quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

NADA DE REVEILLON

Nada nunca será suficiente.
Nunca estarei satisfeito.
Não esperem mesmo
Que eu seja feliz neste tipo de mundo.

Talvez em outra época ou planeta.
Jamais aqui e agora.

Não me cobrem boa vontade
Quando estou engasgado
Com os jornais e a rotina.
Há algo de errado com qualquer um
Que se diga realizado com este cotidiano imundo.

Então guardem seu réveillon para vocês.
Se  enganem mais uma vez com as mentiras
Do ano novo.
Engasguem...
Estou velho demais para isso.
Nada de reveillon para mim.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

APROVEITE A VIDA

Prefiro não pensar em como cuido do meu corpo. Sei que do jeito que me comporto, segundo os imperativos da bio politica imposta pelo politicamente correto, não terei muito tempo de vida. Afinal, como, bebo e cultivo meus vícios segundo os ritmos loucos  da minha ansiedade.

Francamente: não me preocupo em ter saúde sem satisfazer o prazer definido pela orgia dos meus cinco sentidos. Prefiro viver de exageros e entorpecido pelas mais concretas “coisas da carne”.

Meu corpo não é o meu templo. É minha boate e todo dia rola uma festa de arromba.


Morrer um dia pouco importa desde que aqui e agora eu tenha feito de tudo para satisfazer minhas mais cruas necessidades.

FUTUROS IMPOSSÍVEIS


Tudo que precisava hoje era dormir e acordar depois de pelo menos duzentos anos de bom sono. Então me surpreenderia diante de um mundo novo com novos problemas e velhas questões. Acho que assim, de algum modo estranho, me livraria finalmente de mim mesmo. Poderia  reinventar meus dias sem o peso dos meus  passados, redescobrindo a vida ao sabor das novidades de uma outra época. Não que eu espere um mundo melhor daqui a duzentos anos. Apenas preciso de problemas novos, mesmo que inspirados pelas piores previsões distópicas.  


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

SEM COMPROMISSO

Minha vida é feita de improvisos.
Nunca contei com grandes certezas.
Nunca estabeleci nenhuma meta ou objetivo
Ou abracei um destino.
Sempre odiei os lugares comuns dos livros de autoajuda
E os conselhos dos mais experientes ou competentes.
Aceitei  a incerteza como princípio e optei por não ser ninguém.
Existir me foi  suficiente em um mundo em que as pessoas
Apenas respiram.
Por isso vivi por ai perdido, a deriva,
Quebrando a cara
Tentando sobreviver até a semana seguinte.
Sempre estou por um fio.
Mas é divertido não ter compromisso com o sucesso.
Espero apenas que os dias me surpreendam

Enquanto tropeço nas circunstâncias.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

MAIS UM INSUPORTÁVEL FIM DE ANO

Quando chega o fim do ano algo se quebra dentro de mim. É como se o presente desmoronasse dentro de mim me deixando em ruínas, provisório e incerto. Talvez mesmo um pouco arrependido de ser quem eu sou.

Não tenho orgulho dos meus atos, da minha vida... Não sou flor que se cheire. Mas nunca tive a pretensão de bem  figurar no quadro social ou ganhar destaque entre os membros da dita “boa sociedade”.

Tudo que eu queria era começar de novo. Mas sei que o ano seguinte será mais apenas do velho das ultimas décadas. O tédio domina o mundo.  As coisas mudam para que tudo permaneça medíocre e certo como uma equação de primeiro grau.

O ano acaba e tudo continuará em marcha para o abismo. Depois será ano novo de novo.... Não temos como fugir a rotina, reinventar este século de desastres.



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

DOR DE DENTE

Eu tinha todos os problemas do mundo.
Mas o mais urgente agora
era ir ao dentista.
Assim, o resto seria suportável.
Não podia resolver tudo.
Mas precisava de um dentista.
Era minha unica e concreta certeza,
meu maior incomodo existencial.
Parecia tão simples.
Mas não era uma resposta.
Eu já havia abandonado todos os meus problemas.

SONHOS E ILUSÕES

Alguns sonhos baratos
ainda encantam a noite
enquanto me embriago
e me surpreendo ali sozinho
diante de algumas velhas ilusões.
É tudo muito simples:
Um dia você perde,
outro você ganha
e tem a falsa certeza
de que tudo está sob controle.
Mas o sucesso nunca é suficiente.
É sempre melhor esquecer tudo
e pedir mais uma cerveja.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

UM PRATO DE MACARRÃO

Um bom prato de macarrão
Era tudo que eu queria
Para não pensar na vida
E deixar de lado todos os problemas.
Apenas um prato de macarrão.
Um pouco de molho de tomate
E uma taça de vinho tinto.
Comer é uma forma de simplificar a vida,
De fazer de conta que os problemas
Mais abstratos e  impostos
Pelas obrigações diárias
Simplesmente não existem

Assim como todas as tramas da filosofia.

CETICISMO RADICAL

Estou cada vez mais predisposto a não acreditar em nada daquilo que leio ou escuto por ai. Há certezas demais, opiniões demais e todo tipo de paradigmas e explicações para confortar os necessitados de segurança teórica. Quase não vale a pena pensar diante da infração de teorias e narrativas.


Pois façam bom proveito de suas preciosas respostas aos grandes dilemas e desafios da contemporaneidade. Tenho apenas uma vida e ela é muito curta para me ocupar de filosofias, ciências ou soluções coletivas. Melhor assistir alguns filmes e comer pipoca enquanto o mundo acaba lá fora. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

DESCONTRAÇÃO


Pode ser que hoje qualquer coisa seja diferente
E a vida mude um pouco
Em seu tedioso modo de acontecer na gente.
Basta qualquer boa noticia a toa,
Uma oportunidade boba
Para mudar o roteiro, o destino
E  o caminho.
É bom ficar um pouco perdido
A mercê dos fatos
Apenas observando a vida passando
Sem qualquer motivo.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

APRENDENDO A ESQUERCER



Tinha algumas historias para contar
E outras tantas para esquecer.
Nem tudo que me aconteceu foi importante.
A maior parte das coisas que fiz
É descartável,
Não vale uma  lembrança.

A vida passa,
As circunstancias mudam,
E quase tudo perde sua importância.

Seguimos adiante
Aprendendo a dar cada vez menos valor
A nossas experiências.
Por isso não conto mais minhas histórias.
Tento agora aprender a esquecer

Tudo que remete a outrora.

MINHA ADORADA PREGUIÇA

Amo a preguiça,
Este descompromisso radical com a formalidade da vida,
Com os compromissos, obrigações e funções
As quais meu existir foi reduzido.
Não quero saber de responsabilidades toscas.
Não me preocupo com o bom andamento da economia,
Das relações de trabalho ou com esta maldita sociedade.
A preguiça é a única inspiração que me faz acordar todos os dias.
Ela me inspira a não fazer nada e sentir meu corpo inerte,
Entregue a mais esclarecedora das inercias.

Não fazer nada é o único objetivo da minha existência.

REALISMO AMARGO

Não vejo possibilidades de um mundo melhor.
As coisas mudam mais as angustias permanecem as mesmas.
Não importa a época, os governos ou o pensar dominante.
Sempre existirão contradições, mentiras, rotinas
E este desesperado sentimento íntimo de vazio.
Sejam felizes com suas utopias politicas, deuses e amores eternos.
Prefiro sofrer a elementar realidade da minha  miséria humana
Sem ilusões ou falsas soluções.  

Apenas os idiotas vivem de sonhos e esperanças.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

NÃO ME CONTENTO COM A VIDA

Não sou dado à felicidade.
Aprendi isso desde  muito cedo.
Tenho vontades demais
Gritando dentro de mim
Contra a realidade.
Um caos me grita
Por dentro
O desafio da liberdade.
Viver é inquietante,
Absurdo.

Não me contento com a vida.

A DITADURA DO OTIMISMO

As pessoas estavam habituadas a sempre aparentar alegria,
Saúde e vivacidade.
Críticos e pessimistas eram mal vistos no trato social.
Ninguém queria saber sobre os descalabros cotidianos.
Consideravam a tristeza perigosa,
Praticamente subversiva.
O sorriso era a mais querida das bandeiras
E somente os fúteis e hipócritas
Gozavam do status de vitoriosos.
Diziam que o mundo não era perfeito,
Mas que a felicidade estava ao alcance de todos.
Assim trinfou o império da dissimulação e da mentira

Sobre o espirito critico.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

HOT DOG

Uma barraquinha de hot dog...
É tudo que queria agora.
Não preciso de qualquer outra coisa.
Apenas de um hot dog com bastante mostarda.

Quanto ao resto, 
Que o mundo vá para o espaço.
Nada tem mais jeito.
Estamos a deriva
Em nossas casas, 
em nossos empregos e em nossos sonhos.

Então me basta apenas morder um hot dog.

Enquanto ainda é possível.

AMORALIDADE

Nunca me preocupei em ser uma boa pessoa segundo os padrões da sociedade.

Vivi minha  vida a margem de todos fazendo tudo do meu jeito.
Por isso, procurei manter uma distância segura dos outros, pouco me importando com o que faziam ou deixavam de fazer.

Simplesmente não precisava ser bom e muito menos de toda aquela hipocrisia moral enquanto exercia minha singularidade.

A maioria das pessoas se dividia entre chatas e irrelevantes. Ambas demasiadamente ocupadas em julgar e rotular. Eu simplesmente cagava para todas elas


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

ENTRE O EU E OS OUTROS

Cada um de nós estabelece fronteiras
Entre o eu e os outros
Quando eu sou os outros
Que me negam o tempo todo.
Sou indeterminado,
Sou este copo, esta bebida
E minha morte.
Mas antes sou o futuro,
O abismo e a sorte.
Por fim os outros,
O nada...
Até que eu acabe entre as garrafas

Embaralhado entre as fronteiras
E os outros desfeitos dentro de mim.

FILA DE ESPERA

Era o último homem na fila de espera.
Sabia que perderia algumas horas ali
Afogado em ansiedades e expectativas.
Também sabia que não valeria a pena.
Mas não tinha coragem para fazer outra escolha,
De fugir do fardo das minhas obrigações cotidianas.
Tinha o defeito de ser honesto,
De fazer tudo certo
Mesmo de má vontade.
Nunca receberia qualquer reconhecimento por isso.

Apenas morreria triste,  tranquilo
E um pouco sem vida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

MAIS UMA BEBIDA

As pessoas possuem certezas demais,
Sentimentos exagerados
E demasiada necessidade uma das outras.
Só preciso de uma garrafa e alguns maços de cigarro.
O resto resolvo em improvisos,  invento
Ou, simplesmente, esqueço
Até o dia seguinte.
Não tenho tempo para preocupações inúteis
Ou espaço para problemas descartáveis.
A vida é curta e o tempo corre.

Então, apenas pegue mais uma bebida.

UMA DOSE DE SONO

Não tenho fome, sede,
Ou vontade de qualquer coisa.
Meu único desejo é dormir.
Nem morrer, nem viver.
Apenas viver um sono profundo
E provar algumas aventuras oníricas.

Existir é relativo.
Pouco importa ao mundo se eu existo.
Mas também não me levo a sério.
Guardo para mim mesmo
parcela considerável da indiferença
que dedico aos outros.

Preciso dormir mais um pouco.
É sempre preciso dormir mais um pouco.


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

MORAR SOZINHO

Chego em casa.
Tiro a roupa
E me jogo logo no sofá
Para esquecer o dia que foi.
Sei que amanhã me aguarda
A mesma rotina.
Nem parece que o tempo passa.

Bebo um pouco antes de dormir
E correr e em meus pesadelos.
O sono nunca é tranquilo.

Gosto de ficar enterrado em casa
Fazendo de conta que as pessoas não existem.
Assim o tempo passa
Mas eu quase não percebo.
É quase tarde demais para esperar futuros.
Abuso um pouco do cigarro.
Preciso relaxar....



segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

VERSOS CONTRA A REALIDADE

A realidade sempre atrapalha o poema,
Mas não cala o verso
Que mesmo torto se impõe.
Não farei, porém,   poemas   assustados,
Medrosos e indecisos.

Não quero falar dos fatos.
Afinal, não sou jornalista
E odeio rotina, cotidiano
E todas as datas do calendário.
Tenho horror, principalmente,
Ao trabalho.

Farei versos como quem delira.
Pouco me importa a realidade.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

DESCONFORTO

Nunca gostei de bons restaurantes,
Roupas de qualidade
E lugares sofisticados.

Acho que tudo é caro
Também é um pouco podre.
Há sempre algo de sujo no bom gosto,
Qualquer coisa indigesta

Que não me cabe na consciência.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

DEPOIS DO CAFÉ DA MANHÂ

O dia podia terminar depois do café da manhã.
Isso evitaria muitos aborrecimentos...
Já estou farto de tarefas cotidianas inúteis,
De fingir que me importo
Ou que gosto de determinadas pessoas.

O teatro do viver comum é ridículo
E nos castra as ambições mais autênticas.
Estamos condenados ás obrigações e fardos,
A nos conformar com o peso dos outros
Negando nossos mais autênticos extintos.

Maldito seja enfadonho dia que me espera.