terça-feira, 30 de abril de 2019

A SOCIEDADE COMO PRISÃO



Tenho uma casa sem muito conforto. Todas as noites ela me abriga contra os espaços abertos da cidade, contra os outros. Mesmo assim, tendo a toma-la como uma extensão do espaço social urbano e não propriamente como um lugar de refúgio e privacidade. Vejo meu pequeno apartamento como uma cela. No fundo, essa é a função que ele cumpre em minha rotina de cidadão produtivo. 

Seja em casa ou na rua, não sou mais do que um prisioneiro em minha própria vida. Afinal, não determino meu modo de existência, mas procuro, da melhor maneira possível, me adaptar as falsas opções que o meio social oferece e exige como resposta.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

SOU APENAS UM PREGUIÇOSO


A preguiça é minha maior virtude.
Sou avesso a ambição,
Não quero ser o melhor em nada.

Me recuso a buscar medalhas,
A ser um campeão,
Um escravo de qualquer ilusão de vitória.
Quero apenas paz e sossego,
Alguns amigos ao alcance da mão,
Boa comida, bebida, e um pouco de diversão.

A vida é curta demais
E não vale a pena perder tempo
Com qualquer sacrifício.

SOBREVIVÊNCIA


Todos os dias me visto de gente,
Ganho as ruas inventando sobrevivências,
Quando tudo que eu mais queria
Era uma existência nua,
Um sorriso de infância
E um canto de mundo
Onde me esconder de tudo.

Queria ter a ciência dos loucos e dos delinquentes,
A esperteza dos sonhadores
E a paz dos inocentes.
Mas tudo que me pertence
É a necessidade cega
De afirmar a qualquer custo
Minha simples sobrevivência.

VIDA DIGITAL



Os entulhos da vida cotidiana se acumulam as margens do futuro. Experiências e memórias já não passam de um inautêntico registro do efêmero, do banal e conformista acontecer do desejo além do corpo.

Tudo se reduz ao acumulo de fotos no celular. A vida oca, a aparência, e os agenciamentos mais abstratos formatam consciências. 

Desertos crescem em todos os tempos da existência. Tudo que importa é estar visível e conectado ao nada. O virtual já não é mais o potencial, o devir contra o futuro. Ele foi reduzido a prisão de um frágil mundo digital. 

sábado, 27 de abril de 2019

O PROBLEMA DA EXISTÊNCIA

Me tornar uma outra pessoa não resolveria meus problemas. Ser uma pessoa em uma sociedade de absurdos é o que define meus problemas.

Não existe problema pessoal que não seja uma construção social, o produto das circunstâncias de uma época, de um sistema de valores.

Não sou o sujeito da minha existência, mas a consequência de um arranjo singular de coincidências. Não busco respostas ou soluções. Sei que elas não passam de ilusão diante do caos que define a vida.

A própria vida é sempre o maior de nossos problemas.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

SEDENTARISMO


É um suplicio morar em qualquer lugar,
Manter a ordem dos objetos,
A geladeira cheia
E as contas em dia.
Quase sempre tudo foge do controle.
É inevitável...
Entendo perfeitamente porque existem mendigos.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A CIDADE E A ARTE DE CAMINHAR



O flanar pela cidade como um indigente é o passatempo preferido dos que sonham a realidade, dos que sabem a vida como um encantamento, um chamado, como uma aventura do pensamento e de múltiplas sensibilidades que induzem a um estranhamento de tudo que existe.

Nada é familiar ou banal quando somos inspirados pelo imaginação. Tudo guarda segredos e delírios. Cada canto da cidade esconde vertigens, nervosismos e urgências. Basta prestar atenção no desatento oficio de somar passos  aleatórios.

Como é agradável não ter destinos ou propósitos, admirar cada detalhe da paisagem urbana. São tantas coisas acontecendo, tantos outros, que até duvido de mim mesmo. Apenas os lugares existem como pontos de passagem. A cidade é movimento, inquietude e agonia.  


terça-feira, 23 de abril de 2019

E A VIDA?

Há tanta coisa por fazer que quase não tenho tempo para viver. Desde que deixei a infância nunca mais soube da minha vida. Mas isso não passa de uma tragédia banal. Todos estão acostumados a ignorar o obvio e seguir existindo como vegetais. Um dia tudo se interrompe... resta de nós o silêncio do inacabamento de uma vida que nunca foi mais do que uma constante promessa....

segunda-feira, 15 de abril de 2019

O ESTALO


FRUSTRAÇÃO EXISTENCIAL


Acontece em mim uma agonia morna,
Um nervosismo de vida,
Uma vontade surda,
Que não se explica.


Há sempre algo intenso que se anuncia,
Mas nunca se efetiva.
Não é uma falta,
Mas um potencial represado,
Qualquer coisa intensa
Que nunca se realiza.

domingo, 7 de abril de 2019

PASSEIO

Saí de casa apenas para andar,
Para não pensar em nada,
Para fugir de mim mesmo,
ou, simplesmente,
Para não viver,
Para não ser,
Para esquecer...
Desistir um pouco,  talvez,

antes de persistir,
de me anular em rotinas.

sábado, 6 de abril de 2019

CONTRA A HUMANIDADE

Sou antes de tudo um desajustado a mim mesmo, mas é  através do convívio com os outros que mais estranho a condição humana. Afinal, o que somos nós?

Qualquer coisa contra a própria natureza nos define. Talvez sejamos uma inconveniente anomalia no universo, um simples acidente no caso que tudo define.

O EU E OS OUTROS

Aquele que se expõe aos outros é sempre vítima de interpretações. 

Os outros dirão quem você é, mesmo que você grite o tempo todo não ser ninguém. 

Viver em sociedade é conformar-se ao espelho do outro na produção do visível.

Cada palavra e gesto é expressão do nosso conformismo. O ego é sempre coletivo.

NADA ME IMPORTA LÁ FORA

Não importa o que agora acontece lá fora.
Gosto de estar ausente,
Fechado em minhas angústias,
Perdido em meu próprio vazio.
Sei que para os outros,
Quase não existo.
Nada importa.
Não participo.
Não quero ser.
Há pouca realidade no que acontece lá fora.
Prefiro ficar sozinho,
Inerte e provisório
Contra tudo que existe.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

O OUTRO

Ele fala comigo.
Quase não o compreendo.
Mas consigo escutar o grito
Dentro dos seus silêncios.

Compartilhamos em segredo as mesmas angustias,
Mas apenas seguimos o mundo,
Os rumos do progresso banal
De nosso medíocre cotidiano.

Mantemos a serenidade aparente

Para simplesmente seguir em frente.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

SOMOS TODOS QUASE INVISÍVEIS



A invisibilidade é nosso estado cotidiano de existência.
A sociedade é feita de anonimatos,
De fluxos coletivos,
Discursos e padrões.

Somos sentidos pelo que sentimos,
Mas não somos em nossos sentimentos mais íntimos.
O mais intenso sentimento não tem rosto.

Quem somos não tem qualquer importância.
Somos todos ocos!
Nenhuma identidade nos define.


terça-feira, 2 de abril de 2019

ELOGIO AO COMODISMO

Meu maior defeito é nunca estar a altura dos meus desejos. Desprezo tudo que quero evitando qualquer esforço. 

Sei que tudo que muito custa vale muito pouco. O mais valioso é o que está ao alcance da mão, o que não tem distâncias.

Nada nesse mundo vale meu sacrifício. A preguiça sempre foi para mim uma grande virtude. Tenho apenas aquilo que posso.