domingo, 27 de maio de 2018

IMPRODUTIVIDADE

Os melhores dias são aqueles nos quais não saímos da cama. Nada parece acontecer e a vida não tem importância. O mundo inteiro se torna um lugar distante, irreal e irrelevante.

Celebrar a inatividade como um acontecimento mágico, um ato máximo de transgressão contra a sociedade.

Nada para pensar, nada para querer. Ninguém para ouvir ou qualquer razão de ser.


Todo trabalho suspenso. Nenhuma produtividade ou subjetividade. Apenas o corpo inerte em estado de quase pedra.
O tempo quase não acontece.


A liberdade é a intensidade do gozo da minha preguiça.

sábado, 26 de maio de 2018

SOBRE A FRAGILIDADE DA EXISTÊNCIA HUMANA

A existência humana não se reduz aos fatos que a sustentam, não se confirma ao ambiente ou circunstâncias.

Somos animais instintivamente insatisfeitos, descontentes. Somos movidos por nossa infelicidade.

Queremos sempre mais do que temos, pois a realidade é decepcionante. Somos governados pela imaginação, preenchidos por desejos que dão forma ao corpo, que se tornam matéria dos pensamentos.

O devir humano busca desesperadamente um lado de fora, algo que lhe transcende como acontecimento.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

CONTRA O EU

Há dias em que não me suporto,
Que abomino minha própria existência.
Tenho vontade de fugir,
Escapar de tudo que me define.
Mergulhar na embriaguez
Até esclarecer toda potência do não ser.
Não quero mais sofrer este pouco,
Está migalha de vida
Que nos quatro cantos
Sempre surpreende novos limites.
Já estou farto de subjetividades !

PLURALISMO ONTOLÓGICO

Em parte sou liberdade,
Mas também sou prisão,
Sujeito e objeto dos meus silêncios,
Das minhas vontades perdidas.

Dentro de mim algo está quebrado.
Nada me define
Entre o futuro e o passado.

Não sou isso ou aquilo,
Vivo desfeito em intensidades,
Desfigurado em multiplicidade.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

IMPASSE EXISTENCIAL

Todos os pequenos desastres que me definem a existência, definem um deserto, uma zona morta de vida. Há apenas estagnação, respiração difícil e a prisão das rotinas.

Sou vítima dos meus atos e inércia.

Não passo de um resto de mim mesmo.

IDENTIDADE E DEVIR

O modo como somos vistos pelos outros define quem somos, mas nada diz sobre o que sentimos e buscamos. 

Somos indefinidos em nossas definições sociais, feridos por nossas configurações pessoais.

O problema da identidade, da persona, é uma falsa questão existencial. Não somos através das coisas e dos outros. Não somos bem mesmo em quem somos. 

Existir é um movimento constante para o exterior, para um dever mundo que nos consome.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

SOBRE AS PESSOAS NAS RUAS

As ruas estão sempre cheias
De pessoas que não conheço,
Que quase não conheço,
E outras que nem parecem pessoas.
No cenário urbano
Vitrines são sempre mais interessantes do que um rosto humano.
Todo mundo se comunica através do dinheiro.
Compram e vendem de tudo
No fluxo de seus tantos desejos.

terça-feira, 22 de maio de 2018

A VIDA SEGUE

Nada precisa dar certo. Uma existência se define por suas imperfeições, por seus limites e contradições.

A existência nos ultrapassa. Mesmo quando buscamos submeter tudo a nossa vaidade egoica.

Apesar de nossas idealizações e expectativas, a vida segue contra nossa existência individual.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

AGONIA ONTOLÓGICA

Tenho certa preguiça de existir.
Gosto de dormir, esquecer,
Viver tudo pela metade.
Arde em mim uma vontade de nada
Que é desejo de tudo.
Uma agonia que pede uma bebida,
Que fere valores e certezas,
Que recusa toda vaidade
E se conforma a existência
Como uma comida estragada.
Tenho revoltas que se matam,
Uma vida que quer viver
Alguma coisa que não cabe nos dias.

sábado, 19 de maio de 2018

AOS DEFENSORES DA HUMANIDADE

Sejam religiosos, professores, políticos ou simples escritores picaretas de auto ajuda, os anunciantes de boas novas, soluções e sabedorias de bolso são a grande praga da humanidade. Tentam nos impor saúde e otimismo em um mundo doente.

Mas viver sem uma boa dose de desespero, decadência e loucura não é viver. Tenho medo desta gente cheia de boas intenções. Toda forma de humanismo é uma espécie de anti depressivo para nervos fracos.

UM CIGARRO VALE MAIS DO QUE A ETERNIDADE!


Não acho que o cigarro seja um problema. A  vida é um problema. O cigarro é só o modo idiota através do qual lidamos com ele.

Fumantes existem porque a vida não presta. Mas é claro que os moralistas da medicina moderna nunca irão entender isso. Mas eu prefiro um cigarro a uma vida eterna.

FIM DE SEMANA E CRITICA A CIVILIZAÇÃO


Um fim de semana sozinho nos permite esquecer a semana, o trabalho e os outros. Desperta mesmo uma vontade de fugir definitivamente de tudo, de esquecer quem somos.

Talvez seja mais digno viver nas ruas do que se submete as rotinas e todo tipo de dor de cabeça de uma existência socialmente aceitável.

Quanto mais vivo em sociedade menos acredito no ser humano como um ser social e lamento o embuste do processo civilizatório. A cultura e a consciência não nos faz racionais, apenas tornou a sobrevivência uma coisa mais complicada e a vida algo contra natural.

Tudo que sei é que estamos todos fudidos e que uma bebida sempre cai bem.

terça-feira, 15 de maio de 2018

O SÁBIO


Um sábio vive ausente dos fatos.
Sofre sempre um sono,
Uma vontade de nada.
Sua filosofia é a preguiça
e seu ideal o ócio.
A sabedoria não passa de um fado.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

HÁ SEMPRE UM POUCO DE TRISTEZA

Todo mundo carrega uma tristeza.
E ela que nos define
Contra a frivolidade das alegrias.
A tristeza é sempre profunda,
Complexa e criativa.
Apenas  pessoas tristes sabem da vida.
Todas as alegrias passam,
Mas alguma tristeza sempre fica.
É o que nos define....
Há sempre uma tristeza dentro de nós.

QUANDO A NOITE CAI


As noites são sempre mais divertidas do que os dias.
As pessoas ficam menos inibidas,
A penumbra nos acorda incertezas
E os bares estão sempre cheios.

É quando algo de diferente pode acontecer.
Pois a solidão acorda
E os pensamentos não cabem na cabeça.



SER NO NÃO SER






Vivo em um constante estado de precariedade,
Atravessado por faltas, urgências e interdições.

Estou sempre em movimento,
Disperso entre diversas vontades,
Sempre em confusão.

Existo desfeito.
Despido de toda fantasia de ser um sujeito,
Perdido entre objetos dispersos.

Não sou
Em tudo que sinto ou vivo.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

FRACASSADOS



O fracasso não costuma ser ruidoso.
É, ao contrário, geralmente, bastante discreto.
Impõem uma paz a suas vítimas,
Uma desarmonia serena, um cansaço,
Que as desarma.

Fracassados são tolerantes,
Não formulam exigências
E aceitam o próprio fado.
Ostentam uma despretensiosa indiferença

Em relação ao mundo.

terça-feira, 8 de maio de 2018

A FILOSOFIA ALÉM DA RACIONALIDADE



Não tenho qualquer satisfação de pertencer ao devir humano. O considero uma prisão, já que meu aparelho cognitivo me impede de conceber a realidade e saber a mim mesmo de modo diferente daquele que me inventa um meio ambiente, uma distinção entre o dentro e o fora. Mas nos adaptamos as coisas que nos inventam.

Mas é sempre saudável desafiar os sentidos através de estados alternativos de consciência. Nestas transgressões, e não na ilusão de verdade e razão, deveriam estar depositadas todas as apostas da filosofia.



MATURIDADE


Não tenho mais as ilusões de juventude.
Muito menos o otimismo dos inocentes.
Tornei-me adulto e sedentário
Com o passar dos anos.
Mas permaneço inadequado,
Inconformado.
Apenas me surpreendi amargo,
Despido de utopias!



segunda-feira, 7 de maio de 2018

PARAR DE FUMAR


Sempre penso em parar de fumar.
Não pelas chantagens anti tabagistas,
Mas por simples capricho.
Não gosto da obrigação de fumar,
Não suporto o imperativo do vício.
Fumo apenas para pensar,
Distrair ansiedades
E para esquecer o tempo que passa.
Fumar é uma maneira de levar a vida,
suportar o dia a dia.
Só isso.
Parar de fumar seria para mim
Um enfeitado atentado
Contra a rotina.

DIA SEGUINTE


Não tinha qualquer pretensão ao sucesso.
Meu objetivo era apenas chegar à noite seguinte sem viver um aperto.
A mera sobrevivência era para mim uma sempre renovada conquista.

Então me bastava chegar em casa depois do trabalho.
Ter tempo de me esquecer no sofá,
Lamentar o dia
E afundar na solidão do quarto
Abraçado a televisão.

O resto era o dia seguinte,
A angustia seguinte.

Isso é tudo que qualquer um pode ter
Hoje em dia.



NOITES DE DOMINGO




Noites de domingo guardam um gosto de melancolia que consomem a semana inteira. Lembram que tudo é o quase insuportável de uma medíocre rotina onde nada leva a nada. Tudo é um acontecer sem sentido que desaparece no tempo quase sem deixar rastros, e não há como fugir disso. Na segunda feira tudo começa de novo e você não sabe direito todo este vazio que define “tudo”. As coisas simplesmente acontecem. Elas sempre acontecem e conspiram contra a gente. A noite de domingo é como aquela calmaria antes do inicio  de uma batalha terrível, ingrata,  e sem o menor sentido.    


SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PARAÍSOS ARTIFICIAIS



As imagens  de pensamento soltos são o caminho para a mais fecunda liberdade de imaginação. Através delas, escapamos a qualquer formulação ou enunciado acomodado. As imagens apenas acontecem, produzindo insights. O sentido é sempre a soma  de ideias diversas que forma em conjunto um pequeno caos.

É preciso deixar que o caos floresça na cabeça, não tentar ter controle. A vida possui um lado de fora, um aquém de nós mesmos ou, simplesmente, constitui uma floresta imaginária. É preciso explora-la através de paraísos artificiais......


MEDIOCRIDADE BANAL



Acordar cedo,
Sofrer passivamente a mesma rotina.
Mesmo sabendo que nada é para sempre.

Pacificamente saber o mundo e seus absurdos,
Ficando a margem dos fatos.

Sofrer sem consolo ou justificativa
Este existir medíocre,
Pré formatado e massificado
Que faz de mim
Menos que um nada.


sexta-feira, 4 de maio de 2018

O SUCESSO COMO ILUSÃO



Há quem cultive grandes ambições,
Que vê mérito em qualquer conquista
E acha que a vida só tem sentido
Quando superamos dificuldades e limitações.

São aquele que exigem demais de si,
Que subestimam os outros
E fazem do próprio ego
O centro do seu pequeno universo.

Para a cultura contemporânea,
Onde o ter importa mais do que o viver,
Tais pessoas são vencedoras.

Penso diferente:
Este tipo de gente é, simplesmente,
Do tipo que se perdeu de si mesma.