domingo, 24 de outubro de 2021

ELOGIO A IGNORÂNCIA

Não esperem que eu diga algo útil, 
agradável ou inteligente.
Não sou um palhaço da comunicação, 
do espetáculo da informação,
ou da industrialização do verbo.
Muito pelo contrário.
Sou destes que falam sozinho,
que desfaz lógicas e ignora a boa Razão. 
Falo como os bêbados e os loucos,
sigo livre pelo labirinto do sentido
até desvelar  contra-verdades.

Escute o mar, as arvores,
os pássaros e as imaginações, 
contra a prisão dos tratados,
dos letratos e eruditos.
A voz é sempre mais potente que a escrita.





terça-feira, 19 de outubro de 2021

A VIDA

Nada do que faço vai mudar o mundo.
Muito menos transformará minha vida,
nem será digno de algum registro.

Tudo que faço é vazio,
sem sentido.
Simplesmente, sobrevivo,
lembrando uma vida
que poderia ter sido,
que não  foi,
jamais será,
nos agressivos tempos do capitalismo.

A vida é qualquer coisa
que ainda não sabemos
e nos escapa todos os dias.
A vida é qualquer coisa
que ainda não foi inventada.
A vida supera a história, 
o agora, e o mundo.


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

NOVO AGORA

 

Depois do fim,

além do concebível,

do viável e do esperado,

palavras novas invadirão gargantas,

inventando novos problemas,

novas resistências e persistências.



Não há mais porta

entre o amanhã e o agora.

Fomos superados pelo tempo

E os dias alucinam.

Há estranhos morando em nossa casa.

O MURO

O amanhã hoje é um muro
que cresce mudo
ameaçando o futuro.

Mas faremos o possível 
para realizar o impossível,
contra a certeza do muro.

Não seremos tijolo 
na parede da angustia,
do precário e do necessário.

Além do muro
qualquer paisagem cresce,
alguma liberdade se inventa
e outro amanhã acorda em um jardim.
Mesmo que o muro pareça absoluto,
que todos só saibam do muro,
que todos juntos construam o muro.




sábado, 16 de outubro de 2021

O MUNDO DO AQUÁRIO

Vivemos uma existência de aquário 
onde tudo é tédio e limite.

Existimos em um artificial ambiente
onde cada ato é pré definido.

Não somos livres,
somos escravos de um rosto
e o mundo-verdade é nossa prisão. 
Ninguém sabe o lado de fora,
o caos e o infinito
onde o humano se inscreve
como ilusão. 




terça-feira, 12 de outubro de 2021

ALÉM DO FUTURO

Espero que o futuro
nunca atrapalhe o intempestivo,
que a realidade de ontem e de hoje
não prevaleça no horizonte
ou defina o possível do abismo
impondo limites as crianças. 

Quero que  o amanhã sempre seja incerteza,
disputa;
que qualquer coisa absurda
e imprevisível 
sempre amanheça selvagem e
fora de controle,
que existam sempre  rebeldes contra a razão vigente. 

O futuro não é uma meta
ou uma solução. 
Que verdades nunca nos definam
no eterno retorno do caos
que nos faz criadores
contra a possibilidade de um ponto final.





segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A REINVENÇÃO DO INUMANO

O mundo fica cada vez menor
a cada crise,
a cada angustia,
a cada grito da natureza,
contra tudo que é humano.

O mundo desaparece
sem deixar vestígios,
na reinvenção do inumano.

Além do mundo
a Terra cresce novamente
selvagem,
e a vida se reinventa
na transcendência da humanidade.


sábado, 9 de outubro de 2021

LEMBRANÇAS SEM HISTÓRIA

Apesar de todos os dias ruins,
boas lembranças não me faltam.
Pois sei aproveitar a preguiça das horas,
a falta de fatos no tédio da tarde,
entre as ruinas dos acontecimentos.

Nada tem significado,
Tudo é indeterminado.
Meu coração bate,
e o tempo passa.
Mas  eternidades cabem neste instante,
onde nada é o que parece
e sou apenas um ninguém
brincando com algumas memórias. 

Gosto de lembranças,
pois desde sempre,
sou eu mesmo lembrança
nas ondas que falam o mar
para uma praia deserta
onde não  existem Histórias.


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

APOLOGIA A REVOLTA

Não estamos felizes.
Jamais estaremos felizes.
A felicidade não existe.

Viver é inventar a si mesmo
através  do ódio ao mundo.
Existir é um ato de revolta.

O conformismo é a morte.
Tudo é permanente mudança!

domingo, 3 de outubro de 2021

NÃO HÁ FUTURO PARA TODOS

Não há futuro para todos.
O tempo virou privilégio
em um mundo cada vez menor,
onde a vida é quase inviável
e a civilização insustentável.

A morte está na ordem do dia.
A morte absoluta, selvagem,
ou em estado bruto.

A morte calculada,
institucionalizada,
como estatística e fato social.

Não há futuro para todos. 
Não é recomendável nascer.
Somos todos dispensáveis.

Sobreviver custa caro,
é ser contra as más circunstâncias,
ou perecer antes de viver,
em uma época pouco respirável
onde Thanatos devora Eros
e a realidade é o pior dos pesadelos.