sábado, 29 de dezembro de 2018

NOITE TRISTE

Era noite.
Mas já estava muito tarde para dormir.
O dia seguinte chegaria sem cor.
Tudo era a inércia  de não ter para onde ir.
Muito menos como dormir.
Era noite.
Eu estava triste.
Todos estavam tristes.
A própria vida estava triste.
Não era uma noite qualquer....

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

VIDA INÚTIL

Somos apêndices de nossas rotinas.
Os dias se acumulam mudos
No eterno retorno do corpo.
Mas nunca somos os mesmos.
Buscamos prazer.
Fazemos da alegria uma obrigação
Até os limites da depressão.
Perceber o quanto isso é absurdo
Não muda nada.
Acenda um cigarro
E não pense nisso.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

NÃO NASCEMOS PARA DAR CERTO

Há algo de frustrante em acordar todos os dias para a mesma vida, para as mesmas angústias e buscas, cada vez mais distante de qualquer resposta. Mas é assim que existimos. 

Não espere que dê certo, que tudo faça sentido. Na maior parte do tempo percorremos as horas perdidos no mundo. 

Para ser livre de verdade é preciso se livrar desta necessidade infantil de mudar as coisas. É preciso errar com a plena consciência de que ninguém pode fugir ao peso de deus limites.
Não nascemos para dar certo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

SEM IDENTIDADE


Não busco saber quem eu sou.
Pouco me importa os fatos.
Tudo me acontece à revelia dos meus atos.
Sou apenas a ficção de alguma convencional verdade coletiva.
Justamente por isso guardo em mim possibilidades infinitas.
Nada é mais criativo do que a insubmissão a rótulos e identidades,
do que ser sempre um outro entre os outros.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

DA INUTILIDADE DE TUDO

Quase tudo que vivo é tempo perdido.
Ócio sem brilho ou labor improdutivo.

Não gera memória ou futuro,
Nem me transforma.

Nada esclarece ou obscurece.
Quase tudo que vivo é inútil.
Inútil como o mundo
Onde a própria eternidade é perecível,
Descartável e vendida.

O tempo passa quase sem vida em meio digital

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

PESSOAS QUE NÃO BEBEM NÃO SÃO CONFIÁVEIS

A vida cotidiana é medíocre. Ninguém é herói ou fabuloso entre quatro paredes. Somos desinteressantes, banais. Tudo só fica radiante depois de algumas garrafas.Mas muitas pessoas não bebem. Isso não é uma virtude. É uma fraqueza. É levar demasiadamente a sério a própria mediocridade.

Embriagar-se é lidar com nossas limitações com certa dignidade que só uma boa dose de humor permite entender. Não confio em pessoas que recusam a embriaguez. Elas não dançam o tempo, não enfrentam vertigens. Ficam fechadas no artificialismo, nas máscaras que se confundem com nosso próprio rosto.

domingo, 9 de dezembro de 2018

O PREÇO DA FELICIDADE

Tudo hoje tem um preço. Até mesmo a felicidade. Não são poucas as estratégias coletivamente construídas para ser feliz: casamento, realização profissional, uma vida saudável, religião ou, simplesmente, equilíbrio psicológico.  Mesmo assim o objeto felicidade permanece duvidoso e incerto. As angústias e ansiedades cotidianas são mais concretas. Nunca conheci ninguém que fosse digno do rótulo de feliz. 

A felicidade tem um preço, a tomamos como um  objeto e não como um estado ideal inalcançável. Mas a segunda alternativa é o que faz dela uma imagem concreta de nossa cultura. Buscamos desesperadamente um estado de prazer é satisfação permanente. Mas este é um ideal infantil e nada realista.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

NÃO SEJA LÚCIDO

A capacidade de sentir tédio é um inequívoco sinal de inteligência e de ceticismo.
 
Viver é um tragicômico espetáculo de sentido e não sentido e exige uma diária dose de embriaguez. 

Os lúcidos não são lúdicos, são incapazes de levar a vida as últimas consequências. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

FALTA DE TEMPO

O tempo cíclico dos dias da semana articulam nossas rotinas. Inventam as horas medidas de trabalho, o lazer e o ócio. Mas não definem o necessário tempo inútil de nós mesmos. Quase não temos momentos consagrados ao nada, a inércia de existir na nudez do corpo, na animalidade que nos define como seres brutos, como viventes. Sempre nos falar tempo.... tempo para o nada, para o ilegível e inexplicável da vida.

UM DIA DE CADA VEZ

Viva um dia de cada vez, apesar das ansiedades e urgências que remetem a vontade de tudo.

Queremos sempre  mais do que o possível. Buscamos intensidades. Por isso tanta necessidade de álcool, cigarros ou calmantes. 

Não é fácil viver um dia de cada vez. Temos vontade de infinito, de prazer constante. Nada nos satisfaz, nos salva desta permanente inquietude que nos consome.