sábado, 29 de dezembro de 2018

NOITE TRISTE

Era noite.
Mas já estava muito tarde para dormir.
O dia seguinte chegaria sem cor.
Tudo era a inércia  de não ter para onde ir.
Muito menos como dormir.
Era noite.
Eu estava triste.
Todos estavam tristes.
A própria vida estava triste.
Não era uma noite qualquer....

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

VIDA INÚTIL

Somos apêndices de nossas rotinas.
Os dias se acumulam mudos
No eterno retorno do corpo.
Mas nunca somos os mesmos.
Buscamos prazer.
Fazemos da alegria uma obrigação
Até os limites da depressão.
Perceber o quanto isso é absurdo
Não muda nada.
Acenda um cigarro
E não pense nisso.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

NÃO NASCEMOS PARA DAR CERTO

Há algo de frustrante em acordar todos os dias para a mesma vida, para as mesmas angústias e buscas, cada vez mais distante de qualquer resposta. Mas é assim que existimos. 

Não espere que dê certo, que tudo faça sentido. Na maior parte do tempo percorremos as horas perdidos no mundo. 

Para ser livre de verdade é preciso se livrar desta necessidade infantil de mudar as coisas. É preciso errar com a plena consciência de que ninguém pode fugir ao peso de deus limites.
Não nascemos para dar certo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

SEM IDENTIDADE


Não busco saber quem eu sou.
Pouco me importa os fatos.
Tudo me acontece à revelia dos meus atos.
Sou apenas a ficção de alguma convencional verdade coletiva.
Justamente por isso guardo em mim possibilidades infinitas.
Nada é mais criativo do que a insubmissão a rótulos e identidades,
do que ser sempre um outro entre os outros.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

DA INUTILIDADE DE TUDO

Quase tudo que vivo é tempo perdido.
Ócio sem brilho ou labor improdutivo.

Não gera memória ou futuro,
Nem me transforma.

Nada esclarece ou obscurece.
Quase tudo que vivo é inútil.
Inútil como o mundo
Onde a própria eternidade é perecível,
Descartável e vendida.

O tempo passa quase sem vida em meio digital

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

PESSOAS QUE NÃO BEBEM NÃO SÃO CONFIÁVEIS

A vida cotidiana é medíocre. Ninguém é herói ou fabuloso entre quatro paredes. Somos desinteressantes, banais. Tudo só fica radiante depois de algumas garrafas.Mas muitas pessoas não bebem. Isso não é uma virtude. É uma fraqueza. É levar demasiadamente a sério a própria mediocridade.

Embriagar-se é lidar com nossas limitações com certa dignidade que só uma boa dose de humor permite entender. Não confio em pessoas que recusam a embriaguez. Elas não dançam o tempo, não enfrentam vertigens. Ficam fechadas no artificialismo, nas máscaras que se confundem com nosso próprio rosto.

domingo, 9 de dezembro de 2018

O PREÇO DA FELICIDADE

Tudo hoje tem um preço. Até mesmo a felicidade. Não são poucas as estratégias coletivamente construídas para ser feliz: casamento, realização profissional, uma vida saudável, religião ou, simplesmente, equilíbrio psicológico.  Mesmo assim o objeto felicidade permanece duvidoso e incerto. As angústias e ansiedades cotidianas são mais concretas. Nunca conheci ninguém que fosse digno do rótulo de feliz. 

A felicidade tem um preço, a tomamos como um  objeto e não como um estado ideal inalcançável. Mas a segunda alternativa é o que faz dela uma imagem concreta de nossa cultura. Buscamos desesperadamente um estado de prazer é satisfação permanente. Mas este é um ideal infantil e nada realista.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

NÃO SEJA LÚCIDO

A capacidade de sentir tédio é um inequívoco sinal de inteligência e de ceticismo.
 
Viver é um tragicômico espetáculo de sentido e não sentido e exige uma diária dose de embriaguez. 

Os lúcidos não são lúdicos, são incapazes de levar a vida as últimas consequências. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

FALTA DE TEMPO

O tempo cíclico dos dias da semana articulam nossas rotinas. Inventam as horas medidas de trabalho, o lazer e o ócio. Mas não definem o necessário tempo inútil de nós mesmos. Quase não temos momentos consagrados ao nada, a inércia de existir na nudez do corpo, na animalidade que nos define como seres brutos, como viventes. Sempre nos falar tempo.... tempo para o nada, para o ilegível e inexplicável da vida.

UM DIA DE CADA VEZ

Viva um dia de cada vez, apesar das ansiedades e urgências que remetem a vontade de tudo.

Queremos sempre  mais do que o possível. Buscamos intensidades. Por isso tanta necessidade de álcool, cigarros ou calmantes. 

Não é fácil viver um dia de cada vez. Temos vontade de infinito, de prazer constante. Nada nos satisfaz, nos salva desta permanente inquietude que nos consome.

domingo, 25 de novembro de 2018

O EU CONTRA O ROSTO

Assombra cada um de nós o risco constante da perda do eu. Por isso cultivamos a verdade como meta e buscarmos o ideal como caminho do eu ao nós. É assim que desde os gregos antigos aprendemos a nos inventar, a produzir subjetividades.
 
O rosto sempre predomina sobre o corpo. Ele é a paisagem que define nossa unidade, que esclarece nosso corpo como singularidade. Mas o eu sempre confronta o rosto com o ideal. Contrapõe a vida e a natureza animal no jogo entre a verdade e a necessidade. Mas o eu não é páreo para o rosto. Ambos nunca coincidem e jamais permanecem os mesmos.

SOCIEDADE E INDIVÍDUO

O indivíduo é uma projeção do coletivo e o coletivo é uma projeção do indivíduo. Entre os dois o que existe é o corpo, o animal e o mundo. Por isso a vida em sociedade é uma condição de nossa miséria, de nossa necessidade. Somos ao mesmo tempo um "eu" é um "nós". Mas ambos carecem de substância o que justifica a ficção da verdade como premissa de nossa convivência.

sábado, 24 de novembro de 2018

SEM TETO


Preso à cidade,
Procuro nos becos um pouco de liberdade.
Busco um espaço sem endereço,
Um canto que negue a rua.

Quero qualquer abraço de terreno baldio,
De casa abandonada que me sirva de abrigo.
Moro onde não se habita.
Meu coração é mendigo.
E a cidade sempre me nega a face.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

PENÚRIA

Uma noite falta sono.
Outro falta vontade.
Depois falta dinheiro
E também esperança.

Variam as carências,
Mas é sempre tempo de necessidade.
Mesmo assim o amanhã persiste.
Apesar de tanta penúria.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

Não inventei nada.
Meus sentimentos,
Hábitos e pensamentos,
me foram ensinados.
Nada do que digo é  original.
Sou como todos uma carta marcada,

uma simulação.
O sistema conta com nossa revolta.
alimenta-se dela.
Este é o grande segredo.
Tudo já foi previsto.
Tudo é uma variante de conformismo.

A ORIGINALIDADE DA CÓPIA

Ninguém se importa com meus pensamentos,
Com minhas opiniões sobre a vida e o mundo.
No fundo, não há nada de singular nos retalhos de verdade que me animam a existência.
Como muitos, sigo a convenção de não ter convenções.
Não há originalidade em ser diferente.
Mas foi isso que aprendi a ser.

NÃO SEJA PRODUTIVO

É bom dormir até tarde,
Esquecer da vida,
Das pessoas e do trabalho.
Tenho a dignidade de não ser produtivo.
Sou preguiçoso e acomodado,
Quase um imprestável para a sociedade.
Existo para beber, comer e cagar.
Vivo como os cães e gatos domésticos.
Apenas eles me compreendem.

sábado, 17 de novembro de 2018

ADIAMENTOS E SONHOS

Acumulo diariamente muitos adiamentos.
Grande parte do meu tempo é definida por desacontecimentos.
Eles não criam memórias,
Não alimentam sentimentos
E nenhum ocasional arrependimento.
O por vir é sempre o tempo das intensidades,
Dos grandes desafios.
Adiamos o que nos é decisivo.
Seja por medo ou preguiça.
Não há nada pior do que quebrar o encanto do futuro.
É preciso que tudo que nos diz o desejo sempre nos pareça possível.
Desacontecimentos sempre nos transformam....
.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

BANALIDADE COTIDIANA

Não há nada de grandioso na vida cotidiana. Tudo é a banalidade de atividades medíocres e ordinárias. Passamos de um dia ao outro sem qualquer brilho. Por isso precisamos tanto da sétima arte como uma estratégia de fuga. O cinema compensa nossa banalidade. É apenas no plano da fantasia que as coisas de fato parecem vivas e plenas de existência.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

MUDAR A VIDA

A vida está sempre longe de ser tudo aquilo que poderia ser. Os limites dos modos vigentes de sentir e pensar limitam a potência de existir. Não somos capazes de ser diferente daquilo que nos tornamos. Criar o novo na consciência do por vir é um esforço que quase sempre malogra diante de nossas tantas inercias. Apesar disso, a vida só faz sentido quando convertida em uma estética da existência, em um trabalho de metamorfoses.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

NÃO SEJA NORMAL

Admiro a capacidade de algumas pessoas de naturalizar a rotina e conviver bem com todos os pequenos horrores do cotidiano. Mas eu, ao contrário, não sou capaz de me adaptar ao mundo. Sou dado a perplexidades e revoltas silenciosas.
 
Sou um anormal orgulhoso.  

Não cultivo virtudes, boas intenções e nem espero que o mundo se torne algum dia um lugar melhor. 

Também não sou muito sociável e desprezei tudo aquilo que me ensinaram na escola. Vivo de acordo com minha mansa  delinquência. Pessoas sensatas cultivam algum traço de loucura. É uma questão de sobrevivência.

UMA NOITE BANAL

Hoje é somente mais uma noite banal. Impera o tédio, o devaneio. Há um pouco de bebida e maços de cigarro.

No fundo uma música antiga, algumas saudades no peito e muita solidão espalhada pela casa.

Hoje é só  mais uma noite sem brilho que não vai deixar qualquer vestígio. 

É só mais uma noite...

Não há o que lamentar sobre isso. O pior é a certeza do dia seguinte, a lucidez que irá me despertar sem alarde, que vai me roubar do alívio de algum sonho.

sábado, 10 de novembro de 2018

MORTE EM VIDA

Não faz diferença se é noite ou dia.
As horas são todas iguais,
São filhas do mesmo tédio,
Vítimas do mesmo tempo.
A ordem do mundo exige o dizer e o fazer.
Produza sua vida pelo consumo.
Sua identidade é um discurso que pré existe.
Todas as formas de expressão alimentam o tédio.

FOTO E FOTOGRAFIA

A foto é péssima.
O momento ridículo.
Mas o que importa é o registro.
A realidade não vale qualquer objetivo
E quase não existe através da foto.
A fotografia é uma fuga.
Fotografar é uma forma de terapia.
Não leve a sério o fotógrafo.

A LEI DO FRACASSO

O fracasso sempre ronda meus sonhos.
Afinal, tenho objetivos banais e impossíveis,
Felicidades de consumo e padrões sociais.
Cultivo egocentrismos vazios como todo mundo.
Meus sonhos afundam no rio da vaidade.
Meu fracasso é merecido.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A VIDA É INJUSTA

A vida é injusta. Tudo é caótico, um infinito de forças em conflito aberto que tentamos domesticar em nossas mentes. Arrumamos o caos com nossos ralos pensamentos coletivos. Inventamos valores e propósitos em um esforço inútil de serenidade. Mas a vida é sempre injusta. O mundo em que vivemos é um terrível espetáculo. Só nos resta o abrigo da singularidade de nossas estrategias de fuga...

terça-feira, 6 de novembro de 2018

UM POUCO DE DESTRUIÇÃO


Gosto do meu cabelo cumprido.
Combina com meu desespero,
Com minha falta de perspectiva.
Tudo em mim fede a álcool,
Cigarro e bagunça,
Enquanto o mundo
Caminha de mal a pior.
Não quero vencer.
Não pretendo perder.
Só espero um pouco de destruição.


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O VAZIO DA SIMPLES ROTINA



Amanheço sempre indisposto.
Acordar é domesticar o impossível,
Amansar preguiças
E converter a vontade  em atos
Materializando o possível
Como se isso fizesse sentido.

Assim se inventam rotinas,
Cristalizam-se conformismos.
Aos poucos me faço copia de mim mesmo,
Um improviso de gente,
Condicionado a desfuncionalidades e mimetismos.


quinta-feira, 1 de novembro de 2018

OBRIGAÇÕES E VÍCIOS


Afinal, vivo tão perdido entre  obrigações e vícios,
Que me pergunto:
Por onde anda minha vida dentro de tanta torta  existência?
Tenho sido apenas um corpo em movimento na paisagem,
Um pequeno detalhe indiferente ao cenário.
A vida não me diz nada,
É atividade de autômato,
Mimetismo inócuo e provisório.
Mas o que seria viver,
Caso não fosse a dialética das obrigações e vícios
que decoram o deserto desta existência?


terça-feira, 30 de outubro de 2018

SEM SONHOS


A noite me deito sem dormir.
Fico pensando no dia seguinte,
nos muros invisíveis e cotidianos,
Nos limites, gritos mudos e muros
Que limitam a vontade e os atos.
Não chamo isso de insônia,
Não classifico como ansiedade.
Trata-se mais de uma falta de sonho do que de sono.
O céu tornou-se mudo.
Não diz mais a lua ou as estrelas
E nada parece infinito e desconhecido.

domingo, 28 de outubro de 2018

A MARGEM DAS CONVICÇÕES COLETIVAS

A vida é curta demais para se  viver do artificialismo das convicções coletivas. É o pequeno território da vida doméstica que  merece de nós todo cuidado possível.
O invisível de nosso pequeno mundo cotidiano , a insignificância de nossa vida  imediata, é o plano existencial que nos sustenta e configura. Diante dele as questões coletivas não passam de abstrações vazias. Mesmo assim, já não é possível contrapor o privado ao público como experiência.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

INTIMA DECADÊNCIA


Tenho estado um trapo humano.
Pareço um sombra de quem fui.
Mas não posso culpar o tempo.
Fui desleixado, acomodado,
E, principalmente, inconsequente.
Não queiram inventar qualquer motivo,
Justificativas ou explicações.
As vezes, as coisas apenas acontecem.
Todo mundo desce aos infernos um dia.
Isso faz parte da vida.


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O TÉDIO DA VIDA COMUM




A vida caiu na rotina dos dias normais.

Não há mais sonhos, 

delírios ou arroubos de poesia.


São sempre os mesmos obstáculos,

As mesmas angustias e medos,

Os mesmos desejos,

Os mesmos tédios...


Não faz diferença atravessar a rua.

Em toda parte é sempre o mesmo começando de novo.

Sou eu fugindo de tudo,

desinventando a mim mesmo.

sábado, 20 de outubro de 2018

ABRA UMA CERVEJA

Precisamos perder um pouco de tempo,
Esquecer o mundo.
Caso contrário o cotidiano se torna insuportável.
Abrir uma cerveja é uma questão.
Embriagar-se é a melhor maneira de manter o bom senso.
O resto não precisa ser dito.
Deve ser apenas vivido.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

ATREVIMENTO

Redundante dizer que a vida não é fácil,
Que os dias são curtos,
E a existência não faz sentido.
Felizmente temos a noite,
A bebida , o cigarro,
E madrugadas solitárias para perder o juízo,
Para não pensar nisso.
O que não temos é qualquer solução.
Mas nos sobra risos e coragem para correr riscos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

MANHÃ DE SEGUNDA FEIRA

As sobras do fim de semana atrapalham a manhã de segunda feira.
Todas as rotinas são atualizadas.
Todas as pequenas agonias do cotidiano são reorganizadas.
O café da manhã não acorda o dia.
Tenho má vontade com a rotina.
Nada é como deveria ser.
Sobrevivo como quem nunca viveu.

EXPERIMENTE

Minha receita para uma vida quase perfeita, é não buscar perfeição. É não fazer dietas, não obedecer moral alguma. Saber a vida sem adjetivos.

Existo! E nisso reside todo o absurdo do mundo.  sou sem qualidades. Apenas me faço entre o incerto e o desejado. Não há qualquer propósito receando meus atos. Viver é um sempre renovado exercício de experimentação.

domingo, 14 de outubro de 2018

CONSELHO AMIGO

A verdade é que tenho sido o ébrio passageiro de mim mesmo. Não sigo em qualquer direção. Abomino destinos e metas. A vida acontece sem imperativos de consciência.

Tudo é construção e desabamentos. Nada dura o bastante. Aproveite o instante. Não busque profundidades. Faça o que tiver vontade. Até agora  isso tem funcionando comigo.

A SABEDORIA DA PREGUIÇA

Tenho preguiça de escrever diários. Acúmulo banalidades, tédio e rotina. Por que razão iria querer fazer disso a geografia de algumas linhas? 

Como todo mundo levo uma vida banal e anônima sem qualquer interesse público. Sou inteligente demais para me levar a sério, para levar os outros a sério. O mundo é um cemitério de imbecil quase mortos se afogando em vaidade. Cultivo minha preguiça. Essa é toda filosofia da qual ainda preciso. A preguiça nos impede de ser idiota entre os outros vomitando pretenções a qualquer verdade.

NÃO ENTRE NO JOGO DO MUNDO

Para a sociedade o que importa é ser jovem, atraente e produtivo. Depois nos tornamos apenas restos, consumidores de remédios e um peso para a previdência social. 

Não importa o quanto realizamos na juventude. O mundo tem uma fome insaciável de novidades e fatos. Quer sempre mais. Ele nos devora e joga fora.

No final vivemos uma vida eterna dedicada ao efêmero, só superficial e só banal que definiu as misérias de nossa própria época.

Não importa o que digam por aí, não há dignidade na velhice. Aproveite o instante. Tenha um porre atrás do outro. Use drogas. Mas não entre  no jogo do mundo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

O NOVO SIGNIFICADO DA EMBRIAGUEZ

A vida em sociedade tem me deixado assustado. Para mim é cada vez mais claro que aquilo que chamamos de civilização já ultrapassou a própria ideia de sociedade. Vivemos em rede. Tudo hoje em dia é circulação de signos, o acontecer de linguagem em provisórios arranjos de sentido. Isso nos conduz a um noivo hedonismo. Viver a vida tem se tornado um estado de evasão permanente. Damos um novo sentido a embriaguez. Tudo é experiência e sensualismo. O virtual faz do real uma vertigem estranha. Estamos sempre fugindo as identidades e convenções, estamos sempre indo para o oposto do jogo social. A embriaguez se tornou finalmente um modo de existir.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

VIDA E BANALIDADE

A produção do mundo é uma obra impessoal, coletiva,  da qual participamos como miragens, como variações praticamente infinitas de um mesmo tema. Somos todos equivalentes, dedutíveis uns aos outros e, ao mesmo tempo, expressão de singularidade. A unicidade de cada indivíduo é também uma condição coletiva. 
Por isso não sou vaidoso. Não me deixo levar pelos meus prazeres e desejos, pelos meus afetos e defeitos. Sei que eles são tão banais quanto os seus.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

OUVINDO MÚSICA


Gosto da inercia de estar dentro da musica,
Acolhido na voz e nas notas,
seguindo através da melodia,
Que perfuma o espaço e embriaga o corpo.

A música confunde em mim o dentro e o fora.
Ela mistura tempos e sentimentos.
É como um abstrato lugar de ser
Que transforma tudo em movimento.

A música flui.

Define latitudes e longitudes existenciais.

NOSSO COTIDIANO MUSEU DE NOVIDADES

Perdido entre tantas novidades já não vejo oportunidades para inventar o novo. Nada nos oferece uma única migalha de inesperado. Pelo contrário. É tudo previsível e banal. Os fatos perpetuam o mesmo horizonte de ordem através de novos cenários conservadores. É sempre e eternamente o mesmo novo de sempre.


O novo é sempre rotina e tédio.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

SOBRE LIBERDADE E ESCRAVIDÃO


Todo mundo quer liberdade. Até mesmo as pessoas mais autoritárias e dogmáticas que nem mesmo sabem o que fazer com ela. 

Todos cultivam caprichos, vontades e opiniões. Mesmo sem levar em consideração os caprichos, vontades e opiniões dos outros. 

O problema é que são poucos aqueles que percebem que sua liberdade depende da liberdade dos outros. 

Ser livre é um ethos e uma ética. Mas somos escravos demais de nossas necessidades naturais ou artificialmente impostas pelo meio social. Fazemos parte de uma sociedade de escravos que amam a escravidão. 

EXPECTATIVA


Não quero ser nem o último nem o primeiro.
Pouco me importa o acontecer dos outros.
Quero apenas ser mais um,
Ou menos um,
Dependendo da perspectiva.
O mais importante é que aconteça.
Não aguento o peso de tantas expectativas.
Todos nós, no fundo,
Esperamos sempre que alguma coisa aconteça.
Sofremos perpetuamente a esperança,
Como se esperar fosse uma doença.
E assim o tempo passa...
Nada acontece.
Só a vida se esvai.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

LEIA MENOS.BEBA MAIS.

Estou sempre em desacordo comigo mesmo. Há de fato uma distância entre meus atos e intenções. No fundo sei que não valorizo minhas prioridades e evito metas ou objetivos de médio e longo prazo. Sempre estou metendo os pés pelas mãos.

No fundo não me importo muito com os livros que tanto frequento.  Sei os limites de todas as filosofias e no fundo 
Sou demasiadamente imediatista.


Sei que não tenho muito controle sobre o meu destino. Além disso, o amanhã é uma incerteza. Melhor cuidar das coisas do agora e me afogar em futilidades. A própria existência é uma futilidade sem qualquer profundidade. Os que cultivam ambições de poder e conhecimento  são patéticos escravos de seus ideias. A cultura não nos liberta. 

Não há redenção.  beba, coma, durma e veja muita televisão.  Quanto menos sofisticados nossos hábitos mais próximos estamos de qualquer felicidade ordinária.

Um dia a gente morre e nada do que fizemos faz diferença. Embriague-se  de instantes. Perca a razão de vez em quanto. Seja estúpido e desprezível. Coma aquele sanduíche de bacon. Não perca tempo. Tudo é urgente e banal.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NOSSO ESTRANHO INTERIOR


A ocorrência de surpresas são raras em nossas vidas. Na maior parte do tempo nos ocupamos com atividades e acontecimentos rotineiros e turvos. Quase não nos damos conta do estranho que habita em nós. Ele é como uma persona indeterminada sempre a espera do inesperado.  

Os ávidos por viagens, noitadas, esportes radicais e atividades que envolvem algum tipo de risco, são os mais sensíveis ao chamado interior deste intimo estranho. Ele espreita e aproveita qualquer oportunidade: Uma conversa com estranhos ao caminho do trabalho, almoçar em um lugar diferente... qualquer pretexto, por menor que seja, pode ser um chamado, o pivôr de um desencadeamento de eventos não previstos que introduz pessoas, paisagens e experiências novas. É assim que ele vence. O estranho vive contra tudo que é familiar e rotineiro. Mas é justamente por isso que ele permanece apenas um  espectro dentro de nós. Ele sempre perde. Toda novidade se converte em algo corriqueiro quando se torna uma experiência de médio ou longo prazo. Por isso é sempre preciso começar de novo e assim proceder sempre.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

PRAZER E TÉDIO


No mundo atual à preguiça e a ociosidade são as únicas fontes de prazer confiáveis. Mas ainda prefiro madrugadas em claro, cigarros e bebidas. Afinal, o tédio é mais poderoso do que qualquer prazer. É ele quem governa nossas vidas.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

O PIOR INIMIGO


Estamos sempre nos opondo a alguma coisa,
Sejam situações difíceis ou injustas,
Ideias tortas e autoritárias,
Ou, quando suficientemente críticos,
Contra nós mesmos.
Eis o pior de todos os inimigos.
Diante dele amargamos nossas piores derrotas.

DIA BANAL


Não estou satisfeito.
O mundo inteiro está errado.
Tudo está perdido.
E o pior :
Ainda estou vivo.

Afundo no poço sem fundo
De uma multidão de pequenas urgências.
Não vislumbro qualquer solução.
Apenas existo e faço
Entre um e outro cigarro.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

DETERMINAÇÃO

Amo os vazios,
Os silêncios e os medos.
Gosto de tudo que me afasta de mim mesmo,
Que me fere e rasga convicções e certezas.

A necessidade me transforma,
Inventa meu intimo  outro.
Aprendo a realizar um novo impossível a cada dificuldade.
Assim segue a vida....

Tudo aquilo que me impede me conduz além de quem sou hoje.


domingo, 23 de setembro de 2018

UM POUCO DE DESESPERO

Uma vida serena exige ambições pequenas. Portanto, não tenha grandes pretensões, não queria mudar o mundo. Sobreviver já requer demasiado esforço. Temos sempre pouco tempo para o essencial, obrigações demais. Nada no mundo faz o menor sentido. Apenas assista um filme e fuja da realidade. Apenas esqueça este desespero dentro da tua cabeça.

DESTINO

A frustração diária exige cigarros e álcool. É preciso suportar a si mesmo e carregar dentro de si o mundo. E não há como fazê-lo sóbrio.
Somente embriagados somos mais fortes do que o vazio de nossos sonhos quebrados.
Não é fácil viver como um condenado, um escravo das próprias necessidades.

QUASE UM ESTÓICO

Não tenho mais imaginação do que a miséria que nos sustenta. É quase impossível contrariar os fatos, desafiar o mundo e afirmar vontades.

Aceito meus limites e minhas fraquezas. Mas isso não significa qualquer conformismo. Apenas aprendo a estoica arte de sobreviver a margem da vontade e atravessado pela realidade em seu incessante movimento. Tudo muda e persiste além dos meus pensamentos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O SONO



Há muitas noites dentro dos meus dias.
Muitos silêncios e preguiças.
As horas afogam os fatos.
É sempre tarde,
Sempre depois.
O agora já é passado.
O instante me escapa.
É sempre noite,
Há sempre sono.


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

TEIMOSIA EXISTENCIAL



Ainda existo....
Mesmo que desconjuntado,
Irreconhecível entre meus cacos,
Como um permanente esboço
De qualquer outra coisa
Que  jamais poderei ser.

O impossível é sempre
A mais realista da metas
Diante de um cotidiano absurdo
que nos impõe o risco do mais razoável.


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

APENAS ACONTEÇA


A vida
Não é uma questão ser,
De fazer ou deixar de fazer.
Viver é, simplesmente,
Um trabalho de consciência,
Um administrar de afetos
E imersão profunda em algum modo
De mera existência.
Vivemos aprendendo inercias,
Silêncios e ausências.
Nossos atos são dados do acaso.
Todo acontecimento está fora de nós.
Não faça nada.
Apenas aconteça.

APRENDA A PERDER

É difícil superar um dia em que algo importante deu terrivelmente errado. Mas o fracasso é tão banal quanto a respiração. 

Todos carregam as marcas de algumas derrotas. Sem elas jamais superamos nossas tão valiosas ilusões.
Na vida é muito importante aprender a perder e sobreviver a isso.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

TEMPOS CONTEMPORÂNEOS

Não tenho paciência para as novidades de agora.
Elas já nascem semi mortas,
Sem substância.
Remetem sempre a algum passado.
Até mesmo a rebeldia e a contestação andam conservadoras.
A criatividade saiu de moda.
E a juventude tornou-se chata.
Já não assusta ninguém.
O passado domina o futuro.
Mas é tempo de avanços tecnológicos!
Sorriam ao arcaísmo do velho progresso.

VIDA DOENTE

A vida é cheia de incertezas,
Angústias e ansiedades.
Muitas vezes não apreciamos o dia.
Apenas nos afogados em rotinas.
Isso nos mata aos poucos.
Estamos ficando doentes.
E nossa enfermidade se confunde com a vida,
Com nossa falta de intensidade,
De presença nas coisas
que nos definem o mundo
como realidade vivida.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

PENSAMENTO SELVAGEM


A soma de tudo aquilo que dizemos não alcança metade das coisas que pensamos. 

O pensamento é mais vasto do que o arbítrio dos enunciados, bem sabem os bêbados e os drogados. Apenas a  consciência alterada arranha os muros da percepção cotidiana e, mesmo que de modo caótico, toca essa vastidão selvagem do pensamento. Vastidão que aprendemos a conter ao longo de anos de escola e  adestramento social. Nada que não possa ser momentaneamente revertido nas geográficas abstratas dos paraísos artificiais. Não duvidem: 

É sempre saudável experimentar aberrações contra a realidade cotidiana, deixar o pensamento acontecer e nos fazer perceber as coisas de alguma outra forma.

ION


Um dia qualquer em uma vida sem importância.
Eis o que define todos e ninguém.

Somos o infinito de uma gota
Que ignora o oceano.

Inventamos as horas
Sem pensar no imediato e no agora.

Estamos sempre do lado de fora.
Perdidos  na paisagem que nos devora.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

ESTAGNAÇÃO

Faz tempo que não sinto um gosto de banho quente diante de qualquer acontecimento novo. 
Tenho vivido de fatos antigos.
Não recebo notícias de qualquer iminente futuro.


Nenhuma esperança me surpreende ao telefone
E eu só queria ter sono para esquecer meus sonhos...

TODA ALEGRIA DO MUNDO

Eu que não acredito em felicidade,
Que não faço bom juiz o da sociedade,
guardo dentro de mim toda alegria do mundo,
Mesmo que desnorteada e indignada
Frente aos absurdos humanos.
Afinal, a alegria é um desejo inconformado,
Que exige o impossível
E está sempre embriagado.

TEMPO MAIS QUE MODERNO


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

VIDA NATURAL


Há dias em que minha maior vontade é me desvencilhar das pessoas. Virar um ermitão, alguém apartado de todas as grandes questões da humanidade. 

Não tomar conhecimento dos outros e viver imerso em alguma paisagem verde é a melhor receita de um existir soberano. Afinal, viver imerso em natureza, integrado à um ambiente feito apenas de terra e de chão, propiciam uma experiência intensa de si e das coisas. A felicidade sempre nos espera longe dos outros através dos barulhentos silêncios da natureza.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O MAL ESTAR EM SOCIEDADE



Não tenho qualquer ilusão sobre as mazelas de se viver em sociedade. Garante-se a precária sobrevivência de todos as custas de cada um. E não me venham falar sobre a falácia de bem comum. O que realmente nos mantem juntos em aglomerados caóticos é o medo, a incapacidade de nos conformar a natureza e, no fundo, a nós mesmos como simples animais estranhos.

Viver em sociedade é existir para as mentiras consensuais que garantem a manutenção de nossas desordens coletivas.

O TÉDIO DOS EMBRIAGADOS



Sempre depois do almoço sou vitimado por um tédio,
Por uma falta de sentido, de vontade...
Diria mesmo, de realidade.

Tudo na vida me parece besteira,
Coisa passageira,
Que não vale uma gota de suor
Ou um instante de preocupação.

É muito pouco o que nos oferece a rotina,
Estes arranjos sociais de realidade.
Por isso deixem-me em paz
Na companhia de uma garrafa.



terça-feira, 14 de agosto de 2018

A FRAGILIDADE DA REALIDADE



De que forma ainda é possível estar aqui, agora e já em outra parte?

Eis a magia da ansiedade que nos revela que não existimos exatamente neste momento, mas em seus antecedentes, em suas sucessões, e através do seu movimento indeterminado, descentrado, sem antes e depois. Tudo que desaparece é a realidade como um ponto fixo em um espaço impreciso de coisas diversas. A realidade não se sustenta, não se fixa. É uma indefinição constante das coisas. Mas é preciso estranhar a consciência para perceber o quanto nada é como pensamos.




segunda-feira, 13 de agosto de 2018

SOBRE A MADRUGADA


Gosto de madrugadas.
É quando as coisas realmente acordam,
quando a vida transpira,
E a gente perde o sono
Sem qualquer esperança de amanhecer.

Madrugadas tem alma.
Nelas não há diferença
Entre o tempo dual da noite e do dia,
Apenas a doce agonia de uma insônia
E uma falta de tempo para o futuro
onde todos os momentos e sensações se misturam.

ENTRE O TRABALHO E O LAZER


Entre o trabalho e o lazer nos perdemos um pouco. Somos escravos de um emprego qualquer para pagar contas e consumir pequenas e grandes coisas segundo o estilo de vida que nos é coletivamente imposto. 

Somos seres humanos domesticados, animais sem brilho ou alma. Por isso tenho necessidade de beber um pouco, abdicar do juízo e cair no dia seguinte náufragos. 

É sempre a mesma rotina e um vazio de vida, uma falta de alma. Tudo que nos é permitido é sobreviver enquanto somos monitorizados e controlados.

FRESCOR MATINAL



Meu corpo amanhece fora do dia,
Além do sol que acorda rotinas.
Saboreio sonhos e imaginações no café da manhã.

A vida parece possível na miséria das coisas,
Nos cantos e dobras do cotidiano.
Provo o vento matinal e me perco no horizonte dos fatos.

Hoje parece quase outro dia.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018


PROCURA-SE!



Por onde anda minha cara esperança?
Nos perdemos um do outro no baile da vida
Entre noticias de jornais.

Sei que o mundo anda frio, tosco e incolor...

Por onde anda minha querida dama?
Talvez tenha sido sequestrada, assaltada,
E brutalmente assassinada...

Ou tenha se desesperado,
Dado cabo da própria vida,
Contra a agonia dos fatos.



terça-feira, 7 de agosto de 2018

PERDIÇÃO





Busco um abrigo em meio ás ruínas da minha própria vida,
Qualquer canto que me mantenha humano,
Mesmo com tão pouca humanidade a minha volta.

Busco encontrar vazios entre entulhos,
Entre sentimentos perdidos,
Mágoas, frustrações e decepções.

Toda inocência foi sacrificada
E boa vontade castigada.

Entre meus próprios restos contemplo a tragédia
Do que foi, é e será.
Não há esperança,
Qualquer ilusão de redenção.



ANTI SOCIAL



Não espero que você me entenda.
Não dependo de sua aceitação.
Prefiro uma bebida do que companhia.
Não me importa se concorda comigo.
Avança em seu caminho
Quem segue sozinho.
Tudo que me interessa
Sempre acontece do lado de fora.
Deixe-me saber a outra face da porta.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O INCERTO DO MAIS COTIDIANO



Eis o desafio mais intenso:
Considerar as coisas de vários ângulos,
Inventar sempre um novo golpe de vista
E saber mais sobre a paisagem
Do que sobre si mesmo.

Desnudar o estranho do mais cotidiano,
Não confundir nunca meu pensar com a realidade.
O mundo não cabe no pensamento,
Não se esgota em qualquer certeza.
Amanhã tudo sempre será diferente.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

IMPERFEIÇÕES




Minhas imperfeições são parte de tudo que sou.
Estão misturadas as minhas virtudes e limites,
Vontades e humores.
Eu não seria este todo amorfo que se esconde em um rosto
Caso não fosse profundamente em todas as minhas imperfeições.
Inútil tentar me corrigir.
Posso apenas me tornar mais ainda profundamente esta confusão que já sou.