, fazer compras ou caminhar como um tolo em meio a multidão urbana que frequentava as ruas. Odiava todas as rotinas, todos os compromissos. Queria algo diferente, qualquer loucura ainda sem nome que me queimava por dentro como uma febre.
Mas tudo que eu tinha era um trabalho de escritório e  as horas de ócio no apartamento que se alternavam como o dia e a noite. Já não sabia de mim. Vivia para minhas ansiedades. Meu sobrenome era angustia.


PERDER TEMPO

Gosto de perder tempo,
De me perder no tempo,
Quando todos os relógios gritam
Que estou sem tempo.
Que diferença fará mais uma hora na cama?
Lá fora a vida segue seus ritmos
Enquanto o nada me cobre de frio.
Preciso perder tempo comigo,
Preciso de tempo

E já não tenho mais tempo.

SEM CONTROLE

Fronteiras oscilam entre o familiar e o desconhecido.
A linha que nos separa do lado escuro do dia é tênue,
Quase invisível.
Pode ser que tudo muda de repente
Enquanto o acaso conspira
Contra a rotina.
Nada está sob controle,
Nem eu tenho um destino.


O ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO

Segundo um aforismo de Karl Kraus , não devemos aprender mais  do que o absolutamente necessário contra a vida. Mas não é fácil saber o limite e muitas vezes escorregamos em qualquer desespero.


O fato é que envolver-se demasiadamente com o mundo conduz fatalmente ao desequilíbrio. A insanidade sempre me pareceu uma forma transbordante de lucidez. O mundo nem sempre é fácil de suportar.