Eu havia me habituado a ficar
sozinho. Afinal, esta era uma condição para não se fazer nada. Podia ficar
deitado o dia inteiro, enterrado em mim mesmo tipo um morto vivo sem que qualquer
pessoa me enchesse o saco por isso.
Era ótimo ficar prostrado e, as
vezes, cochilar e sonhar um pouco. Sempre sonhava com uma realidade melhor e
sem paralelos onde as paisagens tinham um gosto de antigamente. Mas quem ainda
pode entender isso?
O fato é que meu oficio mais caro
era não fazer absolutamente nada. Apenas deixava o tempo passar e pensava na
morte. Claro que morreria um dia. Eu
ficava tentando antecipar como seria. Fazia disso uma espécie de loteria.
Pensava em atropelamentos ou em morte natural e prematura. Um enfarto
fulminante, talvez, antes dos cinquenta anos. Mas provavelmente conseguiria avançar mais um pouco, apesar do cigarro.
Ficar sozinho e sem fazer nada
acordava a imaginação. De certa forma as minhas inércias sempre eram muito
produtivas. Mesmo que não me levassem a lugar nenhum. Mas nada leva a lugar
nenhum. Só os idiotas não sabem disso.
Mas eu ficava deitado o tempo
todo que podia porque, absolutamente, não tinha para onde ir. Poucos homens tem
realmente um destino, um objetivo alcançável e satisfatório. A maioria vive da
porcaria das rotinas sem sentido e se matam para ganhar dinheiro que só dá dor
de cabeça pra ser gasto e sustentar uma infinidade de contas e despesas
asquerosas.
Era melhor ficar parado, ali, sem
fazer nada e esperando a morte.