terça-feira, 31 de março de 2020

BANALIDADE

A banalidade me sufoca.
Mas ela é  tudo que me define,
Que nos define,
Nesta  vida porca
Que nos coube
Na triste história da humanidade. 

O resto é quase desespero,
Incerteza e barbaridade.

segunda-feira, 30 de março de 2020

A PERDA DO MUNDO

O mundo nos escapa no vazio das rotinas,
Na carência de realidade
Que desde sempre sustentou a artificialidade de nossos atos,
O automatismo de nossas certezas e convicções. 

O mundo nos escapa e finalmente descobrimos nossa ausência cotidiana de vida,
Nossa falta de humanidade
E nosso vazio essencial
Tantas vezes preenchido com bebida,
Consumismo e amor barato.


sábado, 28 de março de 2020

LIRISMO PÓS MODERNO

Meu eu lirico ontem tentou suicidio embriagado de modernismos. Depois disso o enterrei morto e vivo  na pós modernidade da minha falta de cotidiano, de identidade e de juízo. Não  quero ser mais uma vitima desta doença iluminista que nos legou uma razão  caduca. 
Meu eu lírico renasceu, entretanto, como Dionísio,  e passa hoje a  vida nos bares afogando a poesia no copo e nos lábios das raparigas.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A VIDA PELA VIDA

Desisti de viver de hábitos
De certezas,
E da boa consciência das convenções. 

Não  acredito em palavras bonitas,
Nas leis do mundo
Ou no sentido da vida.

A partir de hoje vou viver de vida.
Apenas de vida,
Sem propósito, valores
Ou explicações. 




FILOSOFIA DE SUPER MERCADO

Toda semana estamos condenados a buscar, sempre de novo, a felicidade nas prateleiras dos supermercados. Lidamos, assim,  com a ansiedade do sustento doméstico de nossas rotinas  na manutenção de um existir tedioso e banal. 
Há mais filosofia no carrinho de supermercado do que nos enunciados dos mercadores de ideias da academia. É o que todos sabem na boca do caixa submetidos ao filtro monetário das possibilidades de ter e não  ter. 
Nossas necessidades estão pré definidas e catalogadas, expostas como mercadorias. Não há opções nas escolhas de supermercado. Nenhum livre arbítrio define o consumo de nossas duvidosas necessidades industrializadas.

quinta-feira, 26 de março de 2020

BIOGRAFIA DE UM INSTANTE

Há uma parte deste momento
Que de tão  ínfima
Nem roça o tempo,
Não  acontece.
Mas mesmo assim,
Em seu virtual silêncio,
Se ramifica através dos dias
Como potência .
Torna-se o paradoxo
Do seu próprio efeito
Até ser capaz
De se tornar um instante.
Mas ninguém percebe
A eternidade vazia
Do seu acontecimento.

UM DIA PERFEITO

Era um dia perfeito.
Tudo estava em seu devido lugar.
Não faltava nada
E a temperatura ambiente era agradável.

Qualquer música servia de pano de fundo
Para os atos de simples rotina
E manutenção da ordem das coisas.

Mas ninguém estava feliz
Nas horas acepticas daquele dia.
Ninguém realmente existia
Na utopia absurda da ditadura
Daquele bom dia.



 

domingo, 22 de março de 2020

O MEDO

O medo é  o mais estranho dos afetos.
Ele nos faz buscar segurança 
Onde existe apenas incerteza.
Nos embriaga de esperança 
Onde reina o desespero.

O medo, entre os mais fracos,
Esconde-se do espelho.
Já entre os mais fortes,
É um útil companheiro.

Afinal, o mundo gira,
Fora do nosso controle.
E a vida é passageira
Como o tédio que nos define a rotina.



terça-feira, 10 de março de 2020

BEBENDO O TEMPO

Ontem era sempre outro dia
Enquanto eu bebia o amanhã 
E o passado sorria
Enterrado no abismo.

Meus pés 
Sujos de eterno
Afundavam no instante.

Mas o instante sempre era outro,
Outra queda ,
Outro abismo.

segunda-feira, 9 de março de 2020

LIXO POLITICO



O lixo é  bem vestido.
Ostenta títulos e boas referências.
Sabe fazer discurso
e goza de grande prestígio e influência.

O lixo recebe medalha de cidadão honorário,
Mandato de prefeito e de deputado.
Mesmo assim, não se engane,
o lixo humano fede como todo lixo.
Não importa o poder que o cobre.
Ele sempre será lixo humano.

SEM FILOSOFIA

Não  quero saber o que é  a verdade.
Me diga apenas
O que há  para o almoço. 

A existência, em seu imediato e sensual absurdo,
Dispensa o linguajar abstrato de toda filosofia.

Encha o meu prato,
Me traga uma cerveja,
E não  diga nada.
Dispenso o indigesto de qualquer palavra.

domingo, 8 de março de 2020

SER ALGUÉM


Não sou eu este alguém que acorda,
Que trabalha e se perde na hora do almoço,
Que se conforma em ser
O que tem no bolso.

Não  sou aquele que diz bom dia,
Que espera o ônibus, 
Assiste TV e paga boletos.

Não sou aquele que desaparece entre os outros
Anulado pelo próprio rosto.

Não sou aquele que de tão  vaidoso
Vive como um ninguém. 
Não  sou aquele...
Mas também não sou outro.

quinta-feira, 5 de março de 2020

EXPECTATIVAS


Estamos sempre esperando
pelo carnaval,
pela bagunça universal,
que nos trará a intensidade
da desorganização dos dias
restaurando infâncias e  liberdades perdidas.

A vulgaridade do cotidiano nada pode
contra nossa capacidade de vestir de sonho
qualquer fato desengonçado e torto
que afronte nossas rotinas
Com o absurdo da poesia.


REFLEXÃO MATINAL

E tudo se resume nisso:
Uma manhã triste,
Um café, 
Um cigarro,
E muitas agonias,
No latejante pensamento
Enterrado no imediatismo do agora.
Velhas esperanças me fazem seguir em frente.
Mas isso não significa nada.

quarta-feira, 4 de março de 2020

COTIDIANO DE CASERNA


A noite julga o dia,
Lamenta a rotina,
E sucumbe ao cansaço. 

Há  sempre alguma melancolia 
No sonho e na madrugada
De quem sabe o cotidiano
Como uma prisão abstrata.



segunda-feira, 2 de março de 2020

DIAS INÚTEIS



Há dias em que nada me interessa,
que prefiro não sair da cama,
e nada de humano faz sentido,
como se fosse  sábado
ou domingo.

São dias selvagens
onde a existência perde qualquer densidade,
substancia ou urgência,
e tudo se reduz ao vazio
do tempo que passa
contra os dias uteis da semana
Na inutilidade da minha presença.