sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

DIAS DESPERDIÇADOS

Amanhã pode ser que eu me arrependa de não ter aproveitado o dia de hoje. Mas amanhã será apenas mais um dia de hoje a ser desperdiçado. 

Na verdade, os dias desperdiçados são os mais felizes. Não estou interessado em aproveitar nada daquilo que o dia me oferece.

O SILÊNCIO DE NOSSAS PALAVRAS


A palavra se perdeu dos fatos.
Já não diz a existência
No labirinto do pensamento.
Apenas desvela a imaginação das coisas
Onde a vida é impossível.
A palavra é muda no vazio
Que se faz entre o significante e o significado,
Guarda em si o não dito
Que dorme no corpo da frase.
A palavra desvela o silêncio
Que denuncia a mudez da existência
E se fecha em si mesma
A margem dos significados.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

VIDA QUE SEGUE

A vida segue através do tédio
E qualquer possibilidade de felicidade
Nunca pareceu tão distante.
Apesar disso,
Pequenas alegrias enfeitam o cotidiano
Transformando o tempo
E nosso modo de ser através das coisas.
Nada é perfeito ou suficiente.
Mas a vida segue através do tédio
Ontem, amanhã e sempre.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

NOITE E MELANCOLIA

A noite cai triste sobre as horas.
Ausente de mim mesmo
Abrigo a rua no peito
E saio vazio e sem rumo
Mundo a fora
Para afogar lembranças
Em um copo de cerveja.
Vazio de estrelas,
O céu  sofre a falta da lua
Prometendo o desespero
De uma grande chuva.



PREGUIÇA


TENHO MEDO DOS QUE BUSCAM A FELICIDADE

Algumas pessoas buscam tão compulsivamente a felicidade que chegam ao ponto de inventar qualquer ilusão de alegria para fugir a realidade.  Afirmam-se campões em tudo, senhores de todas as soluções e centro de atenção do universo. São os piores casos de humanidade. Julgam-se nobres, bem intencionados, defensores de um mundo melhor, mas no fundo não passam de uns egoístas inclinados a vaidade e a megalomania. A felicidade, neste caso, revela-se uma espécie de obsessão e demência. Por isso tenho medo dos que arrotam discursos otimistas e vomitam frases de auto ajuda.


TABAGISMO SEM CULPA

Fumo sem qualquer vestígio de culpa.
Sei que a vida não é um bem precioso.
Muitas vezes é um fardo.
E seria uma agonia insuportável
Sem o pequeno alivio de um trago.

O cigarro é uma alternativa a felicidade,
Um vício que denuncia nosso nível de lucidez
Diante do fato da existência.

No fundo sabemos que tudo que há no  mundo

Guarda qualquer coisa de  trágico. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

MEU QUARTO

Um mundo inteiro cabe em meu quarto.
Não preciso de outro abrigo
Para me encontrar na vida.

Dentro dele sou vasto,
Quase infinito.
E exploro todos os mistérios
Da condição humana.

Posso dizer:
Basto a mim mesmo.
E isso é tudo que me importa.



quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

VIVER

Como é precário o viver que se resume ao trabalho.
A vida é mais do que o acontecer mecânico
Que respeita horários, que inventa a ordem
E sustenta o consumo.

Viver é ser além de todas as regras.
É amar, criar e acontecer.
Não tem receita
E não respeita a maioria.

Viver é transcender os fatos
No inventar a existência

Como obra de arte.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

NOITE DE SÁBADO

Como qualquer coisa
E depois bebo por horas
Fechado no quarto,
Pensando no quanto
Tudo poderia ser diferente.

Toda semana é a mesma coisa...
O teatro das horas uteis,
Das obrigações sociais
E, por fim, finalmente,
O vazio da noite de sábado.

Sempre esta rotina sem cabimento!

ROTINA

Cuida da sua rotina,
Mas evita os vícios do seu dia a dia.
A vida tem tantos usos, ritmos
E possibilidades,
Que não cabe no acontecimento regrado,
No roteiro controlado do simples cotidiano.

Por isso, não se defina
E nem se conforme a razão.
Viver é sem medida,
Não reconhece regras
Ou solução.

Fazer sempre o mesmo
Pode ser constantemente

Viver algo diferente.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017


QUANDO TUDO PARECE NORMAL

Tudo parecia normal
Em meio ao caos,
As insatisfações privadas
E ao vazio existencial.

Havia  sempre mais uma bebida
Para brindar o esquecimento,
O  inútil esforço de sobreviver à rotina
Ou o abismo da vida de todos os dias.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

RETRATO DE UM EXISTENCIALISTA

Frequentava as sombras dos bons pensamentos
Através de maços de cigarro
E alimentava fabulosas quimeras
Com tragos de uísque.

Esperava apenas pelo dia de se despir de tudo
E abraçar a devoradora novidade
De um ultimo vazio existencial.

Não parecia feliz.
Mas nunca o surpreendi triste.
Era apenas indiferente,
Ausente,
Como todo mundo
Que não se ilude mais
Com  a própria existência.


O SONHO DA GRANDE CIDADE

As manhãs começavam mais cedo
Longe da grande cidade.
O tempo era preguiçoso
E as pessoas se olhavam nos olhos.

As ruas eram cheias de flores
E as casas convidavam a visitas.
Mesmo assim nada era perfeito.
Imperava o tédio.
Todos viviam a sonhar com a grande cidade.

A felicidade, afinal, sempre esta em qualquer outra parte.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

MUITO MAIS DO QUE UMA VIRTUDE

Posso não ser a melhor versão de mim mesmo.
Não tenho qualquer esperança de sucesso.
Mas sou, dentre todas as possibilidades
Dos meus eus
A versão mais apta à diversão,
Aos atos descuidados
E ao juízo irresponsável.
Sou o único capaz de inventar o mundo
Como uma grande festa de tudo contra todos.




HUMOR NEGRO

Preciso de um cigarro
Para suportar a realidade,
Para substituir o grito
E calar o uivo.

Preciso também de um drinque,
Uma dança
E uma tentativa de suicídio.

Um brinde!
Que tudo seja divertido
E sempre termine
Em um ataque de riso!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

É TARDE

É sempre tarde.
A vida se passa no passado.
O hoje é sempre adiado
Porque jaz futuro
Em mesmices de novidades.

Não tente agarrar os fatos.
Desde sempre a vida escapa
As resoluções diárias.

Lembre-se sempre
De quem você seria
No mais que possível

Dos seus passados perdidos.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

CHAVE DE CASA

Perdi a chave de casa.
Fiquei na rua como um idiota qualquer
No limbo entre o público e o privado.

Levei uma hora para resolver o transtorno.
Mas foi insuportável aquele momento
No qual me surpreendi impedido
De me esconder do mundo...
A rua parecia maior do que era
e minha vida um vazio cheio de coisas. 

O TÉDIO DAS OBRIGAÇÕES

Lavar a louça,
Pagar contas,
Atender ao telefone,
Comer e beber
Vendo um pouco de televisão...

Comprar coisas inúteis,
Dar opiniões,
E viver o medíocre de um caso de amor banal...
Isso resume minhas malditas obrigações.

Sou apenas mais uma pessoa comum,
Um inútil qualquer que ninguém sabe,
Ou mais uma pulga na multidão.
Minha vida é cumprir, inutilmente,
Minhas obrigações.


ANTI SOCIABILIDADE

Posso tomar um banho,
Comer alguma coisa
E me jogar nas ruas.
Ver pessoas,
A ordem das coisas,
E o vazio da nossa existência coletiva.

Posso fazer de conta
De que tudo isso
Possui seu valor e significado.
Mas a verdade é que não passa
De um exercício inútil.
Por isso prefiro não sair do meu quarto.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

VIGILÂNCIA

As janelas vigiam as ruas,
Que vigia a casa,
Que toma conta da gente.

Cada um observa o outro,
Tenta saber de tudo.
Quando nada acontece.

Mas  há olhos sobre todos.
Controles introjetados
A regrar a palavra e o corpo.

Nada acontece...
Dentro e fora de todos.



TODOS SE ODEIAM EM SOCIEDADE

Bebo antes de tudo para suportar as pessoas.
Como poderia me relacionar cordialmente com os outros
Sem estar embriagado?

De um modo geral o trato social é insuportável.
Dissimulamos nossos impulsos e afetos,
Mentimos descaradamente,
Cometemos pequenas e grandes hipocrisias,
Dentre outros crimes informais,
Apenas para manter a vida dentro da ordem.

Mas a grande verdade é que todos se odeiam.
É assim em toda parte.
Não se deixe enganar e beba mais um pouco.




O DESAFIO DA FELICIDADE

Felicidade é simplesmente conseguir chegar ao fim do dia sem ter muito a lamentar ou do que reclamar. É ser capaz de manter o cotidiano dentro do campo do suportável, como se a realidade fosse uma atmosfera respirável e não uma fonte inesgotável de ansiedades e frustrações.


Hoje em dia, esta tarefa simples, tornou-se uma meta utópica. Não é mais possível enraizar-se no mundo, fazer de conta que somos felizes seguindo as convenções e a ordem natural das coisas. É preciso escapar pela tangente, reinventar a vida do nosso modo mais pessoal e incerto.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

DEFICIÊNCIA

Falta as pessoas um pouco de consistência. Mas isso é compreensível, já que cada um é uma partícula perdida neste impreciso campo linguístico formado pela totalidade aberta da existência humana. Cada um é a variação imperfeita de um mesmo tema, replicando signos e símbolos, em um fluxo descontínuo, de significações coletivas.
Isoladamente, ninguém diz nada, pois dizer é incerteza de si mesmo e invenção do outro para que o dito faça sentido. Isoladamente ninguém é o outro ou aquele que diz.
Falta as pessoas um pouco de consistência. O rosto não lhes sustenta na falta de coerência.

sábado, 18 de novembro de 2017

A MADRUGADA

A madrugada
É como uma criança abandonada.
Não tem casa,
Não tem rosto,
Mas em todas as coisas
Busca um nome
Que lhe sirva de espelho
Contra o passar das horas.
É como qualquer coisa despedaçada.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017


FALTA DE IMAGINAÇÃO

As imaginações dormiram mais cedo
 me deixando na  companhia de angustias e medos.

O quarto era pequeno para tantas questões
E pensamentos soltos.

Sofria o peso de todos os dilemas urgentes,
Das tantas contas e encontros pendentes.

Sabia que me aguardavam ainda
Muitos dias estagnados e vazios existenciais.

Tudo era turvo, intenso e equivocado
Em meu sentimento de sombras e abismos.

Como me fazia falta o falso otimismo das imaginações!
Precisava desesperadamente de um pouco de ilusão.



quarta-feira, 15 de novembro de 2017

SOLUÇÃO ETÍLICA

Acho que nunca fui suficientemente competente para ser feliz...ou demasiadamente idiota para me tornar um conformado, alguém adequado à sociedade. 

Não importa. Bebi o suficiente para nunca me sentir triste. Não perdi meu tempo procurando a felicidade ou pensando sobre todas as coisas que poderiam ter sido. Havia sempre mais uma dose de conhaque me esperando.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

UM DIA DE CADA VEZ

Tenho feito acordos com meus silêncios
E negociado com meus vazios.
Busco um pouco de equilíbrio
Dentro do caos que me esclarece
À cada passo sobre o abismo.
A vida segue aos trancos e barrancos
Através de arranjos provisórios.




FRACASSO E DISSIMULAÇÕES

Não nos reconhecemos quando perdemos o controle sobre as situações vividas. Nunca nos consideramos responsáveis pelas coisas ruins que nos acontecem. Por isso inventamos, deuses, destino, ideologias. Precisamos sempre de bodes expiatórios para fugir a qualquer responsabilidade. Afinal, não podemos admitir que somos uns fracassados e mal resolvidos, que estamos a deriva em um mundo sem sentido, seguindo sem qualquer perspectiva. Mas no final sempre recorremos a garrafas e maços de cigarro para lidar com isso.







sexta-feira, 10 de novembro de 2017

QUASE FIM DE SEMANA

Era uma tarde de sol a pino,
Mas a noite já estava acordada
Na febre dos corpos.

O juízo andava a deriva
E o mundo parecia um delírio.
Os fatos não faziam sentido.
As pessoas eram toscas
E não estávamos nem aí.

Bebíamos desde cedo
Fugindo do peso das horas,
E de tudo que havia a volta.

Era véspera de fim de semana
E estávamos cansados de viver
Como quase a cidade toda.


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

PSICODELIA

Aquele brilho que as vezes vejo e sinto na paisagem da madrugada, que remete ao onírico, ao insólito e ao quase impossível, pode ser apenas efeito do álcool. Mas também pode ser qualquer intuição de plena realidade. Há uma magia escondida em nossa percepção das coisas que através do psicodelismo expressa o algo mais da existência que cotidianamente nos escapa. Precisamos disso para ter contato com o extraterritorial da realidade além de suas configurações domesticas cotidianas.


DA IMPOSSIBILIDADE DE SER FELIZ

Não preciso de muito para ser feliz.
Tudo que tenho é pouco,
Mas o suficiente para viver.
Isto me basta.

Não tenho grandes sonhos ou esperanças.
O que me importa é uma consciência limpa
E uma existência livre.
Isto me basta.

Mas dependo de algumas pessoas.
As vezes sigo com os outros.

E isso infelizmente me mata.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

SEGUNDA FEIRA

O dia hoje acordou preguiçoso
Enquanto a vida continuou dormindo.
A rotina prometia mais uma semana de tédio e repetições vazias.
Era mais uma segunda feira igual a todas as outras.
Sabia que não podia esperar grande coisa.
Minha vida não tinha sido grande coisa nos últimos tempos.
Era só uma questão de seguir em frente.
Não pensar muito e seguir em frente...

domingo, 29 de outubro de 2017

BOM DIA

Todos os dias é como um renascimento,
Uma oportunidade para reinventar a vida,
Mesmo sabendo que viver
É um problema sem solução,
Uma equação imperfeita
Ou um devir sem sentido.
Todos os dias eu renasço
Acreditando em outro dia,
Que depois de outro dia,
Irá me trazer  finalmente um  amanhecer,
Inaugurando um tempo onde eu exista
De um outro modo qualquer.
Mas isso fica sempre para um outro dia qualquer...

DEFININDO A MADRUGADA

Deito e espero a noite passar.
Me esqueço dentro de qualquer pensamento
E pouco me importo com o amanhecer.
Já abdiquei do privilegio de sonhar.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

INDETERMINISMO

Muita coisa escapa a nossa vontade.
Mas não somos reflexos dos fatos
Ou joguetes de algum destino.
Somos nada
E por isso podemos tudo.
Um tudo que é pouco,
Mas também é muito.
Ele nem mesmo cabe no mundo.
É feito de imaginações e vontades
No virtual dos nossos atos
Orientados pela intuição

E o acaso. 

SOBRE SER TRISTE

Mesmo se a felicidade existisse
Escolheria ser triste.
Neste mundo a felicidade
É um ideal absurdo,
Digno daqueles
Que não tem coração.
Os que gozam de boa razão
Abraçam a melancolia
Como um dever moral,
Como uma estratégia de dignidade

E rentidão.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

INSÔNIA

Falta sono para consumar esta noite  com sonhos,
Calar esta ansiedade que me consome.
A consciência arde em febre,
Vontades e inquietações difusas.
Sou refém desta madrugada
Decorada por coisas inacabadas,
Por restos degradados de cotidiano
Que me acordam vazios por dentro.
Falta sono...
E já está quase amanhecendo.


EM BUSCA DO DIA SEGUINTE

O dia seguinte é sempre adiado,
É sempre presente,
Como as recordações de um futuro
Desde o inicio perdido
Em leituras superadas do passado.

A vida em virtual movimento
Segue sem tempo,
Urgente e imprecisa
A cada momento.
Tudo é efêmero,

Ilusão e instante.

sábado, 21 de outubro de 2017

INDIFERENÇA

A vida retraída em meus espaços íntimos,
Naquele silêncio que decora o quarto
É um sentimento abstrato
Que a tudo contamina.
Transforma passados e futuros,
E quase não me deixa saber
Das ilusões do agora.
Há um mundo inteiro lá fora
Que já não me interessa mais.


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

DEFINIÇÃO INDEFINIDA

Sou abstrato devir de finita e fina existência.
Sou mais adjetivos do que substantivos.
Na retorica fácil dos bem pensantes.
Sou anarquia para os sedentários
E embriaguez para os nômades.
Odeio o Estado e sou contrario a sociedade,
Mas não me entendo com os indivíduos.
Pouco me interesso por sexo
Mas abomino os pudicos.
Não tenho princípios,
Mas cultivo éticas em meus instintos.
Sou um pouco de todas as coisas

Que não sou. 

DIA DE SOL

Existe qualquer inquietude que me perturba
Na paisagem de um dia de sol.
Talvez seja  porque o azul do céu
Faça  a vida parecer  mais viva
Do que ela é.
As pessoas se apresentam  bem dispostas
E disfarçam com primor suas angustias.
O imperfeito parece perfeito
Como um comercial de TV
Quando acontece um dia de sol.


INUTILIDADE

Gosto de coisas inúteis,
De tudo aquilo que não serve pra nada.
A existência exige o lúdico
Como pratica de fuga,
Como recusa da verdade
Que nos consome todos os dias.
É sempre preciso um pouco de fantasia
Contra a razão das coisas.

O circo é mais importante do que o Estado.

VELHO DEMAIS

Não me importava com a opinião publica,
Com as definições ideológicas
Ou com o alvoroço das multidões.
Não me importava com os outros,
Apenas queria saber da minha própria vida.
Estava velho demais para idealismos.
O mundo era uma merda
E não tinha mais jeito.
A esperança é para os jovens.
Eu só tinha frustrações e contas.

Para mim já era tarde demais.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

PEQUENAS DERROTAS

São as pequenas derrotas cotidianas que acabam com agente.
Não é grande tragédia, que bem ou mal, nos obriga a fortaleza,
A sobrevivência instintiva e irracional.
Mas aquelas faltas, pequenas perdas, frustrações,
Angustias e ansiedades,
Que de fato acabam com a gente.
Mas cada um sabe o fardo que carrega,

Seus vazios mais íntimos e absurdos.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

LEITE MORNO

Um copo de leite morno
Antes de dormir.
Apenas para  relaxar,
Para esquecer
E não pensar.
Banalidade tola
De uma rotina vazia.
Mas são destas idiotices
Que é feita a vida.
Bebo um gole de leite morno
Enquanto contemplo o vazio.


NOVAS GERAÇÕES

Aquela criança crescerá em um mundo
Bem diferente daquele que vive.
Mas sentirá as mesmas coisas
Que um dia eu sofri.
As épocas passam,
Porem, as angustias não mudam.
E nelas se escrevem
Nossos silêncios.
Sei todos os sentimentos
Guardados no futuro

Daquela pobre  criança.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

DENTRO DO APARTAMENTO

O apartamento ainda era parte de tudo aquilo que me definia o horror do mundo. Entre suas quatro paredes eu não estava a salvo do cotidiano mecânico e muito menos das preocupações medíocres de uma vida banal.  Ali eu era ainda o mesmo que era entre os outros. 

Não havia como escapar de mim, ou, pelo menos, daquilo que eu havia me tornado em nome da sobrevivência. Eu era como um macaco adestrado em um grande circo. A jaula depois do espetáculo não me servia de abrigo.

Tomei um banho e me joguei sobre a cama. Tentava não pensar em nada. Queria apenas esquecer, me esquecer, e abraçar o vazio. Precisava  saber do meu corpo, inventar um repouso absoluto eliminando todos os metafísicos cansaços legados por mais um dia vazio.

Não queria ser parte das coisas, tomar iniciativas, fazer compras ou caminhar como um tolo em meio a multidão urbana que frequentava as ruas. Odiava todas as rotinas, todos os compromissos. Queria algo diferente, qualquer loucura ainda sem nome que me queimava por dentro como uma febre.
Mas tudo que eu tinha era um trabalho de escritório e  as horas de ócio no apartamento que se alternavam como o dia e a noite. Já não sabia de mim. Vivia para minhas ansiedades. Meu sobrenome era angustia.


PERDER TEMPO

Gosto de perder tempo,
De me perder no tempo,
Quando todos os relógios gritam
Que estou sem tempo.
Que diferença fará mais uma hora na cama?
Lá fora a vida segue seus ritmos
Enquanto o nada me cobre de frio.
Preciso perder tempo comigo,
Preciso de tempo

E já não tenho mais tempo.

SEM CONTROLE

Fronteiras oscilam entre o familiar e o desconhecido.
A linha que nos separa do lado escuro do dia é tênue,
Quase invisível.
Pode ser que tudo muda de repente
Enquanto o acaso conspira
Contra a rotina.
Nada está sob controle,
Nem eu tenho um destino.