domingo, 29 de dezembro de 2019

A RUA DA MINHA INFÂNCIA

Gosto de ruas onde cachorros latem,
Crianças  brincam
E qualquer vizinho escuta boa música.

Gosto de casas de muro baixo,
De conversas no portão, 
E noites estreladas
Onde esperamos ouvir na rua
O sino do carrinho do pipoqueiro.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

MENSAGEM NIILISTA DE NOVO ANO

Um feriado qualquer,
Em um dia qualquer,
De um ano qualquer...

Nada há para dizer
Ou fazer sobre isso.

A vida segue precariamente.
O mundo vai mal,
Como sempre.

O tempo não para de passar,
E já sou quase um velho.
Pouco importa o dia no calendário

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

ESTRANGEIRO

Estou sempre longe de casa.
Casa é  apenas uma palavra antiga
Que diz qualquer lugar 
Que não  me habita mais.

Hoje, em toda parte, sou estrangeiro,
Alguém que não  se demora,
Que nunca fica a vontade.

Tudo que é em mim
Tornou-se distante,
movente e provisório. 

Estou sempre de passagem....

domingo, 22 de dezembro de 2019

AMOR E SOLIDÃO

A solidão  é  uma conquista para aqueles que sabem impossível evitar o outro, mas não se definem por nenhum relacionamento. 

A liberdade de si condiciona os encontros, impõe  limite aos abraços,  sabe os segredos da ilusão  de um beijo.

Apenas os solitários sabem amar. Pois não confundem o amor com o objeto amado.

OPINIÕES

Não sou destes que cospem opiniões. 
Tenho opiniões apenas em minhas ações, 
Que é  lugar de tê-las. 
Fora isso ,
Guardo  minhas opiniões  na cabeça
E não  prescrevo convicções. 
Não  me esperem fanático,
Monocromático 
Ou prisioneiro de rótulos. 
Gosto de liberdade, dúvidas e indecisões. 
Abomino certezas e posicionamentos universais.
Não  tenho resposta pra tudo.
Tenho perguntas onde me cabe tê-las. 
Palavras de ordem e tagarelismo não  né interessam.
Já  estou farto da banalidade das opiniões  de momento.


VIVER CHUVA

A chuva que cai lá fora
Acontece dentro de mim

Neste instante eu sou a chuva
Na incerteza da extensão do corpo,
No espaço em movimento.

A chuva se torna meu modo de ser
Enquanto perdura e define
A intimidade das coisas.



sábado, 21 de dezembro de 2019

FRUSTRAÇÃO

A manhã  tem cheiro de banho
E de brinquedo novo.
Mas as rotinas fedem a mofo
E tem gosto de coisa estragada.
Por isso o dia desanda e nos frustra
Logo depois do café.
Nossas expectativas não  cabem na realidade,
Como a beleza de uma velha canção 
Que toca agora no rádio. 




quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A VIDA REINVENTA A VIDA

A vida reinventa a vida no tédio do passar dos dias, 
No amargor do trabalho, do noticiário, 
Nas incertezas coletivas. 

A vida quase não  vive.
Mas sempre grita
Contra o absurdo da existência, 
Contra nossa mansa agonia,
Contra o abuso de ser,
De querer e exigir em delírio narcisista 
Qualquer ilusão  medíocre de felicidade.

A vida reinventa a vida
Apesar de nós. 



terça-feira, 17 de dezembro de 2019

FIM DE ANO

O ano passa na superfície do tempo enquanto o mais profundo dos anos nos escapa sempre . Tudo envelhece, tudo se perde na lata de lixo do passado. Tudo é  descartável. Nada guarda a intensidade de qualquer eternidade. Estamos desde sempre condenados ao nada.

Há muita melancolia em todo fim de ano. É  como o eterno retorno de  um trabalho de luto e ilusão. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

VIDA EM SOCIEDADE

Estou cansado do mundo,
Farto de ser eu, nós e os outros
Na cotidiana invenção de absurdos,
Ansiedades, frustrações e rotinas.

A sociedade não funciona.
Sobrevivemos adoecendo com a vida,
Esperando a morte
Como um merecido alívio. 

Seguimos juntos,
Todos sozinhos e sem rumo
Enterrados no vazio de ser.












quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A FELICIDADE DOS LOUCOS

Qualquer noite dessas
A vida vai tropeçar no meu corpo
Tudo vai virar uma grande bagunça
E o dia seguinte
Vai trazer outro sentimento de mundo.

Vou correr nu pela rua,
Beber um rio
E saber os segredos das estrelas
É da lua.

Vou ser tão feliz
Que acabarei preso
E condenado por insensatez.


domingo, 1 de dezembro de 2019

NOTICIÁRIO

Os fatos embaralhados na tela embriagam
Em avalanches  de impressões, 
Significações  rasas,
Quase instintivas. 

Quem pode saber os rumos do mundo
Ou os abismos do tempo
Quando a vida dura tão  pouco?
Vejo destinos no fundo de um copo de cerveja
E mil filosofias na fumaça  de um  cigarro.




COMO CONHECER A ALEGRIA

Só  tive real alegria na vida  depois que desisti da ilusão  de felicidade, que abdiquei da vaidade de um ego gordo, de ambições  toscas de sociedade, e  passei a me dedicar a tudo que é banal e inútil.

A BANALIDADE é  um campo fértil para imaginação.  Mas só  as crianças sabem disso.


sexta-feira, 29 de novembro de 2019

CONFISSÃO NIILISTA

Levo comigo a certeza da duvida
Na nudez barata das convicções. 

Sei que a vida não  faz sentido,
Vivo por natureza
Desconstruindo o infinito.

Meu mundo é  o aqui e agora.
Não  é  feio, nem bonito
Na intuição do ilegível.

Contra a vaidade dos iluminados 
E bem sucedidos,
Afirmo a nobreza de um mendigo.



quinta-feira, 28 de novembro de 2019

REBELIÃO DIONISIACA

Neste mundo envenenado pela verdade,
Pelos poderes e suas prisões, 
Pela razão de Estado e autoridades,
Quase não há  lugar para vida
Ou para qualquer fazer e ser liberdade.

Mas a rebeldia das imaginações  lúdicas 
Nunca se conforma aos desertos.
Escrevem Dionísio na ordem do dia
E se embriagam de insurgência
Dançando desobediências.





quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O ANONIMATO DA REVOLTA



Não existe solidão na revolta.
Ela é por definição um afeto coletivo.
Pressupõe  um contágio,
Uma intuição  do insuportável,
Que circula entre os sofredores,
Rejeitados e excluídos. 

A revolta não  tem face,
Não cria líderes.
Ela é um encontro,
Uma conspiração anônima,
Que  inspira atos de liberdade
Contra toda forma de limite e opressão.

A revolta é a vida que queima contra a ordem pública,
É  um estado de embriaguez coletiva
que reinventa o tempo e a ação.




terça-feira, 26 de novembro de 2019

RESISTA!!

Viva tua vida.
Acenda um cigarro contra a melancolia.
Mergulhe num copo de cerveja contra a solidão. 

Mas aguente a rotina,
O absurdo do mundo.
Lembrando que nada tem solução. 

Apesar de tudo resista.
Mesmo que seja apenas
Para cuspir no mundo
Sua desesperada vontade de existência, 
Ou toda agonia raivosa que define sua existência. 

VERSOS SUBVERSIVOS



Engasgava com algumas silabas
na consciência pós metafisica das palavras
Enquanto o real, irredutível ao dizer,
abrigava-se no não dito
pousado no significado de um verso quebrado.

A palavra era doce como chocolate
mas tinha  recheio amargo de um paradoxo.

A margem da lei, da gramatica, da moral
e da arrogância intelectual
O verso era uma navalha afiada
Ameaçando todas as autoridades.
Nada tinha a perder...

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

MINHA CASA

Minha casa era um depósito de silêncios. 
Quatro paredes firmes
Definindo um abismo
Onde cabia de tudo,
Menos a minha existência. 

Lá  fora apodrecia  o mundo
Na cidade suja.

A rua não  tinha 
Meu endereço. 
Todos os meus vizinhos estavam mortos.
Mas havia muito lixo
Acumulado nas calçadas. 
Quase não se via minha casa....

domingo, 24 de novembro de 2019

METAMORFOSES DO ESQUECIMENTO

A memória é a virtude dos fracos.
Viver é  esquecer.

A vida tem fome do novo
Que rompe  o retorno. 
O inédito sempre pode mais que tradição .

Nunca seja o mesmo,
Deixe as lembranças na água do banho.

O futuro nunca chega.
Por isso nos transformamos.

O VIRTUAL DO SER


Em uma vida qualquer,
Como a sua ou a minha,
Abre -se a ferida de um fato
Que não  é  público
Ou privado
E se repete em outras vidas,
Em outros tempos e lugares,
Como uma marca anônima,
Um vestígio inumano,
Que não encontra palavra,
Pois é afeto,
Efeito que transforma,
Misturando o eu e o mundo
No corpo que sabe
O que não  tem nome,
E fala o intempestivo 
De um quase ilegível ato perdido.

Este fato não  acontece
Mas se repete sempre
Como ferida
Dentro de muitas vidas,
Através de muitos agoras .

Ele é como uma doença 
Que se faz sintoma de um modo de ser comum
Que ignorado em cada um
Não  alcança a potência de todos
E persiste sutil
Como uma quase memória 
Do que um dia está por vir
Em uma vida que não  será nossa.










sábado, 23 de novembro de 2019

UMA NOITE QUALQUER

Era uma noite como qualquer outra.
As ruas estavam cheias de gente,
Mas não  havia ninguém em qualquer parte.

A vida deserta habitava minha consciência do mundo
E tudo que é humano me parecia desprezível
E exibia um vazio profundo.


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CONTRA O TÉDIO

É contra o tédio que me afogo  em cerveja envolto em fumaça  de cigarro e devoro comida ruim.
É  contra o tédio que me mato aos poucos,
Sempre inconformado com o que estamos fazendo com a vida.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

PARA QUE SERVEM OS LIVROS?



Os livros desarrumados e amontoados na velha estante não acrescentam nada ao cotidiano, ao existir concreto e imediato. Muito pelo contrario, sua leitura torna tudo mais complicado, me faz menos adaptado ao trato social, menos enquadrado ao circuito de signos e símbolos que estruturam a banalidade inútil da produção social da vida.

Os livros estão repletos de narrativas que pretendem qualquer verdade mais viva do que a realidade. Criam uma consciência que transcende as coisas, que transbordam sentido, ressignificando experiências sabotando os usos ordinários da linguagem. Mas nenhum deles contem soluções ou repostas a este inconveniente e involuntário estado de existente que somos nós na experiência do mundo vivido.

Os livros apenas nos afastam do óbvio e indiferente encadeamento livre de instantes que sustenta a vida.

A VIRTUDE DA EMBRIAGUEZ

A virtude da embriaguez é  a recusa de um mundo onde não temos lugar.

É  contra o impossível da vida que nos embriagamos,
Que ousamos afogar o cotidiano 
Na consciência danificada,
Na vontade desinibida
De um desejo fraturado.

Sabemos que não  seremos resumidos pelo futuro
E que a vida só  é  possível
A sombra de Dionísio. 


SER E REVOLTA




Sou feito por coisas que faltam,
Que gritam o impossível necessário,
O vital incubado,
De uma vida interditada
Sob o signo do inacabado.

Sou o vazio preenchido de esperanças. 
Eu sou o grito que prepara o uivo
E a revolta.

sábado, 16 de novembro de 2019

A BANALIDADE DA VIDA

O dia de hoje passou em branco.
Foi pura matéria de esquecimento
Em uma existência banal e invisível.

Nada mais natural.
A vida é  um silêncio.
Amanhã  será  outro dia.
Mas não  será diferente.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

NORMALIZAÇÃO


Minha vontade
não segue meus passos.
Porque deveria?
Vou onde preciso ir,
não onde quero.

Sou escravo do mundo,
um rosto entre os outros.
Nem feio,
nem bonito.
Apenas um rosto
que se perde como registro
na cédula de identidade pública
e no silêncio de um grito.


SOBRE A BRUTALIDADE DA VIDA

O mundo nunca foi um lugar seguro.
A vida nunca nos ofereceu felicidade.
Sobreviver sempre foi uma incerteza.

Ser forte não é uma escolha,
Mas uma pré  disposição  instintiva.
Um ato de auto preservação. 

Os fracos são esmagados. 
Não nascemos para a felicidade.


domingo, 10 de novembro de 2019

O MUNDO

Tudo que nos afeta,
Que nos move,
Que nos mata,
Nutre e destrói, 
Define o mundo
Que nos escapa.

O mundo é  o outro,
O múltiplo,
A incerteza e o deserto.
que nos inspira


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

INDIGNADO


As margens dos fatos
Me faço sem rosto,
sem tempo ou memória,
entre a natureza e o absurdo
que definem a sociedade vigente.

Não tenho nome ou discurso.
Nada reivindico
além do fim do mundo de agora.

Já estou cansado de todo o possível
E nada me interessa
entre as ruínas do ano novo.

Qualquer hora dessas
alguma  grande catástrofe
há de reinventar a vida 
Diminuindo a humanidade
para a felicidade da terra.


terça-feira, 5 de novembro de 2019

SOBRE OS DIZERES DO MUNDO

Tenho os ouvidos abertos aos dizeres do mundo. Mas não  gosto  de quase nada que escuto. 

São  tantos coros de opiniões  prontas, tantas certezas rasas, convicções morais e religiosas, opiniões  livrescas, discursos de autoridade, superstições,  mentiras institucionalizadas e verdades autoritárias, que já  não  sei dizer  se as pessoas pensam, ou se são  pensadas, adestradas e condicionadas, a abraçar qualquer significado que  justifique sua quase ilegível existência cotidiana.

No fundo são tantas as certezas , fatos e noticias que caem sobre nós todos os dias e em todas as partes, que nossas convicções são  frágeis e fadadas a unilateralidade de qualquer senso comum.

De minha parte, não  quero estar preso a qualquer opinião  formada. Não  quero ser coerente.  Prefiro rir dos convictos e aproveitar a vida entre os distraídos,  os idiotas, antes que alguma certeza aberrante acabe com o mundo.


quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A MALDIÇÃO DO PECADO ORIGINAL

Secularizamos o cretino mito do pecado original na medida em que nos sentimos pessoalmente responsáveis por um mundo que socialmente se tornou um desastre. 

Entre a culpa e a impotência alimentamos ideais de sociedade que admitimos incompatíveis com a mais simples realidade.

MALDITAS CONVICÇÕES

Nossa ignorância pode conduzir a virtude da dúvida, mas nossas convicções  sempre a sabotam com o veneno de alguma verdade.

Sob sua influência tomamos decisões, fazemos opções,  e vivemos mais da estridência de discursos do que dos silêncios que sustentam a vida. Maldita seja nossa inteligência! 

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O AVESSO DE SER SUJEITO


Do outro lado das horas,
No avesso da vida,
Me deixo no sonho
Do impossível do dia.

Um essencial deslocamento do vivido,
Uma fome inumana de algo impossível,
Acorda minha sombra
Para um delírio ou vertigem de infinito.

Sou a potência de de não  ser eu,
E viver pleno como um ninguém,
Na liberdade de um rosto quebrado,
Sem marca de identidades.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

UMA DOSE DE LUCIDEZ

Quando a vida se resume a esperar o ócio  do próximo fim de semana e o único sentido da paradoxal escravidão  do trabalho é  manter a rotina de um consumismo miserável, é  hora de se perguntar: a vida é  só  o lixo de uma tosca existência de silêncios e conformismos? Poucos tem a devida noção  do quanto são  ridículos e miseráveis. Saber disso não  ajuda ninguém, mas  torna qualquer um menos iludido e apto a dignidade de qualquer forma de delinquência e revolta.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

DESAJUSTADO


Nasci para saber a vida
no acontecer do corpo
conforme a natureza,
e não para ser em tudo aquilo
que me foi ensinado, exigido,
pela sociedade.

Não nasci para seguir rebanhos,
para o trabalho mecânico,
bancos de escola,
ou para o existir raso e conformado
entre os quatro cantos
de qualquer verdade coletiva.
Não pertenço a qualquer língua,
credo ou país.

Minha vocação é a liberdade
da qual nos perdemos 
em alguma curva da evolução.


terça-feira, 22 de outubro de 2019

ESQUECIMENTO

Esqueça  da vida.
Beba uma cerveja,
Acenda mais um cigarro,
E alivie a cabeça.
O mundo é  um desastre.
O futuro é a morte.
Aproveite o vazio
Deste simples instante.
Não  há  nada além deste instante.
Esqueça...

MALDITA ROTINA

Não sei se o dia foi longo ou se foi curto. Só  sei que quase nada aconteceu, que um vazio me anoiteceu, e que tudo que foi vivido se resumiu ao deserto de uma rotina sem sentido.

Estou vivo e me sonho infinito, apesar da morte que me espera. Mas a vida é  para mim uma desconhecida.

Amanhã  será como ontem um dia insignificante sem qualquer magia.

BANALIDADE



Todos os relacionamentos são banais.
Assim, como nossas vidas também são banais.
Vivemos em uma sociedade de banalidades.
Produzimos banalidades,
Sentimos banalidades,
Comemos e cagamos banalidades.

Mesmo quando criticamos tanta banalidade,
Permanecemos no plano da produção da banalidade.
Os presentes versos, aliais,
Não passam de banalidade.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

MAR NOTURNO



O mar noturno refunda a noite
E uma lua antiga insinua o caos
que através de nos se propaga
pelas mortas horas da madrugada.

Enfeita o próximo bar com seu ancestral cansaço.
Inventa uma nova quimera,
enquanto a vontade esmoece
e a consciência se afoga em silêncio.
Nunca mais haverá dia,
pois esmagaremos a rotina e a eternidade.

O mar esta em todas as partes
Inventa ressacas nos corpos. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

QUASE DESABAFO


Há palavras agora roendo a garganta.
Palavras nervosas e imprecisas,
que deixam na boca um gosto amargo de urgência. 

É preciso deixar que fermentem,
até encontrar o ponto certo da ebulição
de um discurso.

Palavras selvagens não inventam diálogos
quando pulam da boca.
  

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

ROTA DE FUGA


Tenho vontade de fugir de casa
Para escapar a mim mesmo,
Saber onde leva
A porta dos fundos da minha vida.

Estou sempre adivinhando o outro lado da rua,
Uma cidade vizinha ou um país  distante.
Vivo na expectativa de qualquer partida.

Lugar nenhum me conforma.
Meu corpo é movimento vivo,
Deslocamentos e fugas
Contra o sedentário de qualquer consciência.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A VIDA SEGUE



A vida segue sempre indiferente.
Mesmo quando nada acontece,
Quando sucumbimos ao tédio,
Ela segue.

Há mutações, nuanças , texturas,
Velocidades...
É como dentro de uma música.

É sempre outra coisa
A cada segundo...
Como dentro de uma musica...
Tudo acontece.
A vida segue.


O AVESSO DE DEUS



Tenho a impressão que já não estou inteiramente aqui,
Que não faz diferença estar presente ou ausente.

A vida acontece. Não importa se sou eu, você,
Ou outro qualquer,
Que participa das cerimonias cotidianas do viver pequeno,
Do espetáculo do rebanho,
conformado entre a moral e a verdade.

Juntos somos qualquer outra coisa
Além da soma das partes.
Algo nos acontece e ultrapassa.
Algo nos usa e existe através de nós.
É a humanidade,
Em sua concreta abstração....
Esta aberrante entidade biológica
que nos contem. 


domingo, 29 de setembro de 2019

TEMPO ESGOTADO


Não  há  mais tempo para o presente,
Para o homem presente,
Para as urgências
Ou as angústias do agora.

Nossas reservas de futuro estão  esgotadas.
A esperança degradou-se,
Nossas certezas estão  fora  da validade.

Nossas perguntas estão nuas,
Carentes e doentes.
Não  são  dignas de respostas.

Tudo que nos resta agora,
É  reaprender a sonhar.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

MULTIDÃO, CIDADE E DESEJO




A existência da cidade não se conforma a realidade de suas ruas e prédios.
Não se deixa dizer através de mapas,  estatísticas, ou paisagens de cartão postal.

                                                  ***

A cidade é uma multidão que pulsa,
Que transborda em desejo,
Que busca, circula e cria,
Transfigurando as ruínas do sempre igual.

Nada é inerte na paisagem urbana.
Tudo é movimento sem tempo,
Sagração do espaço meta geográfico
e meio virtual.

Uma multidão sem nome
Sempre assusta e pertuba
A razão caduca dos urbanistas,
questiona a fome de ordem das autoridades.

A multidão esta em todas as partes
E faz da cidade avalanche,
Corpo e desejo composto.



A INDETERMINAÇÃO DE EXISTIR


Toda forma de identidade
É prisão,
Tal como toda certeza é doença.

Existir só faz sentido
Quando é impreciso,
Quando não se fixa em nenhuma forma de ser.

A liberdade é sempre um estado futuro de vida,
De saber o mundo na inconstância do tempo
Contra a agonia do agora.

Não quero ficar preso 
a ilusão de mim mesmo.
Existo como quem ri
Do ridículo da própria dança.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

DESNUDANDO O MUNDO





Desnudando o mundo
Entre o quarto e a sala,
Provei a alma da vida
Através de uma taça de vinho.

O pensamento traduziu o infinito
E toquei o indizível
Com a ponta dos dedos.

Tudo aconteceu na banalidade do momento,
Na intimidade da experiência,
E no silêncio das aparências.

Desnudando o mundo
Não encontrei nada.
Mas na vertigem do nada
Cabiam universos
De anti cotidiano de  felizes indeterminações.




segunda-feira, 23 de setembro de 2019

UMA MANHÃ QUALQUER



A vida segue indiferente em uma manhã qualquer.
Durante o café matinal, tenho  intuições sobre o caos do universo,
Adivinho a irracionalidade do incompreensível da totalidade.
Mas prevalece, entre uma torrada e outra,
O imediato do cotidiano em sua multiplicidade de coisas
Contra o abstrato infinito da imensidão cósmica.

Meus pés provam  o chão duro da rotina
E meus olhos sabem a segurança de um céu de certezas finitas.
O dia amanhece novo, dentro na caduquice de todos os outros dias.

Persisto sem qualquer bom motivo,
sem nenhuma esperança de redenção.
A existência é um tédio sem sentido
que através de mim insiste
enquanto  a vida pulsa.

sábado, 14 de setembro de 2019

MICROFISICA DE UM DIA VAZIO

O cotidiano perecível e  epidérmico é  tudo que temos. Ele é  o vazio onde cabem todas as coisas,  onde a vida acontece em ordem de caos diversos.

Tudo é  tédio, rotina e desaparecimento, onde a alegria e a angústia se nivelam  na indiferença do tempo que passa.

Hoje queria não  fazer nada,
Esquecer de tudo,
Fugir de mim e do mundo.
Comer, beber e respirar
Sem o peso de qualquer pensamento.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A IMPOSSIBILIDADE SOCIAL DA PLENA EXISTÊNCIA


Confesso que ainda não comecei a viver.
Ao longo de anos  realizei mil tentativas.
Todas elas não  me conduziram a qualquer forma bem sucedida de existência.


Tenho sido apenas um rosto, um nome trivial, no jogo de ser e não ser, de morrer aos poucos em sociedade.


Só aprendi que viver é  ser corpo,
Ser livre como um animal selvagem.
Mas fui educado para não saber do mundo,
Me conformar aos outros na prisão de mim mesmo,

na ilusão de um eu abstrato 
que me ensina um duvidoso dizer das coisas.

domingo, 8 de setembro de 2019

SOBREVIVENTES

Sobreviver a vida danificada de todos os dias é o objetivo da maioria das pessoas.

Trabalho, boletos, amores baratos e consumo regrado, é o triste resumo da cartilha do bom  cidadão.


Fomos reduzidos a uma multidão  de dementes. Tudo Em nome da sobrevivência em um mundo que nos foge do controle e sobrevive da  nossa impotência.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

AGONIA DE SER


Tenho necessidade de dizer,
De sentir e fazer,
Qualquer coisa que não  sei.

Mas seja lá o que for
é  algo urgente
Que me dói  no corpo
Como um fogo.
É  uma agonia,
Um gozo
E um nada,
Ao mesmo tempo.

É uma vontade preguiçosa,
Um descontentamento sorridente
Como os cacos de um grito
Caindo da boca.
Tenho necessidade de algo cru,
Inominável.,
Que me faz querer rasgar-me,
Virar pelo avesso o rosto
E explodir no azul do céu.

Tenho necessidade de superar toda minha ansiedade
Destruindo o dia de sol e normalidade
Que enfeita agora as ruas da cidade grande.

O SEGREDO DA FELICIDADE


Felicidade depende pouco dos fatos.
É um estado de espírito sempre inconstante.
Ela é quase um desafio.

Ser feliz é em boa medida
Uma aceitação da vida com suas imperfeições,
É saber calar o próprio ego,
Evadir-se, através de qualquer ato de criação.

Ser feliz é sobre não ser muito você mesmo,
Não ser levar tão a sério.


domingo, 1 de setembro de 2019

MUDANÇA NATURAL


Um dia a menos
Ou a mais,
Que diferença faz?

Prefiro outra vida
Ou outra realidade
Menos absurda.

Talvez, alguma mudança
Na ordem banal das coisas
Que me faça acreditar
Em algum futuro decente,
Em uma sociedade menos deprimente,
livre da toxidade e atrocidades pós industriais,
onde o devir da existência aconteça
novamente dentro da mãe natureza.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

TUDO POR DINHEIRO

No fundo não  há um bom motivo para levantar da cama todos os dias.
Estamos presos a rotinas vazias,
Obrigações  cretinas e relações  degradadas e superficiais.
Perdemos a maior parte do tempo nos dedicando a ganhar dinheiro,
Gastar dinheiro
E a querer dinheiro.
Nossos dias quase não  tem cor.
Mas amamos as coisas banais
Que o dinheiro pode comprar.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

NOSSA CONFORMADA INSATISFAÇÃO

No fundo todo mundo sonha em ser outra coisa, em  fugir do que a sociedade faz da gente.

Ninguém quer continuar enterrado em uma persona reproduzindo qualquer rotina insatisfatória. Mas é  para isso que continuamos mandando nossos filhos a escola.

Não  passamos de inconformados adaptados ao fracasso. Não  acreditamos que a vida pode ser diferente. Mas nos iludamos com a mediocridade possível, mesmo sonhando em ser outra coisa.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

LIMITAÇÕES

Todos os dias me defronto com minhas angústias, ansiedades e necessidades mais banais.


Sou surpreendido, sempre de novo, pela minha pequenez, parcialidade, carência e tendência a repetir o mesmo padrão  de comportamento falho.


Todos os dias confirmo meus limites, inércias  e ilusões em meio as contradições do mundo e da vida cotidiana.

toda mudança, neste contexto, não passa de mera deteriorização.