O apartamento ainda era parte de
tudo aquilo que me definia o horror do mundo. Entre suas quatro paredes eu não
estava a salvo do cotidiano mecânico e muito menos das preocupações medíocres
de uma vida banal. Ali eu era ainda o
mesmo que era entre os outros.
Não havia como escapar de mim,
ou, pelo menos, daquilo que eu havia me tornado em nome da sobrevivência. Eu
era como um macaco adestrado em um grande circo. A jaula depois do espetáculo
não me servia de abrigo.
Tomei um banho e me joguei sobre
a cama. Tentava não pensar em nada. Queria apenas esquecer, me esquecer, e
abraçar o vazio. Precisava saber do meu
corpo, inventar um repouso absoluto eliminando todos os metafísicos cansaços
legados por mais um dia vazio.
Não queria ser parte das coisas,
tomar iniciativas, fazer compras ou caminhar como um tolo em meio a multidão
urbana que frequentava as ruas. Odiava todas as rotinas, todos os compromissos.
Queria algo diferente, qualquer loucura ainda sem nome que me queimava por
dentro como uma febre.
Mas tudo que eu tinha era um
trabalho de escritório e as horas de
ócio no apartamento que se alternavam como o dia e a noite. Já não sabia de
mim. Vivia para minhas ansiedades. Meu sobrenome era angustia.
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