A HORA DO CAOS

Quero ver hoje o céu chorar sangue,
A terra tremer de dor
E o pânico comer as ruas.

Vestirei minha fantasia
De caos e horror
Para compartilhar
Meus gritos
Na multidão
Até que não haja mais
Qualquer limite
A minha imaginação.

Não suportarei mais os fatos,
As mazelas cotidianas,
O comportado absurdo
Que diariamente
Me sufoca.

DIVERSIDADE E DESLOCAMENTO

O que efetivamente define nossa condição  humana é tudo aquilo que nos faz vazios,  que nos transforma em menos do que pensamos e impõem o avesso das  certezas.

 Quanto mais longe e diversamente possível se torna a vida, menos nos sentimos quem somos... E isso é mais importante do que o tédio de qualquer certeza.

COTIDIANO X LIBERDADE

Estamos condenados a viver da pressa e da impaciência do efêmero cotidiano, dos  atos automáticos  e do marasmo das horas de trabalho onde nos desfazemos em  personas.

Estamos todos condenados a  existir como quem não vive até que as horas morram, até que a insanidade grite ou que nos  espete o peito todos os limites.

A liberdade é uma ilusão permanente que nos inspira ideais de singularidade que jamais se confirmam, que nos anulam na veleidade de lhe atribuir sentidos.

APOLOGIA AO FRACASSO

Vivo apenas para tudo aquilo que é inútil,

Que não me leva a nada,

Que não gera lucro,

Dividendos ou juros.

Vivo para o que não me dá

O mínimo prestigio

E me faz perder tempo

Ao sabor de fracassos e ocasos.

Longe de mim

Querer estar entre os vencedores,

Ser mais um opaco rosto

De capa de revista.

O sucesso é o ópio dos tolos

Que vivem da ilusão

Do próprio progresso.

Minha meta  o ócio...

PARAISO ARTIFICIAIS

Espero de tudo
Um sinal fatal
Que me consuma
E sustente o rosto
Enquanto caio
Da escatológica escada
Da vida do dia
Virado ao contrário.
Vivo nos paraísos artificiais
Onde rio de tudo
E nada é o que parece ser....

FUMANDO SOZINHO

Não quero que me vejam,
Que me digam
Ou julguem.
Não quero dar om dia,
Boa tarde,
E que se dane sua noite!
Não sou destes
Que dá bom exemplo.
Ficarei sem rumo
Com meu fumo.
Não há melhor companhia.
Deixem-me todos em paz.
Não se aproximem!
Ao diabo todas as companhias.

FUNDO DO COPO

No fundo do copo
Eu vi um mundo,
Eu vi um foco.
Bebi abismos
Até a agonia
Da realidade,
Até ser tarde,
Até ser nada.
Tudo ficou apagado
E esquecido,
Inclusive eu...

A LOUCURA DE ESCREVER

Não leve a sério
Tudo que eu digo
Nem questione
Os meus motivos.
Não lhe darei satisfação
Do que escrevo,
Pois escrever
Transcende o juízo.

BOEMIA

Jurei beber
Até esquecer  de mim,
Brindarei a cada estrela no céu,
Uma a uma,
Até que a noite se consuma
Em rubra escuridão,
Até que eu suma
E veja a beleza nua
E turva
De um sonho escrito
Em meu grito,
Na luz de um cigarro
Ou em um tiro na boca.

O BEIJO DA VIDA

Não quero
Meu corpo estendido
No varal dos outros
Com fome de experiências,
Vidas e coitos.
Quero a liberdade
De saber por mim mesmo
O rosto torto
Que define a vida
E o amargo sabor
Do teu beijo.

ESTADO QUASE CRITICO

Joguei no lixo
Minhas mais preciosas
Esperanças, crises
E vontades excessivas.
Meu pensamento
Emagreceu
Até a palidez dos meus atos
E este silêncio
Cobrir meus olhos.
Mas não estou doente,
Apenas desfeito em urgências
E atordoado pelo tédio
De certas demências de imaginação.

ESTA NOITE

Quero muito
Esta noite
Estar completamente
Livre
De mim mesmo,
Não ter todos os fatos
Engasgados,
Engarrafados como carros
Em minhas conclusões vazias.
Não quero ser ou estar,
Despir minha existência
De toda a humanidade
E viver meu cigarro
No duro silêncio
De um redentor delírio.

FUI EU!!!!!!!!!!

Fui eu ali
Perdido e rasgado,
Engasgado com o passado,
Quem pintou de preto
O dia
E apagou o sol.
Fui eu quem quebrou
O verso
E jogou fora
Todas as certezas
De mundo.

PROVISÕES

Tenho um trago de cigarro
E um buquê de fumaça
Para espantar o medo
De olhar nos olhos
Do futuro
Onde me esqueço.
Tenho também
Uma garrafa
De bom uísque
Para afogar pensamentos
E acalmar os nervos.
Só não tenho a coragem
De simplesmente
Seguir em frente...

VIVENDO DO SIMPLES VAZIO

Não me reconheço
Naquele rosto
Que surpreendo no espelho
Ou no ilusório de fotografias.
Não me sinto pleno de ego,
De resoluções ou progressos.
Apenas percebo-me vazio e sozinho
De mim mesmo,
Seguindo no limbo de pensamentos
Que se desencontraram do mundo
E dos atos,
Vivendo do vazio
Que me esclarece...

REBELDIA

Serei sempre
Aquele
Que nunca foi,
O tolo que divaga
Instantes
Contra o triste
Da realidade,
Que se desfaz
Em existência
Contra o impossível
Da vida

Monster Magnet - Into the Void

ABANDONO

Permanecerei aqui,
Esquecido e alheio,
Despido de mim mesmo
E em assustado silêncio.
Não esperarei soluções,
Futuros ou promoções.
Apenas um último suspiro
Que me liberte das tantas
Ilusões que definem
O absurdo da vida.

SER LIVRE

Tento aprender a viver

A vida

Do meu próprio jeito,

Sem me preocupar

Em compartilhar a existência

Com os outros.

Tenho meu próprio sentimento

Da realidade,

Minha própria forma

De inventar

E viver o mundo.

Leiam a liberdade

Em meus olhos

E não tentem me esclarecer...