domingo, 29 de dezembro de 2019

A RUA DA MINHA INFÂNCIA

Gosto de ruas onde cachorros latem,
Crianças  brincam
E qualquer vizinho escuta boa música.

Gosto de casas de muro baixo,
De conversas no portão, 
E noites estreladas
Onde esperamos ouvir na rua
O sino do carrinho do pipoqueiro.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

MENSAGEM NIILISTA DE NOVO ANO

Um feriado qualquer,
Em um dia qualquer,
De um ano qualquer...

Nada há para dizer
Ou fazer sobre isso.

A vida segue precariamente.
O mundo vai mal,
Como sempre.

O tempo não para de passar,
E já sou quase um velho.
Pouco importa o dia no calendário

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

ESTRANGEIRO

Estou sempre longe de casa.
Casa é  apenas uma palavra antiga
Que diz qualquer lugar 
Que não  me habita mais.

Hoje, em toda parte, sou estrangeiro,
Alguém que não  se demora,
Que nunca fica a vontade.

Tudo que é em mim
Tornou-se distante,
movente e provisório. 

Estou sempre de passagem....

domingo, 22 de dezembro de 2019

AMOR E SOLIDÃO

A solidão  é  uma conquista para aqueles que sabem impossível evitar o outro, mas não se definem por nenhum relacionamento. 

A liberdade de si condiciona os encontros, impõe  limite aos abraços,  sabe os segredos da ilusão  de um beijo.

Apenas os solitários sabem amar. Pois não confundem o amor com o objeto amado.

OPINIÕES

Não sou destes que cospem opiniões. 
Tenho opiniões apenas em minhas ações, 
Que é  lugar de tê-las. 
Fora isso ,
Guardo  minhas opiniões  na cabeça
E não  prescrevo convicções. 
Não  me esperem fanático,
Monocromático 
Ou prisioneiro de rótulos. 
Gosto de liberdade, dúvidas e indecisões. 
Abomino certezas e posicionamentos universais.
Não  tenho resposta pra tudo.
Tenho perguntas onde me cabe tê-las. 
Palavras de ordem e tagarelismo não  né interessam.
Já  estou farto da banalidade das opiniões  de momento.


VIVER CHUVA

A chuva que cai lá fora
Acontece dentro de mim

Neste instante eu sou a chuva
Na incerteza da extensão do corpo,
No espaço em movimento.

A chuva se torna meu modo de ser
Enquanto perdura e define
A intimidade das coisas.



sábado, 21 de dezembro de 2019

FRUSTRAÇÃO

A manhã  tem cheiro de banho
E de brinquedo novo.
Mas as rotinas fedem a mofo
E tem gosto de coisa estragada.
Por isso o dia desanda e nos frustra
Logo depois do café.
Nossas expectativas não  cabem na realidade,
Como a beleza de uma velha canção 
Que toca agora no rádio. 




quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A VIDA REINVENTA A VIDA

A vida reinventa a vida no tédio do passar dos dias, 
No amargor do trabalho, do noticiário, 
Nas incertezas coletivas. 

A vida quase não  vive.
Mas sempre grita
Contra o absurdo da existência, 
Contra nossa mansa agonia,
Contra o abuso de ser,
De querer e exigir em delírio narcisista 
Qualquer ilusão  medíocre de felicidade.

A vida reinventa a vida
Apesar de nós. 



terça-feira, 17 de dezembro de 2019

FIM DE ANO

O ano passa na superfície do tempo enquanto o mais profundo dos anos nos escapa sempre . Tudo envelhece, tudo se perde na lata de lixo do passado. Tudo é  descartável. Nada guarda a intensidade de qualquer eternidade. Estamos desde sempre condenados ao nada.

Há muita melancolia em todo fim de ano. É  como o eterno retorno de  um trabalho de luto e ilusão. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

VIDA EM SOCIEDADE

Estou cansado do mundo,
Farto de ser eu, nós e os outros
Na cotidiana invenção de absurdos,
Ansiedades, frustrações e rotinas.

A sociedade não funciona.
Sobrevivemos adoecendo com a vida,
Esperando a morte
Como um merecido alívio. 

Seguimos juntos,
Todos sozinhos e sem rumo
Enterrados no vazio de ser.












quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A FELICIDADE DOS LOUCOS

Qualquer noite dessas
A vida vai tropeçar no meu corpo
Tudo vai virar uma grande bagunça
E o dia seguinte
Vai trazer outro sentimento de mundo.

Vou correr nu pela rua,
Beber um rio
E saber os segredos das estrelas
É da lua.

Vou ser tão feliz
Que acabarei preso
E condenado por insensatez.


domingo, 1 de dezembro de 2019

NOTICIÁRIO

Os fatos embaralhados na tela embriagam
Em avalanches  de impressões, 
Significações  rasas,
Quase instintivas. 

Quem pode saber os rumos do mundo
Ou os abismos do tempo
Quando a vida dura tão  pouco?
Vejo destinos no fundo de um copo de cerveja
E mil filosofias na fumaça  de um  cigarro.




COMO CONHECER A ALEGRIA

Só  tive real alegria na vida  depois que desisti da ilusão  de felicidade, que abdiquei da vaidade de um ego gordo, de ambições  toscas de sociedade, e  passei a me dedicar a tudo que é banal e inútil.

A BANALIDADE é  um campo fértil para imaginação.  Mas só  as crianças sabem disso.