segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O DESPERTAR DA NOITE

A noite acordou na pele das coisas,
como uma intensidade estranha,
um sentimento de incerteza
da realidade de tudo.

É possivel saber a noite em estado bruto,
clara como a lua,
antecipando infâncias futuras
na intoxicação de um antigo perfume de floresta virgem.

O mundo torna-se incerto,
indeterminado e vago,
nas horas caladas da madrugada.
É quase sem substância 
como o eu sem rosto
que acha que o interpreta
sem saber que é um reflexo preso aos cacos de um espelho quebrado.

A noite é barroca.
Um jogo de claro e escuro,
na nervura das curvas,
das dobras e labirintos
que preenchem o vazio
de uma janela aberta
em fragmentos de um cenário ausente.

A noite me veste de luto,
me embreaga de absurdos,
e me reconstrói no esboço de um outro
sentado na margem oposta do rio onde descansa em paz uma razão madastra.
Ela está tatuada na pele das palavras que me reinventam,
desregrando os pensamentos diurnos.
 Contra ela a  noite se refaz como um mar aberto,
assustadoramente profundo,
que submerge a cidade
na expectativa de uma grande festa.



 

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