quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS DE UM VAGABUNDO

Tudo que me importava agora era dar um jeito de pagar o aluguel e cair fora da cidade por algum tempo. Rever o que ainda resta da minha família em algum buraco de cidade no interior do estado.

Minha casa estava em um estado tão calamitoso que  se alguém entrasse aqui, provavelmente chamaria a defesa civil e me mandaria a um psiquiatra. As pessoas estavam acostumadas a manter uma aparência de ordem em tudo. Por mais que tudo em suas vidas estivesse fora do lugar e de pernas para o ar. Eu, ao contrário, não tinha este pudor.

Dinheiro era sempre um problema e uma boa justificativa para não fazer nada.

Eu era plenamente consciente da minha solidão e do lugar nenhum dos meus dias.  Estava velho demais para esperar muito da vida e novo demais para encontrar com a morte. O intervalo era uma agonia. Mas um pouco de bebida tornava tudo suportável.

Precisava levantar do sofá velho e fazer alguma coisa. Tinha que sair da cidade. Esta era minha prioridade. Só precisava romper as inércias da ressaca e da falta de determinação. Via as horas passando e nada acontecendo e não conseguia pensar em outra coisa além dos atos e decisões que estava jogando fora.


A janela fechada me sussurrava que estava uma tarde linda lá fora. Mas isso não me importava. Jamais seria parte das paisagens de existência que se desenhavam lá fora. Eu tinha um compromisso maior comigo mesmo. Só estava perdendo o jogo.... Todo mundo perde um dia.

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