segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

RESSACA MATINAL

As sobras do dia de ontem
Estão espalhadas por todas as partes.
Mas pouco me lembro da noite passada.
Apenas meu corpo
Guarda fisicamente os registros
Dos meus exageros.
É como se  tivesse bebido
Um pouco do próprio tempo,
Quebrado um pouco a suposta eternidade
Que aparentemente enfeita todas as coisas.
Por hora tudo que preciso
É de forças para arrumar a bagunça,
Para esperar outras noites
De risos , fantasias

E errantes alegrias. 

POEMA DE CARNE E OSSO

Ignoro a verdade das coisas.
Estou farto de todos os filósofos
E dos delírios teológicos.
O mundo é simples,
Palpável e intenso
E cabe dentro do meu corpo,
Do copo, do quarto,
E das pequenas coisas ditas
Antes da hora do jantar.
Não me tragam nenhum juízo.
A noite é quente e surda
E cabe na arte de beber,

Comer e sonhar.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

AGONIA LÍQUIDA

Entre o dia e o sono
Embriago-me contra todas as coisas,
Contra os hiatos da existência
E os silêncios da vida.

Brindo a todos os meus defeitos
Através do raso da poesia.
Meus versos são como cacos de vidro.

Espero a noite que me fará
Em pedaços,
Minhas ultimas palavras
Diante do naufrágio de todo significado.
Sou feito das paixões do vento.
Abram por favor,

Mais uma garrafa.

domingo, 20 de dezembro de 2015

UM POUCO DE FEIJÃO


O cheiro do alho fritando para temperar o feijão.
Eu tinha fome só de sentir aquele cheiro.
E a vida ia seguindo no preparo de um pouco de feijão preto.
Nada mais do que isso.
As coisas iam acontecendo no desacontecimento
De mim mesmo.
Precisava comer e superar a ressaca.
Jogar o lixo fora
E alguns sentimentos também.
Tudo que importava era não prestar atenção na vida,
Comer um pouco de feijão
E não morrer de fome,
Continuar respirando contra os fatos

Até o dia em que isso não for mais possível.

sábado, 19 de dezembro de 2015

A QUEDA

Já era quase meio dia
Mas eu ainda anoitecia.
A vida perdia o rumo
Em cada gole,
A cada trago.
Tentava  não me perder
Nas imaginações e venturas
Das emoções desregradas,
Buscava soltar sobre o abismo.
Mas eu não voava,
Eu caia...
E havia muita poesia

Naquela queda infinita.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O NIILISTA


Desde cedo eu sabia
Que não era feito do que eu queria,
Mas de tudo aquilo que me faltava
E nem mesmo eu sabia.
A gente vive explorando silêncios,
Cavando o rosto
Ou, de algum outro modo,
Se enganando com os fatos
E tropeçando nos atos.
Muito cedo me tronei niilista,
Joguei no lixo todas as verdades
E plantei abismos no caminho.

Até hoje nunca me arrependi disso.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

ANOTAÇÕES AUTOBIOGRÁFICAS DE UM VAGABUNDO II

Eu havia me habituado a ficar sozinho. Afinal, esta era uma condição para não se fazer nada. Podia ficar deitado o dia inteiro, enterrado em mim mesmo tipo um morto vivo sem que qualquer pessoa me enchesse o saco por isso.

Era ótimo ficar prostrado e, as vezes, cochilar e sonhar um pouco. Sempre sonhava com uma realidade melhor e sem paralelos onde as paisagens tinham um gosto de antigamente. Mas quem ainda pode entender isso?

O fato é que meu oficio mais caro era não fazer absolutamente nada. Apenas deixava o tempo passar e pensava na morte.  Claro que morreria um dia. Eu ficava tentando antecipar como seria. Fazia disso uma espécie de loteria. Pensava em atropelamentos ou em morte natural e prematura. Um enfarto fulminante, talvez, antes dos cinquenta anos. Mas provavelmente conseguiria  avançar mais um pouco, apesar do cigarro.

Ficar sozinho e sem fazer nada acordava a imaginação. De certa forma as minhas inércias sempre eram muito produtivas. Mesmo que não me levassem a lugar nenhum. Mas nada leva a lugar nenhum. Só os idiotas não sabem disso.

Mas eu ficava deitado o tempo todo que podia porque, absolutamente, não tinha para onde ir. Poucos homens tem realmente um destino, um objetivo alcançável e satisfatório. A maioria vive da porcaria das rotinas sem sentido e se matam para ganhar dinheiro que só dá dor de cabeça pra ser gasto e sustentar uma infinidade de contas e despesas asquerosas.

Era melhor ficar parado, ali, sem fazer nada e esperando a morte.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS DE UM VAGABUNDO

Tudo que me importava agora era dar um jeito de pagar o aluguel e cair fora da cidade por algum tempo. Rever o que ainda resta da minha família em algum buraco de cidade no interior do estado.

Minha casa estava em um estado tão calamitoso que  se alguém entrasse aqui, provavelmente chamaria a defesa civil e me mandaria a um psiquiatra. As pessoas estavam acostumadas a manter uma aparência de ordem em tudo. Por mais que tudo em suas vidas estivesse fora do lugar e de pernas para o ar. Eu, ao contrário, não tinha este pudor.

Dinheiro era sempre um problema e uma boa justificativa para não fazer nada.

Eu era plenamente consciente da minha solidão e do lugar nenhum dos meus dias.  Estava velho demais para esperar muito da vida e novo demais para encontrar com a morte. O intervalo era uma agonia. Mas um pouco de bebida tornava tudo suportável.

Precisava levantar do sofá velho e fazer alguma coisa. Tinha que sair da cidade. Esta era minha prioridade. Só precisava romper as inércias da ressaca e da falta de determinação. Via as horas passando e nada acontecendo e não conseguia pensar em outra coisa além dos atos e decisões que estava jogando fora.


A janela fechada me sussurrava que estava uma tarde linda lá fora. Mas isso não me importava. Jamais seria parte das paisagens de existência que se desenhavam lá fora. Eu tinha um compromisso maior comigo mesmo. Só estava perdendo o jogo.... Todo mundo perde um dia.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O PIOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS

Normalmente a gente aprende a viver quando já não é mais jovem. Quando perdemos a oportunidade e a energia necessária de se voltar contra tudo. Pagamos o preço de nossas limitações, de nossas ignorâncias juvenis através da sabedoria que só o veneno dos anos nos propicia. Ou caímos na lógica podre da mera sobrevivência material ou aceitamos lidar e lutar contra o pior dos fatos. De um modo ou de outro estamos no pior dos mundos possíveis....

PRECISO ENTENDER OS MORADORES DE RUA

Sempre que podia, ficava observando os moradores de rua no centro da cidade.
Tentava roubar  suas conversas. Queria realmente entende-los.
Aquela gente maltrapilha e embriagada  conseguia uma coisa que para mim parecia realmente impossível: abrir mão de sua privacidade.
É claro que ficavam presos a um determinado espaço. Mas não haviam paredes para isola-los do mundo e eles não se matavam por causa disso. Eu, ao contrário, precisava estar sempre me isolando do mundo.
Gostaria de entender como eles conseguem estar o tempo todo a céu aberto.
Eles conseguem mais do que qualquer poeta desdenhar e desprezar a sociedade. Não conseguiria me ver no lugar deles. Não suportaria a constante exposição pública, a indiferença coletiva e a hostilidade das autoridades de segurança pública. Mas eles aguentavam tudo e, muitos exibiam, irreverência e auto estima.

Eu realmente queria entender como essa gente funciona....

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

SEGUIR EM FRENTE

Preciso de mais um cigarro.
Talvez seja o último
Ou o primeiro do resto da minha vida.
Chega um tempo em que já não há futuro.
Apenas o agora e os fatos
Espalhados pela rua.
Preciso de uma boa dose de conhaque,
Um beijo sincero
E algumas palavras vazias de afeto.
Preciso seguir em frente
Com o pouco de tudo

Que ainda é possível.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

APENAS A ARTE....

APENAS A ARTE NOS DIZ ALGO MAIS CONTRA O COTIDIANO E O ORDINÁRIO DA VIDA. ... APENAS A ARTE NOS PERMITE QUALQUER COISA A MAIS DO QUE O MERO E PODRE DIA A DIA...

POR ISSO PRECISAMOS ESTAR SEMPRE EMBRIAGADOS , TRANSBORDADOS DE NÓS MESMOS CONTRA O SENSO COMUM DE TODAS AS COISAS VIVIDAS.


APENAS OS IDIOTAS SE CONFORMAM AO LUGAR COMUM DO MUNDO VIVIDO.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

GRITEM, UIVEM E DANCEM!

Minhas roupas velhas,
Meu cabelo sujo e desgovernado,
Seguem na estrada muito mais do que meu rosto.
Não tenham medo do silêncio.
Escrevam-no na carne e no vinho.
Sejam apenas um corpo na paisagem.
Estamos velhos demais para sonhar.
Gritem o discreto desespero cotidiano,
A insanidade mansa do dia a dia.
Por favor, gritem e dancem um velho rock and roll.
Uivem para a lua antes que todas as ruínas da sociedade

Façam de vocês qualquer outro no espelho do mundo. 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MUNDO DE BRINQUEDO


Vivemos  em uma sociedade
de plástico,
onde as pessoas
são de brinquedo.
A própria vida tornou-se
artificial
nos lugares comuns
do dizer coletivo.
Espero o vento e a chuva
para fugir daqui

em  um carro movido a pilhas. 

domingo, 29 de novembro de 2015

TARDE DE CHUVA


A chuva lava as ruas e os telhados,
Prende as pessoas nas calçadas
E revela todo o desconforto
Contido na paisagem urbana.

Quem me dera se todos os dias
Fossem dias de chuva
E não houvesse outra coisa
Além do choro da grande cidade
Contra a desordem  dos fatos
E o anonimato da multidão.

sábado, 28 de novembro de 2015

POR UMA NOVA CONTRA CULTURA

A vida apodrece quando nos conformamos aos hábitos,
Quando nos rendemos  ao vazio cotidiano,
E reduzimos tudo a rotinas pessoais e mecânicas.
Então perseguimos futuros fáceis e premeditados,
Nos vestimos de sociedade
E descuidamos do rosto.

A vida hoje exige mortos vivos,
Sonâmbulos urbanos  enterrados no sono das ordens
E caduquices do progresso linear das coisas.

Por isso levo um cigarro no canto da boca
E uma garrafa no bolso
Enquanto me perco no labirinto da rua,
Do excesso e do absurdo.

Estou em busca de alguma coisa
Que se perdeu do mundo,

Estou em busca de mim mesmo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

ENQUANTO A VIDA PASSA

Enquanto a vida passa
eu vou ficando.
Vou me perdendo e acabando
em goles de simples agora.
Não haverá futuro.
Nada é para sempre.
Tudo é uma questão de talvez
que depois acaba em nunca.
Então acendo meu cigarro,
bebo um pouco

e não penso no dia seguinte.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A OBSCURA DIALÉTICA DO EU E DOS OUTROS

Existir é uma tremenda confusão entre como nos vemos, como somos vistos pelos outros e aquilo sobre nós mesmos que não percebemos  e muitos menos os outros percebem.  O jogo das representações e auto representações de um indivíduo não tem por resultado o denominador comum de uma determinada identidade.

A coisa é realmente um pouco confusa:
Somos turvos e opacos em alguma medida. O eu é como um ponto indeterminado entre  aquilo que penso  dos outros e que os outros pensam de mim. Logo, a consciência dos outros é necessariamente a consciência de um eu que se manifesta e atua na medida em que eles existem. Ou seja: Eu sou eu na medida em que lido com os outros. Mas não me esgoto nisso, sou mais do que este eu que lida com os outros. Mesmo que qualquer definição de “interioridade” ou subjetividade seja equivoca em alguma medida.


O que posso dizer é que  a consciência que os outros tem de mim diverge constantemente da consciência que tenho deles. Estou, entretanto, demasiadamente ocupado em lidar comigo mesmo, com todas as realidades que percebo em mim.

sábado, 21 de novembro de 2015

HOMENAGEM AOS CÃES VADIOS



Gosto de ver os cães vadios e sarnentos
vagando pela rua suja.

Tomam banho de sol, trepam,
Comem aquilo que encontram,
Rosnam uns para os outros
E, muitas vezes, encontram humanos
Tão vadios quanto eles
Para compartilhar a miséria.

A vida destes quadrupites imundos
É bem melhor do que a minha,
Apesar de todas as suas mazelas e imperfeições.

Eles não pensam.
E sobrevivem melhor por isso.
Estão mais aptos a suportar o mundo
Do que eu que já não me sinto parte
de qualquer mundo.

SOB CHUVA E SOZINHO

Andar pelas ruas sozinho em uma noite de tempestade,
Acabou sendo meu caminho naquele sábado sem rumo.
O momento parecia eterno no desabrigo de mim mesmo,
No estar absolutamente carente de mundo e realidade.
Apenas tentava me aguentar e realizar o sacrifício
De cada passo ermo.
Mas situações limites nos ajudam a pensar,

Quebram ilusões e esclarecem o caminho.
São como um gole grande de destilado ruim.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

PAUSA PARA BALANÇO

Parei de pensar .
Desliguei o mundo dentro de mim
e me vesti de absurdo.
Fiz do delírio minha regra
e deixei de lado antigas questões.
Abri uma garrafa de vodka,
rasguei fotografias antigas
e pus o passado em dia.
Nada esperava e nada queria.
As coisas não tinham importância.
A  vida, afinal, revelou-se
como uma doce e torta agonia.
Nada mais que isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

TESTEMUNHO DE UM BÊBADO FILÓSOFO

Eu era apenas um jovem bebedor que um dia ousou sonhar a possibilidade de me redimir através da embriaguez. Beber não era um vício, mas um meticuloso esforço de iluminação e aperfeiçoamento. Infelizmente as pessoas não entendiam os nobres objetivos que me inspiravam a desregrar os sentidos através do álcool.

Mas estava certo de que aquela rotina de intermináveis porres e vexames públicos eram um caminho de libertação. Tudo era uma questão de tempo. Em breve ei de impor aos meus detratores a grande verdade de minha obra introspectiva.

Jamais seria como eles frequentadores de lugares comuns. Meus caminhos realizavam a plena busca de mim mesmo.


CAOS MATINAL

Deslocado de mim mesmo
Guardo amaçadas certezas
No bolso de traz da calça.
A vida passa e os desertos crescem
Antes da primavera.
Tome uma aspirina.
Acordei com os olhos fechados.
Talvez ainda esteja dormindo.
Talvez eu não esteja aqui.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

BEBIDA E FILOSOFIA

Acho que tenho um defeito.
Como todo mundo não sei direito
O que fazer com a vida
E gasto a maior parte do tempo
Apenas tentando sobreviver
Em sociedade.

Por isso preciso beber...
É meu modo de fugir da sociedade,
Não ser mais um entre os outros,
E me deixar acontecer
Através do torto da vertigem,
Da embriagues selvagem
Onde me perco no labirinto
Da viva poesia do pensar do corpo.

Você só ganha a si mesmo
Quando aprende a se perder.
A maioria das pessoas bebe
Para exibir sua mediocridade mais intima.
A maioria não sabe a filosofia
De um bom porre.
Não estende a mão ao abismo.
Tudo o eu temos em comum
É que não sabemos direito

O que fazer com essa porra de vida.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A VIDA COMO RUINA

Era bobagem estar certo sobre alguma coisa,
até mesmo sobre a concretude daquela rotina vazia.
Os dias acabam, os problemas passam
e  as coisas tendem sempre a novas formas de duvidas
e incertezas.
A única meta era aguentar tudo aquilo sem enlouquecer.
Não me venham, portanto, com engodos sobre vida saudável
ou boas notícias.
As coisas são apenas isso que você esta vendo e sentindo,

um profundo e constante arruinar-se absoluto através do tempo e do espaço.

INDAGAÇÕES SOBRE A VIDA IDEAL OU SOBRE A ARTE DE VIVER

O mundo cotidiano era formado por cacos aleatórios de experiências organizadas em pequenas e inúteis rotinas.
No fundo a vida não era lá grande coisa e era impossível fugir a um constante estado de tédio.
Consumir mantimentos, ouvir um pouco de musica e evadir-se  através de um bom filme. Isso era tudo que se podia esperar quando não estávamos cumprindo alguma obrigação. Assim seguia a existência...
Eu me perguntava se a vida não poderia ser de outra maneira.
As vezes me agradava a ideia de imaginar como as coisas poderiam ser se não fosse os imperativos da minha pequena  realidade vivida. Mas não pensava em termos de rotinas e atividades. O que me parecia fundamental era a possibilidade da plena experiência de um sentimento de pertencimento a existência que só poderia ser garantido por uma pré disposição intima e subjetiva.
Sabia que não havia uma fórmula universal para se alcançar tal estado. Cada indivíduo possui suas próprias inclinações e aptidões. As minhas eram definidas por um profundo senso estético. Logo, me imaginava dedicando a vida a alguma forma de arte, sem preocupações  materiais. Mas não se tratava de se adaptar ou ajustar a vida coletiva.
Uma vida ideal não estava associada em minhas divagações a qualquer ideia de perfeição ou de uma sociedade melhor.  Perfeição não passava para mim de um sinônimo de absurdo e , quanto a uma sociedade melhor....Bom. Não tenho muitas esperanças ou expectativas quanto ao futuro da Humanidade. A vida ideal não exclui o advento de dificuldades, alguns porres memoráveis , sexo e banalidades.
O ideal era apenas um estado de espírito onde a gente se perde nos acontecimentos, onde descobrimos prazer em coisas bobas. Talvez eu esteja falando apenas do resgate daquela ingenuidade infantil que leva as crianças a descobrir paraísos nas coisas mais bobas. È claro que uma criança, até certa idade, não pode ser considerada exatamente uma pessoa. Levamos mais de uma década para nos tornarmos efetivamente parte do mundo. Eis uma das mazelas de nossa condição humana.

Que fique bem claro aqui que por vida ideal não entendia absolutamente a plena realização dos meus desejos. Isso estaria mais próximo de um pesadelo narcisista do que de uma subjetiva  idealização da existência. O ideal está em não enfrentar grandes dificuldades e nem sofrer limitações absurdas.

Vida ideal é simplesmente responder a uma questão elementar: O que eu precisaria para me sentir bem pelo simples fato de estar vivo. Confesso que tenho certa dificuldade para responder satisfatoriamente a esta pergunta.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O EXILADO

Do outro lado da rua a vida passa,
As coisas acontecem,
Enquanto eu fico aqui pasmo e parado.
Espero que anoiteça logo,
Que os carros freiem ao mesmo tempo.
Não quero ir pra casa.
Espero que anoiteça logo.
Que alguém alimente o gato,
Que tudo possa dar certo.
Não deixe de pagar as contas.
Ficarei por aqui sem fazer nada.
Esperando que anoiteça logo.
Vá para o outro lado da rua.
Faça o que tiver que ser feito.

Mas não conte comigo para viver rotinas.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

VIVA

A intensidade do simples viver
É tornar o superficial profundo.
Quero mais que as imaginações coletivos,
Quero ser apenas um mísero indivíduo
Contra as vaidades impessoais do meu dizer coletivo.
Quero ser gente,
Alguém livre,
Contra o absurdo do tempo
E as cegueiras de sociedade.
Quero me fazer contra tudo
Que me disseram possível...
Quero superar minhas ansiedades.


BEBA MAIS UM POUCO

O que tenho para guardar
depois do grito, do riso
e do ato sujo
que me definiu a madrugada?
Talvez eu amanheça um dia.
Talvez eu caia em mim
e rasgue gratuitamente
determinados fatos.
Talvez eu apenas
beba mais um pouco.



O DIA AINDA NÃO ACONTECEU

Não acordei para o dia seguinte,
mas para o sonho e o absurdo.
A realidade pouco existe,
diga bom dia a vertigem
dos cacos do absoluto.
Pois sei que a realidade
esta sempre errada
no dizer profundo
do ato falho da vida.

O dia ainda não começou...

domingo, 1 de novembro de 2015

A DERIVA

Vamos fumar e beber um pouco
Enquanto seguimos por todas as partes
Neste navio a deriva que chamamos de mundo.
Não há muito a fazer enquanto o tempo passa.
Já nem me lembro de como chegamos aqui,
Dos dias em que tínhamos ainda algum futuro.
Mas hoje nada mais importa.
O céu esta sempre nublado
E só o mar revolto  sabe do nosso rumo.
Então vamos beber e fumar
Enquanto ainda nos é possível.
Uma grande tempestade, você sabe,

Já começou a se formar no horizonte... 

sábado, 31 de outubro de 2015

A VIRTUDE DOS FRACASSADOS


Sou movido por uma inquietude
Que me embriaga todos os dias.
Sou feito de curiosidades,
Desesperos e questionamentos.
Estou sempre embriagado
Remoendo a existência
Em busca de respostas
A perguntas erradas.
Nãou destes que podem dar certo.
Sou esperto demais para ser bem sucedido
E me adaptar a uma sociedade de semi moribundos.
Meu destino é o abismo,

Os nervos da tempestade.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ESPIRITO ERRANTE

Sou destes que se perderam da sorte
E seguem em frente por um cigarro
E um pouco de bebida.
Não estou entre os homens domesticados
Por suas limitações de espírito
E pelo crivo da sociedade.
Sou livre e desafiador de mim mesmo.
Não tenho limites,
Sou feito de pensamentos, gritos
E tempestades.
Desfeito e refeito em ventos
Sigo em tumultos pela vida a fora,
Não me queiram bem,
Nem mal.
Apenas me esperem longe,
Distante de suas pobres imaginações.


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A DECADÊNCIA DA BOEMIA

Os bares  já não são os mesmos.
Porque as pessoas mudaram.
Já não bebem com Dionísio,
não transformam as horas
em vivências líricas etílicas.
Bebem sem sentimento,
Pois se embriagam como artifício
Para escapar sem rumo
a rotina,
a embriaguez tornou-se rasa,
medíocre e sem propósitos
desde que a vida deixou de viver.
Não temos mais sonhos para proteger.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ROTINA DOMÉSTICA

Todas as noites
chegava em casa
depois de um dia vazio,
fechava a porta
e esquecia o mundo.

Ficava ali
frente a frente
com meus escombros
mais íntimos,
jogado na cama
contemplando o teto,
adivinhando o próximo ruído
que me perturbaria o silêncio.
Fosse a torneira pingando,
a buzina de um carro distante,
ou a frase solta de um dialogo qualquer
na rua de traz.
Era impossível me sentir realmente sozinho,
ter um pouco de paz.

Isso era um grande problema.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O TÉDIO E O ÓCIO

Não vejo mais grandes distinções
entre o trabalho e o ócio.
Tudo é rotina,
repetição vazia de absoluto tédio.

Não importa o quanto bebo,
se me divirto ou choro.
Meu ócio não é diferente
do meu trabalho.

A vida deixou de viver,
acontece a deriva
realizando o simples passar dos anos.

Nada acontece.
Beber já não me leva
a evasão dos fatos.
 Mas ainda é melhor
morrer de vodka

do que de tédio.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

NÃO ME DIGAM COMO VIVER

As pessoas costumam falar sobre boa alimentação e vida saudável como se nunca fossem ficar doentes  ou morrer um dia. No fundo buscam apenas que seus corpos e sua aparência espelhem todo  ideal de vaidade que cultivam.

Mas a busca por uma dieta e hábitos saudáveis não passa de um belo engodo. Ninguém vai ser mais feliz porque se fartou de salada no almoço e evitou um belo e suculento bife com fritas. Uma silhueta esbelta não significa lá grande coisa, só diz que você é um pobre coitado escravo de regras rígidas de conduta e uma vida de sacrifícios.

Prefiro me acabar com cigarros, álcool e muita comida gordurosa enquanto posso. Não me importo nem um pouquinho com  o que a sociedade me diz que é bom ou ruim. Assumo meus próprios riscos e sei muito bem como quero levar a porra da minha vida.  


terça-feira, 20 de outubro de 2015

A SABEDORIA DA MONTANHA

Hoje à noite
iremos fumar maconha
e beber todas
ali no cume daquela montanha.

Como assim não existe a montanha?

Ela existe, quando você pensa;
mas pensa tão fundo,
que a cabeça inventa!

Hoje a noite,
na hora certa,
você saberá a montanha...


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DEPOIS DA FESTA

Quando cheguei
As garrafas já estavam secas,
As vozes afogadas
E a festa agonizava no vazio de cada rosto.
A diversão nunca dura o suficiente...
Sempre acaba em exaustão e decepção.
Os excessos nos redimem,
Mas sempre nos matam um pouco.
Não havia perdido nada.
Tinha sido apenas mais uma festa banal
Onde as pessoas se desencontram.


DEIXEM A PORTA ABERTA

Deixem a porta aberta.
Hoje chegarei mais tarde,
aos pedaços,
depois de me desencontrar
de mim mesmo
em um canto escuro de bar.
Vou dançar a ultima dança
com a louca da noite passada.
Deixar que ela me roube cigarros
e talvez toda vaidade.
Viverei como se fosse hoje
minha última noite sobre a terra.
Deixem a porta aberta.
Mesmo que eu não volte mais,
deixem a porta aberta.


domingo, 18 de outubro de 2015

FILOSOFIA DA RESSACA

Acordar sem vontade para o dia seguinte depois de um porre é uma experiência pedagógica. Através dela nos deslocamos um pouco de nosso ego e do vazio de nossas rotinas. Nos sentimos abaixo da própria vida.

Mas as coisas se fazem mais claras em nosso mau estar. Retiramos da realidade o véu do otimismo e da boa vontade e encaramos a existência   como ela realmente é: frívola e sem sentido. Vivemos envoltos  em caos e carências.


Considero o estado de ressaca uma forma de esclarecimento sobre os limites do que nos é possível viver. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

VELHOS QUIXOTES

Por onde andam hoje aqueles antigos sonhadores,
Nossos destemidos arquitetos de castelos de areia?
Por onde andam aqueles lunáticos
que pouco sabiam do mundo
E vagavam  por ai
Embriagados de estrelas?
Desistiram de mudar a vida,
Alguém me disse outro dia.
Deixaram-se por ai perdidos
Em qualquer canto anônimo e escuro.
Continuam vivendo,
Mas já não guardam esperanças
Nem  certezas nos olhos.
Perdidos do futuro
vivem  apenas de migalhas da realidade,
angustiados , porém,  conformados.
Hoje já não sonham, aqueles bravos inconformados.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

CUMPRINDO METAS

Eu me afogava na madrugada sem pensar em nada .
Tudo que importava era secar aquela garrafa de uísque
Antes do nascer do sol.
Era minha meta,
Meu sentido da vida
Naquele momento.
Não pense que era uma tarefa fácil.
Tinha feito a mesma coisa na noite passada.
Cada trago hoje descia forçado.
Mas eu não iria desistir.
Estava determinado.
Tinha um objetivo.
Todas as pessoas precisam de um objetivo.
Havia algo de absurdamente metafísico
Na minha relação com aquela garrafa de uísque.
Não fazia aquilo pelos aplausos,
Mas apenas por mim mesmo,
Pelo desejo que me despertava

Aquela garrafa de uísque.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

DESÃNIMO

As incertezas decoram o café da manhã
enquanto luto contra Inercias e sonos
para me manter de pé.

Resisto as vontades horizontais,
aos apelos da gravidade
investigando meu umbigo sem fundo.

Não será um bom dia.
eu só penso na hora
de voltar para cama
e esquecer tudo de novo.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

HERANÇA

Não espero mesmo algum dia sentar a mesa com gente de boa índole e roupas caras para degustar uma comida sem gosto e conversar sobre trivialidades. Gosto da liberdade de ser vagabundo, de não ter status e nem me preocupar com o que os outros pensam ou dizem sobre mim.


Estar só é uma das condições da liberdade. A gente aprende isso depois que envelhece, depois que bebe o suficiente para não esperar muito de coisa alguma. Para os mais jovens isso será um pouco indigesto. Mas não espero mesmo que eles me escutem. Eles tem seu próprio futuro para perder.

MINHA PREGUIÇA


É bom dormir até mais tarde
Enquanto o mundo segue
E fede
Sob suas próprias ruínas
De viver ordinário.
Não se importo com nada,
Nem mesmo consigo dormir direito.
Este quase silêncio já era o bastante.
Brinquem de vida adulta
Que me basta esta cama.façam o que quiser,
Acabem com o mundo.
Só não me incomodem.


FIM DE NOITE

Meu objetivo era escrever qualquer coisa que me arrancasse daquela agonia, daqueles dias desgovernados de tédio e silêncio. Estava tendo uma overdose de mim mesmo. Beirava o desespero em minha aparente apatia.

O passado não mais se distinguia do presente. Os fatos estavam suspensos no tempo. Já não sabia quem eu era agora. Não Haia tempo. Apenas meu corpo e um copo a conversar com meu cérebro.

Escapava-me a escrita. Os pensamentos sopravam como um vento bravo que se espalha por todas as partes.

O fim sempre chega cedo demais.

domingo, 11 de outubro de 2015

A SOLITUDE DOS BARES

O bar é sempre o último refúgio dos solitários,
É onde a gente se senta para pensar,
Para não estar mais dentro da gente
E observar a vida passando
Entre uma cerveja e outra.
O bar é uma espécie de exílio
Onde se rabisca alguns versos sujos.
Nele a noite nos abraça
E tentamos esquecer de tudo.
A cidade inteira deveria ser feita
De bares.
Mesmo assim não seria o suficiente

Para confortar tanta gente perdida e vadia.

sábado, 10 de outubro de 2015

MANHÃ DE SÁBADO

Havia muito sol naquela manhã. Foi impossível ficar deitado até mais tarde com toda aquela luz entrando no quarto e me perturbando as ideias. Então levantei, ascendi um cigarro, depois outro, e fiquei ali sentado na beira da cama sem fazer nada. Apenas sentia que era dia e isso não significava nada para mim.

Não perderia meu tempo arrumando a casa ou com visitas ao supermercado.  Também não atenderia a telefonemas se alguém, por um milagre, cometesse o destempero de ligar pra mim. Estava bem ali, esquecido do mundo e cultivando minha preguiça. Pouco me importava se o mundo ainda existia lá fora.
Mas depois dos quarenta fica mais difícil manter a rotina de um adolescente. Principalmente porque a vida já não te acompanha mais. Continuar no ritmo equivale a desistir de tudo. Mas o que mais eu poderia esperar?


Um belo fim era tudo o que me aguardava. Eu tentava antecipa-lo constantemente em meus pensamentos. Mas não conseguia predize-lo ainda.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

TENHO CIGARROS!

Tenho cigarros hoje.
Meus companheiros que enfeitando
A boca,
Decoram o silencio
Que me devora por dentro.
Segue um cigarro atrás do outro,
Tento perpetuar o ato de estar aqui,
Sozinho,
Simplesmente fumando,
Enquanto tento digerir a vida.
Por favor,
Não me interrompam.
Deixem que eu contemple o tempo
Perdido nos labirintos do meu pensamento.
Sigam suas vida tolas.
Vou ficar por aqui fumando.
Me basta a companhia deste maço
Que quase já está terminando.


AS ARTIMANHAS DO EXISTIR HUMANO

Enquanto a  existência permanecia
como um fato incerto,
buscava apenas o mínimo ideal
para sobreviver aos outros
e as mazelas cotidianas.
Não era uma boa vida.
Seguia em frente
sempre com a corda no pescoço
 e esperando o pior.
Havia aprendido a não criar expectativas,
a não levar nada demasiadamente a serio
e suportar dias ruins.
O resto das pessoas não tinha
uma situação melhor do que a minha.
Apenas tinham aprendido a mentir
para si mesmas,
a viver como se fossem perfeitas,
como se levassem uma vida sem contradições.


terça-feira, 6 de outubro de 2015

BEBER E FUMAR

Gastava o tempo bebendo
E esperando que qualquer coisa acontecesse.
Assim o fazia porque nada lhe parecia possível.
Os pássaros podiam voar,
Os gatos podiam miar,
Mas a vida lhe parecia impossível
De outro jeito qualquer.
Restava beber e fumar
Com aquela fome nos olhos.
Talvez, em alguma hora qualquer,

Fosse finalmente outro dia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A NOITE DE SÁBADO ATRAVÉS DA JANELA

Debruçado sobre a  janela
Vejo as pessoas passando sorridentes  na rua.
É noite de sábado e todos parecem buscar
O que para mim já se revelou impossível.
Caçam por todos os lados
Qualquer migalha de diversão.
Aceitam quase tudo que lhes oferecem.
Tento sentir por elas
Alguma compaixão.
Mas não consigo.
Não me importo.
Só quero saber quantos cigarros

Ainda me restam.

domingo, 4 de outubro de 2015

EM NOME DA SOBREVIVÊNCIA

Um pouco de decepção e sofrimento é o melhor remédio contra as ilusões.
Quanto menos esperamos da vida, mais entendemos como ela funciona.
São os sonhos e expectativas que geralmente estragam as coisas.,
Que nos atrapalham e nos levam a perder tempo com o inútil dos ideais.
Não vivemos em um mundo perfeito e nunca viveremos.
As coisas sempre  ficam mais difíceis, goste você ou não.
O melhor a fazer é não se importar e tentar sobreviver,
Manter seu próprio rabo fora de perigo.
Isso já é suficientemente difícil,

Nosso cotidiano heroísmo possível.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

FIQUEM LONGE DE MIM!!!!!

Mesmo quando pequenas, as aglomerações humanas  me causavam algum tipo de asco. Detestava pessoas, o barulho que faziam, o teatro do gestual, suas roupas, seus interesses e todo aquele ilimitado artificialismo que define o teatro do mundo.
Submetido a experiência de estar em meio a ocasiões sociais  só pensava em acender um cigarro e buscar uma bebida. Mas nem sempre era possível.


Só conseguia suportar as pessoas quando elas estavam embriagadas e revelavam sem pudor quem realmente eram no mais baixo da confusão humana. De fato, estou convicto que há algo de profundamente decadente na humanidade. Somos animais doentes. Um bando de insanos masturbando utopias, cultura e egocentrismo. Tudo, no fundo, se resumia a isso.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

QUASE FUTURO

Atravessando  incertezas
vou tropeçando em meus medos,
adivinhando limites
e seguindo sem direção.

Vou ao encontro do absurdo
buscando qualquer coisa
que ainda não foi inventada.
Provo a febre de todos os futuros
que jamais  viverei.