sexta-feira, 30 de junho de 2017

GOTA AMARGA DE DESTILADA SABEDORIA

 Tornar-se adulto  significa admitir para si mesmo que o mundo não é um lugar legal. A pior parte disso é não saber o que fazer com informação tão desagradável. Tudo será decepcionante, superficial pelo resto de sua maldita vida. Simples assim. Mas se saber disso não irá, obviamente,  mudar sua existência,  pode lhe proporcionar uma  desagradável lucidez.  Em poucas e amargas palavras: Você aprende a não  esperar nada de nada. Podemos chamar isso de realismo trágico e o inicio de uma longa aventura com a bebida.


quarta-feira, 28 de junho de 2017

A MARGEM DAS OPINIÕES

Não viverei de lugares comuns,
De opiniões dispersas em redes sociais
Ou das soluções fáceis ditadas
Por velhas receitas existenciais.
Tentarei improvisos ontológicos,
Peripécias filosóficas
E deboches insanos e sem sentido.
Lançarei mão de qualquer artificio

Para fugir aos debates de toda espécie.

PERSISTÊNCIA

Ainda que a casa esteja arruinada
Em minhas rotinas naufragas,
Ainda sigo de encontro ao nada.
Não importa...
Persisto em mim mesmo
Neste acumulo de erros
Ao qual se reduziu minha vida.
Insisto...
Sigo como quem escapa a si mesmo...



segunda-feira, 26 de junho de 2017

SER E NÃO SER ATRAVÉS DOS OUTROS

Enterrado no não lugar comum  de um apartamento inscrito na desfuncionalidade urbana, invento delírios através de generosas doses de uísque, desvelo toda fragilidade da existência banal e ordinária. Que sentido faz tudo isso que nos oferecem coletivamente como vida?

Tenho me perguntado muito  sobre quem eu sou. Os outros sempre se apresentam como resposta. Pois é o espelho quem me apresenta a mim mesmo. Por isso acendo um cigarro e desvendo na fumaça todos os dilemas ontológicos que me assombram e angustiam.


Quem eu sou me parece uma pergunta sem qualquer sentido, pois a resposta sempre depende da imaginação e do vazio dos outros.

BREVE BILHETE AOS MEUS SILÊNCIOS

Prezados silêncios que me definem por dentro, tenho escutado seus vazios, seus inquietantes desafios a minha existência e não tenho respostas que não sejam também silêncios e interdições. Já não sei se sou eu ou se sou vocês em cada palavra que me define o sentido das coisas vividas. No fundo elas já não dizem nada.

O silencio é onipresente... Silêncio singular e plural na diversidade de ser único e indeterminado como toda ilusão de mundo e realidade.

Por isso bebam comigo, meus queridos silêncios!
Um brinde ao ilegível dos fatos!

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A EMBRIAGUEZ DA POESIA

A poesia não é retórica,
Nem belas artes.
Nem mesmo cabe no verso.
A poesia é essa sujeira,
Esse ruído dentro das coisas,
Da gente e dos átomos
Que quase desfaz todos os fatos.
A poesia é como um sentimento maldito
Da realidade.
Não busca a beleza,
Inspiração ou perícia.
Poetas vomitam.
Cada instante de vida

É como a aventura de um porre.

A RAZÃO DOS VÍCIOS

Toda vez que acendo um cigarro
Queimo um pouco
Deste quase desespero
Que tanto me consome.
Os vícios servem para isso:
Tornar tudo menos insuportável.
Fume, beba , faça sexo
E coma como um glutão.
Esta é toda satisfação

Que lhe será possível.

DIA, TÉDIO E AGONIA

O dia de hoje ainda não foi vivido,
Mas possui um roteiro
E encarna o tempo de agora
Como repetição monótona e mecânica
De uma rotina vazia.
De pouco adianta querer inventar um desvio.
Estou condenado a seguir em frente,
Amargar circunstâncias,
Até o limite da frustração.
Quando tudo é previsível,
A vida quase não existe.
Chamam isso de ordem,

Eu chamo de agonia.

PEGUE UMA BEBIDA

Toda manhã é um pouco triste,
Pois guarda uma nostalgia de sonho,
Uma vontade de fugir a rotina,
Ao dia, e de todas aquelas coisas do trabalho,
Da casa e da hora apertada do almoço.

O sono vale mais do que a vigília,
E a  vida é vazia de realidade.
Por isso levante da cama

E pegue uma bebida.
Esteja sempre embriagado.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

REEDUCAÇÃO

Do modo certo e incerto de ser gente
Fui me transformando,
Me deixando de lado
E me tornando o outro
Que me encarava no espelho.

Aceitei as mimeses e falsas certezas
Do bom trato social.
Aprendi a viver para o mundo

Contra mim mesmo.

SENSUALISMO

A vida cotidiana é um tédio infinito. Por isso precisamos de café para  nos concentrar e muito álcool para relaxar. Quem nunca quis um dia fugir de tudo, rasgar o cotidiano e pular no abismo de um recomeço absoluto contra todas as lamentáveis certezas do dia a dia?


Diante da impossibilidade disso nos tornamos glutões e beberrões. Aprendemos que a existência se resume a pequenos prazeres. Gostamos de tudo aquilo que nos embriaga os sentidos.

terça-feira, 20 de junho de 2017

CONVERSAÇÕES VI

Quanto mais formal é um dialogo mais obvio é o seu resultado. Afinal, trata-se apenas de um jogo de perguntas e respostas onde seguimos o lugar comum de um roteiro pré definido pelo raso do senso comum.

Não são raros os diálogos vazios onde impera a trivialidade e ninguém realmente diz nada a ninguém.  Raramente temos realmente algo a dizer uns aos outros. Na maior parte das vezes apenas preenchemos o silêncio ou seguimos os ritos de sociabilidade e traquejo social.


FATALISMO

Pode ser que nada mude
E eu siga arruinado
Até o fim dos meus dias.
É o mais previsível...
A sorte nunca me foi  generosa.
Jamais tive a expectativa
De um bom destino.
O futuro nunca me esperou

De braços abertos.

domingo, 18 de junho de 2017

RUMO AO PRÓXIMO PORRE

Uma hora a noite acaba
e tudo que resta
é voltar para casa,
esquecer a madrugada
e encarar a rotina
onde os dias apodrecem
no deserto do tempo do sempre igual.
Não há muita dignidade na aventura da humanidade.
Tudo é muito mais irrelevante do que parece.
Por isso sempre corremos em busca 
do próximo porre.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

CONVERSAÇÕES V

Nada pior do que compartilhar o espaço com uma pessoa desagradável. Principalmente  quando, por simples bom senso social, temos que simular normalidade, sorrir e demostrar simpatia por simples formalidade. Alguns fazem isso naturalmente. Mas não é o meu caso. Sou péssimo na arte da dissimulação.  Este é um dos meus mais virtuosos defeitos.

Mas o que faz uma pessoa desagradável? Pessoas desagradáveis tem muita personalidade. São vaidosas e cultivam a verdade em suas cabeças de um modo que qualquer divergência ou contrariedade lhes desperta antipatia e tensões infinitas.

Pessoas desagradáveis são banais na convulsão da auto afirmação vazia. Com elas qualquer dialogo é uma fantasia, um monologo disfarçado. Gostam de ser ouvidas, mas nunca estão dispostas a ouvir. O que lhes importa é o aplauso, ser o centro das atenções. Isso as torna insuportáveis.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

COVERSAÇÕES IV


Cecilia falava o tempo todo sobre ela mesma. Tinha uma verdadeira compulsão para compartilhar suas experiências , seus pensamentos , buscando ser sempre o centro de todas as atenções.  Não era fácil passar meia hora ao lado dela. Principalmente porque todas as suas narrativas eram duvidosas. Dizia uma vida de faz de conta. Todos sabiam disso. Ela não era metade do que dizia. Certas pessoas vivem tão seriamente suas mentiras que acreditam fielmente em suas próprias ilusões. 

MORAL DE VAGABUNDO

Gostava de não fazer nada,
De fugir de tudo e de todos
E estragar o dia com birita.
Assim, a vida parecia menos insuportável.
Eu só queria um tempo sem o mundo doendo
Dentro da minha cabeça,
Sem participar desta sociedade doente.
Acho que no fundo

Eu não queria muito.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

CONVERSAÇÕES III

Não tínhamos muito assunto enquanto caminhávamos juntos. Faltava entre nós intimidade. Calculávamos tanto cada palavra que  as frases trocadas tinham gosto de vento. Mesmo assim era bom compartilhar pensamentos rasos e opiniões sem rumo.   Mesmo  tropeçando em lugares comuns valia a pena a companhia.


Compreendíamos o óbvio: uma boa conversa não precisa ter conteúdo. Não passa de um exercício lúdico, de um momento de descontração. Cada pessoa tem o seu silêncio, sua presença. E é isso que realmente importa. Estar um diante do outro , simplesmente existindo. Palavras trocadas são, na maioria das vezes, decorativas.

CONVERSAÇÕES II

Odeio aquelas pessoas que param atrás de você na fila e, enquanto esperam, arrumam um jeito de puxar assunto. Falam pelos cotovelos e não escutam nada. São aptas ao monólogo. Talvez por isso  lancem mão do artifício de alugar os ouvidos de estranhos. Seus conhecidos não  se submeteriam ao  blablabla.


O mais incrível é que só ficam no palavrório. Não dizem efetivamente qualquer coisa que não seja banal ou inútil. Devem ter uma vida vazia. Mas quem importa? É justamente por isso que nos alugam os ouvidos. Falar demais sobre si mesmo traduz normalmente uma espécie de angustia, de incomodo e descontentamento com  a própria existência que a pessoa é incapaz de verbalizar.

CONVERSAÇÕES I

Depois de alguns copos de cerveja Paula se pôs a falar sobre sua vida. Falava rápido e sem pensar misturando diversos assuntos e opiniões desconectadas. O que dava uma boa ideia de seu estado de confusão existencial. Encontrava- se perdida dentro da própria vida, sem vislumbrar futuros e arrependida de todo o seu passado. No fundo não entendia como sua vida contrariou tão exemplarmente todas as suas ingênuas expectativas de adolescente. Agora percebia o tempo passar e o quanto era tarde demais para mudar seu destino. Estava condenada a si mesma.

Eu a escutava calado. Não conseguia pensar em nada para dizer. Também não andava feliz com minha própria vida. Nisso éramos parecidos.  Mas nada podíamos fazer um pelo outro.  Só nos restava dividir cervejas madrugada a dentro.

Paula era frágil e inadequada ao seu cotidiano/gaiola e eu não era a pessoa certa para escuta-la.


sexta-feira, 2 de junho de 2017

CAFÉ DA MANHÃ

O meticuloso arranjo do café da manhã, se resumia a uma xícara de café quente e um pão doce. Fora isso era a expectativa do dia que começava, a atmosfera do cafeteria e aquela absurda artificialidade que tudo envolvia.


O dia podia acabar no café da manhã e evitar tantos vazios, gestos mecânicos e dissimuladas ansiedades.  Tudo que se tem vontade, na maior parte do tempo, é que o mundo deixe de ser o mundo e se torne qualquer outra coisa estranha que caiba em uma boa alucinação.