segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

OS LIMITES DE NOSSA EXISTÊNCIA

Há algo de intransponível no tempo de um dia.
Algo que nos aprisiona a repetição das horas
e já antecipa a manhã seguinte.

Trata-se de uma inércia das coisas vividas,
um demorar-se das rotinas,
que nos prendem os pés no chão. 

Há, de fato,
em tudo que nos acontece,
um limite,
uma angustia,
qualquer interdição,
que nos  impede de transpor o imediato,
fugir de casa,
mudar de cidade,
queimar a prefeitura,
ou se perder no mundo
em busca do impossível
de um sonho antigo.

Este maldito limite
é quem nos tornamos
contra nós mesmos.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

CONTRA ROTINA

Todos os dias parecem iguais.
Eu, entretanto,
acordo sempre um outro
pela manhã,
contrariando a verdade do rosto no espelho.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

MANHÃ DE DEZEMBRO

Era uma manhã de dezembro,
quase ano novo,
onde o passado ardia no sol.

Era uma manhã de céu azul e silêncio 
onde o tédio banhava os corpos
calados pela ansiedade por um dia seguinte,
constantemente adiado.

Era, como sempre,
quase ano novo
no ano passado.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

RE-EXISTÊNCIAS

Cantaremos hoje um futuro
que, talvez, jamais amanheça.
Dançaremos sonhos de infância contra as inércias coridianas,
e vamos sorrir as tristezas,
as perdas e desesperanças.
Brindaremos a melancolia
no silêncio da alegria.

O importante é persistir,
lapidar desejos,
devir  pedra,
inspirados pelo absurdo instinto
que nos faz,
apesar de tudo, insistir em existir
despidos de qualquer esperança. 




sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

ELOGIO A FINITUDE



Meu tempo é o instante de hoje,
efêmero e restrito ao acontecimento incerto 
do meu corpo na extensão do agora.

Meu tempo  é o tédio do depois do almoço,
a angustia da noite mal dormida,
e a rotina que me enterra nos dias,
entre o trabalho e o gozo.

Não  me interessa o futuro da humanidade
ou as ilusões do progresso universal.
Não  sou feito de humanidades,
de reputações e rótulos.

Nenhuma razão me guia
ou me explica.
Não  frequento os palácios do pensamento.

Sou raso, precário,
e quase invisível,
preso a uma vida
que aos poucos me escapa. 

Não  cortejo, portanto, verdades livrescas,
nem moral de rebanho.

Sou indiferente a ordem,
as autoridades, deuses,
e determinismos cósmicos.

Tenho orgulho de ser ilegível e insignificante.
E pouco sei sobre o universo,
os rumos do mundo,
ou sobre os tantos desastres produzidos por nossa condição humana.

Minha pátria é o esquecimento
onde habitam silêncios,
errâncias e desaparecimentos. 

Meu destino é a morte
e o meu caminho a incerteza.

















quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

UMA MANHÃ ESCURA

Uma manhã escura caiu sobre a vida.
 Não havia dia pela manhã.
Era quase fim de mundo,
e nada de extraordinário aconteceria
naquele amanhecer escuro
que nos cobria de luto.





DESAJUSTADO

Tenho vivido como coisa
no aprendizado de ser nada
contra a ilusão de ser gente.

Tenho me tornado
um animal desobediente,
um insurgente calado
e semi morto,
enterrado nos outros
em meio as ruinas do mundo. 

Tenho aprendido o grito...



domingo, 5 de dezembro de 2021

RASA TARDE DE DOMINGO QUASE SURREALISTA

O raso dos meus dias
tem a profundidade dos abismos,
e é muito fácil afogar o rosto
nun copo d'agua enquanto o sol morre no horizonte. 

Eis aqui a premissa do tédio e da melancolia de um fim de tarde de domingo onde tudo é vasto e incerto.

O fim de semana termina numa rotina sem sentido.
Amanhã será tarde,
amanhã é sempre tarde,
nas segundas intensões do tempo.

Mas hoje ainda é domingo
enquanto contemplo o prato raso e sujo do resto do almoço
que decora o vazio do apartamento.




sábado, 4 de dezembro de 2021

UM DIA

Um dia é menor que o segundo.
Um dia não cabe neste verso.
Um dia não cabe no tempo
e escapa a qualquer ilusão de eterno.
Um dia são todos os dias somados
de uma breve existência. 
Um dia é a ilusão da terra que gira
ignorando o sol.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

O NADA DA VIDA

A vida está nos momentos gratuitos e insignificantes de pasmaceira.
Ela acontece quando nada é produtivo e não  nos ocupamos da garantia da mera sobrevivência. 
viver é a realização do inútil,  não  é sobre construir nada. 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

ARQUETIPICO

O silêncio é o mais contundente efeito da verdade. Pois o que é a verdade além  de um grande vazio que define todos as possibilidades do dizível?

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A PAREDE DE HERÁCLITO

O meu caminho
tem sido a parede,
pois não  preciso me mover
para me surpreender
em outro lugar.
Sei que tudo muda em segredo,
e existir é um modo de sempre estar em movimento nas permutas do fogo....
Nada no mundo é inerte.

domingo, 28 de novembro de 2021

DO EU EMPÍRICO AO INTUITIVO

Meu eu empírico
é, como o seu,
um efeito das circunstâncias. 
Existe nos atos simples
da vida cotidiana.
Apenas come, trabalha,
e dorme.
Tem opiniões, 
convicções e ilusões.

Tão diferente dele
é o eu intuitivo que dentro de mim
sonha o mundo, 
e imagina qualquer coisa 
maior que o cotidiano
e mais urgente que o humano.

É um eu sem rosto,
um animal de alma,
mas sem identidade,
e avesso a razão e aos fatos.

Falo de um eu incerto,
que me ignora
e, sem saber de si,
proporciona sentido a todo o meu existir. 

Ele é o avesso do espírito, 
é meu intimo lado de fora
e habita em tudo que em mim transborda.


















UM QUASE RECEM NASCIDO

O ego é como um quase recem nascido brincando com uma gilete. Ainda não é totalmente humano, não  quer morrer, não  quer viver, e oscila entre os polos de prazer e desprazer.
Ele é puro e selvagem querer, um ser através do outro, frágil, impotente, mas cheio de vontades tirânicas em sua precária consciência de si e das coisas.
Tudo nele é risco de desastre. Entretanto, paradoxalmente, um quase recem nascido ainda não  possui um ego definido. Mas o que é o ego além da máscara de um rosto  vazio que se afoga no próprio corpo?

O CONVENIENTE DA INSÔNIA

Ninguém mais escuta canções de ninar.
É melhor ter insônias do que sofrer pesadelos
e na madrugada espreitam o acaso de pequenos incêndios.
Esteja lúcido e triste quando o sol nascer
e receba o dia com um cigarro.


SOFISMOS CONTEMPORÂNEOS

A realidade não cabe na vida
em meio a tanta informação. 

Há mais discursos do que pensamentos
nas verdades expostas a venda
nos muitos sites de entreterimento e ilusão. 

Afinal, todos buscam razão e Esclarecimento,
ter uma opinião, 
além de um pouco de diversão.
A consciência está  a venda
e muitos se embriagam de fé.


Pouco importa a realidade que nos devora lá fora 
quando um bom discurso 
é melhor que o mundo
e que  toda destopia espalhada
pelo chão. 



sábado, 27 de novembro de 2021

MELANCOLIA PÓS MODERNA

O calor de verão aumenta o tédio
no corpo pesado de tanta preguiça. 
O dia vai pelo ralo com a água fria do banho,
e nada lá fora inspira esperança. 
Ninguém sabe o que anda acontecendo com o mundo
ou se sobreviveremos ao fim do ano
para continuar brincando
sobre as ruinas dos tempos modernos.
Não há notícias sobre a vida e seu exilio do mundo contemporâneo.


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A VIDA NÃO É UM PROBLEMA

 A vida não é uma equação a ser resolvida. Então, aproveite o tempo que lhe resta, exista sem o conçolo de certezas e convicções.
 Não espere respostas, fuja de explicações teológicas. Nada faz sentido e o mundo desconhece razão. Aproveite o dia sem buscar qualquer opinião. 
A vida é um acontecer cego que não  carece de explicações. 
Nada espere do dia seguinte...


A HISTÓRIA COMO MALDIÇÃO



As crianças herdarão
nossos fracassos,
limites, preconceitos e medos.

No fundo, a história é uma espécie de maldição. 
Cada nova geração realiza
ao seu modo
a miséria de nossa condição humana.

O tempo passa,
a vida muda,
para que o mundo
permaneça o mesmo
na contramão do progresso.

AS ARTIMANHAS DO TÉDIO

Meu tédio é o protesto da desmobilização banal,
um manifesto contra o desejo, contra o consumo,
 contra as significações,
ações, certezas,
verdades, e discursos,
que produzem o mundo atual.

Ele é o estandarte da minha recusa existencial
a participar do absurdo
de uma existência vegetativa e banal
onde nada é normal
e tudo conduz a nadificação
e ao sono universal.



quinta-feira, 11 de novembro de 2021

O SONHADOR

Vivo de sonhos pequenos,
vontades preguiçosas e imaginações niilistas.
 
Vivo para morrer um dia 
sem deixar vestígios. 

Mas existir é sonhar a si mesmo
esperando o impossível. 
Então,sigo sorrindo delírios 
em direção a qualquer precipício.





segunda-feira, 8 de novembro de 2021

NIILISMO PARA PRINCIPIANTES

Você pode dar a volta ao mundo,
estudar a vida toda,
criar teorias, 
inventar conceitos,
e embriagar-se de mega certezas. 
Mas, no fundo,
admita ou não, 
o mundo permanecerá
como o seu mais intimo desconhecido
e a vida seguirá em frente,
indiferente,
a todas as suas conclusões. 


O DESPERTAR DA NOITE

A noite acordou na pele das coisas,
como uma intensidade estranha,
um sentimento de incerteza
da realidade de tudo.

É possivel saber a noite em estado bruto,
clara como a lua,
antecipando infâncias futuras
na intoxicação de um antigo perfume de floresta virgem.

O mundo torna-se incerto,
indeterminado e vago,
nas horas caladas da madrugada.
É quase sem substância 
como o eu sem rosto
que acha que o interpreta
sem saber que é um reflexo preso aos cacos de um espelho quebrado.

A noite é barroca.
Um jogo de claro e escuro,
na nervura das curvas,
das dobras e labirintos
que preenchem o vazio
de uma janela aberta
em fragmentos de um cenário ausente.

A noite me veste de luto,
me embreaga de absurdos,
e me reconstrói no esboço de um outro
sentado na margem oposta do rio onde descansa em paz uma razão madastra.
Ela está tatuada na pele das palavras que me reinventam,
desregrando os pensamentos diurnos.
 Contra ela a  noite se refaz como um mar aberto,
assustadoramente profundo,
que submerge a cidade
na expectativa de uma grande festa.



 

domingo, 7 de novembro de 2021

DIA VAZIO

O dia tem gosto de preguiça e morte,
enquanto os carros correm nas avenidas,
e as crianças vão para escola
aprender melancolias.

Agora mesmo,
há velhos morrendo 
e jovens desempregados,
enquanto algum alienado
brinca com seu telemóvel. 

Todos sabem sobre o colápso ambiental,
mas veneram o caos da cidade pós industrial.

E tudo segue dentro da normalidade,
como se o mundo não  fosse um caos,
como se o dia fizesse sentido
e nossa existência não fosse absurda. 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A VIDA

A vida escapa, 
se espalha,
se perde,
e não pertence
a ninguém. 
Pois é nada,
pulsão, 
inconsciência,
alucinação
que nos rasga.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

DESMUNDO

O mundo é o destino de todos
e de ninguém. 
Um mundo cada vez mais mudo,
enterrado em paradoxos e absurdos,
um mundo quase todo desmundado,
onde já não cabe mais
a VIDA,
de cada um e de todos
na existência dos signos.

domingo, 24 de outubro de 2021

ELOGIO A IGNORÂNCIA

Não esperem que eu diga algo útil, 
agradável ou inteligente.
Não sou um palhaço da comunicação, 
do espetáculo da informação,
ou da industrialização do verbo.
Muito pelo contrário.
Sou destes que falam sozinho,
que desfaz lógicas e ignora a boa Razão. 
Falo como os bêbados e os loucos,
sigo livre pelo labirinto do sentido
até desvelar  contra-verdades.

Escute o mar, as arvores,
os pássaros e as imaginações, 
contra a prisão dos tratados,
dos letratos e eruditos.
A voz é sempre mais potente que a escrita.





terça-feira, 19 de outubro de 2021

A VIDA

Nada do que faço vai mudar o mundo.
Muito menos transformará minha vida,
nem será digno de algum registro.

Tudo que faço é vazio,
sem sentido.
Simplesmente, sobrevivo,
lembrando uma vida
que poderia ter sido,
que não  foi,
jamais será,
nos agressivos tempos do capitalismo.

A vida é qualquer coisa
que ainda não sabemos
e nos escapa todos os dias.
A vida é qualquer coisa
que ainda não foi inventada.
A vida supera a história, 
o agora, e o mundo.


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

NOVO AGORA

 

Depois do fim,

além do concebível,

do viável e do esperado,

palavras novas invadirão gargantas,

inventando novos problemas,

novas resistências e persistências.



Não há mais porta

entre o amanhã e o agora.

Fomos superados pelo tempo

E os dias alucinam.

Há estranhos morando em nossa casa.

O MURO

O amanhã hoje é um muro
que cresce mudo
ameaçando o futuro.

Mas faremos o possível 
para realizar o impossível,
contra a certeza do muro.

Não seremos tijolo 
na parede da angustia,
do precário e do necessário.

Além do muro
qualquer paisagem cresce,
alguma liberdade se inventa
e outro amanhã acorda em um jardim.
Mesmo que o muro pareça absoluto,
que todos só saibam do muro,
que todos juntos construam o muro.




sábado, 16 de outubro de 2021

O MUNDO DO AQUÁRIO

Vivemos uma existência de aquário 
onde tudo é tédio e limite.

Existimos em um artificial ambiente
onde cada ato é pré definido.

Não somos livres,
somos escravos de um rosto
e o mundo-verdade é nossa prisão. 
Ninguém sabe o lado de fora,
o caos e o infinito
onde o humano se inscreve
como ilusão. 




terça-feira, 12 de outubro de 2021

ALÉM DO FUTURO

Espero que o futuro
nunca atrapalhe o intempestivo,
que a realidade de ontem e de hoje
não prevaleça no horizonte
ou defina o possível do abismo
impondo limites as crianças. 

Quero que  o amanhã sempre seja incerteza,
disputa;
que qualquer coisa absurda
e imprevisível 
sempre amanheça selvagem e
fora de controle,
que existam sempre  rebeldes contra a razão vigente. 

O futuro não é uma meta
ou uma solução. 
Que verdades nunca nos definam
no eterno retorno do caos
que nos faz criadores
contra a possibilidade de um ponto final.





segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A REINVENÇÃO DO INUMANO

O mundo fica cada vez menor
a cada crise,
a cada angustia,
a cada grito da natureza,
contra tudo que é humano.

O mundo desaparece
sem deixar vestígios,
na reinvenção do inumano.

Além do mundo
a Terra cresce novamente
selvagem,
e a vida se reinventa
na transcendência da humanidade.


sábado, 9 de outubro de 2021

LEMBRANÇAS SEM HISTÓRIA

Apesar de todos os dias ruins,
boas lembranças não me faltam.
Pois sei aproveitar a preguiça das horas,
a falta de fatos no tédio da tarde,
entre as ruinas dos acontecimentos.

Nada tem significado,
Tudo é indeterminado.
Meu coração bate,
e o tempo passa.
Mas  eternidades cabem neste instante,
onde nada é o que parece
e sou apenas um ninguém
brincando com algumas memórias. 

Gosto de lembranças,
pois desde sempre,
sou eu mesmo lembrança
nas ondas que falam o mar
para uma praia deserta
onde não  existem Histórias.


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

APOLOGIA A REVOLTA

Não estamos felizes.
Jamais estaremos felizes.
A felicidade não existe.

Viver é inventar a si mesmo
através  do ódio ao mundo.
Existir é um ato de revolta.

O conformismo é a morte.
Tudo é permanente mudança!

domingo, 3 de outubro de 2021

NÃO HÁ FUTURO PARA TODOS

Não há futuro para todos.
O tempo virou privilégio
em um mundo cada vez menor,
onde a vida é quase inviável
e a civilização insustentável.

A morte está na ordem do dia.
A morte absoluta, selvagem,
ou em estado bruto.

A morte calculada,
institucionalizada,
como estatística e fato social.

Não há futuro para todos. 
Não é recomendável nascer.
Somos todos dispensáveis.

Sobreviver custa caro,
é ser contra as más circunstâncias,
ou perecer antes de viver,
em uma época pouco respirável
onde Thanatos devora Eros
e a realidade é o pior dos pesadelos.



quinta-feira, 30 de setembro de 2021

UMA REAL ILUSÃO VERDADEIRA

Falta realidade em tudo que faço.
Falta realidade no que digo,
no que sinto,
e no rosto que me persegue no espelho.

Falta realidade nos outros que me perseguem em todas as partes.

Falta realidade em todas as verdades, 
na ordem  que sustenta caos  cotidiano.

Falta realidade no que penso, sinto e consumo.

Falta realidade no desejo,
no grito engasgado,
no dia seguinte,
nas horas de trabalho, 
lazer, e até no sono.

A vida é apenas meu corpo emvelhecendo preso ao coletivo pesadelo do social.

A consciência é um artifício sem sentido ou propósito,
uma real ilusão verdadeira.


ANOITECER BIOGRAFICO

Ancorado em meu passado,
já não me arrisco em tempo aberto.
Vivi o que foi possível, 
sonhando o necessário. 
Agora, 
tudo é nostalgia,
no asilo da memória. 

Eterna é minha mortalidade,
absoluto o silencio 
que me esclarece.

Meu futuro apodrece
entre as ruinas da atualidade,
meu fim ignora o ponto final.
Sei que um século não passa de um instante
e que existo no instante de um naufrágio.





quarta-feira, 29 de setembro de 2021

DEFEITO

Alguma coisa em mim
não funciona direito.
Não sei se é um pensar,
ou um sentir,
que se faz defeito.
Só sei que não me conformo 
não me enquadro,
e não correspondo a expectativas e rótulos.
De todos os modos possíveis
sou um inadequado,
um feroz desajustado,
um imprevisível,
e nada há de mudar isso.
Não fui feito para viver
num mundo tão imperfeito.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A VIDA NUNCA SERÁ HUMANA

O planeta não precisa de nós.
Somos incômodos,
desnecessários,
nocivos e agressivos,
ou, simplesmente,
despidos de natureza.

Um organismo vivo
é composição, afetação
e movimento,
indiferente a racionalidade.
Pois a razão é um malefício,
não um artifício de sobrevivência.

A vida nunca será humana
e estamos todos cansados 
da humanidade
e famintos de terra.



CHUVA

Antigamente, 
as tempestades
eram mais selvagens
e a chuva forte 
aproximava a terra
do céu.
Hoje somos escravos
da previsão do tempo,
temos medo do imprevisivel. 


sábado, 25 de setembro de 2021

BEBER CERVEJA COM FILOSOFIA

Estou aqui sozinho,
em um ponto qualquer
de lugar e tempo,
tentando afogar pensamentos 
num copo de cerveja quente.
Nada em mim é importante.
Não significo.
Só há  sentido em uma garrafa de cerveja cheia.
Mesmo que esteja quente.


VAGABUNDAGEM

Gosto de dormir
quando amanhece o dia.
O mundo não me interessa,
como não me importa a vida.

Quero outra coisa,
outras formas de existência
onde caiba a poesia. 
Por isso, contra o trabalho e o Estado,
Amo o sono e a preguiça.

Não serei escravo do meu tempo,
nem senhor de minhas angustias.
Sou livre e vadio.

Como qualquer  mendigo,
durmo como um quase morto,
desconstruíndo futuros antigos.





sexta-feira, 24 de setembro de 2021

LEITURAS INÚTEIS

Nenhuma palavra lida
parece-me digna de atenção
em tempos de hiper informação. 

Todos os enunciados soam abstratos,
retórica vazia,
de um eu perdido de  um mundo,
onde nenhum saber sabe a vida
no fazer dos atos e fatos.

Não acredito no platonismo dos letrados,
na matemática dos cientistas,
na astúcia  dos jornalistas,
ou na oração dos ingênuos e otimistas.

Tenho palavras estranhas,
novidades de  falas loucas,
presas na garganta 
como uma espinha de peixe podre.

Elas estão grávidas do nada,
não conformam consciências,
nem pretendem dizer verdades,
sentimentos ou máximas de humanidades.

São palavras nuas,
sons de um outro mundo possível,
pura dissonância de tempos incertos de deriva, 
que ferem os educados ouvidos
dos filhos do século que nos vê morrendo,
intoxicados pelo futuro
de nossas vontades mortas.

Nenhuma palavra lida
acorda a vida,
da voz ao impossível 
dos ditos do corpo,
autor de todas as falas e escrita.




sexta-feira, 17 de setembro de 2021

BANALIDADE

Seguimos presos ao jogo do mundo,
ao trabalho, a hora do almoço,
e a conversa fiada no elevador.

Tudo sempre de novo,
de segunda a sexta.

Amanhã será outro dia morno,
sem nenhuma beleza.
Apenas contas para pagar
e coisas para recramar.

A existência acontecerá novamente sem brilho,
respostas ou soluções.
Isso pede uma dose de conhaque,
ou um sábado no parque,
enquanto a vida segue
contra a existência  enterrada na natureza,
em qualquer lugar onde não haja um só vestígio do humano.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

TEMPOS SOMBRIOS

Tem dias que acordo 
com um peso de fim de mundo no corpo,
um gosto de catastrofe na boca,
e uma dor de cabeça de coração partido.

Tem dias que viver é inutil
e nada faz sentido.
Eles se tornam cada vez mais frequentes
em tempos de crise do capitalismo,
niilismo e colápso ambiental.

Tem dias que sinto saudades
dos anos da guerra fria,
do medo de um apocalipse nuclear 

sábado, 14 de agosto de 2021

A NOVA MORAL DOS OPRESSORES

Agora,
segundo os donos do mundo,
nada é injusto
no melhor dos mundos.

Bandidos pedem justiça
em nome da moral, da fé, e dos bons costumes,
racistas se julgam incompreendidos,
fascistas reivindicam livre expressão,
e políticos arrotam dignidade.

Os opressores reclamam dos oprimidos
e quase não se fala da imaterial e material miséria
da cultura capitalística.
Ignora-se todo absurdo progresso industrial,
todo o horror colonial,
no elogio cretino dos vitóriosos tempos modernos.




O RIDÍCULO DE SI MESMO

Eu, que não sou ninguém,
me tenho em grande auto estima.

Não temo a morte,
mas considero absurdo
meu desaparecimento do mundo.
Sou, como todos os outros,
que por aí  
andam e respiram,
um grande amante de si mesmo.

Antes de tudo,
me orgulhoso dos meus erros,
dos meus defeitos,
dos meus juizos e prejuizos.

Como é demasiadamente humano
ignorar o ridículo
da consagração da subjetividade,
de identidades que lançam a todos,
uns contra os outros,
à grande fogueira das vaidades!

Me tenho em grande auto estima.
Mas sei que sou nada
entre nadas
sonhando tudo
embriagado por convicções e verdades
no acontecer sem rumo da humanidade.

Ninguém é justo!





terça-feira, 10 de agosto de 2021

IMPERFEIÇÃO



Tudo que existe é imperfeito e incerto.
Mesmo que a imperfeição não exista.
Ela não passa de um juízo de valor,
um pressuposto de qualquer ideal patético,
que sustenta em nós
qualquer platonismo,
enquanto as coisas
apenas são como estão
em perpétuo devir:
um infinito desafio de imaginação,
de criação e imanência,
entre a natureza e o artifício do simulacro de Ser.


O FUTURO

O futuro está sempre do lado de fora da vida.
Ele é, por definição, o inatingível,
o impossível,
contra toda ilusão teleológica de progresso e sucesso.


O futuro é sempre o outro do hoje,
ou sua des-realização radical
no devir que nos interdita
a tranquilidade de qualquer identidade ou conquista.

Estamos todos condenados
a mudança,
a incerteza de nós mesmos 
enquanto o futuro foge.


 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

MINHA SINA

 

Tenho apenas

os dias,

as noites,

o tempo e a morte,

além de uma tremenda

falta de sorte.

Mas talvez eu veja

o próximo ano,

e lamente as coisas perdidas

enquanto crianças choram

 na maternidade.



sábado, 7 de agosto de 2021

O OUTRO

O outro é um segredo,
um engodo,
ou, talvez,
o extremo ausente de mim mesmo.

Não posso alcança-lo,
sabê-lo,
mas, mesmo assim,
posso perdê-lo
na distância de um encontro.


sexta-feira, 30 de julho de 2021

REBELIÃO QUASE DIVINA

Comer, dormir,
trabalhar, e morrer,
não é viver.
É apodrecer
em um mundo moribundo.
É  não  Ser ,
Servir aos poderes de morte
da soberana vontade de elites selvagens,
sempre fiéis ao progresso abominável
da civilização do senhor e do escravo,
do culto de um deus tirano. 
Mas viver não é obedecer,
é  se fazer rebelde feito um diabo.




quarta-feira, 28 de julho de 2021

PUXEM A DESCARGA!

Puxem a descarga dos dias atuais.
Eles fedem demais.

Precisamos de um pouco de ar puro
e, quem sabe, de um pouco de futuro,
Antes que seja tarde demais.
Urgem revoluções!
 
Puxem a descarga! 
Mudem o mundo!
 

A CAMINHO DO ABISMO


Sigo em frente
na contramão do mundo,
sem razão ou esperança, 
 em passos descrentes e indecisos.

Pois no meio da vida
perdi meu destino,
Surpreendi em meus passos
o caminho de um abismo.

Mas todo mundo,
no fundo,
segue cego
na direção 
do seu próprio  abismo.

A vida é uma aventura de precipícios.













terça-feira, 27 de julho de 2021

ENTERRO ANARQUISTA

Não  deixarei herdeiros,
nem patrimônio.
Muito menos,
serei lembrado,
por uma boa reputação.

Tudo que fiz na vida
foi respirar contra o mundo,
gritar por revolução. 

Espero, portanto, 
que meu enterro
seja o início 
de uma grande rebelião
marcada pelos mais intensos
atos de vandalismo e indignação. 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

LIBERDADE E ESCRITA

 

Há na palavra uma vida

que não cabe no cotidiano,

que não é prática, útil,

ou compartilhável.

É uma vida onde o pensamento some,

onde a gente imagina

qualquer coisa mais intensa

do que a mera realidade,

uma vida que não  cabe

na palavra vida.



Não se trata de metafísica.

A palavra liberta quem escreve,

mesmo que não desfaça a prisão,

mesmo quando as letras não falam,

pois põem em xeque todo sentido e perspectivas

que nos ensinaram na escola.



domingo, 25 de julho de 2021

TODAS AS PARTES DE MIM

Uma parte de mim é  ausência, 
outra silencio.
uma terceira é  preguiça,
é uma quarta puro desencanto.
A parte que era alegria
partiu com meus mortos
e uma outra, que era vontade,
saiu pelo mundo em busca de qualquer coisa.
Nunca mais voltou.

sábado, 24 de julho de 2021

QUASE SOLIPSISMO

Entre a morte e a vida agonizamos na existência as custas de muita bebida.
O instante, afinal, é incerto.
Nada nos leva a nada.
O mundo é  só uma ilusão convincente,
um fantasma da soma de todos os eus. 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

BUSCANDO TEMPO

Sobra tempo pra fugir do tempo,
perder o dia com banalidades sem sentido,
e a noite contemplar o teto do quarto,
exilado na cama,
nos braços da qualquer  insônia.

O tempo é, definitivamente,tudo que perdemos, ganhamos,
e depois esquemos com o passar dos anos.

Sobra tempo,
enquanto iludidos
buscamos mais tempo
para não viver a vida
contra nosso próprio  tempo.


quarta-feira, 21 de julho de 2021

O AMANHÃ E O DIA SEGUINTE

Nada garante o dia seguinte,
hoje é sempre,
de algum modo,
tarde e cedo demais
para qualquer desejado futuro,
enquanto nos afogamos
no oceano do tempo. 
Sei que o amanhã
não existe,
que o passado
é nosso pior impossível
no incerto possível de um dia seguinte.


DO DIA AO DIA

Começar todo dia
um novo dia
quando cada dia
pouco diz a vida
é o mais radical desafio
do nosso existir contemporâneo. 
Afinal,
já não sabemos se vivemos
ou imitamos a vida
em uma existência de simulacro.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

OS SONHADORES

A realidade não tem vagas para sonhadores.
Estão todos reduzidos a mendicância, 
aos vicios do espírito, 
as ousadias do corpo,
e a transvaloração dos valores.
Os sonhadores são os novos barbaros,
os que não nasceram para este mundo, os perigosos,
que ameaçam as inércias do hoje
com as incertezas do futuro.
Eles são o pesadelo de todos os conservadores.

sábado, 17 de julho de 2021

PAREDES

A parede isola,
protege e esconde.
Ela transforma o espaço 
cria lugares,
decora o vazio,
mas, acima de tudo,
impede.
A parede é muro,
estrutura, prisão. 

Há sempre mais paredes
do que janelas e portas.
O mundo é  feito de muros.


AQUARIO

Tenho sentido nos ossos
toda precariedade da minha existência,
Aprendido a nudez da vida,
 o tempo na pele,
o vazio onde tudo acontece,
e onde somos como peixes
presos em um aquario,
serenos e cegos.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

UM BURACO NA ESTRADA

O dia de hoje 
foi como um buraco na estrada.
Uma falha no caminho do tempo,
Um brusco tremor do nada.

Mas o que é  a vida 
além deste acontecer coletivo
onde a gente pouco se vê,
onde cada um de nós 
quase não existe,
como um buraco na estrada?

quinta-feira, 8 de julho de 2021

REDE SOCIAL

 

A vida simula mudos mundos na tagarelice virtual.

Pouco importa agora o real.

O fluxo de signos segue em sua banalidade,

em sua comunicação performática,

que nada diz ao silêncio essencial

que há no fundo de nós….

quarta-feira, 30 de junho de 2021

POEMA MOTIVACIONAL

A verdade mente,
a mentira esclarece,
e estamos todos errados.
 
Apenas os loucos tem alguma razão. 
Nada faz sentido.
Então  beba,
beba muito!
 
Esqueça o mundo.
A vida não merece muita atenção. 

terça-feira, 29 de junho de 2021

A MEDIOCRIDADE DOS BEM SUCEDIDOS

A banalidade da normalidade é  o abrigo dos mediocres. Daqueles que vivem de reputações e aparências, curvados a moral dominante,  avidos pelo mais estupido sucesso entre seus pares.
Como são futeis e esteris aqueles que formam familia, tem bons empregos e defendem a lei e a ordem.
O futuro não depende deste tipinho de gente.

AO ANOITECER

O dia acabou 
Nada aconteceu.
Tudo foi tédio 
rotina e cansaço.

Nada aconteceu.
Apenas sofri as horas
até a noite me engolir.

Nada aconteceu.
Tudo foi como ontem
um grande deserto de acontecementos.
Quase não  existi.

O mundo segue triunfante
contra a vida da gente.
O mundo segue enquanto anoiteço cedo
sem vontade de dia seguinte.




PREGUIÇA

A preguiça anoiteceu a manhã. 
Quero ficar na cama,
apagar o mundo,
esquecer a vida,
e fugir pra qualquer sonho bom.

Prefiro as coisas que não  existem.
Estou cançado do absurdo da realidade. 

segunda-feira, 28 de junho de 2021

PÓS REALIDADE E SIMULACRO

Cada um inventa sua realidade,
sua verdade afetiva,
sua convicção emotiva.

Afinal, tudo agora é  Midia,
simulacro,
mesmo que nada seja relativo.

A objetividade depende dos objetivos
em tempos de hiper informação 
e pós realidade
onde ninguém  mais tem razão
na prisão das convicções pré moldadas.

CONSUMO E MELANCOLIA

 

O tédio da satisfação efêmera,

sempre provisória,

é a mais sutil de todas as formas de angustia.

O consumismo é o inferno do indivíduo livre,

poderia dizer qualquer cientista social

transcendendo as bolorentas letras de seus artigos.


domingo, 27 de junho de 2021

IMPRUDÊNCIA

Ainda que eu morra sonhando
vou por os pés  no infinito,
rasgar o fino tecido da realidade,
com o afero insuportável 
de me perder nas coisas,
de inventar delírios, 
e beber demais depois da festa.

PASSADO, PRESENTE, FUTURO

O Amanhã nunca chega.
É  sempre hoje de novo.
Um hoje cheio de perdas,
angustias e incertezas.

O Amanhã é o tempo impossivel 
das conclusões.
O hoje é o momento eterno da dúvida. 
O passado a consciência de nossas ilusões. 


segunda-feira, 7 de junho de 2021

TEMPO LIVRE



Preciso de tempo para viver o tempo,
fugir da prisão  das  horas
do maldito relogio.

Preciso de tempo para não  fazer nada,
para poder ser tudo,
estar entre todos,
inventando a eternidade,
o eterno retorno,
o intempestivo da liberdade.

Não  haverá  futuro para sociedade
sem mais tempo livre
contra a escravidão  do trabalho,
para afirmação da vontade,
no devir de criar e morrer
no inventar-se do mundo
entre dias e noites
que nos transcendem.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

VERSOS SUJOS

Gosto de versos fedidos,
sujos de terra,
brutos,
como a vida que a gente leva.

Detesto poemas de confeitaria
que enfeitam o mundo,
que cagam lirismos e humanismos,
ou o elitismo do concretismo,
esperando um trono nas livrarias.

Gosto de versos em pânico, 
atônicos e delirantes,
que berram alguma insurgência.

Gosto de versos gagos,
incertos e rasos,
que arranham a pele
do pensamento,
que provocam sensações delinquentes,
que secam uma garrafa de vinho.








segunda-feira, 31 de maio de 2021

SEJA FORTE

Tem dias 
nos quais acordamos
e tudo que importa
é  ser forte.

Não  importa o quanto 
você  já foi feliz
ou carrega algumas vitorias. 

Tudo que interessa é  ser forte
contra tudo é contra todos 
com o peso da morte 
oprimindo seu peito.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

HERMES PASSA


um raio ilumina
sorridente e enigmático,
na conjunção dos opostos,
o turvo canto das encruzilhadas.

Sopra nos ermos um grande  vento,
um encanto estranho de natureza,
de vida e de morte.

Por isso corre,
que a vida é  caos e movimento.
Tudo é  urgente, incerto e intenso.

O momento é  merculiano,
guarda um segredo,
um encantamento
que derrama entre nós 
o mistério do silêncio,
do obscuro trimegisto.









terça-feira, 11 de maio de 2021

SER FUTURO NO PASSADO

Pouco me importa o quanto a vida social se transforme, minha existência será sempre um estar fora, um alheamento das coisas e dos outros.
Sou definido por uma angustia, por uma agonia de estar aqui e agora, sempre a deriva, sempre provisório, na intuição do impossivel.
Tudo que eu quero não pode ser.
Meu mundo ainda não  nasceu.

terça-feira, 4 de maio de 2021

CETICISMO CONTEMPORÂNEO

Não  acredito no certo e no errado.
Sei que o mundo não  é  justo,
que não  existem finais felizes
e o poder esmaga a virtude.
Sei que o amor mata
e a revolta liberta.
Nada é  o que aparenta.
A verdade é  aquilo que se inventa 
contra o ilegível da vida
e o vazio de ser.
Em nossa época 
a vida é  coisa que se lamenta.


segunda-feira, 3 de maio de 2021

ROTAÇÃO

A terra gira,
todos nós giramos
através  dos dias,
das noites, e das estrelas,
que embriagam o tempo.

Quanta imaginação é  preciso
para mudar a realidade
enquanto a incerteza nos transforma?

Qualquer delirio bate a porta
no atraso da manhã,
nas notas de qualquer melodia.

Mas a terra gira 
o tempo passa,
e a mudança nos assombra.
O mundo é  vertigem
no silêncio e escuridão do universo.


quarta-feira, 28 de abril de 2021

TEMPO ENIGMA

O tempo jamais será amigo dos meus sonhos,
não  me fará inteiro,
ou um enigma desfeito pelos anos.

O tempo nem sabe de mim,
não  me transforma.
Ele  é  apenas o segredo do espaço,
do silêncio  e do passado,
que me forma,
conforma a ilusão do seu próprio  enigma.

O tempo é  sempre um outro
através  de mim.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

A POTÊNCIA DA INDIGÊNCIA

Sou qualquer  nada no mundo.
Mas pouco me importa o universo.
Sou tão insignificante
que não  tenho limites,
que escapo a definições e controles.
Minha mediocridade me torna imprevisivel,
quase invencível.

CONTRA O FUTURO

Frente as incertezas do  presente,
abraço o passado contra o futuro.
Meu ontem é urgente 
contra o amanhã e a morte.

Vivo dentro do mundo antigo
de desbotadas fotografias
contra o efêmero da tela,
do digital, que me roubou
o sabor do passar do tempo.

Sou hoje mais antiquado
do que meus avós.
Não  acredito em nenhum progresso,
Duvido de qualquer futuro.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

AS PALAVRAS NOS OLHOS

Os olhos buscam palavras livres.
Seja na tela ou na folha.
Mas só encontram textos previsiveis,
letras organizadas na falsa embriaguez do sentido
e do não  sentido.
Nenhuma palavra diz o caos
que escapa ao simulacro da alma,
o absurdo da vida cotidiana,
enquanto tudo é  dito
o tempo todo
na desordenada ordem das coisas.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

QUASE GOTA D'AGUA

A humanidade nunca deu certo. Nosso futuro como espécie  sempre foi duvidoso. Mas depois do Covid, mas pessoas se tornaram sensíveis a situação. Alcool, cigarros, TV e anti depressivos, já não  dão conta de nossas angustias e frustrações. A lei da sobrevivência  já  não  justifica comodismos. Não  sabemos o que fazer, mas estamos cada vez mais conscientes de tudo aquilo  que não  pode continuar a ser. 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

DIA DE RESSACA

É  dia de céu  fechado,
de ressaca na praia
e raiva no mar.

É  dia de intensa natureza
nos pés  que provam a areia
avessos ao cotidiana
de calçadas cheias
de buracos urbanos.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

O IMPOSSÍVEL DO TEMPO VIVIDO

O agora da memória 
diz o passado como futuro perdido,
como  meta impossivel
que sequestra horizontes.

 Meu tempo é o nunca
de um presente sempre incompleto,
de um devir das coisas e do corpo interrompidos,
condenados desde sempre
ao inatual,
ao que não foi possível 
de um acontecimento incontecido e misterioso.






quarta-feira, 7 de abril de 2021

PROFECIA PROFANA

Tenho mais passados do que futuros.
Não  sobreviverei ao sinistro periodo de 2020 à 2050.
Não  verei a morte do mundo verdade, 
ou a agonia do futuro realidade.
Mas sei que a vida nunca mais será  a mesma nas próximas décadas.
As crianças de hoje serão adultas
no reino da angustia e do absurdo.
Entre tecnologias, degradação ambiental, e crise social,
o tempo será denso e mortal.
Todas as canções serão  tristes,
e os poetas sonharão com o fim da humanidade.
 O intempestivo será a intensidade de um devir natureza
contra o tempo podre do poder e da razão pós industrial.
Será o fim das grandes cidades,
de toda verdade universal.
Reaprenderemos a existência 
com a amoralidade dos animais
e a eternidade nunca mais será para sempre
na vitalidade das coisas vivas e inanimadas.
A paz será  entre nós a mais terrível de todas as guerras.





terça-feira, 6 de abril de 2021

INVOLUÇÃO

Sou um ponto perdido no caminho do acaso, 
Um borrão no rosto anônimo do tempo.
Meus atos tem gosto de esquecimento.
Quase não sou humano na animalidade dos meus afetos,
nas necessidades brutais do corpo
que me faz viver.
Tenho fome, tenho sede,
incertezas e medos.
Pouco me interessa estéticas e arte.
Sou feito de natureza.
Não  tenho alma ou virtude.
Sou feito de liberdade.



segunda-feira, 5 de abril de 2021

ATUALIDADE


O tempo não  volta
e a hora de agora 
ignora memórias.
Apenas me assombra  a insanidade dos telejornais,
a barbaridades da Internet,
e o mal estar  da existência.
Tudo o mais é  descartavel e banal
e não  vale a morte que me espera.








domingo, 4 de abril de 2021

O FIM DO HOMEM

Não  há mais futuro para humanidade.
Amanhã  será o fim
ou o advento do nosso silêncio.

Tudo terminará sem conclusão
e sem deixar lembranças.
A natureza será novamente absoluta. 
Todas as palavras serão  extintas.
E as arvores aprenderão a sorrir
na ausência  do humano.


terça-feira, 23 de março de 2021

A ESFINGE DA VIDA

Vida não  é  isso que acontece agora,
não  é  o que a gente faz. sofre,
ou pensa.
Vida é  qualquer coisa que nos falta
enquanto  a gente respira.

O FRACASSO COMO VIRTUDE

Nunca quiz ser bem sucedido em nada. É  no fracasso que me sinto livre , sempre disposto a buscar qualquer outro modo de ser, que possa me desvelar, mesmo que acidentalmente,  outras formas de viver.
Estar preso a uma persona adaptada e satisfeita, é um modo de estar morto antes de morrer.

VIDA LOUCA

 

A vida não tem formato,

roteiro ou direção.

É corpo quente

preso a qualquer tempo,

lugar, ou acaso,

na incerteza de seu próprio movimento,

Indo para parte alguma

chegamos a qualquer outro lugar de nós mesmos,

arrependidos da partida.

a vida também não tem sentido.

segunda-feira, 22 de março de 2021

REINVENTANDO O FIM DO MUNDO

Precisamos simplificar as coisas.
Imaginar o fim do mundo
como uma grande festa.
Não  ver nele fatalidades
ou o imperativo de um destino.
Mas a assignificação absoluta da vida.

quarta-feira, 17 de março de 2021

FIM DO MUNDO

O futuro não importa mais.
Nos afogaremos no presente 
e esgotaremos  o mundo
no último segundo do passado.

Toda esperança  está morta.
Seremos em breve finalmente livres do peso do progresso.
Não  há mais a ilusão  de qualquer solução ou redenção,
nenhum fim da historia.
Tudo terminará aqui e agora!
O depois de hoje será selvagem
na contramão de quem somos.





OPINIÃO E NIILISMO

 

Entre os fanáticos,

os indiferentes,

e os convencidos,

afirmo meu desprezo

por toda convicção.

Sei que o mundo

é um caso perdido

e que todas as épocas mentem

sobre o verdadeiro caráter

da humanidade.

Toda existência

não passa de um equivoco.


terça-feira, 16 de março de 2021

CAOS MUNDIAL

 

Nada está sob controle.

O mundo segue as cegas

em meio a guerras de opiniões.

Mas todos arrotam razão

com incertezas entre os dentes.

A realidade é pura agonia.

Mas todos tem a explicação 

enquanto a vida se torna impossível.


sábado, 13 de março de 2021

A POTÊNCIA DA PALAVRA MUDA

As horas transbordam nos atos
e o silêncio  se faz acontecimento.
Desmente  os fatos 
na nostalgia do esquecimento.
Meu corpo sabe lugares no mundo
que não  cabem no mapa.
Meu pensamento  é  um rio
de aguas intensas.
Sigo inerte e paradoxal 
pelo território  selvagem
de frases abertas em vento.
Minha memoria ilumina o tempo.
Não  cabem palavras no dizer que sente,
que diz o intenso da vida como imaginação do existente. 




PÓSTUMO INSTANTE

pouco me importa
seguir sem rumo
ou futuros.

serei a chama
que se consome,
o quase ser do instante
de uma vela apagada
que contempla o luar
no abismo de uma janela.
serei o resto do que se foi
desafiando o silêncio.

quinta-feira, 11 de março de 2021

CORPO & VIDA

a vida passa.
Nada é  eterno.
Tudo é  incerto;
descartavel momento,
inesgotavel  no tempo,
como experiencia e memoria.

O corpo
 em interminavel ato
é  sempre outro de si mesmo
na realização constante do seu desaparecimento.
Ele nunca realiza 
o mais radical da vida.

O corpo passa 
a vida segue
e desde sempre 
nenhum de nós existe.






segunda-feira, 1 de março de 2021

CRIAÇÃO E COTIDIANO

O cotidiano, como eterno retorno do sempre igual,
como repetição enfadonha da ordem e do rumo do mundo atual,
é o avesso da vida.
pois viver é criar,
produzir o inesperado,
contra o tédio das certezas prontas
e o adestramento social.
Inventar novidades,
desdizer verdades,
é reinventar-se no anonimato do póstumo,
desvelar o segredo do futuro
na rasa profundidade da pele.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

CONTRA A AUTORIDADE

A autoridade é o avesso da vida,
da natureza como liberdade de ser.
Ela é um silêncio de mundo,
um abismo na coletividade.
Acontece onde o ideal de poucos
condena muitos a um existir marginal,
onde tradições calam futuros,
e alma, como norma,
dita so corpo suas formas de expressão.
A autoridade é um deserto imposto
a primavera do eu e do outro.
É o céu que domina a terra,
a razão que nos priva de imaginação.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

MEU MUNDO

Meu mundo é pequeno.
Não cabe nem nos meus dias.
É indiferente a historia,
A humanidade,
E habitado por bichos e plantas
Que moram dentro de mim.
Meu ego é seu lado de fora
na incerteza de sua terra e seu céu.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

HORROR COTIDIANO

 

Um gole de espanto

para acordar o dia.

Apenas um gole

antes de74 me 666yafogar nas horas,

até o do66is6 8doque int5eligível,

do passional e do terrível.

O mundo vai mal.

E a vida alucina

além de nossa simples compreensão.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

FUTUROLOGIA

Despido do mundo atual,
Espero me tornar outro
E ir alem de mim mesmo,
De todos que vejo
No espelho da rua,
Da rede e do consumo.
Não quero saber de noticias.
Espero ansioso pelo futuro
Que falta. 

COMIDA E ONTOLOGIA

Um pedaço de mim
Acordou pão com manteiga.
Outro cerveja.
Mas na verdade manheci barra de chocolate.
E vou dormi limonada,
Acordar bem tarde feito laranjada.

CHÃO E TEMPO

Prefiro viver de chão.
Não me alimento de céu.
Respiro a paisagem que me abriga.
Sou infinito em seu finito,
Corpo dentro de corpos.

O chão nunca é o mesmo.
Pois sua materia é o tempo
Que nos transforma em chão
Contra a ilusão das estrelas
No fundo do firmamento escuro.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

ESTRANHAMENTO

 

O mundo para mim é um estranho.

Nunca fui íntimo dele

e nunca serei.

Do mesmo modo

que tenho sido um desconhecido

para mim mesmo.

Viver é um estado de vertigem.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

SEM DENTES

 

Todos os meus dentes caíram.

Restou-me na boca torta

apenas a língua

e um fogo aceso de poesia.

Não sinto falta dos dentes.

Sorrio sem eles grandes incêndios.


sábado, 30 de janeiro de 2021

O OLHO E A PERCEPÇÃO

O mundo sempre parece mais intenso
No rapto do momento de um instante fotografado
E roubado do tempo.

Mas o mundo não cabe nos olhos.
É feito de corpo e sentimento
Que sempre transcende
O falso objeto da experiência do olhar.

Toda fotografia é o simulacro
de um mundo que mora no olho.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

METAFÍSICA NO PONTO DE ÔNIBUS




Estou esperando aqui no ponto de ônibus
Por uma gota de infinito
Para embriagar o tempo
E abrigar minha existência.

Estou esperando já faz quase meio século
por um mísero segundo de eternidade.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

MALDITO MUNDO!

Tenho na pele a marca do mundo,
O vazio da sociedade,
E a indignação contra a peste.

Guardo dentro de mim
O horror inerte
De sucumbir ao real.

A VIDA É COISA QUE A GENTE NÃO SABE

Nosso estado de existência atual é um caos criativo ou uma morte em "vida". 
Mas a vida é natureza, 
o inteiramente outro de nós mesmos no inferno da civilização....

Liberte-se! Tome atitudes selvagens!
Morrer é estar calado no último vagão do trem...

O ABSURDO DA SOBREVIVÊNCIA

A lógica brutal da sobrevivência nunca  nos permitirá saber qualquer coisa sobre a vida. Viver é um vazio no deserto do trabalho, lazer e comer.
Talvez um pouco por conta dessa falta de vida em nossa sociedade impera um horror pela morte quando ela é seu principal produto, sua maior indústria.

NADA

 

Tudo que eu queria na vida

era não querer nada,

não precisar de nada

e não ser nada.

O nada é o segredo

de qualquer felicidade possível.

Tudo se resume a nada.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O QUE É A VIDA?

Vida não é trabalhar, comer e descansar. O nome disso é sobrevivência. Vida é qualquer outra coisa que ainda não sabemos, que a civilização nos rouba todos os dias em segredo.

A vida é aquilo que inspira ainda, apenas aos loucos, bêbados e suicidas.

sábado, 23 de janeiro de 2021

DIA DE VERÃO

A imanente inquietude de um dia de verão
Grita nos corpos
Que tomam as ruas
Em secular procissão.

O soberano sol imperava esclarece desejos,
Buscas, angústias,
Ansiedades e devaneios.

Ninguém tem paz 
No inferno de um dia quente
Onde o coração quase para
Na insuportável paisagem de verão.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

MARGENS

 

À margem de nós segue o mundo,

sem razão ou rumo

através do raso da eternidade,

dos atos coletivos e sem espírito,

que produzem diariamente

o caos da realidade.


À margem da vida segue a natureza,

sem propósitos, perspectivas,

ou ilusão de verdade.


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

ACENDA UM CIGARRO

Acenda um cigarro.
O mundo é como fumaça.
Traga a angústia,
A ansiedade.
Não se desespere.
Estamos todos morrendo
Aos poucos
E só a morte liberta.

UM GOLE DE CERVEJA

Meu tempo é quando.
É incerteza.
Vivo de vontades quebradas
E realidades tristes
Onde a existência desbotada
Não passa de sucata metafísica
De um deveria ser impossível.
Toda filosofia do mundo
Cabe para mim num gole de cerveja.
O agora não existe.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O MUNDO NÃO MERECE RESPEITO

O mundo não merece respeito.
Deve ser tratado com pedras e dinamites.
Desafiado, cuspido,
E desrespeitado,
Até o limite da mais selvagem rebeldia.
O mundo não merece a vida,
Mas a fúria da natureza,
Contra todas as leis e ordens
De nossa patética condição humana,
Contra nosso ridículo progresso
E certezas.

CAOS E TEMPO

 

No princípio era o silêncio.

Depois o vazio,

o incerto e o ilegível.

Por fim o mundo,

o absurdo e o intolerável.

Em nenhum momento

nada fez sentido.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A VIDA É ISSO?

A vida é isso?
Esse dia triste, esse mundo insano
E essa agonia latente?

É só isso?
Esse saber a morte
Como horizonte de Liberdade
E a existência como uma infame fantasia
Quase indecente?!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

NIILISMO E PRAGMATISMO

 

Não tenho nenhum motivo para sair da cama pela manhã.

Tudo que me move é o imperativo da necessidade,

a crua sobrevivência egoísta que me faz ser em sociedade.

Existo por simples inércia e de má vontade.

Nenhum discurso seduz meus ouvidos,

nenhuma explicação aquieta minha mente.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

PRECISA-SE DE REVOLTADOS

Apenas os conformistas cultivam esperanças.
Precisamos de mais desespero,
De mais pessimistas e indignados,
Que quebram vidraças
E exigem um futuro
Contra um presente que
aos poucos  nos mata
as margens de qualquer amanhã.
 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

TEMPOS SOMBRIOS

Não faz diferença se estou morto ou vivo, quando existo enterrado no tempo do absurdo, de um mundo apodrecido e mudo.

ATRAVÉS DA NOITE

Antes que está noite termine
Quero acordar desta angústia
É fugir a agonia,
Sonhar mais alto que o céu
Movido por alguma esperança turva
Na afirmação gratuita da existência.

Quero quebrar todos os limites,
Verdades , certezas e fatos,
Até respirar um pouco de possível
Em um mundo que me asfixia.

Mesmo que o depois desta noite
Não se confunda com o inédito
De qualquer novo dia,
Preciso provar o delírio
De qualquer fantasia.