Mas já estava muito tarde para dormir.
O dia seguinte chegaria sem cor.
Tudo era a inércia de não ter para onde ir.
Muito menos como dormir.
Eu estava triste.
Todos estavam tristes.
A própria vida estava triste.
A vida cotidiana é medíocre. Ninguém é herói ou fabuloso entre quatro paredes. Somos desinteressantes, banais. Tudo só fica radiante depois de algumas garrafas.Mas muitas pessoas não bebem. Isso não é uma virtude. É uma fraqueza. É levar demasiadamente a sério a própria mediocridade.
Embriagar-se é lidar com nossas limitações com certa dignidade que só uma boa dose de humor permite entender. Não confio em pessoas que recusam a embriaguez. Elas não dançam o tempo, não enfrentam vertigens. Ficam fechadas no artificialismo, nas máscaras que se confundem com nosso próprio rosto.
A vida é curta demais para se viver do artificialismo das convicções coletivas. É o pequeno território da vida doméstica que merece de nós todo cuidado possível.
O invisível de nosso pequeno mundo cotidiano , a insignificância de nossa vida imediata, é o plano existencial que nos sustenta e configura. Diante dele as questões coletivas não passam de abstrações vazias. Mesmo assim, já não é possível contrapor o privado ao público como experiência.