quinta-feira, 30 de agosto de 2018

APENAS ACONTEÇA


A vida
Não é uma questão ser,
De fazer ou deixar de fazer.
Viver é, simplesmente,
Um trabalho de consciência,
Um administrar de afetos
E imersão profunda em algum modo
De mera existência.
Vivemos aprendendo inercias,
Silêncios e ausências.
Nossos atos são dados do acaso.
Todo acontecimento está fora de nós.
Não faça nada.
Apenas aconteça.

APRENDA A PERDER

É difícil superar um dia em que algo importante deu terrivelmente errado. Mas o fracasso é tão banal quanto a respiração. 

Todos carregam as marcas de algumas derrotas. Sem elas jamais superamos nossas tão valiosas ilusões.
Na vida é muito importante aprender a perder e sobreviver a isso.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

TEMPOS CONTEMPORÂNEOS

Não tenho paciência para as novidades de agora.
Elas já nascem semi mortas,
Sem substância.
Remetem sempre a algum passado.
Até mesmo a rebeldia e a contestação andam conservadoras.
A criatividade saiu de moda.
E a juventude tornou-se chata.
Já não assusta ninguém.
O passado domina o futuro.
Mas é tempo de avanços tecnológicos!
Sorriam ao arcaísmo do velho progresso.

VIDA DOENTE

A vida é cheia de incertezas,
Angústias e ansiedades.
Muitas vezes não apreciamos o dia.
Apenas nos afogados em rotinas.
Isso nos mata aos poucos.
Estamos ficando doentes.
E nossa enfermidade se confunde com a vida,
Com nossa falta de intensidade,
De presença nas coisas
que nos definem o mundo
como realidade vivida.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

PENSAMENTO SELVAGEM


A soma de tudo aquilo que dizemos não alcança metade das coisas que pensamos. 

O pensamento é mais vasto do que o arbítrio dos enunciados, bem sabem os bêbados e os drogados. Apenas a  consciência alterada arranha os muros da percepção cotidiana e, mesmo que de modo caótico, toca essa vastidão selvagem do pensamento. Vastidão que aprendemos a conter ao longo de anos de escola e  adestramento social. Nada que não possa ser momentaneamente revertido nas geográficas abstratas dos paraísos artificiais. Não duvidem: 

É sempre saudável experimentar aberrações contra a realidade cotidiana, deixar o pensamento acontecer e nos fazer perceber as coisas de alguma outra forma.

ION


Um dia qualquer em uma vida sem importância.
Eis o que define todos e ninguém.

Somos o infinito de uma gota
Que ignora o oceano.

Inventamos as horas
Sem pensar no imediato e no agora.

Estamos sempre do lado de fora.
Perdidos  na paisagem que nos devora.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

ESTAGNAÇÃO

Faz tempo que não sinto um gosto de banho quente diante de qualquer acontecimento novo. 
Tenho vivido de fatos antigos.
Não recebo notícias de qualquer iminente futuro.


Nenhuma esperança me surpreende ao telefone
E eu só queria ter sono para esquecer meus sonhos...

TODA ALEGRIA DO MUNDO

Eu que não acredito em felicidade,
Que não faço bom juiz o da sociedade,
guardo dentro de mim toda alegria do mundo,
Mesmo que desnorteada e indignada
Frente aos absurdos humanos.
Afinal, a alegria é um desejo inconformado,
Que exige o impossível
E está sempre embriagado.

TEMPO MAIS QUE MODERNO


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

VIDA NATURAL


Há dias em que minha maior vontade é me desvencilhar das pessoas. Virar um ermitão, alguém apartado de todas as grandes questões da humanidade. 

Não tomar conhecimento dos outros e viver imerso em alguma paisagem verde é a melhor receita de um existir soberano. Afinal, viver imerso em natureza, integrado à um ambiente feito apenas de terra e de chão, propiciam uma experiência intensa de si e das coisas. A felicidade sempre nos espera longe dos outros através dos barulhentos silêncios da natureza.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O MAL ESTAR EM SOCIEDADE



Não tenho qualquer ilusão sobre as mazelas de se viver em sociedade. Garante-se a precária sobrevivência de todos as custas de cada um. E não me venham falar sobre a falácia de bem comum. O que realmente nos mantem juntos em aglomerados caóticos é o medo, a incapacidade de nos conformar a natureza e, no fundo, a nós mesmos como simples animais estranhos.

Viver em sociedade é existir para as mentiras consensuais que garantem a manutenção de nossas desordens coletivas.

O TÉDIO DOS EMBRIAGADOS



Sempre depois do almoço sou vitimado por um tédio,
Por uma falta de sentido, de vontade...
Diria mesmo, de realidade.

Tudo na vida me parece besteira,
Coisa passageira,
Que não vale uma gota de suor
Ou um instante de preocupação.

É muito pouco o que nos oferece a rotina,
Estes arranjos sociais de realidade.
Por isso deixem-me em paz
Na companhia de uma garrafa.



terça-feira, 14 de agosto de 2018

A FRAGILIDADE DA REALIDADE



De que forma ainda é possível estar aqui, agora e já em outra parte?

Eis a magia da ansiedade que nos revela que não existimos exatamente neste momento, mas em seus antecedentes, em suas sucessões, e através do seu movimento indeterminado, descentrado, sem antes e depois. Tudo que desaparece é a realidade como um ponto fixo em um espaço impreciso de coisas diversas. A realidade não se sustenta, não se fixa. É uma indefinição constante das coisas. Mas é preciso estranhar a consciência para perceber o quanto nada é como pensamos.




segunda-feira, 13 de agosto de 2018

SOBRE A MADRUGADA


Gosto de madrugadas.
É quando as coisas realmente acordam,
quando a vida transpira,
E a gente perde o sono
Sem qualquer esperança de amanhecer.

Madrugadas tem alma.
Nelas não há diferença
Entre o tempo dual da noite e do dia,
Apenas a doce agonia de uma insônia
E uma falta de tempo para o futuro
onde todos os momentos e sensações se misturam.

ENTRE O TRABALHO E O LAZER


Entre o trabalho e o lazer nos perdemos um pouco. Somos escravos de um emprego qualquer para pagar contas e consumir pequenas e grandes coisas segundo o estilo de vida que nos é coletivamente imposto. 

Somos seres humanos domesticados, animais sem brilho ou alma. Por isso tenho necessidade de beber um pouco, abdicar do juízo e cair no dia seguinte náufragos. 

É sempre a mesma rotina e um vazio de vida, uma falta de alma. Tudo que nos é permitido é sobreviver enquanto somos monitorizados e controlados.

FRESCOR MATINAL



Meu corpo amanhece fora do dia,
Além do sol que acorda rotinas.
Saboreio sonhos e imaginações no café da manhã.

A vida parece possível na miséria das coisas,
Nos cantos e dobras do cotidiano.
Provo o vento matinal e me perco no horizonte dos fatos.

Hoje parece quase outro dia.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018


PROCURA-SE!



Por onde anda minha cara esperança?
Nos perdemos um do outro no baile da vida
Entre noticias de jornais.

Sei que o mundo anda frio, tosco e incolor...

Por onde anda minha querida dama?
Talvez tenha sido sequestrada, assaltada,
E brutalmente assassinada...

Ou tenha se desesperado,
Dado cabo da própria vida,
Contra a agonia dos fatos.



terça-feira, 7 de agosto de 2018

PERDIÇÃO





Busco um abrigo em meio ás ruínas da minha própria vida,
Qualquer canto que me mantenha humano,
Mesmo com tão pouca humanidade a minha volta.

Busco encontrar vazios entre entulhos,
Entre sentimentos perdidos,
Mágoas, frustrações e decepções.

Toda inocência foi sacrificada
E boa vontade castigada.

Entre meus próprios restos contemplo a tragédia
Do que foi, é e será.
Não há esperança,
Qualquer ilusão de redenção.



ANTI SOCIAL



Não espero que você me entenda.
Não dependo de sua aceitação.
Prefiro uma bebida do que companhia.
Não me importa se concorda comigo.
Avança em seu caminho
Quem segue sozinho.
Tudo que me interessa
Sempre acontece do lado de fora.
Deixe-me saber a outra face da porta.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O INCERTO DO MAIS COTIDIANO



Eis o desafio mais intenso:
Considerar as coisas de vários ângulos,
Inventar sempre um novo golpe de vista
E saber mais sobre a paisagem
Do que sobre si mesmo.

Desnudar o estranho do mais cotidiano,
Não confundir nunca meu pensar com a realidade.
O mundo não cabe no pensamento,
Não se esgota em qualquer certeza.
Amanhã tudo sempre será diferente.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

IMPERFEIÇÕES




Minhas imperfeições são parte de tudo que sou.
Estão misturadas as minhas virtudes e limites,
Vontades e humores.
Eu não seria este todo amorfo que se esconde em um rosto
Caso não fosse profundamente em todas as minhas imperfeições.
Inútil tentar me corrigir.
Posso apenas me tornar mais ainda profundamente esta confusão que já sou.


A AUTENTICIDADE DO VÍCIO


Podemos ter todas as indisposições possíveis na escola ou no trabalho. Isso pouco importa e depende da nossa maior ou menor capacidade de adaptação a banalidade social. O fundamental é estar bem entre quatro paredes, ter a capacidade de despir-se do mundo.

Inventa-se sempre algum artificial paraíso no fundo de uma intimidade, algum vicio ou artifício oculto, qualquer estratégia de fuga da realidade. É uma questão de instinto e sobrevivência em tempos de massificação e identidades pré fabricadas.