Tudo que me importava agora era
dar um jeito de pagar o aluguel e cair fora da cidade por algum tempo. Rever o
que ainda resta da minha família em algum buraco de cidade no interior do
estado.
Minha casa estava em um estado
tão calamitoso que se alguém entrasse
aqui, provavelmente chamaria a defesa civil e me mandaria a um psiquiatra. As
pessoas estavam acostumadas a manter uma aparência de ordem em tudo. Por mais
que tudo em suas vidas estivesse fora do lugar e de pernas para o ar. Eu, ao contrário,
não tinha este pudor.
Dinheiro era sempre um problema e
uma boa justificativa para não fazer nada.
Eu era plenamente consciente da
minha solidão e do lugar nenhum dos meus dias.
Estava velho demais para esperar muito da vida e novo demais para
encontrar com a morte. O intervalo era uma agonia. Mas um pouco de bebida tornava
tudo suportável.
Precisava levantar do sofá velho
e fazer alguma coisa. Tinha que sair da cidade. Esta era minha prioridade. Só
precisava romper as inércias da ressaca e da falta de determinação. Via as
horas passando e nada acontecendo e não conseguia pensar em outra coisa além
dos atos e decisões que estava jogando fora.
A janela fechada me sussurrava
que estava uma tarde linda lá fora. Mas isso não me importava. Jamais seria
parte das paisagens de existência que se desenhavam lá fora. Eu tinha um
compromisso maior comigo mesmo. Só estava perdendo o jogo.... Todo mundo perde
um dia.
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