quarta-feira, 1 de maio de 2024

A PAZ É SONO SILÊNCIO

Queria dormir pelo resto da vida.
Esquecer o passado, 
não pensar no futuro,
e ignorar o presente,
até que o tempo se esgote 
para todo sempre.

Queria ignorar a realidade,
o mundo e todos os seus absurdos,
e, principalmente, 
a Vontade que nos move e transcende.

Queria não  querer, 
não pensar,
não ser gente,
e, simplesmente,
dormir
como se viver
fosse um sono,
a paz de um silêncio 
que através de nós 
se faz para sempre.




terça-feira, 30 de abril de 2024

O FUTURO SERÁ PÓS HUMANO

O futuro é o fim do homem.
Não do mundo.
O mundo sobreviverá a humanidade.

A velha e selvagem natureza
há de prevalecer sobre a razão,
a civilização,
e sobre todo duvidoso progresso da humanidade.

Nosso tempo nunca foi histórico,
teológica ou teleológica.
Sobre as ruínas do progresso
desconstruiremos antigos futuros.

O amanhã há de ser selvagem
e pós humano.
Estamos todos fartos das humanidades!




quinta-feira, 25 de abril de 2024

A REVOLUÇÃO COMO RENÚNCIA

Espero uma madrugada limpa,
honesta,
despida do peso de toda rotina,
da cotidiana subordinação da vida
a exploração mais desmedida.

Espero mesmo que as primeiras horas
de algum novo dia
sejam sinceras e francas
com o resto de nossas vidas.

Espero grandes transformações 
e mudanças,
apesar de todas as inércias,
conformismos e  falsas esperanças.

Quem sabe amanhã 
seja, finalmente,
outro dia?
Não motivado por qualquer
convicção ou alegria,
mas pela descrença e ceticismo
mais denso 
que nos inspire a mais radical renuncia.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O DIA ACORDOU CANSADO

O dia acordou cansado.
Sem café da manhã,
sol ou esperança.

A noite não terminou 
dentro de nós,
apesar da manhã aberta.

O dia acordou cansado.
No momento não há outro acontecimento 
além da fadiga do dia
que precariamente se inicia.

Hoje quase não amanheceu.
A manhã tem o gosto amargo 
de uma fatigante melancolia.
O dia acordou cansado ...

terça-feira, 23 de abril de 2024

SEM TEMPO PARA VIVER

Não temos tempo para viver.
É preciso trabalhar,
pagar as contas,
comer e ter onde morar.

O resto, já não importa.
Ninguém faz o que gosta.
Mas é preciso continuar.
O mundo não para pra gente sonhar.

A vida passa.
É preciso trabalhar.
Sobreviver, talvez.
Não  temos tempo para viver,
sonhar ou Ser.

sábado, 20 de abril de 2024

O NADA DA EXISTÊNCIA

A existência banal,
insignificante e plural,
que nos reduz ao tosco
de um cotidiano opaco e funcional,
não deixará vestígios.

Na natureza nada é eterno.
Tudo se descarta.
Tudo passa.

A humanidade é meu delírio 
nas variações coletivas do efêmero
que tudo transforma na realização do nada.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

FUTURO PERDIDO

O futuro ficou pelo caminho...

Amanhã ninguém sabe
o que será dos dias,
mas hoje, 
vivemos um grande desastre.L
e já não esperamos nada
do resto de nossas vidas.

Sei que morreremos torcendo
pelo imediato fim deste mundo
sem nada esperar do universo.

Não resgataremos o futuro
que ficou pelo caminho
como uma grande pedra
no meio do tempo e dos versos. 

sábado, 13 de abril de 2024

ANTROPOCENTRISMO

O mundo, tal como está,
não terá futuro.
Todos sabem disso.
Mas poucos admitem
que o homem
é a doença do mundo,
que nossa existência 
é inimiga da vida
e que tudo em nós 
é trágico e absurdo.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

CONDIÇÃO HUMANA


 Somos, ao nascer, 
condenados a necessidade,  
treinados para o trabalho, 
coagidos a obedecer 
e sustentar privilegiados
até o limite de  existir.

 Desde cedo aprendemos 
 que não nascemos para felicidade
 e que devemos lutar pela sobrevivência.

Crescemos em um mundo torto
que naturaliza a desigualdade e a injustiça.

Nisso se resume
o miserável fardo
de nossa lamentável condição humana.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

UNIDADE & LUTA

Não faço ideia do tamanho do mundo,
de todos os cantos onde alguém vive,
mora e resiste, apesar de tudo.

Só sei que não existe fronteiras,
Identidades ou línguas 
que nos impeçam de gritar
um único grito,
uma mesma angústia e uma só revolta.

A liberdade é um sonho que todos sonham.
Não importa onde,
quando ou porque.
Pois somos todos filhos
de suplícios e resistências 
e inimigos de todo poder.






segunda-feira, 4 de março de 2024

ACONTECIMENTO E IMAGINAÇÃO


O fato não existe.
É sempre inventado,
interpretado e suposto,
através do ato de acreditar.

É convenção midiática,
 ilusão e narrativa. 

Todo acontecimento
é a sombra de um evento profundo
em grande medida desconhecido e perdido
no labirinto de suas versões.

Vale o que está escrito
sobre um evento inventado
entre o imaginado e o vivido,
entre a experiência e a memória.

O fato não existe.
A realidade é uma obra de ficção.

sábado, 2 de março de 2024

MARGINALIDADE

Sou inimigo do trabalho,
partidário das artes, da liberdade.
Jamais sustentarei parasitas,
sejam eles tribunos, doutos, missionários ou funcionários.

Serei sempre insurgente
diante da lei e da ordem
que garante direitos aqueles que nos exploram
e nos  negam dignidade.

Serei marginal e delinquente.
Jamais  obediente
ou submisso a qualquer  razão
 humana ou divina.

Não sirvo aos bons modos da civilização,
nem me submeto a  progresso
ou a ilusão de um Estado Nação.

Sou livre
e inimigo dos amantes da autoridade,
de todo aquele
que tentar me impor
algum tipo de escravidão.





quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

FAMÍLIA

Viver era ser entre os outros
sob um teto.
Ter três refeições por dia,
algumas obrigações , rotinas
e um pouco de afeto.

Era ter um papel,
um lugar.
Abdicar um pouco de si
para o bem de todos
e corresponder as expectativas.

Viver era ser ninguém
para tornar-se alguém.
Ter um destino
e seguir em frente
enquanto os anos passam.

Viver era ser como os outros.
Não ter idéias próprias.
Nunca bater a porta.

Era ter esperanças.
Educar as crianças
para um mundo
que fosse para sempre
sob a segurança de um teto.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

A VIDA É ISSO

Viver é respirar, 
beber, comer, cagar
e reproduzir a espécie.
Nossa existência se resume a isso.
Tudo mais é supérfluo.


Viver é ser corpo,
satisfazer apetites.
Sobreviver.

A vida não é filosia
não é  moral
e nem faz sentido.
Pois viver não é humano.
É coisa simples e  banal, 
como nasce sabendo qualquer animal.





quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

DIAS DE INFÂNCIA

Os longos dias da infância 
São hoje como um sonho distante.
 Lembram algo bom que nunca existiu, 
Tempos perdidos do próprio tempo,
 Enterrados dentro de mim,
 No impossível de qualquer utopia.
 Talvez exista uma atualidade perdida Em nossas infâncias 
Algo que reivindique o futuro
 Dos nossos tempos de criança.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

SER FELIZ ENTRE PARES

Não quero ser um campeão em tudo,
um adulto  bem sucedido e bem resolvido
em meio a tantos absurdos.

Desprezo o bem, o mal,
a ordem, a moral
e não me importo com o mundo.
Jamais serei um cidadão produtivo.

Almejo apenas um beijo e um gole de liberdade.
Despir-me de toda ambição e vaidade
para ser feliz entre andarilhos e mendigos.

Meu destino é e será sempre o fim do mundo.








quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

DESALENTO EXISTÊNCIALISTA

Preciso de um dia
para me esquecer da vida,
me entregar a preguiça
e sumir do mundo.

Eu lhes confesso:
Ando cansado de tudo,
farto das humanidades.

Tudo que mais eu queria
era jamais ter nascido,
nunca ter provado o veneno
de tanta vã vaidade.




segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

A ONIPOTÊNCIA DA ESTUPIDEZ

Tenho uma rotina estúpida
em uma época estúpida
em um mundo estupido.
Então, não me culpem
por ser meio estúpido.
No fim das contas
somos todos estúpidos
e negar isso
é ainda mais estúpido.
Estamos todos embriagados
pela mais banal estupidez universal.

DIAS MENORES

Encantam-me os dias menores,
as horas sem brilho,
a melancolia e a preguiça
de qualquer fim de tarde.

Encanta-me o tédio,
o vazio, 
o ilegível acontecimento
de simplesmente estar vivo
e anonimamente enterrado  em qualquer paisagem.

Encanta-me a saudade
de tudo que foi outro dia,
daquilo que nunca mais será,
mas que na memória
ainda intensamente brilha.

Encanta-me este fastio,
esta falta de vontade
de saber futuros
diante do inconcluso
dos meus tantos passados.

Encanta-me a insignificância,
a mortalidade,
a luz semi morta do crepúsculo 
e toda falta de espectativa e esperança
dos nossos menores dias.







sábado, 10 de fevereiro de 2024

DESIGUALDADE

A vida acontece
em todos os lugares,
animais e gentes.
Mas em nós ela é ausente.

A vida nos foi arrancada
muito antes do nascimento.

Não duvido que existimos.
Mas a vida não é isso
que diariamente sofremos,
o que não escolhemos ser.

A vida é o que a gente vê
do outro lado do muro.
É tudo que não podemos ter.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

NEMHUM LIVRO VAI MUDAR SUA VIDA

Nenhum livro vai mudar sua vida.
Nenhuma escrita vale a saliva.
Muitas palavras passeiam nas bocas.
Mas a palavra água não matará sua sede.

A vida é  um silêncio em movimento.
Um silêncio que nunca é o mesmo,
que muda a todo momento,
transformando o tempo,
 fugindo da escrita,
que tenta prender a vida
que sempre escapa entre as letras.

Nenhum livro vai mudar sua vida.
Leia as estrelas,
escreva uma lua.
Perceba-se corpo,
silêncio e mito.






DIAS DE PREGUIÇA


Há dias em que a preguiça
é maior que a vida
e o tempo se desfaz em silêncios, inércias
e mansas melancolias.

São dias onde tudo que importa
é esquecer.
Não querer,
não pensar ,
não saber,
não sentir,
não estar,
quase não ser.

Neles nada acontece.
Não há novidades.
Só tédios, tristezas e botecos.
Tudo parece prestes a desaparecer
com o próximo passo
ou terminar com um instalar de dedos,
com uma tosse, um suspiro,
um susto, ou, ainda, talvez,
quem sabe, com um tiro.

Um sono nos diz
que tudo já foi vivido,
sentido e pensado.
Que não há mais nada por fazer,
que é tarde demais,
que a vida passa mais depressa
quando pensamos nos mortos
e em tudo que se desfaz.

Tais dias deveriam  acabar
com um estalar de dedos,
com um suspiro,
com um susto,
salvas de palmas ou festas.

Mas são  dias que nunca terminam,
que  continuam acontecendo dentro da gente,
na contramão das rotinas
e através de uma preguiça
que não para de crescer.




sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O ACASO DAS ALTERNATIVAS

A maior parte das coisas da minha vida Não resultou de nenhuma escolha. Foi estabelecida, justamente, Por uma absoluta falta de alternativas. Pode-se mesmo dizer Que a maior parte das coisas da minha vida Já eram coisas da minha vida Desde muito antes de eu nascer. Nada, afinal, é mais involuntário do que uma biografia. A gente se torna nossa necessidade O que tem pra comer, O que tem pra fazer. A gente nem mesmo escolhe Quando e onde vai nascer. Mas nada disso é determinismo. É apenas qualquer espécie de fatalidade, De aleatória crueldade de acasos Que nada justifica. E assim, no encadeamento de gentes, lugares e acontecimentos Via se fazendo uma vida que, a qualquer momento, terminará Sem qualquer conclusão.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

O ESSENCIAL DA ROTINA


Não importa o roteiro e o lugar que  defini uma rotina.
Muito menos a identidade de seu protagonista.

 O que faz uma rotina ser rotina
 é a persistência do hábito 
e não o seu conteúdo ou particularidades  

A rotina é  o tempo reduzido a um único momento
na permanente atualização de um passado
que nunca termina.


É dormir, acordar, dormir,
e repetir tudo de novo
até desaparecer
no sono dos outros
imaginando uma vida
que foi apenas sonhada
na ausência do inédito,
do novo,
ou de tudo que se tornou improvável.

Toda rotina é uma forma de rapto,
uma bolha de tédio.
É a vida reduzida a simulacro.

Contrariando Camus,
é, definitivamente,impossível
imaginar Sísifo feliz.







domingo, 28 de janeiro de 2024

TODOS OS DIAS

Todos os dias
o mundo piora um pouco.
Mas já faz tempo
que a gente perdeu a esperança
e não espera nada de nada.

O mundo piora,
mas quase ninguém se revolta.
A vida parida, entre nós,
Jaz natimorta.

Todos os dias 
há um dia que nunca nasceu.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A VIDA ALÉM DO GIBI

A vida não é caso pensado,
é coisa vivida,
Brutulência que dispensa palavra.

A vida, não está no gibi,
nos livros da biblioteca central
e, muito menos, na bíblia .

A vida é tudo aquilo que acontece
enquanto você pensa na vida.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

A VIDA

Não importa onde eu vá.
A vida sempre estará
do lado oposto da rua,
da casa, 
ou, simplesmente,
em qualquer outro lugar
que não seja para mim
aqui e agora.

A vida é sempre além,
 uma busca,
uma ausência,
algo que a gente procura
antes de encontrar a morte.

A vida não é dada,
não é vivida.
A gente, normalmente,
só existe
e isso não é suficiente
nem nos explica
porque é tão difícil
se encontrar com a vida,
porque a vida 
jamais será
minha vida.


segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

AQUILO QUE MUDA O MUNDO

Vamos ser francos.
Pessoas não mudam o mundo,
palavras ou idéias também não.
O que muda o mundo
é tudo que a gente ignora
enquanto perde tempo existindo
enterrado em tédio, rotina,
muito conformismo e vazios existenciais.

O que muda o mundo
é o inclassificável e absurdo
ignorado pelos livros de história.
É o que não faz sentido,
o que não tem causa
nem é efeito
e, muito menos,  tem importância.
O que muda o mundo é a mais simples entropia
do morrer natural das coisas.