segunda-feira, 29 de maio de 2023

O JOGO DA VIDA

Não sei o que falta, 
O que sobra, ou o que resta. 
Só sei que é pouco,
Como tudo na vida,
e que amanhã 
pode não ser outro dia. 

 Viver é qualquer coisa
que nos escapa,
é o que perdemos ou ganhamos
em um lance bobo de dados,
em uma aposta vazia em qualquer resultado
que mal cabe na ilusão de um gesto.

É a sorte, 
é a morte
e um silêncio,
ou, simplesmente,
aquilo que nunca se sabe,
aquilo que foge ao controle.

A essência da vida é o jogo
lúdico do corpo.


terça-feira, 16 de maio de 2023

ANONIMATO


 Continuarei aqui
trancado em mim mesmo
dentro e fora do mundo
fazendo de conta
de que sou alguém.

De forma alguma
trata-se aqui de uma opção.

Mas quem se importa?
O que importa?
A vida não é uma equação
esperando para ser resolvida,
mas o desenho tosco de uma criança
Esquecido no mural de um jardim de infância.

ROTINA URBANA

Não importa o pálido riso parido
entre um café e um suspiro 
ou a piada cretina cuspida
entre o vão e a plataforma
na estação de metrô.

Nada importa.
A vida é triste e sem sentido
e isso não vai mudar.
Agora o que importa
é jogar  o lixo fora
antes das oito horas
quando o lixeiro irá passar.

Não tenho qualquer motivo
para seguir em frente,
razão alguma para ser feliz,
enfrentar o tempo presente
ou lutar contra a sorte
apertado em um vagão de trem de subúrbio.
Mesmo assim, como quase todo mundo, sobrevivo, apesar de tudo.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

QUALQUER DIA SEREI MARGINAL

Qualquer dia
ainda descubro
o jeito certo
de me perder no mundo,
de escapar a multidão,
a humanidade, 
a lei, a ordem  e ao Estado.

Viverei em total anonimato,
do lado de fora da ordem,
dos consensos e identidades 
que nos conformam a prisão de tantas rotinas e opiniões.

Serei livre de mim e dos outros,
 dos artifícios e simulacros digitais
que me reduzem a um avatar
ou a qualquer passiva cobaia
de algum experimento científico.

Qualquer dia poderei dizer
contra tudo e todos
que não existo,
que não sou e não faço sentido.
Ou que  sou liso, leve e solto
sem qualquer motivo.

Qualquer dia serei herói,
serei marginal.




















IGUALDADE

Nunca fui destes que buscam um lugar ao sol,
que por vaidade ou ambição
perseguem a honra de qualquer sobrenome.

Nunca quiz existir acima dos outros.
Sempre desprezei a hipocrisia dos líderes,
as mentiras dos pastores,
as autoridades e competições públicas.

Sempre me bastou ser ninguém,
ficar preguiçoso entre os meus pares
exposto ao calor de um mesmo sol.

A vida, afinal, é um pequeno nada
que dentro de nós aos poucos se apaga em vão.

Cada um de nós
é menos que nada.