quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

NOITE DE FESTA

Hoje meu corpo fará da vida uma grande festa.
Reinventarei o mundo através dos cinco sentidos.
Estão liberados todos os excessos
Entre a dança e o riso se ser.

O que será do amanhã eu não sei;
Não quero saber.
Vou deixar tudo acontecer.

TRISTEZA DA NOITE

A noite vai passando
Entre um cigarro,
Um gole
E um suspiro.
Espero que caia logo sobre mim
A escuridão de um sono.
Preciso esquecer da vida,
Do mundo e do futuro
No doce alívio de um sonho.

FALSA MENSAGEM DE ANO NOVO

Não crio expectativas para nenhum ano novo. Sei que posso não vê-lo terminar, perder um ente querido, ou o emprego.
A vida é feita de incertezas e pequenas agonias diárias.
Há muitas vidas, tão precárias,  onde um ano novo é impossível.

O ÚLTIMO DIA DO ANO

O último dia do ano não existe.
É invenção dos escravos dos calendários,
Quê tentam domar o tempo
Como dominam nossas vidas.
Amanhã será apenas
Mas outro dia qualquer
Sem gosto de poesia.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ALCOOL E LIBERDADE DE VONTADE

 


O álcool é o mais astuto inimigo da consciência. Ele não a combate, mas a seduz de modo tão arrebatador, que prostitui todo sentimento de verdade e convicção moral, pondo o juízo ao seu serviço. A embriaguez eleva desta forma a vontade a condição de senhora suprema da consciência. Esta é sua arte, seu artifício. Quanto mais bebemos mais percebemos o quanto em nenhum momento não somos senhores de nossas vidas. Eis o grande segredo: Nenhum de nós faz muito ideia do que faz de sua própria vida seguindo ao sabor dar coerções sociais e rotinas de multidão. Não é difícil, por isso, entender porque tantas pessoas bebem tanto e quase diariamente. Não se trata de um simples comportamento compulsivo, mas de uma sede de liberdade, de intensidade de vida contra o desbotado dia a dia que nos consome.


OS OTIMISTAS DE FIM DE ANO

 


Detesto os otimistas de fim de ano,

Os que esperam tudo de bom do futuro,

contra todas as tendências e circunstâncias da vida contemporânea.


É indecente como mascaram a realidade,

ignoram suas próprias incertezas e ansiedades

para seguir em frente como se fosse este inferno no qual vivemos

a melhor versão possível do mundo.


Há em tal postura mais conformismo com que posso lidar,

mais hipocrisia do que posso suportar.



quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

TEMPO MORTO

Pouco me importa o amanhã.
De manhã posso estar morto.
Também não me importa o agora
Ou hoje.
É no passado enterrado na memoria
Onde o meu eu acontece
Na lembrança de tudo que não vivi.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

UMA DOSE

 


As horas, os dias, e os anos,

passam por mim

como páginas em branco

de uma vida nunca vivida

no mais radical da palavra carne.

Mas tudo que eu preciso agora

é de uma dose de bebida forte.


MAU HUMOR

 


 

A vida sempre esteve abaixo das minhas expectativas,

aquém das minhas necessidades

e milhas e milhas distantes dos meus melhores sonhos.


Definitivamente, a felicidade nunca esteve,

para mim, na ordem do dia.


Por isso não questionem meu olhar vazio,

minhas palavras duras

e essa má vontade com tudo

que hoje nos definem os dias.

NORMALIDADE

Acho que viver em sociedade é participar de uma grande mentira, ser parte de um delírio coletivo, que sabota deliberadamente tudo aquilo que , por simples convenção, é rotulado de sanidade.
A sociedade torna a vida uma espécie de pesadelo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

FRACASSO

 

Quanto tempo faz

que a vida não deu em nada?


Talvez você tenha se acostumado

a uma rotina ridícula,

a sobreviver do pouco

que se fez possível.


Talvez você tenha se habituado

a viver de tudo que não vale a pena.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

AUSÊNCIA DE VIDA

 


Falta qualquer coisa no dia.

Algo que ninguém dá importância,

que não frequenta os diálogos,

e-mails, e mensagens de rede social.


Acho que o que falta

é a vida substantiva,

sem adjetivos ou predicados.




quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

AMANHÃ NÃO EXISTE

Amanhã ninguém sabe.
Pode ser que o mundo acabe
Ou sofremos o colapso da sociedade.

Pode ser que nada aconteça
E a morte nos surpreenda
Na serenidade do sono.

Alias, nunca entendi o conceito de futuro.
Tudo que somos parece vivo apenas
Nas blumas de algum passado
Onde nenhum amanhã parece possível.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

NOVO DIA

 

A vida segue caótica,

sem rumo ou esperança

para o consensual abismo

das certezas vigentes.


É dia de novo.

O sol morreu e se levanta

contra a realidade humana

através do não sentido do mundo.

UMA FESTA PARA O FIM DO MUNDO

Fosse hoje o fim do mundo,
Daria uma festa
Para receber com alegria
O desfecho trágico da fantasia
De nossa desprezível humanidade.
Pois sei que a natureza,
Os animais da floresta,
Sobreviveram
Ao colapso da história e do homem e o fim do nosso mundo
Seria o início de outro mundo possível .

domingo, 22 de novembro de 2020

A REBELDIA E SEUS MISTÉRIOS

Rebela-se aquele
Que diz um grade não  ao tempo presente,
Quem não  perpetua o o passado
E não tem futuro algum
Diante de si.

Rebela-se quem sabe a margem,
O improviso e a fragilidade 
De nossa estranha e cotidiana realidade.

Rebela-se quem sabe o silêncio do mundo
Diante da vida que nunca viveu.

Rebela-se quem bebe o impossível
E fuma a esperança
Admirando as estrelas do céu. 

PROGRESSO E HIPER REALIDADE

É  cada vez mais difícil acreditar no mundo,
Na verdade fabricada,
Reproduzida coletivamente,
Por nossos ritos cotidianos,
Pela espetacularização  midiática
Da vida e da morte
Quê esmagam o corpo.

Somos cada vez mais persuadidos pela onipresença do absurdo,
 Por qualquer ilusão  racional pós  iluminista, 
De qualquer matriz civilizacional colonialista.

A vida não  cabe mais na realidade produzida
Por nossas ilusões coletivas
No aqui e agora de nossas eternas angústias.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

VIVER DÓI

A vida dói no corpo
Como necessidade,
Como fome,
Limite e precariedade, 
Dentro de um mundo
Que nos mastiga
Através do tempo,
Do céu,  da terra,
E da imaterialidade
Das convenções  sociais.
Viver sempre dói...
A dor define o passado,
O presente e o futuro.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

TABAGISMO

Fumo demais.
Além da ansiedade,
A verdade é  que pouco
Me importa a vida,
A velhice ,
O vigor físico, 
Quando sei que sou perecível,
Degradavel e esquecível.
Tudo leva ao nada
E não  vale o efêmero prazer
De um cigarro.

NOVO COGITO

Prefiro a cópia ao original,
O digital ao presencial,
O simulacro a realidade.
Pois sei a hiper realidade
Da vida como um banal espetáculo.

Signos e símbolos 
Reinventam as coisas
Em sua radical imaterialidade.

A mentira , agora,
Importa mais do que a verdade.
 Já não  penso onde sou 
Mas sinto onde existo
Desfeito em meio ao fluxo de imagens,
Ao duplo do mundo dentro Da tela 
Além do jogo da representação. 


terça-feira, 17 de novembro de 2020

ERRO

 

Sei o erro.

Sou imperfeito,

incompleto,

ignorante e ignorado

por mim mesmo.


O erro é meu estado de ser,

de esquecer,

de nunca saber

o que reconheço

no espelho.


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

INDETERMINAÇÃO

 

Nada mais nos diz territórios,

identidades.

Já não vivemos de verdades

ou destinos.

Não sabemos permanências.

Tudo é incertosno desafio

de qualquer futuro possível

e cada vez mais urgente

contra um amanhã distópico.



sábado, 7 de novembro de 2020

MAIS UMA BEBIDA

A vida segue sem brilho ou sentido
Nas garras do tempo.
O amanhã acontece
Em queda livre
Dentro de nossas expectativas
E sem futuro pedimos mais uma bebida
No balcão do presente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O NADA COMO IDEAL DE VIDA

Meu sonho é  reduzir devez a existência
Ao exercício do nada.
Acumular silêncios, 
Preguiças, 
Até  alcançar a sabedoria das árvores.

Imagino dias perdidos
Desacontecendo no tempo
Até  o limite do inútil.

Não há o que fazer neste mundo.
Nada a dizer, querer
Ou esperar.

A vida passa sem sentido 
Na produção  do esquecimento.
Os dias são  feitos de tédio.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

2020

 


2020…

o ano da peste e da morte,

da angustia e do isolamento,

no qual todos os dias foram incertos

e a própria existência se fez duvidosa.


Um ano em que o otimismo não fazia sentido

e que o pessimismo gritava a urgência de grandes mudanças.


2020 quase não aconteceu...

SEM ESPERANÇAS

 


Não cultivo esperanças.

Nada espero do mundo

ou da vida

que não seja o raso

e provisório acontecer

de outro dia.


Mais um momento

contra o tédio

dentro do sem sentido

de ser mais um “eu”

perdido entre tantos outros.



segunda-feira, 26 de outubro de 2020

A SOMBRA DE UMA ROSA

 

Sei a sombra de uma rosa

na tarde de um jardim deserto.

Tal imagem grita o vazio,

a ausência de infinitos

nos estreitos limites da vida cotidiana.

Tudo que sei é que hoje

o mundo amanheceu impossível

No morto jardim dos nossos dias comuns.



COMUNICADO

 

 


 

O amanhã foi adiado.

Pois o futuro Entrou em greve.

Estamos reinventando o presente

contra o peso de nossos passados,

contra o desespero cotidiano,

através das angustias e gritos

de nosso atemporal vazio existencial

no grito de um intenso por vir.


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

DA PALAVRA A PELE

Dizer a si mesmo,
Falar o mundo e as coisas,
É produzir acontecimentos.
É  ser natureza na ilusão  do humano,
Criar-se contra o próprio rosto,
Desafiar o possível 
No movimento de respirar,
Desfazer o Ser no vento
Que nos percorre,
Que preenche 
Os territórios da vida 
nos afetos da errância,
Na inteligência da pele.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

GARRAFAS E COPOS

Gosto de conversar com garrafas de cerveja, 
Prestar atenção  na opinião  dos copos,
E não  escutar ninguém 
Numa mesa vazia de fundo de bar
conversando com o silêncio
Quê me me habita
Como uma sombra.


A boca do copo
dialoga com a boca de uma garrafa como um beijo molhado
Que me umidece  os lábios.

De gole em gole
Tudo é  dito pelo não dito.





 

FORA DO MUNDO

O tempo do corpo
E o momento do mundo
Nunca se encontram.
Por isso não  leio notícias 
E não  gosto de fotografias.  

Não  quero saber de mim
Ou da vida lá fora. 
Nada me comunica aos outros
Ou me faz legível 
No tempo cotidiano do nós.  

Nada me interessa neste desviver crescente
De um novo capitalismo nascente.





PALAVRAS

O mundo não é  feito de palavras.
Mas as palavras inventam o mundo.

A vida não  cabe nas palavras,
Mas o que seriada vida sem as palavras?

Pode-se mesmo dizer
Que as palavras são  a carne das coisas.
Mesmo que digam apenas
O profundo da pele da combinação  de letras
No corpo de versos e frases.


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

DIA INÚTIL

Não  há vida no dia de hoje.
Apenas rotina.
O tempo é deserto.
Não  há poesia.

Antecipo a noite
No vazio da tarde,
Depois do silêncio das coisas
No colo de uma manhã vazia.

A palavra enfeita o nada
Jogada na tela do computador.
Qualquer ocupação  mecânica 
Formata a tarde
Que  adivinha uma noite
Sem qualquer traço de fantasia
Ou alegria

A INUTILIDADE DE VIVER

Viver é  inútil.
Um estado desnecessário da materia.
Mas, também é  um imperativo,
Que nos inventa o ser 
Como vocação do orgânico,
Da natureza na Terra.

Viver não tem propósito. 
É ser no impessoal do mundo
Mais do que si mesmo,
Além de toda consciência. 




sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O GRITO DO NOVO BÁRBARO

Ando farto dos atos,
Dos fatos,
E da miséria do mundo.
Quero dançar embriagado
A falência de tudo,
O não  dizer absoluto
Dentro do corpo sem ego
Em festa.
Corpo que sabe o silêncio 
Como música do inumano
Que em grito de natureza
Dentro de mim ainda resta
Na violência que me desperta
Contra a insanidade  cspitalistica.

Quero ser louco
E inimigo da regra,
Entre Apolo e Dionísio,
Contra a miséria de todo platonismo, 
Mercado e disciplina,
Quê sustentam a festa das mercadorias.

Quero viver no vento
Contra o tempo,
A humanidade,
É nosso civilizacional precipício.

O IMPOSSÍVEL DE SI MESMO

Não  chamo de sonho
O impossível do meu futuro.
Chamo de tempo invisivel
De um eu mais intenso
É imprevisível 
Que não  soube o mundo,
Não  coube na vida, 
Mas persiste virtualmente em mim,
Como esboço de um existir mais intenso,
Como algo que me condena
A um sentimento constante
De inacabamento.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A INUTILIDADE DE TODA PALAVRA

Nada que digo é importante,
Nem prova que tenho juízo.
Minhas palavras não  mudarão  o mundo.
Se quer mereceram a atenção dos meus atentos vizinhos.

Tudo que digo será esquecido,
Sepultado comigo.
Também não espero muito
Das palavras presas nos livros.

A vida não  vale o que é  dito e escrito.
A vida está na indiferença do silêncio.
Troque suas palavras por goles de cerveja,
Escute o que grita dentro de cada silêncio .

 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

DESAJUSTADOS

Não  admiro pessoas que vencem na vida.
Prefiro aquelas que não  se enquadram 
Quê se revoltam,
Que gritam,
Quê choram
E xingam,
Consumindo seus dias
Na tentativa desesperada
De vencer a vida. 

terça-feira, 29 de setembro de 2020

O DIA DE HOJE

Nada de importante aconteceu no dia de hoje.
As horas tinham gosto de tédio
Nos fatos rasos de simples cotidiano.

Foi um dia banal,
Como tantos outros,
Onde a vida parecia esquecida
Em algum ponto distante
De qualquer passado 
Quase feliz
que grita dentro da memória.

Meus olhos perdidos
No simulacro urbano
Sonhavam a noite
No vazio de cada instante.
A  noite intensa
De um muito distante dia de Ontem.

Sabia nos números incertos do relogio
O descompasso entre o tempo e meus atos,
Entre o meu e os outros 
Nas exigências do horário marcado,
Na intuição de qualquer desencontro.

Não vivi no dia hoje 
Nenhuma experiência 
Digna do sentimento
Do peso de uma lembrança.

Nada de importante aconteceu
Para afirmar um futuro
Que que me livre
De amanhã  acordar novamente
Para um outro dia de hoje.









sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ISOLAMENTO

Faz tempo que não  me vejo
Ou me percebo
Entre os outros. 

Faz dias que não  me cuido,
Que não me importo comigo,
Contra toda forma
De fazer sentido
Entre os mortos vivos da multidão.

Prefiro ser estranho,
Incompreensível,
Em um canto esquecido,
Menos  que nada,
Dentro De tudo 
Que me define um mundo
Em erosão.

CONTRA NORMALIDADE

Tenho medo de ser medroso,
Canhoto e gordo, 
Em uma sociedade de aparências,
Ilusões e ideais de falsa normalidade.

Tenho medo de ser perfeito,
Banal e doente, 
No ideal dantesco
Da sua normalidade.

PRAGMATISMO SOMBRIO

Em irrefletido conformismo
Abolimos o futuro,
Aceitamos o aqui e agora
Como rasa eternidade
Para nossa existência finita.

O amanhã já não  importa
Para o curto resto de nossas vidas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

UM CIGARRO CONTRA O SILÊNCIO

Um cigarro para esquecer o silêncio da boca,
Todas as coisas não  ditas e reprimidas?
Um cigarro para entreter a inquietude,
A imaginação  e a angústia
De ser e não  ser neste instante,
Onde a realidade não  basta.

HEDONISMO E MELANCOLIA

Há  uma profunda distância entre a vida que sinto é aquela que vivo. Nada comunica meu modo de existir aos meus pensamentos mais intensos. 
Chego mesmo a duvidar até que ponto sou este eu que se faz através dos outros e da linguagem como clandestino passageiro de um corpo vivo.
Talvez ele seja apenas uma ilusão  produzida pelo pensamento no território incerto da consciência.
Tudo só faz sentido com um pouco de álcool, tabaco e preguiça  no desperdício do tempo que me consome, pois pouco me importa o dia seguinte.


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

REVIRA VOLTA


Pode ser que em algum momento eu desista de tudo.
Quem sabe, até  mesmo,
Me transforme em outra pessoa.
Mude de casa , de cidade,
De emprego, de família.
Volte a ser quem eu era 
Quando tinha 18 anos,
Ou me surpreenda outro
Toda semana 
Só  prafugirdo tédio, 
Do medo angústia 
De nunca saber 
O que fazer coma vida.





DIA RUIM


 

O dia amanheceu morto.

todos os fatos estavam podres.

Todos os atos pareciam inúteis,

e qualquer palavra desnecessária.

Apenas o tempo passava,

recheado de tédio. 

O mundo não despertava em mim

o mínimo interesse.

Não merecia um verso....


PESSIMISMO

Futuros e sonhos
Que se perderam da realidade
Rescrevem o passado,
O presente e o possível.

A vida ficou reduzida
A estreiteza
De um beco sem saída.

A esperança dobrou a esquina.
Nunca mais deu notícias .

domingo, 20 de setembro de 2020

SONHO E IMANÊNCIA

Os dias passam
Entre tédio, cigarro e rotina.
E a vida segue indiferente, inexplicável e quase ilegível,
Na banalidade dos fatos rasos
E persistências oníricas.

Socialmente inventamos fatos,
Normas e significados 
Para administrar o caos da existência.

Mas nada mais faz sentido
Além do desejo e da resistência 
Contra o real e o banal da experiência, 
Em nome do afeto,
Do imaterial,
De qualquer outro modo de ser
Em devir e imanência. 
Nos seduz a intuição 
De uma nova terra
Entre o inefável  e a matéria.
É nela que se inventa o corpo,
A praia e a areia
Do desconhecido de  um mar encantado.



A VIDA NOS MATA AOS POUCOS

Acho que o cigarro mata menos que a vida, que a solidão,  a angústia, ou, simplesmente, que o insuportável dia a dia.
Onde apenas sobrevivemos a existência pouco significa e a morte desponta no horizonte como uma esperança de libertação. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A TERRA DOS PÉS

Levo uma terra sem nome
No rosto dos pés. 
Lugar contra o chão, 
Indiferente ao céu
Que reinventa meus passos
Na contramão da cidade. 

Sei o espaço aberto 
De um chão futuro
Inumano e selvagem.

Sei que em  um dia qualquer
A natureza
Nos livrará do pesadelo da humanidade. 

Só  então será possível
Inventar em nós 
Territórios vivos 
De absurda liberdade.




domingo, 13 de setembro de 2020

SEM FUTURO

Hoje em dia 
A vida segue 
E o passado cresce
Sem tempo para o futuro.

 Um dia novo nunca amanhece
Na data morta do calendário.

É sempre a angústia do hoje e sempre,
Que nos escraviza ao passado e ao presente
De um tempo estagnado, 
Conformado aos limites do possível.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

CONFORMISMO

 


 

Não sei dizer

o preciso momento

no qual me perdi da infância

Acabou o encanto,

e tudo virou rotina.

 

Não faço, mesmo,

qualquer ideia,

de quando comecei a morrer,

e segui conformado

dentro do tempo

indiferente ao futuro e ao mundo,

Sem saber o que é  a vida.

 

.

 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

AUTO RETRATO

Sou o resultado dos meus fracassos,
Dos meus medos,
Das minhas angústias
E decepções .

Sou a sobra daquele outro
Que através do tempo
Nunca se tornou eu.

Sou o esboço, 
O eterno rascunho,
Daquele que nunca serei. 

Sou provisório, 
Anônimo e indigente.
Nada espero de mim 
Ou do mundo
Na arte de quase ser eu.


sábado, 29 de agosto de 2020

DESASTRE

Quantas vezes   afinal,
Imaginei
A casa em chamas, 
Minha vida em cinzas,
E todas as minhas lembranças 
Reduzidas a pó?

Quantas vezes não me senti 
Queimando no nada,
Desaparecendo na fumaça,
Dentro do silêncio 
Que me queima o cigarro? 


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

VIDA MENOR

A vida menor que cada um habita , em suas múltiplas facetas,  é  um campo de experiências e referências,  um plano de memórias e afetos, um lugar de hábitos e valores,   onde nos reproduzimos como viventes. Não  é  o plano do social, mesmo que formatado por ele através de inúmeros dispositivos de poder e assujeitamentos. É,  antes de tudo um plano de produção de subjetividades e sociabilidades elementares. É no plano do imediato e do cotidiano que o mundo torna-se mundo para cada um de nós. Não o mundo comum do tempo de todos, mas um mundo perspectivo, menor, que define uma vida menor.
Não vivemos todos numa mesma época,  num mesmo tempo. Cada um habita em sua vida menor que, entretanto, nada tem de pessoal ou individual. É,  ao contrário , composta  por nossos convívios e vínculos elementares. 

domingo, 16 de agosto de 2020

ALÉM DO EGO

Tudo que agora dói 
Diz uma fuga de mim,
Um limite de ser este rosto,
Este corpo,
Que se traduz como variante
De todos os outros,
Quando o próprio pensamento é  corpo,
E o eu ainda é  o limite de todos.

DESABRIGO EXISTENCIAL

Em nenhum  lugar
Terei destino.
Vou me perde de mim
Em qualquer parte do mundo
Que me seja possível,
Em toda viagem que me desafia o espírito.
Em parte alguma encontrarei um lar.



domingo, 2 de agosto de 2020

UISQUE & FILOSOFIA

Sustento um copo de uísque
Na imensidão  do cosmos.
Há  multiversos no uísque
Que acorda infinitos
Na consciência
E parado no meio do quarto
Exploro mil outros mundos
Ou modos de saber a existência.

A VIDA

A vida é  tudo que nos mistura no tempo através dos lugares comuns da Existência. 
A vida é  um tumultuado e barulhento silêncio. 
Ela é  caos, vento e movimento,
Nascimento e morte,
Matéria e memória. 

CONSCIÊNCIA TRÁGICA

O fim dos meios
Não  passa
Da falsa promessa
Dos meus incertos objetivos.
Antecipam a distopia
De qualquer amanhã sombrio
Onde espreguiça o abismo do mundo.
Estamos desde sempre
Todos condenados a viver
Onde existir é quase impossível.

sábado, 1 de agosto de 2020

O ETERNO RETORNO DO NUNCA IGUAL

O dia de hoje
Tem a cara do dia de ontem.
Mas o tempo os separa
Como nos afasta de nós  mesmos.
O eterno retorno da vida,
Contra a ilusão  do cotidiano,
Ensina que persistir,
Permanecer em si mesmo,
É sempre  um ato de composição  e Mudança.
É   sempre um outro que encaramos no espelho. 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

DIA SEGUINTE

O dia seguinte foi adiado por tempo indeterminado.
A vida agora se resume ao inacabamente de um hoje que nos devora, apavora e assombra, enquanto tentamos inventar qualquer futuro possível no avesso do mundo.

domingo, 19 de julho de 2020

UM DIA

Um dia a vida nos será  possível
contra a rotina vazia,
Contra a luta mecânica pela sobrevivência, 
O prazer barato,
Para manutenção  de nossa diária agonia.


Um dia a vida será  possível
Contra tudo que somos hoje
Na eternidade dos nossos passados,
Arcaísmos e sonhos de um amanhã  estragado.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

ULTRA MODERNIDADE

Saudade,
Solidão, 
Vontade,
Silêncio 
E incerteza.
Isso é  tudo
Que faz nossos dias,
Nossa agonia,
Nosso tempo,
De consciências fraturadas
Em vidas danificadas.

sábado, 20 de junho de 2020

SER LIVRE

Quero ser livre de mim,
Dos outros,
Da realidade,
Da sociedade e da verdade.

Quero ser livre
De toda ilusão  de liberdade.

Ser livre é  estar em fuga de tudo,
É  alguma forma de insanidade!

MEU SILÊNCIO

Meu silêncio tem gosto de gente,
Silêncio,  informação e grito.

Meu silêncio guarda o amargor da luta
Contra o eu e o mundo,
Contra um existir maldito.

Meu silêncio não  cabe em qualquer desespero.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

TALVEZ UM DIA

Um dia, talvez,
Eu morra de tédio
Em meio ao conformismo reinante.

Talvez eu morra de indignação, 
De revolta, de fome e insubmissão.

Talvez um dia eu morra
Sem saber o que é  a vida.

Talvez um dia....

quarta-feira, 10 de junho de 2020

ENCONTROS E DESAPARECIMENTO

Faz muito tempo que me faço  nada,
Que me surpreendo  outro
E me invento  ninguém.

Faz muito tempo que a vida é palavra,
Vazio de mim,
Na arte de desaparecer no encanto dos outros.

Faz muito tempo que sou feito de encontros
Sem me tornar alguém .

quinta-feira, 4 de junho de 2020

A VIDA

A vida precária, 
Danificada,
Que apriona o vivente,
Asfixia a existência,
Apodrece a palavra,
O sentir, o pensar,
E a imaginação. 

A vida sem alma,
Urgente,
Cansada, 
Vestida de razão,
Filha da civilização, 
Que quase não vive
E nos obriga a sobrevivência. 

A vida....
É o que resta
Como caminho,
Processo e silêncio
Em tempos de desabrigo,
De corpo perdido, 
Esquecido,
Coisificado,
Quase morto.




domingo, 31 de maio de 2020

FALSO ESTOICISMO

Tenho vivido em segredo desastres,
Perdido o mundo e o rumo
Com certa serenidade.

Tenho me sentido o último dos humanos,
A mais míseravel das criaturas. 

Mas mantenho o sorriso
E alguma dignidade.

Apesar se tudo respiro, 
Sofro a tal ponto 
Que já  não  me importo.

domingo, 10 de maio de 2020

DEPOIS DO FUTURO

É  tarde demais para o futuro.
Há  somente um vazio de mundo,
Uma ausência de amanhã 
Em nossas urgências de agora e sempre.

Nada mais é seguro.
O tempo transborda em um minuto.
Não sei se isso importa
Do lado de fora de qualquer certeza
Que me inspire na pobreza do agora.

Há apenas dias degradados 
Acumulados no infinito de um instante impossivel.

Seguimos através  do absurdo dos fatos,
Atos e desacatos 
Que perturbam a ilusória  ordem cotidiana.

Há silêncios crescendo na gente
E tudo parece tarde e
Distante,
Perdido no caos da cidade.

A vida mudou ou morreu,
Nada será como antes.

 Mas ninguém sabe direito
O que nos aconteceu,
Como o futuro virou passado
É nenhum novo dia nasceu. 

Nada será como esperado,
Pensado ou sonhado.
Estamos todos ultrapassados,
Desfeitos.
O futuro será outra coisa
Contra o pior de nós mesmos.

Qualquer outro tempo 
No ilegível da natureza
Inventa o impossivel que nos espera. 









TÉDIO

A vida segue
Nada acontece
O dia passa 
Não é cedo
Não  é  tarde
Tudo é nada
Silêncio e tédio 
Nem sei
Se ainda existo.

sábado, 2 de maio de 2020

SORRISO DE VINHO

Dedico uma  garrafa de vinho
Aos impossíveis dias de verões  perdidos,
Ao interdito das alegrias utópicas ,
Ao que nunca me foi ou será possível.

Para cada frustração tenho a lembrança  de um porre,
De qualquer desatino entre amigos.

A embriaguez é o melhor antídoto  para a felicidade.
Por isso,
Tenho sempre nos lábios 
Um sorriso de vinho. 

quinta-feira, 30 de abril de 2020

IRREALIDADE

No tempo em que eu era menino
O mundo parecia existir
E tudo tinha gosto
De sorvete de chocolate.

Agora que não  sou mais menino,
Carrego nos olhos o passado,
Sem ver o futuro
Dos filhos de outras infâncias 
Em um mundo que ainda não  existe.

Tudo não  passa de faz de conta.


VIDA CÉTICA

Nada espero dos outros
E pouco exijo de mim
Em um mundo que parece feito
Para alegria dos loucos.

Sem esperança, 
Suporto o cotidiano
Bebendo e fumando 
Sempre a espera
De qualquer fim do mundo.

SOBRE A VIDA QUE NOS ESCAPA

Existimos na amarga impotência 
De uma vida invisivel.
Somos todos descartáveis, 
Simples estatística. 

Circulam informações, 
Análises científicas,
Sobre um mundo pensado
Contra todo  cotidiano.

Mas a margem do controle,
Do Estado, da Universidade,
Das autoridades,
E dos telejornais,
Seguimos morrendo
Diariamente,
Indiferentes aos rumos oficiais do mundo.


INCÊNDIO SEM FOGO

A cidade queima em um grande incêndio sem fogo.

Há pânico nas ruas vazias,
Angústias nas janelas,
E a morte invade as casas.

Todo dia tem gosto de noite. 
É  sempre véspera de fim de mundo.
 O cotidiano arde em febre.

A morte define a cidade.
Nada faz sentido.
Mas há quem sustente doentiamente 
A normalidade perdida
Em França nostalgia da ordem antiga.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

DESENCANTADA MATURIDADE

Passei da idade de ter esperanças, 
De acreditar no mundo
E sonhar futuros.

Sei os desastres cotidianos
Que nos definem como sociedade.
Todos os fracassos da humanidade.

Aprendi o vazio de nossas rotinas,
O abismo do nosso consumismo, 
Amores baratos e violência urbana.

A vida danificada que nos desgasta,
Que nos apaga em um fluxo de informações, 
Opiniões e espetacularização midiática,
Nos torna menos que nada.

Tudo se descarta, se recicla 
E não  significa mais nada.

Não  quero ser produtivo,
Um pós  doutor em verdades caducas.
Prefiro fugir pro mato,
Me embriagar até  o infinito.




segunda-feira, 27 de abril de 2020

O MUNDO HOJE EM DIA

O mundo tem sido um brinquedo quebrado nas mãos de adultos  frustrados e problemáticos. É algo que não  dá certo, uma obra desastrosa do bom senso coletivo e da razão de Estado.
 Estamos sempre coletivamente semeando catástrofes e nos embriagando de falsas esperanças. Má é  mais honesto acender um cigarro e sonhar com uma morte tranqüila.
 

domingo, 26 de abril de 2020

MAS A LUA ESTAVA LINDA

Morrer de gripe,
De medo
Ou de tédio.
Era a dúvida que nos restava
Durante a greve da vida...
Apesar disso,
A lua estava linda
No céu que a gente quase não via.

QUARENTENA

Respira-se a morte nas ruas.
Nenhum lugar é seguro.
E o tédio de um dia infinito
Cabe nas grades de nossas janelas.

A vida segue sem amanhã
No deserto do tempo presente
Enquanto a morte reinventa a  cidade
E o céu escorre pelas paredes do apartamento.

A normalidade toca no rádio
E a gente finge que ar não  está podre
Enquanto morre de tédio. 













NINGUÉM

O tedio de viver,
De quase ser
Um entre os outros 
É quase insuportável.

Do que adianta me saber em um rosto
Se neste desespero de ser eu
Serei sempre ninguém
Através dos outros?


terça-feira, 14 de abril de 2020

A ONIPRESENÇA DO LIXO

O tempo transforma tudo em lixo.
Sejam ideias,
Afetos,
Certezas,
Comida,
Roupas,
Móveis, 
Aparelhos eletrônicos, 
Diplomas, 
Livros,
Tudo vira lixo.

Até  o corpo,
No final da vida,
Morto,
Vira lixo.

Há toneladas
E mais toneladas
De lixo,
Dentro e fora
De casa,
Através do mundo.

O próprio ser já não é para morte,
Mas para o lixo.


quinta-feira, 2 de abril de 2020

ENTRE QUATRO PAREDES

Estar em casa pode ser também uma forma de desenraizamento, a experiência de um estranhamento de si e do mundo. 
Quantas vezes, sozinhos entre as quatro paredes de nossa ilusória  intimidade, não  nos confrontamos com o silêncio da própria vida?
 Alguns chamam isso de tédio e ligam a TV. Mas o encanto da tela  não basta para afastar o nada.Apenas mascara a ausência que nos desnuda...
Trata-se mesmo disso: de uma incapacidade para saber de si, de um estar por fora do próprio eu, quando submetidos a qualquer circunstancial isolamento.
Necessitamos dos outros, de circular por lugares e ruas, trocar palavras, criar fatos, para não nos darmos conta de nosso vazio. Mas é sempre mais difícil fugir dele entre quatro paredes.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

SUMIR DO MUNDO

Hoje queria fugir de casa.
Sair e deixar a porta aberta,
Jogar fora todas as minhas vontades.

Deixar de lado a ansiedade,
As contas,
Obrigações  tributárias
E ilusões  diárias.

Não  saber de nada,
Perder tudo.
Não  ser visto,
Nem lembrado.

Hoje queria sumir do mundo.
Amanhã, 
Quem sabe?

terça-feira, 31 de março de 2020

BANALIDADE

A banalidade me sufoca.
Mas ela é  tudo que me define,
Que nos define,
Nesta  vida porca
Que nos coube
Na triste história da humanidade. 

O resto é quase desespero,
Incerteza e barbaridade.

segunda-feira, 30 de março de 2020

A PERDA DO MUNDO

O mundo nos escapa no vazio das rotinas,
Na carência de realidade
Que desde sempre sustentou a artificialidade de nossos atos,
O automatismo de nossas certezas e convicções. 

O mundo nos escapa e finalmente descobrimos nossa ausência cotidiana de vida,
Nossa falta de humanidade
E nosso vazio essencial
Tantas vezes preenchido com bebida,
Consumismo e amor barato.


sábado, 28 de março de 2020

LIRISMO PÓS MODERNO

Meu eu lirico ontem tentou suicidio embriagado de modernismos. Depois disso o enterrei morto e vivo  na pós modernidade da minha falta de cotidiano, de identidade e de juízo. Não  quero ser mais uma vitima desta doença iluminista que nos legou uma razão  caduca. 
Meu eu lírico renasceu, entretanto, como Dionísio,  e passa hoje a  vida nos bares afogando a poesia no copo e nos lábios das raparigas.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A VIDA PELA VIDA

Desisti de viver de hábitos
De certezas,
E da boa consciência das convenções. 

Não  acredito em palavras bonitas,
Nas leis do mundo
Ou no sentido da vida.

A partir de hoje vou viver de vida.
Apenas de vida,
Sem propósito, valores
Ou explicações. 




FILOSOFIA DE SUPER MERCADO

Toda semana estamos condenados a buscar, sempre de novo, a felicidade nas prateleiras dos supermercados. Lidamos, assim,  com a ansiedade do sustento doméstico de nossas rotinas  na manutenção de um existir tedioso e banal. 
Há mais filosofia no carrinho de supermercado do que nos enunciados dos mercadores de ideias da academia. É o que todos sabem na boca do caixa submetidos ao filtro monetário das possibilidades de ter e não  ter. 
Nossas necessidades estão pré definidas e catalogadas, expostas como mercadorias. Não há opções nas escolhas de supermercado. Nenhum livre arbítrio define o consumo de nossas duvidosas necessidades industrializadas.

quinta-feira, 26 de março de 2020

BIOGRAFIA DE UM INSTANTE

Há uma parte deste momento
Que de tão  ínfima
Nem roça o tempo,
Não  acontece.
Mas mesmo assim,
Em seu virtual silêncio,
Se ramifica através dos dias
Como potência .
Torna-se o paradoxo
Do seu próprio efeito
Até ser capaz
De se tornar um instante.
Mas ninguém percebe
A eternidade vazia
Do seu acontecimento.

UM DIA PERFEITO

Era um dia perfeito.
Tudo estava em seu devido lugar.
Não faltava nada
E a temperatura ambiente era agradável.

Qualquer música servia de pano de fundo
Para os atos de simples rotina
E manutenção da ordem das coisas.

Mas ninguém estava feliz
Nas horas acepticas daquele dia.
Ninguém realmente existia
Na utopia absurda da ditadura
Daquele bom dia.



 

domingo, 22 de março de 2020

O MEDO

O medo é  o mais estranho dos afetos.
Ele nos faz buscar segurança 
Onde existe apenas incerteza.
Nos embriaga de esperança 
Onde reina o desespero.

O medo, entre os mais fracos,
Esconde-se do espelho.
Já entre os mais fortes,
É um útil companheiro.

Afinal, o mundo gira,
Fora do nosso controle.
E a vida é passageira
Como o tédio que nos define a rotina.



terça-feira, 10 de março de 2020

BEBENDO O TEMPO

Ontem era sempre outro dia
Enquanto eu bebia o amanhã 
E o passado sorria
Enterrado no abismo.

Meus pés 
Sujos de eterno
Afundavam no instante.

Mas o instante sempre era outro,
Outra queda ,
Outro abismo.

segunda-feira, 9 de março de 2020

LIXO POLITICO



O lixo é  bem vestido.
Ostenta títulos e boas referências.
Sabe fazer discurso
e goza de grande prestígio e influência.

O lixo recebe medalha de cidadão honorário,
Mandato de prefeito e de deputado.
Mesmo assim, não se engane,
o lixo humano fede como todo lixo.
Não importa o poder que o cobre.
Ele sempre será lixo humano.

SEM FILOSOFIA

Não  quero saber o que é  a verdade.
Me diga apenas
O que há  para o almoço. 

A existência, em seu imediato e sensual absurdo,
Dispensa o linguajar abstrato de toda filosofia.

Encha o meu prato,
Me traga uma cerveja,
E não  diga nada.
Dispenso o indigesto de qualquer palavra.

domingo, 8 de março de 2020

SER ALGUÉM


Não sou eu este alguém que acorda,
Que trabalha e se perde na hora do almoço,
Que se conforma em ser
O que tem no bolso.

Não  sou aquele que diz bom dia,
Que espera o ônibus, 
Assiste TV e paga boletos.

Não sou aquele que desaparece entre os outros
Anulado pelo próprio rosto.

Não sou aquele que de tão  vaidoso
Vive como um ninguém. 
Não  sou aquele...
Mas também não sou outro.

quinta-feira, 5 de março de 2020

EXPECTATIVAS


Estamos sempre esperando
pelo carnaval,
pela bagunça universal,
que nos trará a intensidade
da desorganização dos dias
restaurando infâncias e  liberdades perdidas.

A vulgaridade do cotidiano nada pode
contra nossa capacidade de vestir de sonho
qualquer fato desengonçado e torto
que afronte nossas rotinas
Com o absurdo da poesia.