PERCA O JUÍZO

A  sobreidade é estar sempre alerta,

intertido com os fatos e pequenos problemas diários.

Mas quem suporta permanecer sóbrio o tempo todo?

Um pouco de embriagues é sempre bem vinda.

Relaxe. Deus não existe.

O mundo está fora de controle.

Aprenda a desejar seu próprio desejo

embaralhando todos os seus objetivos.

Há sempre um bom motivo

para se perder o juízo.

BANALIDADE HUMANA

Ele era tão comum,

Tão banal e convencional

Que praticamente não existia.

Não passava de estatística,

De mais um rosto vazio na multidão.

Alguém que nada tinha a dizer

E cuja vida se reduzia ao mimetismo social.

Vivia como todo mundo,

Consumia de tudo,

Viajava, estudava

Mas nada sabia da vida

Na superfície árida dos seus atos.

ERA UMA VEZ ALGUÉM

Esquecido em qualquer canto escuro de sua existência inútil,

Ele contava trocados para comprar cigarros.

Era um dia difícil,

Esperava uma noite ruim,

Enquanto inventava silêncios

E imaginava insólitas soluções.

É claro que nada aconteceria.

Em todos os sentidos havia se perdido da vida.

Estava condenado a realizar o pior de si mesmo.

TRAGICA MATURIDADE

Quando menino eu entardecia com o dia

E adivinhava histórias no corpo das nuvens.

Toda natureza era mágica

E me encantava a vida.

Um dia, entretanto,

Como era de se esperar,

Tragicamente, me converti em um adulto.

Passei a viver como maquina.

Nunca mais soube do mundo.

Desaprendi a entardecer

E fiquei perdido em simples rotinas.

 Entre o trabalho e o cansaço, 

O dia ficou vazio e pálido

Como o instante perdido

Em uma fotografia.

FRACASSO

E quem sabe

Um pouco de álcool

E um gole de sorte

Me esclareça o momento

Inventando qualquer novidade?

Tenho cultivado pequenas agonias

E mansos sofrimentos

Soterrado pelos cacos do destino.

Fui mal fadado em tudo.

No amor, no jogo e no trabalho

Apenas me perdi do mundo.

Mas ainda respiro....

NUNCA FIQUE SOZINHO

É preciso sempre ter alguém por perto.

Mesmo que seja apenas para nos manter de pé

Enquanto o mundo inteiro desaba.

É preciso evitar o abraço da solidão,

Estar sempre de mãos dadas

Compartilhando o delírio cotidiano

De nossa precária existência.

É preciso não estar sozinho.

UM DIA LINDO

Era um dia lindo para não se fazer nada.

Mesmo se me custasse caro 
Estava determinado a

Adiar compromissos,

Necessidades urgentes

E até mesmo o café da manhã.

Não era um bom dia para viver.

Minhas vontades haviam fugido

E eu estava coberto de tédio.

Era um dia lindo para esquecer o mundo.

NECESSIDADES

Quanto menos dinheiro no bolso

Menores são nossas opções,

Esperanças e disposições.

Sem dinheiro não se faz boa filosofia

Ou razoável literatura.

Pensar e escrever exige a liberdade

De poder esquecer o mundo

E não estar reduzido a um animal faminto

Escravo de suas necessidades.

Não afirmo aqui materialismos

Ou determinismos.

Duvido, aliais, de todos os ismos.

Apenas lamento o bolso vazio

E as vontades quebradas

Sobre a mesa do almoço.

SOBRE A CHUVA DE ONTEM

Ontem a noite choveu tão forte

Que era impossível dormir

Ou pensar.

A chuva acordava inquietações

E chorava dentro de mim.

O instante era tão escuro

No simples devir do agora

Que eu quase delirava metafísicas.

Detestava meus pensamentos,

Minha existência.

Só queria que a chuva parasse

E me deixasse dormir.

Mas a chuva era indiferente

A minha insônia.

A natureza inteira me ignorava

Como eu ignoro o mundo.