segunda-feira, 9 de novembro de 2015

INDAGAÇÕES SOBRE A VIDA IDEAL OU SOBRE A ARTE DE VIVER

O mundo cotidiano era formado por cacos aleatórios de experiências organizadas em pequenas e inúteis rotinas.
No fundo a vida não era lá grande coisa e era impossível fugir a um constante estado de tédio.
Consumir mantimentos, ouvir um pouco de musica e evadir-se  através de um bom filme. Isso era tudo que se podia esperar quando não estávamos cumprindo alguma obrigação. Assim seguia a existência...
Eu me perguntava se a vida não poderia ser de outra maneira.
As vezes me agradava a ideia de imaginar como as coisas poderiam ser se não fosse os imperativos da minha pequena  realidade vivida. Mas não pensava em termos de rotinas e atividades. O que me parecia fundamental era a possibilidade da plena experiência de um sentimento de pertencimento a existência que só poderia ser garantido por uma pré disposição intima e subjetiva.
Sabia que não havia uma fórmula universal para se alcançar tal estado. Cada indivíduo possui suas próprias inclinações e aptidões. As minhas eram definidas por um profundo senso estético. Logo, me imaginava dedicando a vida a alguma forma de arte, sem preocupações  materiais. Mas não se tratava de se adaptar ou ajustar a vida coletiva.
Uma vida ideal não estava associada em minhas divagações a qualquer ideia de perfeição ou de uma sociedade melhor.  Perfeição não passava para mim de um sinônimo de absurdo e , quanto a uma sociedade melhor....Bom. Não tenho muitas esperanças ou expectativas quanto ao futuro da Humanidade. A vida ideal não exclui o advento de dificuldades, alguns porres memoráveis , sexo e banalidades.
O ideal era apenas um estado de espírito onde a gente se perde nos acontecimentos, onde descobrimos prazer em coisas bobas. Talvez eu esteja falando apenas do resgate daquela ingenuidade infantil que leva as crianças a descobrir paraísos nas coisas mais bobas. È claro que uma criança, até certa idade, não pode ser considerada exatamente uma pessoa. Levamos mais de uma década para nos tornarmos efetivamente parte do mundo. Eis uma das mazelas de nossa condição humana.

Que fique bem claro aqui que por vida ideal não entendia absolutamente a plena realização dos meus desejos. Isso estaria mais próximo de um pesadelo narcisista do que de uma subjetiva  idealização da existência. O ideal está em não enfrentar grandes dificuldades e nem sofrer limitações absurdas.

Vida ideal é simplesmente responder a uma questão elementar: O que eu precisaria para me sentir bem pelo simples fato de estar vivo. Confesso que tenho certa dificuldade para responder satisfatoriamente a esta pergunta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário