Poucas coisas me dão tanto prazer
quanto a inercia.
Gosto de permanecer inerte seja
no sofá ou na cama pensando de modo diletante sobre o susto de existir. Nunca
chego a conclusão alguma. Apenas tento me contemplar na mudez das coisas e,
sinceramente, sou sempre tomado pelo mesmo assombro. Trata-se na verdade de um estado de nudez
ontológica , de pasmaceira irracionalista e improdutiva do ponto de vista de
qualquer razão.
Mas vale a pena o exercício.
Costumo me sentir mais leve quando me
rendo, por horas a fio, aquela metafísica
preguiça de existir , aquela incomensurável pobreza de ser.