CUIDADO COM O QUE VOCÊ DESEJA

Desistir é sempre a melhor opção.

Afinal, a vitória, em muitos casos,

É desastrosa.

Pior do que qualquer derrota.

O desejo é sempre idealista

Em seu materialismo.

Por isso pouco confiável,

Voluntarista.

Sonhos sempre semeiam algum pesadelo.

BEBA MAIS, LEIA MENOS!

Há muitos dias que é mais importante beber do que abrir um  livro. Livros não respondem aquela vontade de fugir do mundo. Exigem atenção, cansam, e não nos fazem felizes. Muitos apenas perturbam a saudável ignorância que nos ajuda a suportar o mundo.

Uma garrafa de uísque, ao contrário, exige nossa descontração e uma boa dose de humor. Proporciona, até mesmo aos mais equilibrados, um pouco da sabedoria dos loucos. Permite provar a existência, dançar a vida em desmedida, sem o peso de qualquer verdade.

Entre um livro é uma bebida, sempre prefira uma bebida.

NOITES

INDISPOSIÇÃO

Parece que o tempo recomeçou.

Mas é somente uma manhã banal de sol.

Tudo é preguiça,

Uma vontade de nada.

Pensamentos mudos pesam na consciência

E a existência parece um sonho,

Uma alucinação qualquer.

Meu corpo ainda vive a noite passada

No sem o tempo das imaginações.

Preciso de um pouco de café

Ou algumas horas a mais de sono.

NIILISMO PARA INICIANTES

Desisti de formular perguntas.

Já não podia acreditar em nenhuma resposta.

A vida não tem conclusões.

Todas as explicações são inúteis.

É melhor abrir uma cerveja

E afogar todas as questões.

É mais útil ver televisão

Ou dar de comer aos pombos

No banco da praça.

AUTO DETERMINAÇÃO

Antigamente fazia as coisas certas pelas razões erradas.

Hoje faço as coisas erradas pelas razões certas.

Em ambos os casos, além do bem e do mal,

Aquém das dicotomias dos juízos morais.

Sei apenas as regras da minha própria consciência

E sou responsável por tudo de bom ou ruim que me acontece.

Mas não tenho qualquer livre arbítrio.

Há sempre um outro de mim me dizendo a existência.

EMBRIAGUEZ E ONTOLOGIA

Todos os meus problemas estão no fato de ser este eu carente de si mesmo, nesta identidade mal feita  que não se reconhece em sua própria ação de existir. 

Não passo de um rascunho sempre renovado de mim mesmo. Adivinho potencialidades, enigmas em casa pensamento e palavra que me toma de assalta a consciência. 

Sou esta eterna dúvida que me esconde um nome, uma casa e uma cidade. Sou nômade de mim mesmo me aventurando no não ser, no vazio, que só a embriaguez  esclarece.

Beber é para mim um exercício de ontologia.

VIVER DE APARÊNCIAS

Todo mundo tem problemas. Mas no trato social aprendemos a dissimula-los, a entrar no jogo da auto afirmação narcisista e ostentar sorrisos artificiais.

É preciso ser simpático. Principalmente quando todas as situações  nos parecem desconfortáveis. Isso define o jogo da vida em sociedade: nunca seja transparente. Mantenha-se sempre em segredo . 

Cada frase deve conter um pouco de silêncio. Afinal, você é como as pessoas te vêem e não àquilo que você pensa ser em suas auto referências.

EMBRIAGUEZ DIURNA

Um cigarro e um copo no extremo do dia.

É tudo de que preciso para lidar com o vazio,

Com o não sentido que quase me desarticula.

Existir não é sofrer o tempo passando,

É saber-se virtual na concretude dos atos.

É um constante perder-se em si mesmo.

A embriaguez é um acalanto

Contra a falta de mim mesmo,

Contra este não me caber no rosto.

A lucidez não me define

Neste desespero de mim.

SOBREVIVÊNCIA

Existo em estado permanente de incerteza

Enquanto o passado cresce cada vez mais concreto

Sobre um presente abstrato.

Tenho menos do que preciso

E mais do que esperava

Na invenção do nada que é minha vida.

Mas, contrariando todas as expectativas,

Tenho sobrevivido a todas as minhas carências.

FELICIDADE

VIDA RUIM

Vivo abaixo de qualquer expectativa de realização.

Quase não existo.

Mas acumulo pequenas alegrias contra os fatos

Sustentadas por noites de excessos e embriaguez.

Dos meus atos não espero qualquer resultado

E pouco me importa o certo  o errado.

Confio no meu juízo  precário

Contra as incertezas do dia a dia.

VIR A SER

Levo as últimas consequências aquela vontade de evadir,

De desaparecer dos meus dias,

E redescobrir a vida através de um duplo,

De um outro,  que materialize

Qualquer parte perdida e melhor de mim.

Guardo em meu intimo desesperadas urgências,

Uma absoluta necessidade de mudanças,

De dobras de consciência.

Sei que há muitos futuros  perdidos no tempo.

Em cada um deles vislumbro variações do meu rosto,

Hipóteses e potencias de virtual existência.

TEIMOSIA

Preciso arrumar a casa.

Preciso cuidar da vida.

Viver as rotinas banais,

O tanto faz,

O automatismo que nos conforma

A sociedade.

Preciso ser um pouco como todo mundo,

Banal e previsível.

Preciso....

Mas não serei.

Mais forte é o meu querer sem rumo.

AQUELA IDÉIA

Aquela ideia não virou palavra.

Ficou abandonada no balcão de um bar.

Mas parecia a solução para todos os meus problemas,

Um novo rumo,

Uma decisão urgente.

Agora mal consigo lembra-la.

Mas ela ainda acontece dentro de mim,

Ainda me chama....

Me espera no bar.