FÉRIAS

um gole de café.
um cigarro,
um pouco de chuva
e uma boa dose de esquecimento.
Isso era tudo que precisava
para suportar mais um dia.
Ou talvez não.
Precisava mesmo fugir um pouco
da minha própria sombra.
Dormir por um ano.
Esquecer...
Não me importar mais
com a bagunça que era minha vida.
Amanhã tudo será nada.

SOBRE BEBER E FUMAR

O tédio é real,
A diversão uma ilusão
Que ilude a vontade.

Somos todos escravos da realidade.
Evitamos uns aos outros
Compartilhando jogos de sociabilidade.

Bebemos, sonhamos
E morremos
Sem saber direito o espanto
Que define o absurdo da vida.

Estamos sempre fazendo de conta
Que acreditamos em nossa existência,
Que não estamos morrendo.
Mas eu bebo e fumo sem culpa.

TEMPOS RUINS

Um dia leva ao outro

No tecer da incerteza.

Tudo agora é provisório,

Arriscado,

Quase sem saída.

A vida não é um comercial de margarina.

Muito menos uma ridícula comédia romântica

Ou qualquer historia idiota

Interrompida pela ilusão de um final feliz.

A vida é um grande desastre.

Amanhã eu não sei.

Posso estar no fundo do poço.

Uma agonia nova sempre me espera.

E o desespero se renova.

DESAFIO DO DIA

Queria voltar no tempo

E me inventar outro.

Talvez mais errado

E menos ajustado.

Mas preciso me reinventar,

Antes que seja tarde.

Pode ser que amanhã ninguém me escute.

Tudo desapareça em um dia escuro.

Tenho contas a ajustar com o passado.

Matar alguns futuros

Para respirar o amanhã.

Preciso mesmo me reinventar.

O SONHADOR

Tenho idealizado muito este mundo louco,

Vivido pouco

E sonhado como um insensato.

Tenho me embriagado de pensamentos,

Me afogado em sentimentos

Como um inseto em um copo de suco.

Busco desesperadamente significados,

Filosofias que sustentem a vida.

Pois não me basta acordar todos os dias

Para viver como os outros.

Sofrer o tempo e viver para o nada.

Prefiro fazer de conta de que tudo é possível.

GASTRONOMIA E VIDA

Almoçar em restaurantes todos os dias é um pouco deprimente. Existe de fato uma peculiaridade na comida caseira. E não é apenas o tempero ou a escolha absolutamente livre do cardápio.

A comida produzida em grande escala dos restaurantes tem gosto de rua, não tem identidade, como qualquer multidão. Já a comida feita em casa, é radicalmente pessoal, expressando os hábitos gastronômicos de quem come.

Também faz diferença comer em público ou em casa. Nossa postura corporal é outra. Ficamos mais relaxados. Mesmo onde ainda impera o habito arcaico e pouco pragmático de todos realizarem ao mesmo tempo a refeição à mesa.

Pessoalmente, considero mais importante nisso tudo  o privilegio de comer sozinho, seja na rua ou em casa. A nutrição não deve ser perturbada por conversas e outras formas de distração. 

ROTINA NOTURNA

Todas as noites o mesmo vazio,

As mesmas dificuldades e aquela angustiante

Falta de respostas.

Nada leva a nada.

Tudo é rotina vazia.

Um dia segue ao outro

Enquanto nada acontece.

Apesar disso,

Nos divertimos com o pouco que temos

Embriagados por gratuita esperança.

Apenas tentamos não enlouquecer

Enquanto a vida passa

E tudo se perde para sempre.

Todas as noites o mesmo vazio....

DIA SEGUINTE

O sol apaga os sonhos

E me arrasta indefeso

Para a insana realidade cotidiana

Onde nada acontece

Tudo é pesadelo

Silencio e sacrifício.

Tenho pena das crianças

Dos adultos retardados

E odeio estas ruas de vitrines

Carros e mortos.

Quero novamente o frio e a noite...

TUDO PRECISA MUDAR

Preciso de formas novas de ser e viver,

Respostas diferentes a antigas perguntas.

É sempre saudável inventar novidades,

Ir além do previsível,

Do possível.

Tudo muda.

A vida segue.

Entretanto, permaneço esperando,

Buscando.

Sempre de novo,

Que as coisas mudem

De um jeito qualquer

Até o infinito.