sábado, 30 de abril de 2022

O PARADÓXO DO MOVIMENTO

O caminho não sabe dos pés
nem os pés sabem o caminho.
Pois o corpo e o chão 
conhecem apenas o movimento
livre de qualquer intensão ou destino.
Mover-se é tornar-se inerte
como processo,
é surpreender-se círculo,
incerto no além do ponto e da linha.

sábado, 16 de abril de 2022

POLÍTICA E COTIDIANO

Ferido pela realidade morta
que nos cala a vontade
e pelo silêncio dos corpos
e copos em movimento
tinto de morte,
grito em pileque de boa vontade
qualquer aposta na liberdade.

A realidade exige a alma das coisas
para barganhar mudanças.
A verdadeira política  é sempre perigosa...

quarta-feira, 13 de abril de 2022

A ESPERA DO CAOS



Espero pelo inesperado,
pelo fato inusitado
que desfará a rotina.

Espero pela surpresa
de um pouco de caos
e improviso.

Espero por qualquer coisa
que atrapalhe a paz e a ordem
que tanto nos oprimem.

O inesperado é sempre um desvio,
um convite a incerteza
e a mudança,
contra as espectativas e normas
que nos conformam a realidade.

É preciso criar contra os fatos,
distrair-se da vida,
romper as grades da verdade,
e ousar o impossível. 

O futuro, afinal,
é uma atualização permanente
do absurdo absoluto .

O DIA FORA DA NOSSA EXISTÊNCIA

O dia escapa a existência. 
É maior do que as horas semi mortas
que inventam nossas rotinas.

O dia não tem limites
e acorda na imaginação das crianças,
nos animais de rua,
e no vento que rouba guardanapos
da mesa sozinha 
no bar da esquina.

O dia não espera por nós.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

CONFISSÕES DE UM NINGUÉM

Entre derivas e urgências
sonho desistências,
renuncias e evasões.
A vida não  vale
nenhum esforço de guerra.
Não justifica persistências
ou determinação.

Não quero ser nada.
Sou apenas um ninguém
e o mundo não me interessa.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

EXÍLIO

Ando cansado de dormir,
de acordar, respirar,
pensar, lembrar,
amar, querer,
sofrer, sonhar,
ou, simplesmente  existir
na banalidade do humano.

Ando cansado das minhas palavras,
do meu rosto,
dos outros,
e de tudo aquilo
que me conforma ao cotidiano.

Ando materialmente cansado de ser.
Metafisicamente exausto
de não ser,
de estar ausente do passado,
a meio caminho do futuro,
e certo da minha morte.

Há tanta coisa acontecendo neste instante.
Há lá fora um mundo que nem imagino.
Mas tudo que sei é que existo
no aqui e agora
deste quarto,
desta cidade,
onde quase não sei da realidade.





terça-feira, 5 de abril de 2022

MUDAR O PASSADO

Hoje é sempre tarde demais.
É o passado que nos transforma
contra o futuro.
É preciso mudar o que já foi
através da consciência das coisas que vem,
reinventar sempre o tempo presente
onde o ontem ainda nos fala a insuficiência de um provisório agora.

A LIBERDADE DA ESCRAVIDÃO

Acordei sem tempo
para escravidão de ser livre.

Recuso as falsas opções 
de consumo,
o livre arbitrio dos escravos
na fila do pão.

Estou farto de falsas opções,
dos limites das opiniões, 
e de toda forma de indução midiática
no reino da informação.

Quero escolher minhas escolhas,
ir além do sim contra o não.
Inventar outras opções,
ou optar pelo nada
além do vazio das disciplinas.

Quero saber meu corpo nu ao meio dia
sob o sol de verão. 

CONTRA A DITADURA DO PRESENTE

O aqui e agora nos conforma
a miséria do imediato.
Somos constrangidos pela necessidade,
pela brutalidade dos fatos.

Toda nossa impotência
reside na coerção do tempo presente.

O passado e o futuro,
ao contrário, 
definem nossas margens
de liberdade.

Além do imediato
sonhamos o tempo
nas mutações do amanhã
e do ontem.

A vida é devir e indeterminação 
contra todos os tempos da consciência. 

PERMANÊNCIAS

O tempo passou,
nada mudou,
mais a vida
já não é a mesma.

Infelizmente,
Aquilo que muda
nem sempre se transforma.

Qualquer conservação
exige mudança
para sobreviver
aodesgaste
da sua auto ua preservação.

A vida nunca é a mesma,
e vamos sempre
de mau a pior.









sábado, 2 de abril de 2022

UM DIA QUALQUER

Era um dia triste e frio
no qual o mundo
seguia de mau a pior.
Mesmo assim,
estávamos felizes.
Nossa felicidade
não dependia 
dos rumos do mundo,
mas de nossa capacidade
de transformar a vida
vivendo intensamente
a fragilidade de um instante
até suas últimas consequências.